Capítulo 71: Academia de Esgrima (3/10)
por MrRody, Second Star— O-o quê?
— Está chovendo? Acho que acabei de ouvir um trovão.
As pessoas no terreno vazio atrás da guilda dos mercenários reagiram chocadas. Ficaram assustadas com o som repentino e alto de um impacto no meio de uma noite silenciosa. Mas, claro, não era trovão. O som vinha de um jovem golpeando com sua espada.
Depois de recuperar sua espada larga, Airen Farreira verificou o número na placa retangular.
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“Quão alto é isso?”
Ele não achava que seu resultado seria baixo. Era modesto, mas sabia o quão forte era. Até Hill Burnett, um espadachim experiente, dissera que Airen estava no nível de um especialista.
“Tenho certeza de que pelo menos alcançarei o rank bronze”, pensou Airen, afastando-se do equipamento de avaliação e perguntando ao mestre da guilda:
— Como foi?
— O-o quê?
— O resultado. Não sei como é avaliado, então não consigo determinar se é alto ou baixo.
— Ah… E-er, só um momento.
O mestre da guilda gaguejou com um olhar chocado. Ele já tinha visto inúmeros aspirantes a mercenários fazendo esse teste: homens do campo que nada sabiam sobre espadas, veteranos experientes e espadachins talentosos que superavam esses veteranos. Mas nenhum deles, pelo que ele se lembrava, ultrapassara dez mil pontos. Nem mesmo o mercenário de rank ouro que doara aquele equipamento de teste.
“Será que o equipamento… está quebrado?”
O mestre da guilda olhou de Airen para o equipamento. Talvez ele estivesse certo. Não achava que o jovem fosse um novato, considerando como materializara uma espada do nada, manejando aquele peso com tanta facilidade, e o som do impacto provava sua habilidade. O jovem devia ter treinado sob um espadachim renomado. Talvez fosse um nobre de uma família influente. Assim, o mestre da guilda falou com essa suposição em mente.
— Com licença… Qual é o seu nome mesmo?
— Airen.
— Ah, certo. Senhor Airen. Me desculpe, mas uma pergunta… Como você fez essa espada aparecer do nada?
— É algo como magia.
— Ah, entendi. Eu não fazia ideia… Haha.
O mestre da guilda falou de maneira muito educada, bem diferente de antes, pois o jovem possuía habilidades que exigiam respeito, mesmo que não fosse nobre. Ele engoliu em seco e continuou:
— Os números são excelentes. Pode ter certeza de que conseguirá o rank prata… Ah, só para informar, prata é o limite para quem está recebendo a placa de mercenário pela primeira vez. É preciso experiência e conquistas para subir além disso…
— Então ficarei com prata.
— Ah, mas… Desculpe, mas você se importaria de tentar mais uma vez?
— Hã?
— Er, às vezes o equipamento pode apresentar problemas. Não que eu ache que você seja fraco, eu quis dizer…
— Entendido. Tentarei novamente.
Airen assentiu casualmente. Parecia estranho, já que o mestre da guilda havia dito que só se tinha uma chance para o teste, mas não era difícil tentar novamente. Ele ergueu sua espada larga mais uma vez e se concentrou. Respirou fundo, controlou até os menores movimentos do corpo e relembrou a sensação do impacto anterior para calcular o que precisava melhorar. Então, veio o segundo golpe.
Baaam!
— O quê!?
— O que foi agora?!
As pessoas se sobressaltaram com o segundo ruído explosivo repentino. Aqueles que assistiam ao teste de Airen também ficaram chocados. O som foi tão alto que os surpreendeu, mesmo esperando algo.
Todos olharam para a placa retangular, que começou a emitir um barulho que nunca tinha feito antes. Mas ninguém percebeu isso, pois estavam mais interessados em outra coisa. O número apareceu rapidamente.
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Era maior que antes. O mestre da guilda não conseguiu dizer nada, boquiaberto.
E tinha mais. Todos os presentes, e até os que chegaram depois, atraídos pelo som, olharam para a placa com um misto de incredulidade. Mas ninguém falou, exceto uma pessoa.
