Capítulo 23: Presente
Lilith acordou com os primeiros raios de sol penetrando pelas cortinas do quarto, aquecendo suavemente seu rosto. Ela se sentou na cama, espreguiçando-se enquanto observava Fenrir ainda adormecido no chão ao seu lado. O grande lobo prateado respirava calmamente, seus flancos subindo e descendo em um ritmo tranquilo. Lilith sentiu uma onda de tranquilidade ao vê-lo tão sereno.
Decidindo não perturbá-lo, ela se levantou silenciosamente e vestiu suas roupas habituais, ajustando a capa sobre os ombros e certificando-se de que sua venda estava firmemente posicionada sobre os olhos.
Descendo para o salão principal da hospedagem, Lilith foi recebida pelo aroma convidativo de pão recém-assado e chá quente. O lugar estava relativamente calmo, com apenas alguns hóspedes desfrutando do café da manhã. Ela se sentou em uma mesa próxima à janela, apreciando a vista da cidade que começou a despertar.
Enquanto saboreiava sua refeição, um atendente se aproximou com um sorriso educado.
— Bom dia, senhorita Lilith. Espero que esteja gostando de sua estadia.
— Sim, muito obrigada — respondeu ela, com um leve aceno de cabeça.
— Ah, quase me esqueci — continuou ele. — Chegou uma encomenda para você esta manhã. Está no balcão, se desejar pegá-la.
Lilith ergueu uma sobrancelha sob a venda, surpresa.
— Uma encomenda? Obrigada por avisar.
Após terminar o café da manhã, ela se dirigiu ao balcão, onde um pacote cuidadosamente embrulhado a aguardava. A embalagem é simples, mas elegante, com um selo que ela reconheceu imediatamente: o emblema da guilda de Novograd. A curiosidade a envolveu enquanto pegava o pacote.
Retornando ao quarto, Lilith encontrou Fenrir já acordado, seus olhos observando-a com interesse.
— Recebi algo inesperado — disse ela, sentando-se na beira da cama.
Fenrir se aproximou, farejando o pacote.
— De quem seria?
— Acho que do Mestre da Guilda.
Ela desfez o embrulho com cuidado, revelando uma caixa de madeira polida. Ao abri-la, encontrou uma carta e um objeto peculiar: uma tsuka, o cabo de uma katana, sem lâmina. A tsuka é belamente trabalhada, adornada com detalhes em prata e entalhes que formam padrões elegantes. Lilith pegou a carta e começou a ler.
— Prezada Lilith. Envio-lhe esta katana de mana como um presente para auxiliá-la em sua jornada. Ela responde à vontade e à energia do portador, materializando uma lâmina quando necessário. Espero que seja útil em seus desafios futuros. Boa viagem. Assinado, Mestre Arlin.
Lilith sentiu uma onda de gratidão e admiração. Segurou a tsuka com as duas mãos, sentindo uma leve pulsação de energia que parecia responder ao seu toque.
— Uma katana de mana… — murmurou ela.
Félix apareceu ao seu lado, flutuando silenciosamente.
— Interessante. Não é uma arma comum — comentou ele telepaticamente.
Fenrir observava atentamente.
— Um presente generoso. Armas assim são raras e valiosas.
Lilith concordou com um aceno de cabeça.
— “De fato. Embora já tenha minhas próprias armas, aprecio muito o gesto de Arlin” — disse telepaticamente.
Curiosa para testar a katana, ela se levantou e concentrou sua energia na tsuka. Fechou os olhos sob a venda e sentiu a conexão entre sua mana e o objeto. Aos poucos, uma lâmina de luz pura começou a emergir, brilhando com um resplendor suave. A arma completa estava agora em suas mãos, leve como uma pluma, mas emanando um poder palpável.
Ela fez alguns movimentos no ar, cortando suavemente, sentindo a fluidez e o equilíbrio perfeito da katana. Decidiu então testar seu poder de corte. Mirou na manga de sua própria roupa e tentou cortá-la. Para sua surpresa, a lâmina não faz nenhum dano.
— Talvez precise ajustar algo — pensou em voz alta.
Concentrando-se mais profundamente, canalizou uma quantidade maior de mana para a lâmina. Tentando novamente, e desta vez a lâmina cortou o tecido com facilidade. No entanto, quase instantaneamente, o material se regenerou, voltando ao estado original graças ao equipamento especial de suas vestes.
— Esqueci que minhas roupas se auto-regeneram — disse ela, esboçando um leve sorriso.
— Parece que a arma funciona perfeitamente — observou Félix.
Lilith desativou a lâmina, que desapareceu em um brilho suave, e guardou a tsuka em seu cinto.
— Acho que estou pronta para partir.
