Índice de Capítulo

    Como Airen Farreira sabia, Ian era considerado o melhor instrutor de esgrima do continente. E ele não era o único a pensar assim. Era consenso geral que, embora o diretor da Academia de Esgrima Krono talvez não fosse o espadachim mais forte, ele certamente era o melhor professor de esgrima. Nesse caso…

    “Um professor melhor que o Diretor Ian? Quem poderia ser?”

    Airen não conseguia imaginar. Foi quando Keira Finn, a subdiretora da Krono, rompeu seu silêncio com uma expressão de choque.

    — Espere, está falando daquele desgraçado louco? Não. Não ele! Eu não posso permitir isso!

    Ela falou em tom exaltado, com a testa franzida, claramente frustrada. Quem era essa pessoa que a fazia reagir de tal forma? Airen e Lulu a olharam com curiosidade. Mas eles não eram os únicos. O próprio Ian olhou para Keira com uma expressão confusa.

    — Do que está falando? A quem acha que estou me referindo? — perguntou Ian.

    — Hã?

    — Você estava pensando no Khun? — A pergunta de Ian deixou Keira em silêncio, e ele começou a rir. — Certo… Faz sentido também. Haha… Hahaha!

    — Esqueça — Keira retrucou.

    — Não se envergonhe. Você tem razão, também. Khun tem sua própria filosofia de ensino. Mas… Eu não sou melhor em ensinar? É porque ele é seu marido que você pensa…

    — Já chega.

    Os olhos de Keira ficaram frios, mas isso não foi o fim. Ela se tornou tão assustadoramente intimidadora que Airen esfregou as coxas por causa do arrepio. Lulu também sentiu o pelo se eriçar e se escondeu atrás de Airen.

    Até Ian parecia assustado com ela. Mas ele não ficou assim por muito tempo. Após limpar a garganta para aliviar o clima, ele continuou.

    — Então, voltando ao assunto… Não estava me referindo a uma pessoa específica quando falei sobre um ‘professor melhor’. Era apenas uma metáfora.

    — Uma metáfora, senhor?

    — Sim. Estou falando do mundo. Você deve sair para o mundo maior, além dos lugares onde esteve até agora.

    “Ah, então era isso que ele quis dizer.” Airen assentiu. Isso fazia sentido. Muitas pessoas diziam que sair para o mundo maior e conhecer mais pessoas era essencial para crescer. O que Ian disse parecia se alinhar a essa ideia, e ele confirmou com mais explicações.

    — Mas você não precisa fazer isso como um espadachim de romance, encontrando adversários mais fortes ou se colocando em perigo para treinar sua esgrima… Só quero que veja, aprenda e experimente mais. Tudo o que você conhece veio apenas de sua família e da academia. Esses dois pequenos mundos têm sido sua prisão.

    — Isso é verdade, senhor.

    — Suas perspectivas e pensamentos mudam em um ambiente diferente. Ao ver coisas novas, isso também afeta o que está em sua mente. O processo pode até atrasá-lo, mas isso é apenas um passo para eventualmente encontrar paz em sua esgrima. Talvez você encontre algo que solidifique sua esgrima atual. Ou talvez acabe descobrindo uma esgrima totalmente nova. Ou até mesmo uma esgrima que vá além de tudo o que você conhece agora, que incorpore tudo, incluindo o que já domina. — Após terminar sua explicação, Ian olhou nos olhos de seu aprendiz e perguntou: — O que acha?

    Airen não conseguiu responder imediatamente. Ele não achava que Ian estava errado. Na verdade, concordava com seu mestre. O conselho era típico, mas também correto. Airen precisava de uma experiência mais ampla. Assim como começou a crescer após sair do pequeno limite de sua família no passado, agora precisava expandir seu mundo.

    “Mas… E minha família?”

