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    Ao que parecia, ele havia sido nocauteado por um pouco mais de tempo do que imaginava, porque, segundo ele, Ilsa e Kyron deveriam estar correndo para o telhado para ver o que estava acontecendo agora. Ele podia vê-los discutindo sobre algo em um canto próximo, e nenhum deles fez o menor movimento em direção ao telhado.

    “Zorian?” Ibery tentou pela quinta ou sexta vez, Zorian não tinha certeza. “Tem certeza que você está bem? Talvez eu devesse procurar alguém-“

    “Estou bem,” Zorian disse, de alguma forma conseguindo afastar os sentimentos opressivos por um momento. As explosões finalmente pararam, mas isso não levou as pessoas a se acalmarem. Na verdade, agora que a situação havia se acalmado um pouco, elas queriam respostas, e as queriam agora. Elas estavam ficando inquietas. Por sorte, a equipe da academia parecia perceber isso também. “Olha, Ilsa está tentando dizer alguma coisa.”

    “Por favor, fiquem calmos!” Ilsa disse do palco da música, usando a mesma magia que levava a música de forma uniforme pelo salão de dança para se fazer ouvir por todos os presentes. “Eu e meu colega iremos ao telhado agora e abriremos as comunicações com as autoridades da cidade para descobrir o que está acontecendo. Por favor, não vão a lugar nenhum até voltarmos.”

    Bem… isso não ajudou muito a acalmar as pessoas. Na verdade, elas ficaram ainda mais indisciplinadas do que antes do discurso de Ilsa, e algumas ignoraram todos os seus avisos e deixaram o salão de dança no momento em que ela subiu as escadas e sumiu de vista. 

    Ele não poderia julgá-los com muita severidade, já que em outra linha do tempo havia feito a mesma coisa. Do lado positivo, a sensação opressiva se dissipou e voltou à familiar pressão indutora de dor de cabeça. Ele deu um grande suspiro de alívio.

    “Olá, Zorian,” cumprimentou Zach, aproximando-se de Zorian. Claro que ele veio falar com ele agora… “Que alvoroço, hein? E vejo que você convenceu a senhorita Ambercomb a ser seu par para a noite! Parabéns! Nunca soube que você gostava de garotas mais velhas.”

    “Sou apenas um ano mais velha que ele,” protestou Ibery. Ela olhou por um breve momento para Zorian para ver se ele apontaria que foi ela que o convidou para sair e relaxou quando percebeu que ele não diria. Zorian teve que se conter para não revirar os olhos. “E como é que você está aqui sozinho? Por que você não nos apresenta aos suas acompanhantes?”

    Se Ibery pensou em perturbar Zach apontando a natureza plural de seus parceiros para a noite, ela ficaria muito desapontada. E, de fato, Zach apenas sorriu para ela, com completa indiferença ao golpe.

    “Elas decidiram voltar para casa mais cedo,” Zach deu de ombros. “Provável que seja melhor, considerando o que aconteceu.”

    “Mas o que aconteceu?” perguntou Zorian. Ele não esperava obter uma resposta direta de Zach, é claro, mas valia a pena tentar.

    “Acho que logo descobriremos,” disse Zach, apontando para a base da escada que levava ao telhado, onde Ilsa conversava com um grupo de alunos. Depois de alguns segundos, Zorian percebeu que Akoja estava entre eles e reconheceu vários outros rostos também.

    “Com quem ela está falando?” perguntou Ibéry.

    “Representantes de classe, eu acho,” disse Zorian. “Pelo menos, os que reconheço são todos representantes de classe de seus grupos.”

    Foi tão lento e frustrante. Talvez Zorian estivesse esperando demais de uma mera instituição educacional, mas a resposta deles à invasão foi bastante decepcionante. Pelo menos ele esperava que eles começassem a evacuar as pessoas para os abrigos agora, ou organizassem algum tipo de força de defesa, ou… bem, qualquer coisa, na verdade. Estava tendo a impressão de que Ilsa e Kyron ainda nem perceberam a gravidade da situação.

    Finalmente, Ilsa pareceu terminar com suas instruções e a multidão de representantes de classe se dispersou na multidão. Levou apenas um minuto para Zorian perceber o que eles estavam fazendo — cada um reunindo seus próprios colegas em um único grupo. Ele se despediu de Ibery e partiu para seu próprio grupo junto com Zach.

