Salve, caro leitor!
Capítulo 41 - A Tragédia do Ceifador: Ataque
Enquanto as lágrimas desciam, as lembranças também assaltaram a mente do jovem ceifador e ele foi teletransportado para dois atrás quando estava voltando para casa depois de concluir uma missão.
Naquela época, Boyak morava com sua esposa Ingrid e sua filha Isabela em Gramado Cintilante, uma porção de terras a oeste de Skell, a cidade neutra, povoada principalmente por fazendeiros.
No caminho, acabara encontrando uma caravana de homens, mulheres e crianças que acompanhavam o barão Jutred depois de uma peregrinação religiosa até a Fortaleza do Fogo Escarlate.
Geralmente, alguns povos dos reinos livres costumavam fazer essa peregrinação no verão para pedir proteção e boas colheitas aos deuses do fogo escarlate.
As terras do barão ficavam ainda mais a oeste de Skell, por isso, eles prosseguiram pela mesma estrada.
Boyak trazia consigo um laço amarelo para a cintura, mas amarrado no antebraço. Um presente para Isabela, pois ela adorava se vestir com laços e fitas, fosse no cabelo ou na roupa, principalmente, com a cor amarela.
Estava feliz por voltar para casa após dez dias entre a caçada e a execução da aberração. Além disso, a estrada estava fresca por conta das árvores e flores daquela região.
Porém, quando acamparam na primeira noite, ele sentiu um arrepio estranho no braço e começou a ficar atento aos arredores do pequeno acampamento com cerca de vinte pessoas.
Desconfiou imediatamente de uma aberração porque seus instintos raramente falhavam, ainda mais portando fluido de oração o bastante no corpo.
E sua suspeita estava correta.
O chão tremeu, e ele observou uma imensa massa de músculos avançar em direção ao acampamento, derrubando árvores e troncos no percurso.
Boyak levou o fluido de um frasco de oração à boca e engoliu rapidamente, fechando os olhos em seguida para concentrar o poder no punho.
Um rugido, parecido ao de um tigre, ecoou pelo local, despertando as pessoas, que somaram seus gritos ao brado da criatura ao verem a cabeça de lobo com chifres de touro se aproximando.
O ceifador abriu os olhos poucos momentos antes do monstro alcançá-lo e então disparou como um raio cobrindo a distância que o separava da aberração.
O punho de Deus atingiu em cheio a cabeça da fera, lançando-a violentamente para trás e fazendo com que abrisse uma rachadura no chão.
O barão Jutred gritava para sua escolta proteger a si e a sua família enquanto também ordenava prepararem uma fuga estratégica.
Boyak, entretanto, ao ouvir os berros, se virou e gritou de volta:
— Não! Não se afastem muito! Podem haver outras aberrações por perto!
Aquelas pessoas desesperadas desconheciam os Tigres-Chifres, um tipo de aberração acostumada a atacar em bando.
Entretanto, naquele dia, não era o caso. E se Boyak soubesse disso, nenhuma tragédia teria ocorrido.
A fera se recompôs do soco e aproveitou a distração do ceifador para aplicar um golpe com suas grandes garras.
O instinto de Boyak agiu mais rápido, e ele se esquivou com um giro no ar. Mas, para sua surpresa, outro Tigre-Chifre surgiu, saltando em sua direção, e o agarrou com ambas as patas.
A criatura o prensou entre os dedos poderosos, determinada a despedaçá-lo. Se fosse um humano comum, teria conseguido.
— Faltou treinar melhor esse agarrão — o ceifador zombou.
Surpresa ao ver que o golpe não surtiu o efeito desejado, a aberração o arremessou contra o chão.
Boyak rolou pela estrada até ser detido por uma árvore.
O segundo Tigre-Chifre percebeu o estoque de comida ao seu redor enquanto as pessoas começavam a correr e atacou a uma mulher que corria, mas ainda estava ao seu alcance.
Basta um salto e a fera aterrissou em frente a humana que soltou um grito, se enrolou nos próprios pés e caiu no chão.
