Capítulo 60: O Dragão Adormecido (4/6)
Todos que ouviam Hill Burnett e Airen Farreira ficaram em silêncio. ‘Não ter mente para isso’? Que tipo de absurdo era aquele? A expressão em si não era o problema, pois tinha um significado. O problema era que quem dizia isso não era um velho sacerdote, mas sim um jovem que parecia inexperiente.
“Talvez ele só tenha dito isso para parecer impressionante.”
“Do que diabos ele está falando?”
— Hmm — Hill coçou o queixo. Ele também pensava de forma semelhante aos outros, mas ainda sentia um pouco de curiosidade, então perguntou novamente.
— Acho que preciso de mais explicação sobre o que acabou de dizer. Você ‘não tem mente para isso’… Pode elaborar?
— Desculpe, eu não estava tentando me gabar.
— Está tudo bem. Fique à vontade para falar.
— Eu… entrei na expedição para caçar o demônio. E também, para trazer honra à minha família por meio do meu sucesso no processo.
Era uma boa resposta, honesta. Era natural que o jovem sucessor trabalhasse duro por sua família. O jovem continuou.
— Tenho pensado profundamente sobre o que devo fazer para ter sucesso. Por um momento… achei que deveria treinar minha esgrima como os outros, mas percebi que treinar no dia da expedição não fazia sentido.
— Hmm.
— O esforço é completo quando a mente e o corpo trabalham juntos. Mas minha mente não estava preparada para isso… Então, percebi que não poderia chamar meu treinamento de esgrima de esforço. Era isso que eu queria dizer, comandante.
Todos ao redor, especialmente aqueles que não simpatizavam com os Farreira, zombaram das palavras de Airen. As pessoas achavam que seu discurso começou grandioso e terminou como uma justificativa pessoal. Claro, era verdade que treinar no dia da expedição não teria muito efeito, mas era melhor fazer algo do que nada.
“E lá está o nosso Nobre Preguiçoso.”
“Você ainda tem desculpas para ser preguiçoso, não é?”
“E sua lógica não faz sentido…”
As pessoas então voltaram-se para Hill Burnett. Ele ainda parecia severo enquanto olhava silenciosamente para o Nobre Preguiçoso. As pessoas ao redor estremeceram sem perceber. Ninguém queria ser alvo daquele olhar frio por muito tempo, então naturalmente desviaram os olhos.
Mas Airen não fez isso. Ele não podia. Apenas manteve os olhos voltados para baixo, de forma a não parecer desrespeitoso, e permaneceu ereto. Hill observou o jovem alto por um longo tempo, então se levantou.
A marcha estava pronta para recomeçar. Ele olhou para as forças da expedição e gritou — Vamos marchar novamente!
Então, virou-se para Airen.
— E você… Fique ao meu lado. Precisamos conversar.
Todos olharam para os dois em choque. Entre eles estavam cavaleiros, soldados, e Phil e Ryan Gairon.
“O quê… Mas por quê?”
As expressões dos Gairon tornaram-se de inveja. Mas nem Airen nem Hill prestaram atenção a eles. E logo, as forças da expedição voltaram a marchar.
Hill Burnett era alguém que olhava além do conteúdo da conversa. Isso era ainda mais importante quando estava julgando alguém. Ele acreditava que os olhos eram espelhos que refletiam a mente e os pensamentos de uma pessoa, então os considerava de grande importância.
“Se a pessoa realmente acredita no que diz, isso muda o significado de suas palavras.”
Havia uma diferença entre uma criança de cinco anos repetindo algo que ouviu e um homem de oitenta anos dizendo algo com base em sua experiência. Por isso, Hill sempre considerava importante saber se a pessoa que falava tinha o necessário para ser responsável por suas palavras. E com esse ponto de vista…
“Airen Farreira certamente fala com base em experiência”, pensou Hill.
O jovem não estava apenas falando algo da cabeça. Ele tinha os olhos de um homem com experiência e uma convicção construída a partir dela. Ao perceber isso, Hill ignorou todos os rumores negativos sobre Airen Farreira. Em vez disso, uma curiosidade intensa tomou seu lugar. Ele queria saber mais sobre o jovem. Então, perguntou.
— Sobre o que discutimos anteriormente. Você disse que estava se perguntando o que deveria fazer nesta expedição, certo?
— Sim, comandante.
— E tenho certeza de que chegou a algumas ideias… Pode compartilhá-las comigo?
— Minha inexperiência pode parecer tolice… Mas, se me permite, eu pensei em três pontos.
— Três? Fale.
Hill ficou interessado e perguntou, e Airen assentiu e começou a explicar seus pensamentos.
Primeiro, ele era um homem inexperiente que nunca havia visto sangue. Então, precisava estar preparado para o choque de um primeiro abate. Segundo, ouviu que ações impensadas de um soldado inexperiente eram mais perigosas que qualquer inimigo. Ele precisava ser cuidadoso para manter a calma e ouvir as ordens para não atrapalhar a expedição. Terceiro, precisava estar alerta para detectar qualquer energia demoníaca emanada por demônios, seus servos e criaturas demoníacas, para estar pronto para alertar as pessoas antes que o perigo os atingisse primeiro.
