Capítulo 0011: O povoado dos traidores
Siegfried assistiu impassível enquanto dois soldados esqueletos brandiam suas espadas contra um fazendeiro que tentava fugir.
As lâminas eram de ferro e estavam enferrujadas, tanto pelo sangue seco de várias batalhas, como pela sujeira da chuva, lama e outras coisas que o escudeiro não conseguia identificar.
Em qualquer exército, a manutenção das armas cabia sempre aos seus donos, e qualquer soldado saberia que uma espada afiada e bem cuidada era a arma mais confiável que se podia ter em uma batalha.
Qualquer soldado vivo.
Infelizmente, os desmortos não se preocupam com a qualidade das suas lâminas, por isso a morte do fazendeiro foi mais demorada e dolorosa do que deveria e os mortos-vivos continuaram espancando ele com as espadas enferrujadas, mesmo depois que caiu no chão, tremendo e em convulsão com um buraco no topo da sua cabeça.
Os miolos do homem se espalharam pelo chão e Siegfried ouviu mulheres gritando.
Quando fechou os olhos, tudo o que viu foram vilas queimando. Podia sentir o cheiro da fumaça, o crepitar das casas de madeira em chamas e o gosto do próprio sangue na boca.
“A guerra é a mesma, não importa a nação.”
Seu coração bateu mais forte e ele deixou um sorriso escapar, mas não de felicidade.
Até que ouviu a voz de uma mulher gritando seu nome e se virou rapidamente para encontrá-la, já de espada na mão. Mas assim que o fez, abriu os olhos e estava de volta ao povoado.
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Os plebeus foram reunidos no centro, de joelhos, guardados de perto pelos soldados mortos-vivos.
Viu uma mulher de cabelos negros e sentiu suas mãos tremerem, até que ela virou o rosto para ele, pálida de medo; durou apenas um instante e ela logo desviou o olhar, voltando a abraçar sua filha com força.
“Claro que não é ela, seu idiota. Ela tá morta.”
O conde não deixou nada escapar.
— Algum problema?
— … Quê? — Percebeu então a espada em sua mão e a guardou de volta no cinto. — Não. Nenhum.
— Deixa eu adivinhar. Não gosta de saquear?
O rapaz sorriu.
— Se não gostasse, não seria um mercenário muito bom, não é? Eu estou bem. Só fiquei um pouco entediado.
— Nisso eu posso dar um jeito.
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O lorde virou o seu andaluz branco e Siegfried o seguiu, esporeando o cavalo e cavalgando ao seu lado, passando por soldados esqueletos que levavam os cativos para junto dos outros.
Como era de se esperar, os sobreviventes eram, em sua maioria, mulheres, crianças e velhos, com um ou outro homem aqui e ali. Aqueles que eram muito fracos ou muito covardes para resistir.
Da mesma forma, a maioria dos mortos eram homens de braços fortes que tentaram lutar ou crianças pequenas que não obedeceram as ordens e correram.
Logo, todo o povoado foi rendido.
Todos, exceto pela taverna.
As janelas do local haviam sido seladas com pedaços de madeira e a entrada teve de ser arrombada pelos mortos-vivos, que jorravam porta adentro em busca dos últimos sobreviventes, que não estavam facilitando nem um pouco o trabalho deles.
O conde sorriu:
— Parece que meus soldados estão tendo alguma dificuldade em lidar com seus amigos. Por que você não vai lá e mostra pra eles como se faz?
E foi exatamente o que fez.
Desmontou e caminhou até a porta da estalagem, já de escudo erguido. Podia sentir os olhos do lorde sobre ele, por isso não hesitou.
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Assim que pôs os pés lá dentro, esbarrou em um cadáver caído bem na entrada, empilhado em cima de outros dois; os primeiros a morrerem quando os mortos-vivos invadiram. Suas espadas ainda nos cintos.
“Tentaram bloquear a entrada… Idiotas.”
Uma serpente feita de sombras voou em sua direção e foi por pouco que não acertou o seu olho; ao invés disso, a flecha ficou cravada na parede, logo atrás dele.
Então, de repente estava cercado.
Viu mais sombras gritando e correndo em sua direção, balançando lâminas feitas de trevas.
Seu coração pulsou e suas pernas se moveram sozinhas, avançando contra os seus agressores, que de repente ficaram mais lentos e desajeitados. Quando se aproximou do mais adiantado deles, entendeu o porquê.
O covarde estava tremendo de medo.
Siegfried olhou direto em seus olhos e o mercenário congelou; tinha o dobro da sua idade, trinta centímetros a mais e estava em maior número, mas bastou ver o seu alvo resistir para que perdesse toda a coragem… E a cabeça.
Foi tão fácil que parecia errado.
Mesmo com um escudo e espada em mãos, o covarde nada fez e o aço anão dilacerou a sua garganta com facilidade, rompendo o tecido e esmigalhando a sua espinha.