O primeiro Tigre-Chifre avançou em direção ao ponto onde havia arremessado o ceifador, mas sua vítima não estava lá. No instante seguinte, um tronco de árvore acertou seu peito, derrubando-o.
Boyak ajeitou o pesado objeto com os braços e lançou contra o segundo Tigre-Chifre prestes a retalhar a mulher caída. A criatura só percebeu o ataque quando era tarde demais.
O impacto foi tão brutal que a cabeça da aberração se esmagou instantaneamente, como uma laranja sob um pé. Seus pedaços se espalharam ao redor, manchando o chão e a mulher caída com sangue e tripas.
Boyak ainda observava a morte da primeira aberração quando a perna do Tigre-Chifre o atingiu com força, lançando seu corpo aos céus novamente, até colidir com o topo de uma árvore.
Dessa vez, porém, ele se ergueu rápido e alcançou o chão preparado para continuar a briga, mas bastou um olhar para perceber que seu inimigo tinha fugido.
Por um momento, cogitou persegui-lo. Contudo, o alvoroço das pessoas o fez mudar de ideia e permanecer para ajudá-las a se acalmar.
Passado o pandemônio inicial e certificado o bem de todos, Boyak explicou um pouco sobre o Tigre-Chifre, inclusive que ele voltaria a atacar.
Essa informação iniciou um breve burburinho e o ceifador tranquilizou a todos, reafirmando que iria protegê-los quando acontecesse.
Levou algum tempo para convencer os mais agitados, principalmente, pais e mães. Porém, quando a luz já dominava os céus, não restara ninguém além de Boyak e o barão Jutred.
— Nunca tinha visto um ceifador em combate — admitiu o homem em suas roupas finas e pomposas. — Para ser sincero, jamais acreditei que as histórias sobre eles fossem verdade. É tudo muito absurdo para ser possível. Mas, depois de hoje…
— As pessoas dizem isso o tempo todo — Boyak se gabou.
— E aquelas aberrações… — Jutred murmurou preso no limbo das memórias ruins. — Já enfrentei duelos e estive diante da morte certa, mas nada comparado a um medo desse tipo. O rugido foi como um enxame de mil demônios partindo seu corpo em várias partes.
Ouvir as palavras do barão deixaram Boyak pensativo, pois ele era imune a alguns efeitos das feras, graças ao fluido.
— Só de imaginar uma daquelas coisas pegando a minha filha ou a minha mulher, eu…
— Não vai acontecer nada com a sua família.
Jutred lançou ao ceifador um olhar que deixava claro estar prestes a fazer uma proposta. Boyak não gostou, pois até então não o enxergava como um nobre — e apenas os ricos tinham aquele olhar, com a certeza de que podiam comprar qualquer serviço com dinheiro.
— Quanto quer para ser meu protetor particular durante essa jornada até a minha casa?
Boyak soltou um suspiro de decepção.
— Não estou brincando — o barão ficou ofendido com a reação do outro. — Tenho muito dinheiro, bem mais do que possa imaginar. Quanto você ganha por matar uma aberração? Cem? Cinquenta moedas de ouro? Todo homem tem um preço.
— É melhor encerrar essa conversa por aqui, eu preciso dormir.
O ceifador estava se afastando quando o barão segurou seu braço.
— Você não fará nada além do seu trabalho, exceto pelo fato de que vai priorizar a minha família ao invés das outras pessoas.
Boyak soltou uma risada desdenhosa.
— Você está ouvindo o que está dizendo? Se prestasse atenção, perceberia a loucura dessa proposta. Então, vou ser tão claro quanto o sol ao meio-dia: jamais coloco a vida de uma pessoa acima das outras. E, depois dessa conversa, a sua será a última das minhas prioridades.
Boyak deu um safanão, soltando-se da mão do barão, e saiu sem olhar para trás.
Jutred, como qualquer nobre criado em cortes e salões, jamais fora tratado com tamanha rispidez em sua vida e nutriu uma raiva silenciosa pelo ceifador.
Infelizmente para ambos, as atitudes e palavras daquela noite teriam muitas consequências.
É muito bom ter você aqui!
Espero que esteja curtindo a jornada de Boyak e Anayê.
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