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    Se perguntassem o que era mais eficaz contra demônios e diabos, a resposta seria óbvia: poder sagrado. Assim como os demônios possuíam uma malícia interminável contra os humanos, o divino trazia bênçãos intermináveis para eles. Por isso, os cavaleiros sagrados de Arvilius, o reino milenar, eram responsáveis por eliminar a maior parte do mal no mundo.

    No entanto, não ser capaz de usar o poder sagrado não significava ser vulnerável ao mal. A história estava repleta de exemplos de pessoas que realizaram feitos tão grandiosos quanto, ou até maiores, do que os cavaleiros sagrados. Tanto Dion Lindsay, que destruiu o Rei Dragão Demônio há 400 anos, quanto Jacob, o fundador da Academia de Esgrima Krono, derrotaram inúmeros demônios, mesmo sem poder sagrado. As pessoas não hesitavam em chamá-los de ‘heróis’, e suas espadas, de ‘espadas dos heróis’.

    “Ignet também é considerada alguém nascida com a espada do herói”, pensou Sevion Brooks, engolindo em seco.

    Era uma história famosa. O Capitão dos Cavaleiros Brancos recomendou Ignet, na época uma mercenária, ao ver suas habilidades com a espada. Os altos sacerdotes, que inicialmente duvidaram dela, logo concordaram em uníssono. Mas o que mudou suas mentes não foi apenas seu talento incrível, mas seu poder natural de derrotar o mal.

    “E agora…”

    “Ela está oferecendo ensinar seu caminho?” questionou Sevion, duvidando se isso era realmente possível.

    Afinal, até onde ele sabia, a espada do herói não podia ser ensinada. Se fosse, o mundo estaria cheio de heróis e os demônios já teriam sido extintos há muito mais de 150 anos.

    Alguém pode se tornar um grande espadachim através do treinamento, mas se tornar um herói é diferente.

    “Um herói nasce”, pensou o maior cavaleiro de Palanke.

    Sevion não era o único duvidoso. Os outros espadachins também questionavam a oferta de Ignet. Se algo, eles estavam ainda mais convencidos de que nem mesmo a poderosa Capitã dos Cavaleiros Negros, capaz de abalar o continente, poderia ensinar o caminho do herói.

    Ainda assim…

    “Mesmo que não aprendamos a usar a espada do herói que destrói demônios…”, eles pensaram.

    “Não é incrível o suficiente aprender com Ignet?”

    De fato. Por isso, mesmo os espadachins mais céticos não se opuseram à sugestão de Ignet. Uma habilidade de espada eficaz contra demônios era excelente, mas o fato de Ignet em pessoa ensinar suas maneiras era o suficiente para inspirá-los.

    Sevion não era diferente, na verdade, ele era o mais desesperado. Afinal, ele sabia melhor que ninguém o quão habilidosa Ignet era.

    “Não estou dizendo que vou quebrar a maldição do demônio com a espada do herói…”

    “Nem espero isso de mim mesmo, mas…”

    “Se eu puder aprender suas habilidades… Se eu puder aprender com a maior espadachim que existirá!”

    Os olhos dos espadachins brilhavam. A atmosfera sombria da masmorra rapidamente ganhou vida, embora alguns ainda se preocupassem que Ignet pudesse ensinar apenas aos mais talentosos.

    — Vejo que muitos querem meus ensinamentos — disse Ignet.

    — Concederei a todos.

    — Quanto mais chances, melhor. Espero que alguém possa aprender minhas habilidades e destruir esta terrível barreira sombria… — falou Ignet.

    — Obrigada!!! — gritou Amyra Shelton, a capitã tenente dos Cavaleiros de Calvin, fazendo uma reverência profunda antes que Ignet pudesse terminar sua frase.

    Mesmo sendo uma das mais poderosas de seu país, Amyra sabia que era apenas mais uma em meio a muitos no continente. Havia muitos outros em níveis que ela nem podia sonhar alcançar.

    Amyra percebeu isso ao ver Airen Farreira e Illia Lindsay, dois gênios que, apesar de dez anos mais jovens, salvaram a equipe de expedição com habilidades inimagináveis.

    “Nem posso me comparar”, pensou Amyra.

    A diferença era tão gritante que nem precisava ser dita em voz alta. No entanto, por mais que lhe faltasse, ela achava essa oportunidade valiosa.

