Capítulo 679: Sonho (6/7)
No dia anterior ao meu plano entrar em ação, ele foi frustrado logo de cara, quando minha razão para escapar desapareceu. Depois que Auril Gavis foi embora, meu processo de alta começou sem problemas.
— Em minha opinião, você pode retornar à sociedade em seu estado atual.
O médico determinou que eu estava completamente recuperado.
— Parabéns pela alta, Sr. Lee.
O Líder da Equipe Kang veio, mas não para me passar informações do lado da polícia, como costumava fazer, e sim para se despedir rapidamente.
Hyeonbyeol e minha mãe, por sua vez, poderiam pelo menos ter fingido surpresa.
— Estou feliz, Hansu. De verdade. Estou muito feliz.
— V-Vamos para casa, Hansu…
Mas, no fim, as duas estavam apenas felizes que eu estava curado.
Com isso, minha alta foi finalizada em apenas um dia.
Após deixar o hospital, onde eu estava preso há sabe-se lá quanto tempo, fui para casa com minha mãe.
— Eu passei por aqui antes e dei uma limpada, mas ainda está sujo… Se eu soubesse que você teria alta tão rápido, teria limpado tudo antes…
— Você…não vai embora?
— Vou morar com você por enquanto e ajudar… S-Se você não quiser, não preciso dormir aqui. Posso só vir pela manhã e sair à…
Suspirei. — Está tudo bem. São mais de duas horas de viagem entre nós… Fique aqui. — Eu ainda deixaria este mundo quando a hora chegasse.
Depois de concluir que seria mais irritante expulsá-la, comecei a morar com minha mãe. Mesmo assim, a presença dela tornou muitas coisas bem mais convenientes.
— Hansu, eu fiz o jantar…
Eu tinha refeições regulares.
“Há quanto tempo não comia assim?”
E todas as refeições eram do meu gosto.
— Quero comprar alguns laptops.
— Vou te dar meu cartão para usar.
Eu também poderia conseguir dinheiro dela, mas não me parecia certo, então nunca o usei.
— Não, não preciso do cartão — garanti. — Só queria pedir se você poderia me levar até a loja.
De todo modo, após uma faxina, fui direto à loja de eletrônicos e comprei alguns laptops, especificamente, cinco dos mais baratos.
— Hansu… Tem alguma razão para você precisar de tantos?
— Sim. Só dá para jogar de verdade se você usar cinco laptops ao mesmo tempo.
— É-É mesmo?
Minha mãe achava difícil entender, mas era porque nunca tinha jogado. O coração de Dungeon and Stone era dar sorte e manter o ‘grind’. Precisava de muitas tentativas, então quanto tempo levaria se eu jogasse apenas em um laptop?
“Se você usar um macro para rodar quatro jogos em um computador… Pode evoluir vinte personagens de uma vez.”
Esse tinha sido meu modus operandi durante meus nove anos jogando.
Salvo algumas exceções, o jogo não exigia muitos comandos detalhados. Se eu evoluísse meus personagens usando o método macro, poderia ver se algum conseguia uma essência específica ou um equipamento especial logo no início, e usaria isso para determinar se ele tinha chance de zerar o jogo ou não, focando mais minha atenção nesse personagem.
“Pronto, tudo configurado.”
Criei um bárbaro para cada um dos vinte jogos e comecei a jogar de verdade.
Clack, clack, clack.
Tick, tick, tick.
Tap! Tap! Tap!
Como a área do primeiro andar era difícil de automatizar, minhas mãos estavam bem ocupadas, mas eu usava a técnica ESC1 de vez em quando para controlar o ritmo.
【Personagem recrutou um guerreiro como aliado.】
【Personagem recrutou um arqueiro como aliado.】
【Personagem recrutou um arqueiro como aliado.】
【Personagem recrutou um guerreiro como…】
Depois de retornar do labirinto, recrutava aliados na Guilda dos Aventureiros, e era aí que eu podia relaxar. Não que eu deixasse de monitorar as coisas, no entanto.
— Sim. Guerreiros e arqueiros são os melhores para os andares mais baixos.
Talvez fosse por estar jogando pela primeira vez em muito tempo. Ainda assim, mesmo os andares mais baixos, que geralmente eram chatos pra caramba, estavam bem divertidos.
Claro, isso não durou muito.