Após ouvir tudo isso, Hill assentiu com satisfação e respondeu.
— É mais realista do que eu esperava. E é por isso que é bom.
— Obrigado, comandante.
— A primeira parte é crucial. Todos ficam nervosos em sua primeira batalha, independentemente da experiência que tenham. É um bom hábito controlar sua mente antes da batalha. Mas tome cuidado para não ficar muito nervoso e tensionar o corpo. Tenha isso em mente.
— Sim, comandante.
— A segunda parte também é excelente. Esse é um erro comum para todos os novatos. Já vi centenas de novatos que, confiantes demais em suas habilidades, ignoraram seus supervisores e encontraram a morte.
— Terei cuidado com isso, comandante.
— Ah, mas não estou dizendo que será o seu caso. Gosto de como você está calmo agora. Não acho que haverá problema se mantiver isso. Mas quanto à terceira parte…
Hill então riu. Percebeu que o jovem certamente carecia de experiência. Por um momento, pensou que Airen realmente tinha experiência, devido à sua calma, mas a terceira parte deixou claro que ele era um novato.
“Mas ele se tornaria capaz com a orientação certa.”
O jovem não era arrogante nem tentava impressionar o comandante. Ele estava genuinamente pensando em como ser útil na expedição. Hill gostou muito dessa humildade, a ponto de querer ensinar o jovem pessoalmente. Após o pensamento, disse com um sorriso.
— Não precisa se preocupar com a terceira parte.
— É mesmo, senhor?
— Sim. É para isso que temos sacerdotes conosco.
Se os demônios viviam nas profundezas para corromper o mundo, o santo Deus habitava o céu para vigiar o continente. E os sacerdotes manipulavam uma fração do poder desse Deus poderoso, estando presentes na expedição.
— Sacerdotes podem detectar facilmente aquelas energias demoníacas que essas criaturas hediondas emitem.
— Entendo.
— Claro, existem algumas energias dissimuladas que o poder sagrado não consegue detectar, mas para isso temos uma das relíquias da Igreja. Então, você não precisa se preocupar com isso… Hmm?
Hill, que estava explicando com entusiasmo, franziu a testa para Airen. O jovem vinha se concentrando bem nas palavras do comandante até então, mas agora estava agindo de forma desrespeitosa. Ele se virava para trás enquanto seu superior ainda falava.
“O que está acontecendo?”
Mas Hill não se irritou de imediato. Ele já entendia um pouco do caráter de Airen, depois de passarem algum tempo juntos, e o jovem não era do tipo que mostrava tal comportamento sem motivo.
Assim, Hill ficou curioso sobre a razão e se virou. Então, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Criaturas demoníacas repulsivas e nojentas, que traziam medo à alma humana, começaram a aparecer em grande número atrás das forças da expedição. Elas surgiam como se fossem desenhadas no ar.
— Q-que…?
— Criaturas demoníacas!
As pessoas entraram em pânico. Essas bestas imundas não estavam ali para espiá-los. Havia dezenas delas e continuavam surgindo de todos os lados. Hill Burnett gritou para seus soldados ao ver as criaturas negras emergindo do nada, das árvores e das rochas.
— Posições de combate! Cavaleiros à frente! As seis famílias recuem e protejam os magos e sacerdotes!
“Preciso avaliar a situação!”
Hill franziu o cenho após dar as ordens. Eles deveriam ter detectado essas criaturas, certo? Mas não havia tempo para pensar nisso agora. Ele precisava se concentrar no que tinha que fazer naquele momento. Após esse pensamento, ele rapidamente observou o campo de batalha para avaliar suas próximas ações. Mas não, não havia necessidade de uma avaliação. Ele viu um monstro gigantesco, com quase cinco metros de altura, erguendo-se como uma sombra no céu.
“Preciso chegar até aquele monstro!”
Ele havia se juntado à expedição não apenas para liderar as tropas, mas para enfrentar um inimigo poderoso que seus aliados não conseguissem derrotar. Enfrentar tal monstro sozinho diminuiria muito as baixas.
Mas a situação era ruim. No cenário ideal, ele estaria preparado e pronto na linha de frente, mas não estava. Não havia como ele chegar até o monstro antes que ele começasse a atacar as tropas.
“Droga, deveria ter partido antes! Não posso me atrasar!”
Ele pensou ter visto um jovem loiro se aproximando do monstro gigante. Era Airen. Ao contrário do que disse, que manteria a calma e seguiria as ordens, o jovem havia agido por conta própria. Hill ficou ainda mais frustrado.
— Não…
Ele nem conseguiu terminar suas palavras.
Bam!
O jovem saltou, fazendo um som explosivo que se espalhou pelo solo.
Swoosh!
Então ele desceu com um poderoso golpe vertical. O ataque foi devastador, como um raio. O monstro de cinco metros não resistiu e foi partido ao meio.
Foi apenas um golpe. Hill congelou no lugar, com a espada parcialmente sacada da bainha.
“O que diabos…?”