    — Farei o meu melhor! — gritou Amyra, curvando-se novamente. Gregory Griffin a observava com carinho.

    Com isso, os cavaleiros dos três reinos começaram a se curvar.

    — Obrigado!

    — Obrigado!

    — Darei meu melhor!

    — Também farei o meu melhor… Estou à disposição para seus ensinamentos — disse Sevion Brooks, um mestre espadachim e o maior cavaleiro de Palanke, também se curvando.

    “Quem diria, Sevion, o orgulhoso, abaixando a cabeça”, pensou Perry Martinez, observando curioso.

    Embora fosse compreensível, considerando a autoridade de Ignet, Perry ainda se sentia um pouco incomodado.

    No entanto, algo mais chamou a atenção de Perry. Desviando de Sevion, seu amigo e rival, Perry se voltou para a jovem espadachim encarando sua antiga adversária: Illia Lindsay.

    “O que ela vai fazer?”

    Recusará a oferta de Ignet para salvar sua dignidade ou se curvará diante dela?

    Todos, inclusive Perry, se voltaram para Illia. Airen e Lulu observavam seu rosto. Apesar de suas habilidades, sua amiga era vulnerável à pressão social, e isso os preocupava.

    Então…

    — Obrigada. Aceito sua oferta — disse Illia.

    — O quê? — disse novamente, com calma e naturalidade.

    Georg, Anya e os outros membros da expedição a olharam atônitos.

    A expressão de Ignet endureceu por um momento. No entanto, ela não ficou irritada. — Faça como desejar — disse com um sorriso leve.

    — Obrigada — disse Illia.

    — Airen, o que você fará? — perguntou Ignet.

    Agora, todos se voltaram para Airen. Diferente de quando olhavam para Illia, seus olhos estavam cheios de entusiasmo. Até mesmo Ignet o observava curiosamente, seus olhos mais afiados que nunca analisando seu rosto.

    Claro, ele não recuou. Pegando sua espada, agora completamente dourada, Airen demonstrou respeito e disse — Farei o meu melhor para quebrar a maldição.


    Já fazia uma semana desde que a equipe de expedição estava presa na masmorra. Embora passar tanto tempo em uma área amaldiçoada normalmente deixasse as pessoas contorcidas de dor, a masmorra estava mais vivo do que nunca. Os espadachins estavam especialmente entusiasmados.

    — Que inveja — disse Perry Martinez, observando os que cercavam Ignet.

    Ele estava bastante sério. Espadachins correriam direto para o fogo se isso significasse ganhar mais poder. Então, os ensinamentos de Ignet Crecensia deviam superar qualquer saque que pudessem obter na masmorra.

    Claro, os magos não eram diferentes. Se os três chefes do Reino Runetell oferecessem ensinamentos, os magos de Lavaat agiriam da mesma forma.

    O que surpreendeu Perry foi a forma como Georg Phoibe e os cavaleiros negros reagiram. Nenhum deles parecia dar muita atenção a Ignet.

    “Será que não precisam da espada do herói já que possuem poder sagrado? Mas…” pensou Perry.

    — Hm.

    Perry observava os cavaleiros negros quando, sem querer, cruzou olhares com o capitão tenente dos cavaleiros negros. Imediatamente desviou o olhar e fingiu desinteresse.

    Georg também desviou o olhar e focou na capitã, que estava explicando aos espadachins conhecimentos básicos sobre demônios.

    “Será que eles conseguirão sequer entender o básico?” pensou Georg.

    Se havia algo que as pessoas não sabiam, era que Ignet frequentemente oferecia seu conhecimento a outros com satisfação. Em outras palavras, ela não estava oferecendo nada especial. Até mesmo Georg havia aprendido a espada do herói quando mal conhecia Ignet, em seus dias de mercenária.

    O resultado?

    “Fracassei, claro. Como eu poderia conseguir isso?” pensou Georg.

    Ele entendeu o básico. Percebeu o poder e conseguiu olhar para a mente dos outros com sucesso. Foi assim que percebeu, um ano e meio atrás, que Airen tinha em seu coração uma espada de aço.

    Mas Georg balançou a cabeça quando se tratava de refinar aquele poder em uma espada e completar um estilo.

    “Talvez… um ou dois consigam”, pensou Georg, olhando para Airen e Ignet, ainda perplexos.