【Personagem morreu ao pisar em uma armadilha.】
【GAME OVER】
Quando cheguei ao terceiro andar, os personagens começaram a morrer. Eu estava jogando de forma hardcore, afinal, com vinte personagens e sem me importar com cada morte individual.
【Ataque indefensável!】
【Personagem morreu.】
Não fiquei decepcionado nem nada. Simplesmente não havia como evoluir um personagem devagar e com segurança para zerar o jogo.
Sobrevivência do mais apto.
Não, essa frase não era suficiente para descrever este jogo.
Como dizia o ditado ‘O que não me mata me fortalece’ apenas o personagem que conseguisse sobreviver a situações onde todos os outros morreriam poderia se tornar mais forte.
【Golpe letal!】
【Personagem morreu.】
【Personagem foi emboscado por um saqueador.】
【GAME OVER】
【Personagem morreu por um Troll.】
【GAME OVER】
Mais rápido que qualquer outro personagem.
【A Essência do Troll se impregnou profundamente na alma do personagem.】
【Personagem entrou no Grande Reino dos Demônios do quinto andar.】
【Novo equipamento foi equipado.】
【O nível total dos itens aumentou em +799…】
Uma semana, duas semanas, três semanas…
Depois que me tranquei em casa, o tempo passou como o vento.
— Hansu! A comida está pronta!
Minha mãe cuidava de mim mesmo quando eu ficava jogando todos os dias no meu quarto.
— Hansu, quem é esse cara? Não parece um monstro.
— É uma pessoa. Estou pensando em evoluir este personagem saqueando os outros.
— Uau. Isso é cruel.
Hyeonbyeol também me visitava com frequência, ocupando um lugar na minha cama. Ela assistia enquanto eu jogava e conversava comigo sobre o jogo. Ela parecia a representante de classe que o professor pediu para ajudar o aluno novo que ainda não se integrou à turma.
— Vou indo, Hansu! Também tenho que trabalhar amanhã. Tchau, senhora!
— Oh, está bem! Tenha uma boa viagem de volta, Hyeonbyeol!
De qualquer modo, esses dias continuaram, e eu também me acostumei a morar com minha mãe. No começo, era desconfortável trocar de roupa na mesma casa, então trancava a porta e ia ao banheiro para trocar, da camisa e calça até a roupa íntima.
“Vou embora de qualquer jeito, então isso importa mesmo?”
Mas, com o tempo, deixei de pensar nisso enquanto se tornava parte regular da minha rotina.
No entanto, mesmo colocando todo meu tempo e energia no jogo enquanto até aquele desconforto desaparecia, certos pensamentos insistentes não me deixavam em paz.
Às vezes, eu tinha vislumbres de realidade desnecessários.
—Ao contrário do que diz, parece que este lugar é do seu agrado.
Outras vezes, o que o Velho me disse vinha à tona. As partes que eu dizia a mim mesmo para ignorar rondavam minha cabeça em um loop cada vez mais persistente.
“Será que… isso é realmente um sonho? A Bruxa que me disse para não voltar, será que era apenas uma alucinação criada pelo meu subconsciente?”
Embora estivesse cansado de pensar nisso, eu não conseguia evitar. Foi por isso que decidi organizar meus pensamentos, já que tinha tempo.
— Hansu, não importa no que você acredita, isso é realmente a realidade. Talvez uma que seja diferente de onde você estava antes.
Com base no que Auril Gavis me disse, este era um outro mundo paralelo.
— Neste mundo, aquele ‘modo de trapaça’ de que você falou não existe.
Um mundo onde o modo cheat nunca foi criado, então eu era o único arrastado para Rafdonia.
— Se realmente quer voltar para aquele lugar, não adianta tentar convencê-lo.
Auril Gavis também parecia querer que eu voltasse para Rafdonia.
— Você precisa desejar isso.
E a forma de voltar era simplesmente desejar com todas as forças. Eu passava todo o meu tempo jogando em meu quarto exatamente por isso.
【Você pode nunca mais retornar.】
【Ainda assim, deseja entrar?】
Quando vi aquela mensagem de novo, se eu pudesse apertar ‘sim’ mais uma vez, então isso provaria meu desejo e minha vontade.
“Talvez… isso pudesse ser só mais uma realidade…”
Embora eu tivesse parado de tomar o remédio que entorpecia minha mente, isso se tornou o motivo para eu ficar cada dia mais confuso.
Provas ainda mais claras começaram a entrar no meu campo de visão. Por exemplo, se eu acreditasse que isso não estava acontecendo dentro de um mundo de sonhos…
Munch, munch.
