Índice de Capítulo

    Após o duelo com o Diretor Ian, Airen Farreira permaneceu na Academia de Esgrima Krono por dez dias. No primeiro dia, ocupou-se reencontrando e colocando as conversas em dia com as pessoas.

    — Faz tanto tempo, Airen.

    — É verdade.

    — Você está bem, Instrutor Ahmed? Instrutor Karaka?

    — Esqueça isso de ‘instrutor’. Nem lembro mais quando foi aquilo. Apenas me chame de Ahmed.

    — Certo, Ahmed.

    Ahmed e Karaka cumprimentaram Airen.

    — O quê? É mesmo o Airen?

    — Quando você chegou?

    — Não, por que demorou tanto?

    — Haha… é uma longa história.

    — O que houve? Judith disse que você voltaria em um ano, mas já se passaram cinco!

    — Você tem treinado?

    — Você ainda não ouviu? Ele acabou com o Lance ontem.

    — Cala a boca.

    Lance Patterson, Nicholas Bourn, Marlon Davidson, os chamados seguidores de Brett, e muitos outros colegas pareciam desesperados para conversar com ele.

    Airen ficou surpreso. Ele não havia esquecido de seus colegas. Mesmo após tanto tempo, ainda lembrava o nome e o rosto de cada um. Mas nunca os considerou amigos próximos. Na época, tinha péssimas habilidades sociais e conversava pouco com os outros, exceto com o grupo de Brett, Judith e Illia Lindsay. Por isso, não esperava que ficassem felizes ao vê-lo.

    — Olá, amigos do Airen! Sou a professora do Airen, a incrível feiticeira Lulu.

    — Oh? O quê?!

    — Uma gata! Uma gata falante!

    — Sai da frente! Quero apertar a pata dela!

    — Posso acariciar você?

    Mesmo que Lulu, uma desconhecida para todos, parecesse mais popular, Airen sentiu-se grato. Por isso, acabou compartilhando sua história com mais detalhes do que imaginava. Contou tudo, exceto o sonho. Todos os colegas e antigos instrutores se deleitaram com suas fascinantes histórias. Até mesmo os aprendizes veteranos que não o conheciam se juntaram para ouvir. Mas isso foi apenas no primeiro dia.

    — Vamos ver o quanto você ficou forte.

    — Ei, nem pense nisso. Não ouviu falar do Lance? Você não dura nem um golpe.

    — Hã? Eu não sou o Lance… espera, senhor?

    — Ei, eu estava pensando… posso conseguir uma chance de duelar com o Airen quando você terminar?

    Seriam os laços com a Academia de Esgrima Krono? Ou o fato de serem espadachins? Todos pareciam obcecados pela oportunidade de duelar com Airen, como se fossem loucos por esgrima. Mais de trinta pessoas formaram fila, parecendo tão animadas quanto em um encontro com seus primeiros amores, e muitos voltaram para novos duelos.

    Assim, até mesmo com sua excepcional resistência, Airen ficou exausto. Ele nunca havia ficado tão cansado nem no mundo da feitiçaria. Isso o fez perceber que todos ali, até mesmo alguns colegas que ele pensava não serem sérios sobre esgrima, estavam treinando intensamente. Todos haviam se esforçado muito para melhorar.

    “Eu sou o único com uma mente tão instável.”

    É claro que todos enfrentariam dificuldades. Talvez tivessem enfrentado no passado, talvez enfrentassem agora, ou quem sabe no futuro. Mas tais pensamentos não aliviaram sua mente.

    “Talvez eu esteja exagerando.”

    Dez dias haviam se passado. Airen suspirou durante uma caminhada noturna. Ele ainda não conseguira se decidir. Se não tivesse ouvido falar de Judith, Brett e Illia, teria escolhido voltar para casa para passar um tempo com sua família ou permanecer em Krono para estudar esgrima, visitando-os ocasionalmente. Mas, após descobrir o que seus amigos estavam fazendo, simplesmente não conseguia tomar uma decisão.

    “Quero encontrar Judith. Quero pedir desculpas a Illia por não cumprir minha promessa. Quero saber como Brett superou suas dificuldades. E mesmo que eu não consiga vê-los, quero alcançar o nível deles no mundo.”

    Ele refletia.