    Essa era sua única preocupação. Ele passou toda a juventude trancado em um quarto e, depois, ficou preso no mundo da feitiçaria por cinco anos. Finalmente, tinha a oportunidade de passar um tempo feliz com sua família. Se fosse sair para o mundo, longe deles…

    “Entendo que seria difícil para ele decidir”, pensou Ian. Ele não queria forçar sua ideia, já que estava apenas dando conselhos. Podia levar o cavalo à água, mas era o cavalo que tinha que beber. Ian sabia disso melhor que ninguém, tendo visto inúmeros homens. Mas…

    “Esse garoto acabará saindo para o mundo.”

    Ian sorriu e começou a falar.

    — Só para sua informação, Brett Lloyd e Judith partiram em uma jornada alguns dias atrás, seguindo meu conselho.

    — E, se estiver interessado, Illia Lindsay também saiu em uma jornada para treinar. Ouvi dizer que ela partiu há cerca de dois meses.

    Três nomes surgiram inesperadamente. Esses nomes não tinham nada a ver com a conversa entre Ian e Airen. Por que importava que eles tivessem partido, se cada pessoa tinha uma situação diferente? Mas, para Airen Farreira, importava. Eles eram seus preciosos amigos, o suficiente para influenciar sua decisão. Eles o ajudaram tanto que permitiram que ele se tornasse quem era agora. Pensar em seus amigos tornava seu dilema ainda maior. Após um tempo, Airen se curvou e respondeu.

    — Por favor, me dê mais tempo para pensar…

    — Sim, acho que não deve tomar uma decisão rapidamente. Descanse. Vou guiá-lo até um lugar para isso.

    Ian não o pressionou. Deu um tapinha nos ombros de seu aprendiz e o levou a um local onde pudesse descansar. Airen aceitou o gesto com gratidão, embora sua expressão fosse de alguém tomado por pensamentos complicados.

    — Essas pessoas que o velhote mencionou… São seus amigos? — perguntou Lulu.

    — São, sim — respondeu Airen.

    — Entendi. Estou curiosa. Que tipo de pessoas são eles? Ah, mas estou com sono…

    — Quer tirar uma soneca?

    — Quero. Airen, não pense demais. É simples. Não são opções ruins, de qualquer forma…

    Lulu adormeceu instantaneamente. Seu ronco tranquilo encheu a sala, e Airen riu.

    “Sim. Não vou pensar demais.”

    Ele não estava escolhendo entre duas opções ruins. Precisava escolher para um futuro melhor e não precisava se torturar por isso. Com uma expressão mais leve, Airen continuou pensando.


    — Viu? Ele é um bom garoto, não é? — perguntou Ian.

    — Nem tanto — respondeu Keira.

    — Nem tanto? Tem certeza?

    Ian franziu a testa com as palavras de Keira Finn. O garoto era impecável em sua esgrima e caráter, e ela diz que não? Era só amargura. Ian riu e disse:

    — Ei. Está sendo rígida com ele porque mencionei o Khun…

    — Pelo amor de Deus, vai parar com isso? Ele saiu de casa há mais de cinco anos! Pare de falar dele!

    — Ele só saiu para treinar sua esgrima, não precisa falar assim… Além disso, ele manda cartas o tempo todo…

    — Apenas pare! — Keira gritou.

    As pessoas nunca imaginariam Keira agindo assim, pois ela geralmente mantinha a compostura. Mas Ian estava acostumado, afinal, a conhecia há muito tempo.

    “Melhor eu parar por aqui. Mas não fui eu que trouxe o assunto primeiro… Credo…” Ian pensou enquanto Keira, acalmando-se, murmurava com irritação.

    — Ele carece de paixão.

    — O quê? Ah…

    — Ele não tem paixão suficiente pela esgrima. Qualquer um da 27ª Turma seria melhor que ele. Sei que ele é um garoto talentoso e nobre… Mas lhe falta algo para ser um verdadeiro Krono.

    — Hmph.

    Ian esfregou o queixo, reconhecendo que ela tinha razão. Comparado às suas habilidades, Airen Farreira realmente carecia de paixão pela esgrima. Isso se tornava ainda mais evidente ao compará-lo aos outros membros de Krono, que estariam dispostos a enfrentar qualquer desafio em prol do treinamento. Mas Ian não achava que isso fosse um grande problema.