Antes de deixar a cidade, decidiu escrever uma carta para Arlin em agradecimento. Sentando-se à escrivaninha do quarto, pegou papel e tinta e começou a escrever com caligrafia cuidadosa.
— Prezado Arlin. Agradeço sinceramente pelo presente. A katana de mana é uma arma magnífica, e sinto-me honrada por sua consideração. Estou partindo agora para a torre do mago em busca de respostas. Deixarei Fenrir em Novograd por enquanto, para que possa descansar e evitar chamar atenção indesejada. Espero retornar em breve e compartilhar o que descobri. Com gratidão, Lilith.
Ela selou a carta e a entregou ao atendente da hospedagem, solicitando que fosse entregue ao Mestre da Guilda.
De volta ao quarto, virou-se para Fenrir.
— Preciso que fique aqui, Fenrir. A jornada até a torre pode ser perigosa, e sua presença poderia atrair olhares que preferimos evitar.
Fenrir a observou com compreensão.
— Entendo. Ficarei esperando por seu retorno. Tenha cuidado.
— Obrigada. Cuidarei para que tudo corra bem.
Com tudo preparado, Lilith ajustou sua capa, certificando-se de que suas armas estão em ordem e verificou seus suprimentos. Félix permaneceu ao seu lado, pronto para acompanhá-la.
— Pronta para enfrentar o desconhecido? — perguntou ele, com um tom ligeiramente provocador.
— “Sempre” — respondeu Lilith telepaticamente com um leve sorriso.
Enquanto ela deixava a hospedagem, a cidade começou a despertar completamente. O céu estava claro, mas o ar é frio, indicando que o inverno permanecia. As ruas de Novograd estavam movimentadas, mas Lilith se movia com facilidade entre as pessoas, sua figura discreta passando quase despercebida.
Saindo pelos portões da cidade, ela sentiu a vastidão do mundo à sua frente. A estrada que levava à Torre do Mago é longa, e o tempo começou a mudar por causa da neve. Enquanto caminhava, conversou com Félix.
— “Como você acha que esse mago será?” — perguntou ela, olhando para o horizonte.
Félix ponderou por um momento antes de responder.
— Difícil dizer. Se os rumores forem verdadeiros, ele é extremamente antigo, talvez tão velho quanto algumas montanhas. Mas a aparência pode ser enganosa. Talvez nossas perguntas finalmente encontrem respostas.
— “Espero que sim. Há muito que preciso entender.”
Decidindo acelerar a jornada, Lilith começou a correr, aumentando sua velocidade gradualmente até alcançar um ritmo impressionante. Ela percorreu cerca de 20 quilômetros em um terço de hora, a paisagem passando como um borrão ao seu redor. Félix a acompanhou sem esforço, flutuando ao seu lado.
Conforme a tarde avançava, o céu começou a adquirir tons alaranjados, indicando que o sol logo iria se pôr. Ao longe, a silhueta da torre apareceu no horizonte, erguendo-se imponente contra o céu. A construção é alta e esguia, feita de pedras antigas cobertas por musgo e trepadeiras. Há uma aura misteriosa que emana dela, algo que fazia o ar ao redor parecer mais denso.
Aproximando-se, Lilith notou uma figura sentada próxima à entrada da torre. É um homem jovem na aparência, com cabelos negros que contrastam com a palidez de sua pele. Ele estava sentado em um degrau, observando o céu como se estivesse imerso em pensamentos profundos. Quando percebeu a presença de Lilith, ele levantou o olhar e acenou com um leve sorriso.
Surpresa com a recepção inesperada, Lilith diminuiu o passo e se aproximou com cautela. Félix permaneceu atento ao seu lado, analisando a situação.
— Ele parece nos esperar — comentou Félix.
Lilith parou a alguns metros do homem.
— Olá — disse ela, mantendo a voz neutra.
— Bem-vinda — respondeu o homem, com um tom calmo. — Estava aguardando sua chegada.
Lilith franziu a testa sob a venda.
— Você me conhece?
Ele sorriu enigmaticamente.
— De certa forma. Mas creio que você tenha muitas perguntas. Talvez possamos conversar.
— Você é o mago desta torre?
— Sim, alguns me chamam assim. Mas pode me chamar de Alaric.
Lilith sentiu uma mistura de curiosidade e cautela. As histórias sobre o mago eram muitas, e encontrar alguém tão receptivo não era o que esperava.
— Meu nome é Lilith.
— Eu sei — respondeu Alaric, com um brilho nos olhos. — Venha, vamos entrar. O tempo está mudando, e a noite aqui pode ser fria.
Lilith trocou um olhar significativo com Félix, que apenas assentiu.
— Cuidado, mas acho que devemos ouvir o que ele tem a dizer — Félix aconselhou.
Decidida, Lilith seguiu Alaric para dentro da torre, pronta para descobrir os mistérios que a aguardam.
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