    “Mas não passei muito tempo com minha família. Sempre fui um peso para eles. Finalmente posso me tornar um verdadeiro membro da família, mas vou partir? Também preciso cuidar da minha irmã, que sempre cuidou de mim.”

    O outro lado de sua mente pesava ainda mais.

    Por isso, continuava indeciso. No final, Airen decidiu retornar para casa primeiro, visitar seus pais e só então fazer uma escolha.

    — Que pena. Eu queria que você ficasse mais tempo — disse Lance.

    — Haha. Se eu não sair agora, nunca mais vou embora — respondeu Airen.

    Airen se despediu do diretor, da vice-diretora e de todos os outros, prestes a deixar a cidade de Alcantra. Apenas Lance Patterson permaneceu até o último momento. Seus olhos brilhavam como uma joia.

    “Ele parece mais firme do que quando o vi no Dia dos Hóspedes”, pensou Airen enquanto apertavam as mãos.

    — Airen.

    — Hã?

    — Se estiver em dúvida, pense no motivo de fazer algo, em vez de no motivo de não fazer. É melhor assim enquanto se é jovem.

    — Ah, mas isso não é meu. Ouvi isso de um colega mais velho quando estava em um dilema. Só estou repassando.

    Lance sorriu e soltou sua mão. Airen o observava enquanto ele acrescentava:

    — Acho que Brett e Judith foram para o oeste.

    — Oeste…?

    — Sim. Os Cinco Reinos do Oeste são famosos pela esgrima. Eles têm muitas academias e até aquele famoso coliseu de gladiadores. Ah, mas você não vai vencê-los no estado em que está. Eles estão muito fortes agora.

    E com isso, Lance partiu. Ele parecia revigorado, como se tivesse superado algo.

    Airen olhou para suas costas por um longo tempo, até ele se tornar do tamanho de um dedo, depois um ponto, e finalmente desaparecer na multidão. E ao dar um passo à frente, murmurou em voz baixa:

    — Obrigado.


    História Paralela – Judith & Brett Lloyd

    — Droga. Alguém está falando mal de mim.

    — O que você está dizendo?

    — Meus ouvidos estão coçando. Tenho certeza de que é aquele idiota do Lance. Esse tonto nunca desiste, mesmo quando eu o derroto todas as vezes.

    — Pare com isso, sua idiota.

    Brett xingou Judith, que transformara uma teoria incerta em fato. Ele costumava xingar de vez em quando, mas agora fazia isso com mais frequência. Passar tempo com sua colega o havia mudado.

    — Pare com a palhaçada e vá pegar a placa de mercenário — disse Brett após suspirar.

    — A gente realmente precisa disso? Não estou com vontade agora. E por que você não faz isso?

    — Eu sei ser discreto, entendeu? Se você puder manter um perfil baixo e quieto, não precisa disso.

    — Já volto. Não coma sozinho ou vou te arrebentar — rosnou Judith antes de sair em direção à guilda dos mercenários.

    Brett balançou a cabeça enquanto a observava partir. Eles eram figuras famosas em Alcantra, mas ninguém a nível continental. Para aventureiros de outras regiões, pareciam apenas jovens ingênuos. Mas Judith não se importava. Dizia e fazia o que queria, o que às vezes levava a brigas com os outros, que acabavam se tornando algo ainda maior.

    “Não podemos continuar assim. Pelo menos uma placa de mercenário de alto nível intimidaria alguns deles.”

    Claro, a placa de “Aprendiz Formal da 27ª Turma da Krono” funcionaria do mesmo jeito, se acreditassem que era verdadeira. Eles eram os únicos dois da turma formal de 27º ano a saírem para o mundo, então ninguém achava que a placa era autêntica.

    Foi por isso que Brett enviou Judith à guilda dos mercenários.

    — Não entendo por que ela sempre causa confusão.

    — Aqui está sua comida.

    — Oh, obrigado.

    Brett respondeu educadamente, enquanto levava a carne de porco à boca, pensando que seria melhor se tivesse vindo com um amigo mais tranquilo que Judith. Mas esse pensamento era inútil.

    Enviar o aprendiz ao mundo para ganhar experiência era o último passo da graduação na Academia de Esgrima Krono. Era o exame final para um aprendiz formal. Durante a jornada, o aprendiz em teste precisava perceber suas fraquezas, superá-las e então retornar à academia.

