Tempo Verbal e Narrador: Escolhendo a Melhor Combinação para sua Novel

    Escrever uma novel é uma arte que exige não apenas criatividade, mas também domínio das ferramentas narrativas. Entre essas ferramentas, a escolha do tempo verbal e do tipo de narrador é fundamental, pois ela molda a experiência do leitor e define o tom da história. Quando se trata de decidir qual tempo verbal e qual narrador usar, muitos escritores se veem em um dilema. Vou explorar nesse artigo as nuances dessas escolhas e dar ênfase especial a três combinações que dominam o cenário da escrita: Tempo Verbal Passado + Narrador Onisciente; Tempo Verbal Presente + Narrador Onisciente; e Tempo Verbal Presente + Narrador Personagem.

    O objetivo da Illusia é ajudar você, escritor de novel, a entender melhor essas possibilidades e, mais importante, guiá-lo na escolha da que mais favorece sua narrativa. Ao final, você verá que a combinação de Tempo Verbal Passado com o Narrador Onisciente é a melhor opção para quem está iniciando no mundo da escrita de novel e oferece uma gama de vantagens que tornam a escrita mais fluida e envolvente.

    O Tempo Verbal e Sua Importância

    O tempo verbal é a base da narrativa. Ele define em que ponto no tempo a história acontece: no passado, no presente ou no futuro. Enquanto o tempo futuro é raramente usado em ficção, os tempos passados e presentes são as opções principais.

    – Tempo Verbal Passado

    O tempo passado é o mais tradicional e amplamente utilizado em narrativas. Ele permite ao narrador descrever eventos que já ocorreram, criando uma sensação de distanciamento e, muitas vezes, de completude. Histórias contadas no passado transmitem a ideia de que o narrador já conhece o desfecho e pode moldar a narrativa de forma a criar expectativa e tensão.

    Posso dizer com toda certeza: usar o passado como seu tempo verbal te dá infinitamente mais opções de trabalho. É aquela coisa, a versatilidade é melhor do que potência. É muito melhor você estar preparado para tudo do que ser especialista em apenas uma coisa. Portanto, indico e recomendo o Passado para os escritores médios e iniciantes.

    Só uma coisa… se você escreveu menos de 300 capítulos de apenas uma novel… você ainda é no máximo mediano…

    Exemplo:
    “Maria entrou na sala escura, seus passos ecoando no silêncio. Ela sabia que havia algo à espreita, mas não estava preparada para o que encontrou.”

    Nesse exemplo, o narrador tem o controle sobre a ordem dos eventos e pode guiar o leitor pela história com clareza.

    – Tempo Verbal Presente

    Por outro lado, o tempo presente cria uma sensação de imediatismo. O leitor sente que os eventos estão acontecendo no exato momento em que está lendo, aumentando a imersão e a tensão. No entanto, esse tempo verbal também pode limitar a perspectiva, já que o narrador só tem acesso ao que está acontecendo no momento.

    Exemplo:
    “Maria entra na sala escura, seus passos ecoam no silêncio. Ela sabe que há algo à espreita, mas não está preparada para o que vai encontrar.”

    Aqui, o leitor vive a ação ao lado da protagonista, mas não há a sensação de que o narrador já conhece o futuro. Esse tempo verbal é ideal para histórias EXTREMAMENTE focadas em suspense, o que muito poucas novels são. Se sua obra é um isekai básico com alguns momentos de suspense… esse tempo verbal não é o ideal para você, xispa!

    Os Tipos de Narrador

    O narrador é a voz por trás da história. Escolher o tipo certo de narrador é tão crucial quanto a escolha do tempo verbal. A seguir, vou explorar três tipos comuns: narrador onisciente, narrador limitado e narrador personagem.

    – Narrador Onisciente

    O narrador onisciente é aquele que sabe tudo sobre todos os personagens e eventos da história. Ele tem acesso aos pensamentos, emoções e motivações de cada personagem, além de conhecer o passado, o presente e o futuro da narrativa. Esse tipo de narrador oferece uma visão ampla, permitindo ao escritor explorar várias perspectivas e construir tramas complexas com mais facilidade.

    Exemplo:
    “Maria entrou na sala escura, sentindo o coração disparar. Ela não sabia, mas João a estava observando do canto, preparando-se para a surpreender.”

    O narrador onisciente pode alternar entre o ponto de vista de diferentes personagens e revelar informações que os próprios personagens desconhecem. Perfeito para uma obra focada em guerras e posições sócio-políticas.

    – Narrador Limitado

    O narrador limitado foca em um ou poucos personagens, limitando o que o leitor sabe ao que esses personagens percebem. Isso pode aumentar o mistério e a tensão, mas também restringe a visão geral da narrativa. Esse tipo de narrador é melhor usado para obras de terror + suspense, no entanto… o foco maior é terror.

    Isso porque o suspense molda-se em “não saber”, enquanto o terror é “não compreender”, ou seja, no terror podemos saber as informações, mas não compreendê-las, exatamente o que acontece com o narrador limitado, onde as informações vem picadas de personagem a personagem.

    – Narrador Personagem

    O narrador personagem, como o nome sugere, é um personagem da história que narra os eventos a partir de sua perspectiva pessoal. Esse narrador está dentro da trama e só tem acesso aos seus próprios pensamentos e percepções. Ele pode ser um protagonista, um coadjuvante ou até um observador externo.

    Exemplo:
    “Eu entrei na sala escura, sentindo o coração disparar. Não sabia o que estava por vir, mas a sensação de estar sendo observada era esmagadora.”

    Esse tipo de narrador oferece uma experiência íntima e subjetiva, mas é limitado pelo ponto de vista pessoal e enviesado do personagem.

    Análise das Combinações: Qual Escolher?