— Devo tentar novamente? — perguntou Airen ao mestre da guilda.
— Ah… Não, não! Já basta. O resultado… é rank prata. Vamos registrar! Não vai demorar!
O mestre da guilda agiu rapidamente, com gestos polidos. Airen o seguiu com a mesma expressão de sempre.
— Como mencionei, rank prata é o mais alto que se pode alcançar na primeira vez. Não é porque subestimo você, senhor Airen…
— Tudo bem. Não me importo.
Eles entraram no prédio enquanto conversavam, sob os olhares incrédulos dos mercenários, que logo começaram a murmurar.
— Você viu o que eu vi?
— Vi. Não acredito nisso.
— Onze mil? Como é possível? Acho que nem mesmo um Especialista conseguiria essa marca.
— Ele é um cavaleiro dos Cinco Reinos?
Todos estavam confusos com o número improvável para um mercenário. Foi então que um deles desembainhou sua espada, querendo testar por si mesmo e comparar com a verdade inacreditável. Ele se posicionou com um olhar sério e golpeou sua espada.
Pow!
Pssst…
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— …
— Isso está quebrado.
— O quê, oitenta mil? Desde quando você virou um mestre espadachim?
— Será que ele conseguiu o rank prata por sorte?
— Er… Mas não acho que foi só sorte. Você também ouviu. Até o som foi completamente diferente.
— Sim, acho que é verdade…
Os mercenários começaram a discutir sobre o jovem. Alguns argumentavam que ele podia ser um especialista, mas ele parecia jovem demais. O som do impacto certamente tornava plausível que fosse um especialista, mas outros simplesmente não conseguiam acreditar. Alguns até começaram a brigar, enquanto uma pessoa que assistia a tudo pensava consigo mesma:
“Esse equipamento mágico era famoso por sua durabilidade. Como ele quebrou?” Depois de pensar, riu e murmurou:
— Haha, isso não pode ser verdade.
E assim terminou o pequeno incidente na Guilda dos Mercenários de Alcantra.
— O quê? Prata? — perguntou Edgar, com um olhar chocado.
— Sim. É o suficiente?
Airen mostrou a placa prata ao retornar ao Descanso da Espada, deixando Edgar sem palavras. Ele não esperava que o jovem fosse bronze, muito menos prata. Só tinha levado Airen à guilda para que ele desistisse por conta própria. Era o máximo que podia fazer pelo rapaz. Mas, ao ver a placa prata brilhando, perdeu completamente o que tinha a dizer.
— Obrigado. Foi interessante — disse Airen.
— Hã? E-er… Sim.
— Pode levar meu jantar para o quarto? Quero um prato simples de carne, pão e peixe defumado.
— Oh, claro. Vou levar até lá.
Edgar assentiu com um olhar vazio e foi para a cozinha. Mas ele não precisava ir. Seu trabalho como dono era impedir clientes de causar problemas. Havia um cozinheiro preparando os pratos. Tudo o que tinha de fazer era anunciar os pedidos. Mas estava tão chocado que não conseguia sequer perceber o que fazia.
“Rank prata? Nessa idade? Mas ele malemal parece ter vinte anos.”
— Não faz sentido… — murmurou Edgar.
— Ei! Pare de comer a comida dos clientes! — gritou o cozinheiro.
Pensando bem, nada fazia mais sentido. Ele continuou resmungando enquanto comia a comida que fora preparada na cozinha.
É claro, Airen não sabia o que Edgar pensava ou sequer se importava. Só conseguia pensar em visitar a Academia de Esgrima Krono no dia seguinte. Depois de pagar pela comida para Lulu e para si, foi para seu quarto no segundo andar. O garçom logo trouxe a comida, e Lulu apareceu no ar um pouco depois.
— Por que demorou tanto? — perguntou Airen.
— Ah, eu estava brincando com os gatos locais. Uau! Minha comida!
E nada de especial aconteceu depois disso. Eles comeram e conversaram, depois se lavaram. Era surpreendente que o quarto tivesse um banheiro separado, mas o preço do quarto e a escala da cidade justificavam isso. Airen dormiu um pouco mais cedo do que de costume.