    Brett e Judith foram os únicos que cumpriram os requisitos para realizar o exame final. Não, na verdade, ele era uma exceção…

    — Ugh, que irritante.

    Brett resmungou após terminar de comer. Ele não se arrependia de ter vindo com Judith, mas desejava que ela causasse menos problemas. Lembrar dos transtornos que ela provocou durante a curta viagem já lhe dava dor de cabeça. Então… de repente, ele pensou no nome de uma certa pessoa.

    “Airen Farreira…me pergunto o que ele está fazendo.”

    Essa pessoa tinha um talento excepcional, mesmo em comparação com os dois. Ele teria participado da jornada com eles, caso tivesse retornado à academia como o esperado.

    Se ele estivesse aqui, a jornada seria muito mais tranquila…

    — Ei! Está pronto! Mas só dão até prata… Seu desgraçado! Eu te disse para não comer antes!

    — Ah, esqueci de tirar o prato.

    — Seu bastardo…

    “Ugh, estou cansado.”

    Brett suspirou ao ver Judith gritando enquanto agarrava sua gola.

    Isso aconteceu duas semanas depois que os dois gênios da Academia de Esgrima Krono saíram para o mundo.


    História Paralela – Illia Lindsay

    O Reino Caliard, um dos Cinco Reinos do Oeste, famoso por sua tradição em esgrima, abrigava o coliseu de gladiadores, onde os melhores espadachins do mundo se reuniam para competir. Isso era possível devido à história do reino, cujo fundador foi um mestre espadachim.

    O coliseu atraía todo tipo de pessoas: mercenários veteranos, espadachins renomados de academias prestigiosas, cavaleiros errantes e até cavaleiros formais do reino, todos mostrando suas habilidades. Tornou-se ainda mais famoso após a visita de Ignet, a gênia do continente, tornando o local mais competitivo do que nunca.

    Era a Terra da Provação1. E nessa terra, uma figura resplandecente sob a luz da lua surgiu. Era Illia Lindsay.

    Ela observou a entrada por um longo tempo antes de entrar no coliseu sem dizer uma palavra. Sua cavaleira de escolta a olhou com olhos preocupados. Ela sabia por que sua senhorita havia vindo e em quem estava pensando.

    “Ela realmente não deveria se forçar tanto…”

    A Illia Lindsay que ele conhecia não precisava parecer tão sombria. A Senhorita Illia não precisava agir como se estivesse sendo perseguida ou se preocupar com a opinião dos outros. Ela merecia uma vida mais feliz.

    — Estou contando com você.

    A cavaleira fez uma reverência ao sacerdote que recentemente se juntara a eles. Ela acreditava que confiar no poder de Deus poderia aliviar a mente de sua senhorita e encontrou um sacerdote para ajudá-los. Era o melhor que podia fazer naquele momento.

    — Farei o meu melhor para que a Senhorita Illia encontre paz.

    Felizmente, o sacerdote tinha boa reputação e parecia muito inocente e gentil. Ele tinha uma voz tão calma e tranquilizadora que a cavaleira fez outra reverência, agora com respeito renovado.

    Já se passaram dois meses desde que Illia partiu em sua jornada.


    Ao mesmo tempo, Airen Farreira e Lulu chegaram a uma pequena cidade, quase no final de sua jornada de volta para casa. Lá, encontraram uma cena curiosa.

    — Ahh! Ahhhhh! Por favor! Alguém ajude um orc!

    — Seu bastardo! Pague ou leve uma surra!

    — Uau. Um orc! — gritou Lulu, com os olhos arregalados. Já era fascinante ver um orc ali, já que eles geralmente viviam apenas no noroeste do continente, mas alguém estava batendo naquele orc. Certamente era uma visão incomum.

    Airen também ficou surpreso. Na verdade, ele estava mais intrigado que Lulu e se aproximou do orc. O orc parecia familiar. Airen pensou que já tinha visto um orc parecido no caminho de volta da academia anos atrás. E estava perdido nesses pensamentos quando os olhos do orc encontraram os dele. A expressão do orc se iluminou como se tivesse encontrado um herói e ele o chamou.

    — Ei, jovem! Você me conhece, não é?!

    — Hã?

    — Você sabe! O orc oráculo de cinco anos atrás?!

    — Oh! — Airen ofegou em surpresa ao se lembrar dele.

    1. Referência cap 15.
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