Essa refeição caseira deliciosa, que eu devorava com alegria, poderia ser explicada.
Creak.
Também explicava como eu tinha marcado mais de sessenta X no calendário. Nunca tinha tido um sonho nas Cataratas dos Sonhos que durasse tanto.
Além disso, havia uma razão plausível.
—Não abra o Portão do Abismo.
A Bruxa da Terra tinha me dito isso no passado. Talvez ela quisesse me mandar, eu, que poderia um dia abrir o Portão do Abismo, para outro mundo.
“Isso ser um mundo paralelo também explicaria as inconsistências que antes me faziam ter certeza de que tudo isso estava acontecendo em um sonho.”
Não estava falando apenas sobre a boa vontade de Hyeonbyeol e da minha mãe. Os acontecimentos na delegacia e no hospital também não faziam sentido. Não era realista, para dizer de forma simples. Esse era meu palpite.
No entanto…
“Auril Gavis.”
Se o Velho tivesse intervindo, então tudo poderia ser explicado.
Ele era único, pois podia pegar magos de surpresa da mesma forma que pessoas normais ficariam surpresas com magos. Ou ele influenciou alguns eventos nos bastidores, ou talvez tivesse usado sua magia para simplesmente fazer lavagem cerebral nas pessoas e virar o jogo a meu favor.
Por exemplo, como o médico decidiu de repente que eu estava mentalmente estável no dia seguinte à visita dele.
“Se eu acreditar que estou em um mundo de sonhos, o Velho só ficaria mais feliz.”
Bom, tanto faz. Eu só estava organizando meus pensamentos porque tinha algum tempo para matar. Não é como se meu objetivo tivesse mudado.
Mesmo que grandes poderes tivessem intervindo e eu tivesse sido movido para uma realidade paralela, o que isso tinha a ver comigo?
Nada havia mudado. Na verdade, as coisas tinham ficado ainda mais claras.
Meus amigos e meus aliados estavam todos daquele lado. Eu viveria minha vida lá. E, em algum momento, talvez eu até tivesse uma família daquele lado também.
Movi o mouse e apertei as teclas de atalho para retornar ao ponto em que estava um dia antes.
【Personagem morreu.】
【GAME OVER】
Eu morri.
【Personagem morreu.】
【GAME OVER】
E morri de novo.
【Personagem morreu.】
【GAME OVER】
Superei as inúmeras dificuldades apresentadas por Dungeon and Stone.
【Personagem morreu.】
【GAME OVER】
E usei todo o meu conhecimento acumulado para subir os andares passo a passo.
【Personagem morreu.】
【GAME OVER】
Não vou dizer que mantive minha calma o tempo todo.
— Aargh! Por que você está curando ‘aquele’ cara?!
Se o grupo que eu criei fosse aniquilado aleatoriamente, eu gritava no meu quarto vazio.
— Hah…
Como eu passava cada momento jogando, também era difícil manter uma rotina. Eu engolia latas de cerveja, uma de cada vez.
— Hansu, talvez você devesse parar de jogar…
— Existem pessoas dentro do jogo!
Com o passar dos dias, eu podia ver que minha mãe e Hyeonbyeol estavam se esgotando.
— Não deveríamos fazer alguma coisa?
— Mas foi você quem disse que talvez o ajudasse a acordar se nada acontecesse depois que ele zerasse o jogo, Hyeonbyeol.
— Sim, eu disse. Mas sinto que quanto mais deixamos ele fazer isso, pior fica o estado mental dele… Talvez eu devesse ir ao hospital e conseguir algum remédio para ele…
— Desculpe, Hyeonbyeol… A culpa é toda minha…
— Não diga isso, senhora. Vou ajudar o máximo que puder.
Me senti flagrado ao ouvir a conversa delas na sala quando saí do quarto para ir ao banheiro. Mas isso não mudou nada.
Eu só precisava fazer o que eu tinha que fazer. Como um bárbaro deveria.
【Personagem morreu.】
【GAME OVER】
【Personagem entrou no Continente Negro do sétimo andar.】
【Personagem morreu.】
【GAME OVER】
【Personagem entrou na Terra do Alvorecer do oitavo andar.】
【Personagem morreu.】
【GAME OVER】
【Personagem entrou no Túmulo Estelar do nono andar.】
【Personagem morreu.】
【GAME OVER】
【Personagem entrou no décimo andar…】
【Portão do Abismo.】
【Você deseja entrar?】
— Finalmente! — gritei em frente ao monitor.