    Agora que entendemos os principais tempos verbais e tipos de narrador, temos três combinações populares na escrita de novels: Tempo Verbal Passado + Narrador Onisciente, Tempo Verbal Presente + Narrador Onisciente e Tempo Verbal Presente + Narrador Personagem.

    Tempo Verbal Passado + Narrador Onisciente

    Essa combinação é a mais tradicional e amplamente utilizada, especialmente em novels, cujo suas centenas e milhares de capítulos talvez assustem um leitor novato. O tempo passado cria um senso de narrativa estruturada e coesa, enquanto o narrador onisciente oferece uma visão completa da história e dos personagens. Essa combinação é perfeita para escritores que desejam explorar múltiplas perspectivas, criar tramas complexas e construir tensão de forma gradual.

    Nos meus 500 séculos de vulc… Illusia, essa combinação provou-se melhor que todas. Mas não coloquem palavras nos meus dedos! Não estou dizendo que uma é melhor que outra, apenas essa combinação mostrou-se superior, por quê? Simples, sabe o que todas as novels, todas, TODAS, as novels têm em comum? Magia! Ou alguma forma dela. Sejamos sinceros, nós como leitores e autores amamos ler histórias com explicações mirabolantes de como a magia funciona, parece que somos dependentes disso. E essa combinação é a melhor possível para explorar esse mistério da magia, o narrador pode alternar entre várias perspectivas de vários personagens, mostrando como cada um entende a magia!

    Quer provas? Basta ir qualquer site e ver o top 10 dele, volta aqui e me diz nos comentários a combinação utilizada, se houver exceções… serão minúsculas. Enfim…

    Ao usar o tempo passado, o narrador já conhece o desfecho da história, o que te permite dosar as revelações e criar antecipações. O narrador onisciente, por sua vez, pode brincar com o conhecimento dos personagens, revelando informações que eles desconhecem e criando ironias dramáticas.

    Vantagens dessa combinação:

    • Permite uma visão panorâmica da história.
    • Flexibilidade para alternar entre diferentes pontos de vista.
    • Ideal para mundos mágicos.
    • Proporciona uma narrativa clara e completa.

    Repetindo, essa é a combinação mais recomendada, especialmente para escritores de novel que estão lidando com narrativas complexas e múltiplos personagens. O narrador onisciente no tempo passado oferece controle absoluto sobre o ritmo da história, permitindo que você revele segredos no momento exato e construa um enredo intrincado.

    Tempo Verbal Presente + Narrador Onisciente

    Essa combinação é menos comum, mas ainda é utilizada por alguns escritores que buscam trazer uma sensação de urgência para a narrativa. O tempo presente coloca o leitor diretamente dentro da ação, enquanto o narrador onisciente mantém sua visão abrangente da história.

    Embora essa combinação possa criar uma experiência imersiva, ela pode ser desafiadora de manter ao longo de uma história longa. Essa combinação, ao mesmo tempo que oferece conhecimento ilimitado, pode desconectar o leitor da ação imediata que o tempo presente implica, o que pode criar uma dissonância entre o tom da história e a voz narrativa.

    Vantagens:

    • Maior Imersão.
    • Sensação de urgência.
    • Aproximação do leitor com o protagonista/personagens
    • Melhor trabalho com emoções.

    Desafios dessa combinação:

    • Difícil de equilibrar o imediatismo do presente com o conhecimento total do narrador.
    • Pode criar uma sensação de desconexão para o leitor.
    • Mais difícil de controlar o ritmo e a revelação de informações.

    Tempo Verbal Presente + Narrador Personagem

    Essa combinação é popular em histórias de ação e aventura, pois coloca o leitor diretamente no meio dos acontecimentos, experimentando tudo a partir da perspectiva do protagonista. O tempo presente adiciona urgência, enquanto o narrador personagem oferece uma visão pessoal e íntima dos eventos.

    No entanto, essa combinação também apresenta desafios. O narrador personagem é limitado ao que ele sabe, o que pode dificultar a construção de tramas mais complexas. Além disso, o tempo presente pode se tornar cansativo em longas histórias, já que exige um ritmo constante e intenso.

    Vantagens dessa combinação:

    • Imersão imediata do leitor.
    • Perspectiva íntima e pessoal.
    • Ideal para histórias de ritmo rápido e ação.

    Desvantagens:

    • Limitação de conhecimento narrativo.
    • Pode se tornar repetitivo e exaustivo em longas narrativas.
    • Menos flexibilidade para mudanças de perspectiva e construção de suspense.

    Conclusão: O Poder do Passado e da Onisciência

    Ao escrever uma novel, a escolha do tempo verbal e do narrador define não apenas o tom da história, mas também o nível de controle que o escritor tem sobre a narrativa. Embora todas as combinações exploradas aqui tenham seus méritos, a combinação de Tempo Verbal Passado com o Narrador Onisciente se destaca como a mais versátil e poderosa.

    Ela oferece flexibilidade para trabalhar com múltiplos pontos de vista, construir suspense e criar uma narrativa rica e bem estruturada. Além disso, o tempo passado permite ao narrador onisciente uma liberdade criativa que os outros tempos verbais não oferecem.

    Portanto, se você busca uma forma eficaz de contar histórias complexas, com personagens profundos e tramas intrincadas, essa é a combinação que a Illusia recomendo para sua novel, especialmente para quem está começando.


    Bônus

    Os escritores têm licença poética, mas isso não quer dizer que podem fazer o que é errado só porque querem. Então, na sua avaliação iremos perguntar o porquê de você fazer x ou y. Se conseguir justificar com um motivo que faça sentido dentro do universo da obra ou que faça sentido para o avaliador, de boa. Se não…

    Nota