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Sentiu o sangue quente respingar em seu rosto quando a cabeça se desprendeu do corpo e voou.
Seu coração começou a bater mais forte com o gosto metálico em sua boca e não resistiu a abrir um sorriso quando viu a expressão aterrorizada dos outros três mercenários restantes. Pálidos como leite azedo.
Um deles tomou coragem, o mais novo; tinha o rosto coberto de sardas e carregava uma espada velha de aço, mais ou menos afiada, mas cheia de cicatrizes.
“Um guerreiro? Não. O filho de um.”
O garoto ainda era muito verde.
Desviou a sua estocada dando uma pancadinha na lâmina dele com a sua espada, então bateu o escudo no rosto do rapaz, que perdeu o equilíbrio e cambaleou para trás, expondo o seu pescoço.
Siegfried aceitou o presente de bom grado e enfiou a lâmina na garganta do garoto, enquanto o via escorregar no próprio sangue e lutar para se soltar. Durou apenas alguns instantes e, quando terminou, puxou a espada de volta e permitiu que o cadáver caísse no chão.
Queria poder dizer que não gostava daquilo. Não reconhecia nenhum deles, provavelmente Eradan os recrutou após sua captura, mas ainda assim os considerava parte de sua tropa… Sua antiga tropa.
Mas a verdade é que ele gostou.
A sensação de fazer parte do lado vencedor. De exibir o seu talento e pôr em prática tudo o que aprendeu. Ver o medo nos olhos dos homens, quando percebem que você é o monstro. Que será o único a sair vivo daquela batalha.
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Era um prazer que lhe foi tirado desde que deixou Qaredia. Naquela época, eram saqueadores e guerreiros, piratas e heróis.
Então se tornou um mercenário, e de repente se viu lutando pela própria vida sob o comando de líderes fracos e incompetentes. Sempre em desvantagem. Nunca podendo contar com o homem ao seu lado. Perdendo batalhas por nada além da pura estupidez de seus comandantes.
A verdade é que servir o conde era como voltar ao reino dos anões. Um líder poderoso, forte e um tanto temível, o enviando para massacrar qualquer soldado estupido que ouse desafiá-lo.
Se fosse mais sábio, poderia temer o caminho que trilhava. Ao invés disso, admirou o terror nos olhos dos dois últimos mercenários; um velho de cabelos grisalhos e um homem gordo.
— Próximo?
Não que tenha sido uma surpresa, mas os dois trocaram olhares e então correram na direção oposta, apenas para se verem cercados por alguns soldados esqueletos que os mataram.
O gordo foi esfaqueado na barriga por várias lâminas, de novo e de novo, até que abriram o seu estômago, despejando suas tripas no chão.
A visão do seu companheiro sendo morto fez o velho largar a espada e se render. Parece que ninguém lhe disse que mortos-vivos não sabem o significado de: eu me rendo. Deve ter sido uma grande surpresa para ele, quando a lâmina meio enferrujada partiu seu crânio em dois, afundando do topo da sua cabeça até o meio dos olhos.
E pensar que estes eram seus companheiros de armas até pouco tempo atrás. Só de se imaginar enfrentando o conde e seus soldados desmortos com homens como aquele ao seu lado…
— Merda. Agora eu quero mesmo matá-los.
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E foi o que fez.
Quanto mais fundo entrava na estalagem, menos espaço tinha para se mover. Os mortos-vivos avançavam em maior número, pressionando os mercenários contra os fundos e forçando eles a uma batalha cara-a-cara, enquanto esbarravam uns nos outros.
Siegfried correu, pulou em cima de uma mesa e então saltou sobre eles, chutando a cabeça de um homem qualquer quando aterrissou entre os inimigos.
Então eles entraram em pânico, como qualquer soldado verde. Bastava uma simples atitude que fosse mais ou menos fora da curva para que os covardes ficassem completamente perdidos.
Mas ele não perdeu tempo.
Enfiou a espada no coração do mercenário mais próximo e então puxou, permitindo que ele caísse morto no chão.
Seus companheiros finalmente tomaram uma decisão e atacaram o escudeiro, que empurrou eles para trás com o seu escudo, direto para as lâminas dos soldados mortos-vivos.
“Sete”, rasgou a garganta de um deles.
“Seis”, empurrou outro para trás e os desmortos terminaram o serviço, atravessando as espadas em suas costas.
“Cinco”, um garoto não muito mais velho que ele caiu no chão, então esmagou a sua cabeça com o escudo.
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O sangue respingou em seu rosto e suas mãos arderam. Tentou engolir, mas sua garganta estava seca e o coração pulsava como um tambor em seu peito. Aquela era uma boa batalha.
— Bem que eu senti cheiro de rato — disse o vice-comandante dos mercenários, olhando para Siegfried de cima das escadas, esperando por ele no segundo andar.
O rapaz sorriu.
— Kris…
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