Hyeonbyeol franziu a testa levemente, onde estava deitada na minha cama lendo um livro, e então veio até mim.
— Por que está gritando?
— Eu consegui! Finalmente consegui!
— …Você zerou o jogo? — Quando assenti levemente, a expressão de Hyeonbyeol se contorceu em conflito. — Acho que é a primeira vez em muito tempo que vejo você tão animado.
— Claro que estou animado, como não estaria? Já desperdicei tantos meses neste quarto!
Hyeonbyeol ficou sem palavras diante da minha reação. Então, alguns momentos depois, ela disse — Você é tão cruel. Desperdiçou?
— …Hã?
— A maioria das pessoas pensaria que quem desperdiçou o tempo fui eu — disse Hyeonbyeol. — Eu nunca, nem uma vez, pensei que fosse uma perda de tempo.
Observei enquanto Hyeonbyeol, que sempre agia com força, me olhava com uma vulnerabilidade exposta.
Não tinha nada que eu pudesse dizer a ela. Ela me ajudou de forma altruísta durante os últimos meses. Para ser sincero, eu estaria mentindo se dissesse que não me apeguei a ela depois de todas as conversas que tivemos durante…
— Você não pode simplesmente não apertar?
Hesitei. — O quê?
— Esse botão ‘Sim’ aí. Você poderia… simplesmente não apertar?
— Hyeonbyeol…? O que você quer dizer com não apertar?
A voz de Hyeonbyeol fraquejou um pouco diante do meu tom calmo. — Quero dizer, Hansu… Você acredita que, se apertar aquele botão, vai voltar ao seu mundo original.
Ela nunca acreditou que eu tinha entrado no jogo. Mas eu achava que, quando a hora chegasse, ela poderia começar a considerar essa possibilidade.
O desfecho daquela esperança era claramente diferente.
— Você nos odeia tanto assim?
Hyeonbyeol estava devastada com a própria escolha.
— O tempo que passamos juntos foi só doloroso e cansativo para você?
Isso não era verdade. Foi reconfortante. Eu me diverti aqui. Parecia que uma vida assim tinha, de certo modo, se tornado um sonho há muito guardado. Na verdade…
“Isso já foi um sonho meu.”
Mas meu sonho já tinha mudado. As coisas que eu considerava preciosas tinham mudado, e agora, eu tinha algo que desejava ainda mais.
— Você poderia simplesmente recomeçar aqui…
Mesmo que fosse difícil, eu precisava deixar minhas intenções claras.
— Eu preciso voltar.
Com isso, um silêncio pesado preencheu o quarto.
— Hyeonbyeol, me desculpe. Quando eu voltar, prometo. Eu juro. Vou te ajudar bastante… Está bem? — disse, soltando uma risada sem jeito. — Para mandar você de volta ao mundo real, preciso voltar pra lá.
Hyeonbyeol soltou um suspiro. — Ahh… O que você está dizendo? Não sei. Faça o que quiser. Só te pedi para não apertar porque isso me irrita.
Ela foi para a cama com seu livro, emburrada, e eu me sentei novamente na cadeira e olhei para o monitor.
Click.
Uma mensagem apareceu mais uma vez.
【Você pode acabar nunca mais voltando.】
【Você ainda está disposto a entrar?】
A mensagem que eu considerava desnecessária quando ainda era jogador apareceu diante de mim.
No entanto, algo estava errado. Diferente de antes, quando eu cliquei sem hesitar, minha mão se recusava a se mover desta vez.
— O que foi? Não vai apertar? Porque eu posso ficar brava? É tarde demais para isso. — Hyeonbyeol me olhou com uma expressão irritada.
— O que vocês estão conversando aí dentro? Venham comer! A comida está pronta!
O cheiro de uma refeição quente entrou no meu quarto vindo da cozinha.
Ao contrário do que diz, parece que este lugar é do seu agrado.
Agora eu tinha que aceitar as palavras que o Velho me disse naquela época.
No entanto, minha hesitação momentânea não durou muito. Até aquele jovem Hansu Lee, que queria segurar tudo no mundo, tinha amadurecido.
【Você pode acabar nunca mais voltando.】
【Você ainda está disposto a entrar?】
Click.
【Sim】
Era hora de acordar.
- Em geral, botão para pausar o jogo.[↩]

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