    Assim que todos estavam presentes, Akoja contou a eles qual era o plano. A academia usaria suas limitadas capacidades de teletransporte para tirar dignitários estrangeiros e outras pessoas importantes da cidade, e os alunos desceriam pelos túneis sob a cidade para chegar aos abrigos a pé — sem professores presentes para orientar e defendê-los, porque eles tinham outras funções no momento e os representantes de classe tinham que conhecer as rotas de evacuação para conseguir o trabalho de qualquer maneira.

    Zorian olhou para Zach para avaliar sua reação e viu que a expressão do menino era sombria e focada.

    “Tudo bem,” Zach murmurou. “Hora do show.”

    Zorian teve um mau pressentimento sobre isso.

    * * *

    De forma surpreendente, não foi Zach quem deu o alarme — foi Raynie, de todas as pessoas. Como exatamente ela detectou os lobos invernais 5 minutos antes de eles aparecerem, ele não fazia ideia, mas notou-os e ela logo deu o alarme. 

    Muitos alunos não acreditaram nela, mas a maioria não estava disposta a arriscar. Toda a procissão de estudantes começou a se mover mais rápido em direção ao pequeno prédio cilíndrico que marcava a escada que levava aos abrigos.

    Eles nunca chegaram lá antes que os lobos invernais os alcançassem.

    Zorian não era um soldado e nunca se consideraria um especialista em táticas, mas o que a multidão de estudantes fez ao avistar a horda de lobos invernais vindo atrás deles ainda o parecia uma estupidez monumental. Eles se espalharam. 

    Os mais próximos da entrada da masmorra correram em direção a ela, mas os outros no mesmo momento procuraram o abrigo mais próximo. Ele podia ouvir os gritos frenéticos de Zach, dizendo às pessoas para não se separarem do grupo principal, mas foi em vão.

    Amaldiçoando, Zorian agarrou Akoja pelo pulso antes que ela pudesse correr em direção ao prédio de apartamentos próximo e apontou sem palavras para a entrada da masmorra. Por um momento pensou em explicar seu raciocínio com mais detalhes, mas sabia que não tinha tempo suficiente para isso. Ele a soltou e começou a correr, esperando que ela tivesse presença de espírito para segui-lo.

    Por sorte, ela o seguiu, assim como vários outros alunos que testemunharam a troca silenciosa e perceberam a importância disso. Enquanto corriam, mais pessoas se juntaram a eles, buscando segurança em números.

    Ao seu redor, o caos reinava. Os lobos invernais estavam chegando às centenas e, ao contrário dos estudantes em fuga, eles eram bem coordenados de uma forma assustadora. Pequenos grupos de 3 a 4 lobos se separaram por alguns momentos do corpo principal para interceptar alvos solitários antes de se juntar à horda, usando seus números superiores para flanquear e superar seus oponentes. 

    Sua pelagem branca e o surpreendente silêncio com que se moviam faziam com que parecessem um exército de fantasmas que levantaram do submundo para punir os vivos. Gritos. Berros. Flashes de luz e uivos caninos de dor também — nem todos os alunos estavam indefesos. 

    À frente, Zach estava defendendo a entrada dos túneis com ferocidade, enviando enxame após enxame de projéteis de força que atingiam muito mais forte do que o míssil mágico comum, derrubando dezenas de lobos invernais a cada rajada.

    Assim como Zorian pensou que chegariam à entrada sem incidentes, sua sorte acabou. Um grande grupo de cerca de 30 lobos invernais os notou e se moveu para interceptá-los. O grupo parou imediatamente, sem saber o que fazer enquanto o bando continuava se aproximando. 

    Eles tinham que passar pelo monstros para chegar aos abrigos, mas lutar contra os lobos era suicídio. Zach estava ocupado incinerando um grupo de trolls de guerra que apareceu e não poderia ajudar por um tempo.

    “Eu disse a você que deveria ter trazido minha espada,” um dos garotos reclamou. “Mas nããão 1, não é adequado para um baile de escola, você disse. Você é muito paranóico para o seu próprio bem, você disse.”

    “Oh, cale a boca,” uma voz feminina retrucou.

    Zorian resistiu ao impulso de disparar alguns mísseis contra os lobos invernais que se aproximavam. Mesmo em forma de perfuradores, eles não tinham garantia de matar de uma só vez algo tão resistente quanto um lobo invernal, e ainda tendia a falhar com frequência quando tentava tecer uma função de guia neles, então não havia garantia de que iria acertar algum. Ele tinha que usar sua mana de forma inteligente.

    Nem todos pensavam assim, no entanto. Várias pessoas tinham uma fórmula mágica escondida nelas na forma de um anel ou colar, assim como ele, e lançaram míssil mágico após míssil mágico nos lobos que avançavam. 