    — Mas isso não é um problema. Tenho certeza de que Judith o influenciará de alguma forma quando se encontrarem. E ele também influenciará Judith.

    — Eles vão ajudar um ao outro a crescer assim. Essa é a vantagem de ter colegas, não é?

    Keira não discordou dessa vez, pois sabia que Ian tinha razão. Eles mesmos, como colegas de Krono, haviam se ajudado a crescer. Sem isso, ela não teria se tornado uma mestra, nem ele teria se tornado um dos melhores espadachins do continente. Não havia razão para negar. Mas ela não conseguiu evitar franzir o cenho com o que ele disse a seguir.

    — Acho que seria interessante se Airen e Ignet se encontrassem.

    — Não… fale sobre ela.

    — Haha. Entendido — Ian assentiu.

    Ao contrário dele, Keira não gostava de Ignet, e a relação piorou no ano passado, quando Ignet apareceu de repente para desafiá-la para um duelo.

    “Habilidades à parte, nunca imaginei que ela pensaria em algo assim…”

    Ela tinha uma ideia que muitos considerariam ridícula, até arrogante, e que causaria reprovação. Mas Ian achava aquilo bom. O desafio imprudente de uma jovem era algo que mais entretinha o velho diretor. Ele sorriu ao pensar nisso.

    — Tsk — Keira estalou a língua, incomodada com a expressão de Ian, e virou-se para sair. O diretor a chamou enquanto ela começava a se afastar.

    — Para onde você vai?

    — Por que você se importa?

    — Até mais.

    — E só para constar… Ainda não considero Airen meu aprendiz. Vou observar melhor antes de decidir.

    Ela parecia muito irritada, mas Ian apenas riu. Sabia que, no final, ela cuidaria de Airen. Por trás de sua fachada fria, Keira Finn era a pessoa mais carinhosa de Krono. Ian até sabia para onde ela estava indo agora.

    — Obrigado, como sempre.

    Após observar sua amiga desaparecer, ele também partiu.


    A Academia de Esgrima Krono tinha um campo de treinamento em uma área mais isolada de suas instalações. Menor que o usado no Dia dos Hóspedes, era apreciado por sua praticidade e intimidade. Normalmente, havia sempre alguns espadachins treinando lá a qualquer momento.

    Mas hoje, era diferente.

    Lance Patterson estava treinando ali com uma expressão terrível, quase vergonhosa, o que fez os outros se retirarem para deixá-lo sozinho. Em solidariedade, ele ficou ali, chorando enquanto balançava sua espada.

    Swoosh!

    Lance não achava que venceria. Estava enfrentando ninguém menos que Airen Farreira, alguém que havia alcançado um nível que nem mesmo o monstruoso Brett Lloyd ou Judith haviam alcançado. Airen tinha suas questões, mas Lance sabia que perderia caso Airen continuasse treinando com aquele talento insondável. Porém, nunca imaginara que a diferença entre eles fosse tão grande.

    Swoosh!!

    Lance continuava a balançar sua espada, tentando cortar os pensamentos negativos, aliviar o vazio e esquecer a derrota que mais o marcara. Ele balançava mecanicamente, a ponto de não perceber que alguém se aproximara.

    Era Keira Finn. Lance se assustou ao vê-la e parou quando a subdiretora falou.

    — Não deixe a inferioridade consumi-lo.

    — Todo espadachim acima de você já enfrentou derrotas e perdas muito mais dolorosas. Aqueles que se deixaram consumir por isso desapareceram, enquanto os que superaram ascenderam.

    Ela falava calmamente, mas com firmeza. Suas palavras vinham de experiência própria e do que mais prezava. Ela sabia disso porque havia vivido as experiências mais amargas e conhecia o doce resultado que esperava no final.

    — Não deixe isso consumi-lo. Você é quem deve consumir isso, e usá-lo para crescer. Levante-se e siga em frente, como sempre fez.

    — Sim… senhora.

    Keira então saiu, deixando Lance Patterson sozinho para lidar com suas lágrimas.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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