— Então, vamos? — disse Airen.
— Vamos! Vamos!
No dia seguinte, Lulu acordou antes de Airen para se arrumar, e Airen saiu da hospedaria com ela. Eles seguiram direto para a Academia de Esgrima Krono. Inúmeros espadachins estavam indo na mesma direção e pareciam surpresos ao ver Lulu. Alguns até falaram com a gata.
Lulu reuniu-os em um único lugar e disse: — Olá. Sou a gata feiticeira, Lulu. Como podem ver, consigo falar e voar. Sei que estão surpresos e querem conversar comigo, mas não tenho tempo para falar com todos. Então, vamos encerrar isso com um aperto de mão.
Tap, tap.
Lulu bateu com sua patinha nas mãos de cada espadachim. Era difícil chamar aquilo de aperto de mão, mas as pessoas pareciam satisfeitas. Alguns até esboçaram sorrisos felizes, mesmo com rostos assustadores que não eram nada agradáveis. Enquanto Airen caminhava tranquilamente, logo chegaram ao portão da Academia de Esgrima Krono.
— Bem-vindos, todos os convidados. Por aqui, por favor — disse prontamente um dos porteiros.
— Hã? Er…
Os espadachins seguiram a orientação do porteiro, deixando Airen confuso. Ele não era apenas um convidado; era o ‘convidado real’. Não precisava participar do evento do Dia dos Hóspedes. Mas o porteiro agiu como se não houvesse nenhum ‘convidado real’ ali. Airen não conseguiu dizer isso em voz alta enquanto as pessoas se moviam. Claro, ele poderia ter ficado para trás até que todos saíssem e falado com os outros porteiros, mas…
— Airen, para onde estão indo? — perguntou Lulu.
— Ah, isso se chama Dia dos Hóspedes. As pessoas duelam, uma de cada vez, com alguém da academia…
— Uau! Isso parece divertido! Vamos! Vamos assistir!
Airen mudou de ideia ao ver Lulu balançando seu pequeno florete com empolgação. Pensou por um momento e então assentiu.
— Sim, vamos fazer isso.
“Não estou com pressa, então acho que posso dar uma olhada.”
Airen também estava curioso sobre o Dia de Exibição da Krono. Queria saber quão habilidosas eram as pessoas da academia e os espadachins corpulentos que caminhavam juntos. Também estava fascinado pela atmosfera.
“É como um festival.”
Ele nunca havia estado com tantos espadachins antes, exceto na Academia de Esgrima Krono e na Expedição de Caça a Monstros. Nenhuma dessas ocasiões foi tão animada e agradável quanto agora. A primeira tinha um clima competitivo, e a segunda, um ar de seriedade.
Desta vez, ele não era um participante. Apenas precisava assistir, o que o fez pensar que ouvir Lulu fora uma boa ideia.
— Por que está me acariciando de repente? — perguntou Lulu.
— Agradecimento.
— Então me faça um carinho embaixo do queixo.
— Certo.
Airen pegou Lulu e fez carinho sob seu queixo. Alguns espadachins olharam para ele com inveja.
Depois de um breve momento, chegaram a um grande campo de treinamento, simples e limpo, mas não luxuoso. Os espadachins ficaram nervosos ao chegar ao destino. Então, viram um espadachim caminhando em sua direção, ao longe: um jovem com uma espada gigante apoiada no ombro.
Alguns ficaram incomodados e começaram a reclamar.
— O quê? Ele é só um garoto!
— Estão nos subestimando.
— Não ‘nos’. Só você.
— Seu desgraçado…
— Cala a boca. Vamos acabar expulsos.
Alguns tentaram acalmar o grupo, mas a maioria não conseguiu parar de murmurar. Era compreensível. Alguns haviam atravessado países apenas para duelar com um espadachim da academia, mas aquele jovem parecia fraco.
Mas Airen não fez isso. E não era porque o espadachim parecia ter uma idade próxima à sua.
Ele conhecia a pessoa e murmurou o nome.