    Apenas uma garota era capaz de lançar um raio de direcionado adequado, então a maioria deles errou, e quando acertaram, foram apenas esmagadores, então não mataram nenhum deles. 

    Eles, no entanto, desaceleraram a matilha e a forçaram a se agrupar, já que a garota que poderia disparar raios direcionais mirava em qualquer lobo que tentasse se separar da matilha para flanqueá-los. E isso lhe deu uma ideia.

    No momento em que o bando se aproximou o suficiente, Zorian disparou um lança-chamas poderoso direto em suas linhas de frente. Agrupados como estavam, a maioria deles foi pega na explosão. 

    Os lobos invernais, com sua fraqueza ao fogo, uivaram de medo e agonia. Foi quando alguém disparou outro lança-chamas em suas fileiras, este muito maior e mais quente que o de Zorian, e os lobos invernais se viraram e fugiram no mesmo momento. Os que ainda viviam, na verdade.

    Zorian se virou para ver quem lançou o outro lança-chamas e ficou surpreso ao ver Briam ali, olhando com presunção para os cadáveres carbonizados à sua frente. Ele estava segurando seu drake de fogo em seus braços como uma arma viva, e o pequeno lagarto estava lambendo seus beiços como se quisesse comer suas presas.

    Lá se foi sua teoria de que o drake era jovem demais para cuspir fogo.

    Após um momento de choque com a súbita reversão, todos eles se arrastaram para dentro do prédio que abrigava a entrada da masmorra e logo desceram para os túneis abaixo. Zorian foi imediatamente interceptado por uma preocupada Ibery, que parecia muito aliviada por ele estar vivo. Mesmo sabendo que a morte dela não seria permanente, tinha que admitir que estava feliz por ela ter sobrevivido também.

    Embora, agora que ele pudesse se sentar e pensar um pouco sobre isso, não era tão incomum que ela tivesse sobrevivido. Ela era uma aluna do quarto ano e eles estavam na frente do grupo por algum motivo. 

    Isso foi muito lamentável, porque os alunos do quarto ano eram, como esperado, muito mais capazes de se defender do que os do terceiro ano… e foram eles que alcançaram a segurança dos abrigos primeiro, deixando seus compatriotas mais jovens se defenderem sozinhos.

    “Eu não sabia que você tinha feitiços de fogo,” Briam notou à sua esquerda, acariciando seu familiar com afeto. “Acho que essa é uma das coisas que Zach tem ensinado a você no mês passado, hein?”

    “Sim,” Zorian admitiu. Ele deu ao lagarto de fogo um olhar duvidoso, e o réptil o encarou de volta em desafio. “Você realmente trouxe seu familiar para o baile da escola?”

    “Oh, de jeito nenhum,” Briam riu. “Eu não sou tão apegado a ele. Não, eu usei um feitiço de recordação para convocá-lo para o meu lado quando os lobos invernais começaram a chegar.”

    “Mas convocar não consome bastante mana?” Zorian perguntou.

    “Não se você estiver convocando seu familiar,” disse Briam. “Estamos unidos, ele e eu. Conectados através da alma. É muito mais fácil e muito menos desgastante lançar certos feitiços relacionados a ele.”

    “Huh,” Zorian cantarolou.

    Uma hora se passou, com pouco para mostrar. Zorian ouviu histórias de pessoas ao seu redor, tentando colocar algum sentido no que havia acontecido e pensando no que poderia mudar no próximo reinício para tornar essa evacuação menos falha. Seus pensamentos foram interrompidos quando um grupo de professores enfim tropeçou nos abrigos.

    Eram seis, com aparências cansadas ​​e assustadas, muito parecidos com os alunos que se reuniram ao redor deles para explicações e garantias. O único entre eles que inspirou confiança em Zorian foi Kyron, que permaneceu estóico como sempre. 

    Ele não estava mais com o peito nu, optando por usar uma armadura de corpo inteiro que lembrava a casca quitinosa de um inseto santo2, e tinha muitas varinhas mágicas penduradas em seu cinto, além do cajado de combate que segurava com firmeza em uma mão. 

    Kyron tinha más notícias — o ataque à academia foi apenas uma peça em uma invasão total visando toda a cidade. Zorian já sabia disso, é claro, mas todos os outros ficaram chocados. A invasão foi bem preparada e a maioria dos defensores foi dominada logo no início. 

    A cidade estava prestes a cair. Uma vez que isso acontecesse, os abrigos se tornariam apenas uma gigantesca armadilha mortal. Eles teriam que sair e lutar para fugir da cidade antes que os invasores pudessem assegurar tudo de importância crítica e voltar sua atenção para eles.