    Ainda assim, não seria mais rápido se a capitã focasse na recuperação em vez de ensinar a espada do herói?

    O que Ignet estava pensando? Será que realmente acreditava que esses jovens poderiam aprender a espada do herói em tão pouco tempo? Ou estava apenas tentando manter a energia na masmorra? Se fosse o caso, Georg admitiria que seus esforços estavam sendo bem-sucedidos. Os espadachins pareciam mais animados do que nunca. Até mesmo a barreira sombria parecia recuar.

    No entanto, Ignet não parecia a mesma de sempre, o que deixava Georg confuso.

    “Talvez ela tenha percebido algo…”

    Enquanto Georg refletia, Ignet continuava sua explicação sobre a espada do herói.

    — Primeiro, o que são os demônios? Deixe-me reformular: quais são as características da energia demoníaca? — perguntou.

    Essa era fácil. Todos sabiam o que era a energia demoníaca: malícia.

    A fonte da energia demoníaca baseava-se em destruir, matar, humilhar, manipular e amedrontar os humanos. Por isso, muitos se viam esmagados por essa energia ao enfrentar demônios.

    Então, existia o poder que a contrariava: o poder sagrado.

    — Por outro lado, o poder sagrado é composto pelo amor incondicional pelos humanos. Como a fé brilha por si só, ela contraria os demônios — explicou Ignet.

    — Mas a vontade humana também pode substituir as bênçãos divinas.

    Woosh!

    Quando Ignet se virou, um poder misterioso emanou de seu corpo. Não era aura, mas algo que alcançava mais profundamente o coração.

    Fogo. Embora não fosse tão quente e nostálgico quanto o de Airen, era reconfortante. As pessoas observavam as costas de Ignet, boquiabertas.

    Woosh…

    — Hah, haa… Eu acabei de manifestar ‘a vontade de proteger’ para contrariar o ‘desejo de destruir’ de um demônio — explicou Ignet.

    — Você quer dizer… — respondeu um dos alunos.

    — Estou manifestando o poder da mente em uma forma física.

    — Assim como treinam seus músculos e aura para criar uma Aura da Espada… — explicou Ignet.

    Woosh!

    — Vocês também devem usar o poder da mente…e manifestar a ‘vontade de proteger’ que contraria o ‘desejo de destruir’ de um demônio…haa…

    Woosh!

    — E refinar isso para criar um estilo de espada — finalizou Ignet.

    Todos ficaram estupefatos. Não era que não entendessem sua explicação ou subestimassem o poder da mente. Afinal, viram ao entrar na masmorra o quanto o poder mental era importante. Aqueles com mentes fracas quase se perderam, enquanto os mais determinados romperam a primeira prova com facilidade. Mas manifestar esse poder, e, pior ainda, criar uma espada como uma Aura da Espada, era outra história. Eles se perguntavam se tal coisa era possível ou se poderiam realmente aprender.

    Então…

    Boom!

    Algo explodiu. As pessoas olharam curiosas, imaginando se o impossível havia acontecido.

    De fato. Lá estava Airen Farreira, que acabara de manifestar um novo poder.

    “Não, esta não é a primeira vez que manifesto isso…” pensou ele.

    Ele vinha usando a espada da mente há muito tempo. Na verdade, Airen sempre se apoiou no poder de sua mente. Quando fez o exame final na Academia de Esgrima Krono, enfrentou um demônio no sul, deixou uma marca em uma estaca de metal diante de Ignet, convocou uma Aura da Espada contra Illia Lindsay ou encontrou sua vontade ardente ao ver sua vida passada, ele usou o poder de sua mente. Não importava se a mente pertencia ao homem de sua vida passada ou a si mesmo. Então Airen entendeu imediatamente quando Ignet explicou o conceito.

    E assim que compreendeu…

    Woosh!

    Ele sentiu outro poder vibrar em seu corpo.

    Ao tentar concentrar esse poder em sua espada, a Aura da Espada dourada brilhou ainda mais intensamente.

    Ssssss!

    Tendo convocado a espada do herói, Airen Farreira voltou-se para sua mentora temporária.

    — Esta é a espada do herói? — perguntou.

    — De fato, mas… — disse Ignet, antes de pausar e responder: — Prefiro chamá-la de ‘espada da mente’.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.
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