    As pessoas estavam levando isso muito mal.

    “Por que vocês apenas não nos teletransportam para fora!?” alguém falou. “Vocês deveriam ser capazes de fazer isso!”

    “O controle das proteções da Academia foi tomado,” Kyron disse com calma. “Os invasores viraram nossas próprias proteções de teletransporte contra nós. Não podemos nos teletransportar para dentro ou para fora.”

    Zorian gemeu. O inimigo tinha o controle das proteções? Como diabos eles fizeram isso? A academia não era apenas uma casa aleatória com um esquema de proteção genérico — deveria ser muito segura e sofisticada para isso!

    As perguntas continuaram por mais ou menos um minuto antes que Kyron se cansasse e começasse a berrar ordens. Eles precisavam se mexer.

    Zorian estava prestando atenção em outra coisa. O aluno ao lado dele estava agindo de forma estranha desde que Kyron e seu grupo entraram nos abrigos. Zorian quase podia sentir a ânsia e a expectativa do menino. Para quê, não sabia dizer, mas tinha a sensação de que não era nada bom.

    É por isso que, quando o menino jogou um frasco cheio de um líquido verde doentio no chão e o quebrou com o pé, Zorian prendeu a respiração e disparou um esmagador direto no peito do menino. Fumaça verde fedorenta irrompeu do frasco quebrado e o abrigo explodiu em caos.

    Zorian não conseguia ver nada através da fumaça venenosa, sem dúvida, mas os sons de luta eram inconfundíveis. Ele tropeçou na fumaça, tentando encontrar um fim para ela e falhando. Poderia dizer pelos alunos tossindo ao seu redor que respirar seria uma má ideia. 

    Graças aos deuses também não irritou os olhos ou nunca seria capaz de lançar um escudo a tempo de impedir que um míssil mágico se chocasse contra seu rosto. Um plano circular de força cintilou à sua frente, absorvendo o golpe. O escudo oscilou por um segundo, mas resistiu.

    E então Zorian ouviu Kyron gritar uma série de palavras, e toda a fumaça ao seu redor correu em direção à fonte da voz de Kyron, como se estivesse presa em algum tipo de vácuo. Zorian teve tempo suficiente para ver Kyron segurando a mão esquerda no ar, uma bola verde esfumaçada compactando-se acima dela, antes de ser forçado a erguer um escudo mais uma vez.

    Pelo menos ele podia respirar agora. Agradeça aos deuses por pequenos favores.

    Antes que os atacantes — que provavelmente se teletransportaram sob a cobertura de fumaça, porque Zorian se lembraria de um bando de homens de meia-idade em túnicas marrons se estivessem presentes quando entrou no abrigo — pudessem recuperar a iniciativa, Kyron acenou com uma de seus mãos e um chicote brilhante brilhou no ar. Os invasores logo se desfizeram, a metade superior de seus corpos deslizando para fora da metade inferior como se nunca estivessem ligados um ao outro.

    Zorian olhou para Kyron em estado de choque. Ele sabia que o mago de batalha aposentado era capaz, mas ver isso era outra coisa. O homem avaliou a situação em instantes e a resolveu com um total de dois feitiços. Ele se perguntou o que teria acontecido durante a evacuação inicial se Kyron estivesse liderando os alunos. 

    Não pôde deixar de pensar que Kyron teria encontrado uma maneira de repelir a investida inicial dos lobos invernais sem perder ninguém. Com certeza os alunos estariam mais inclinados a ouvir Kyron do que seus representantes de classe — o homem tinha uma certa aura de comando ao seu redor.

    “Como… diabos… você… ainda está de pé?” ofegou Zach não muito longe dele. Ao que parecia, ele inalou um pouco da fumaça e foi afetado como todo mundo. Até mesmo viajantes do tempo de décadas de experiência podiam ser derrubados por alguns truques, ao que parecia.

    Zorian estava prestes a responder quando o chão explodiu ao lado dele, cobrindo-o com fragmentos de pedra e derrubando-o de costas. Ele ouviu Kyron cantando algo, mas era tarde demais para ele — o gigante verme marrom que emergiu do chão era muito mais rápido do que deveria e Zorian estava com muita dor para se mover. Ele viu uma enorme boca cheia de dentes fechando-se ao seu redor, e então ele conheceu apenas a escuridão.

    Seus últimos pensamentos foram de que não era justo. Quantas contingências essas pessoas tinham? Esses invasores eram malditos trapaceiros!

    1. é assim mesmo, prolongamento do não[]
    2. um monstro aleatório[]

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