Capítulo 92: Espadas Numeradas de Vulcanus (6/7)
“Talvez não seja tão insano assim, agora que penso nisso.”
Gerog coçou o queixo enquanto observava Anya suspirando, contrariada por ter que usar outro porquinho.
A feitiçaria dela funcionava sob várias condições. Primeiro, o valor do dinheiro comparado aos desejos era baseado nos padrões de Anya. Além disso, ela só podia economizar dinheiro que ganhava com trabalho árduo. E, para complicar, os desejos se realizavam de formas inesperadas. Mas, mesmo com essas limitações, a feitiçaria dela ainda era incrivelmente poderosa.
“Eu tentaria tantas coisas diferentes se pudesse usar isso… Mas acho que ela gosta mais de economizar.”
Gerog de repente sentiu inveja.
— Mão de vaca.
— Eu não sou mão de vaca! Sou a sábia e econômica feiticeira Anya!
— Claro, claro. Sábia Anya.
— Hehe.
“Eu estava sendo sarcástico, não te elogiando.” Gerog suspirou ao perceber que estava discutindo com uma criança. Um sentimento de autopiedade tomou conta dele, e tudo o que queria era ir para casa e dormir. Mas, para isso, precisava terminar a tarefa. Então, ele falou.
— Vamos continuar com nosso trabalho.
— Sim!
Anya assentiu, tirou o terceiro porquinho e o quebrou. Com o som de estilhaços, uma linha dourada saiu como um fantasma, mas não marcou o alvo desejado.
Gerog ficou frustrado.
— Eu disse que precisamos marcar Airen Farreira. Por que enviou para a gata?
— Eles estão sempre juntos, então posso fazer na Lulu.
— Um porquinho não dá para duas marcas? Apenas coloque em ambos.
— Não posso. É mais difícil deixar uma marca em um feiticeiro — disse Anya. — Terminamos? Vamos voltar e tirar uma soneca.
A garota de vestido preto virou-se e começou a sair. Gerog ficou ali, atônito, balançou a cabeça e a seguiu.
— Vamos continuar com a competição.
A luta entre Victor e Randel, ambos potenciais vencedores da competição, terminou. Pablo e Dwanson sorriram, satisfeitos, ao assistir à técnica de Victor, e Vulcanus parecia muito mais contente. Mas a competição ainda não havia acabado. Na verdade, estava apenas começando. Os três ferreiros chamaram mais espadachins para que pudessem encontrar mais inspiração. Foi então que Randel pegou a espada quebrada no palco.
A multidão ofegou, surpresa. Depois de respirar fundo e se concentrar, ele desferiu um golpe com a espada. Mesmo com a lâmina quebrada, a técnica de Randel era impressionante. Não, parecia ainda mais implacável do que quando lutou contra Victor. Então, ele falou:
— Vulcanus.
— O que você quer?
— Eu sou um perdedor. Fui mais fraco que Victor, então perdi.
— Certo. E daí?
— Mas isso é apenas o resultado do presente. Quero dizer que eu e minha técnica de espada temos um potencial que não fica atrás deste homem.
— Hmm? — Victor fez uma expressão confusa, enquanto a multidão se calava.
Randel parecia estar insultando Victor. Mas Vulcanus esboçou um leve sorriso.
— Então, o que você está dizendo?
— Coloquei meu futuro no golpe que acabei de desferir. Minhas metas, crenças e determinação… Embora eu não saiba se você captou a mensagem, tenho certeza de que imaginar como eu era há 10 anos ajudaria você a criar uma boa peça.
Randel embainhou sua espada, fez uma reverência educada e saiu do palco. Vulcanus e os outros ferreiros pareciam intrigados, enquanto Victor e Charlot trocavam olhares e davam de ombros. Mas eles não discutiram, afinal, era fato que eram mais velhos que Randel.
— Acho que um jovem espadachim pode ter essa paixão — disse Charlot.
— Claro. Não podemos afirmar que tudo o que ele disse está errado. Além disso, Vulcanus não está procurando o espadachim mais forte nesta competição — disse Victor.
— Certo. Só preciso de inspiração. Nada mais — disse Vulcanus.
— Oh, entendi…
— É, então não preciso me preocupar.
Charlot, Victor e outros espadachins assentiram às palavras de Vulcanus. Eles estavam certos. Aquilo não era sobre encontrar o homem mais forte. Essa competição era mais como uma entrevista para Vulcanus e os ferreiros.
Claro, a ‘força bruta’ ainda podia trazer inspiração, mas havia mais do que isso.
Os espadachins começaram a refletir. O que fazer? Como mostrar minha força? Alguns encontraram suas respostas, e o mais confiante entre eles subiu ao palco.
Victor comentou:
— Você parece confiante.
— Sendo honesto, não tenho certeza se posso vencê-lo. Mas tenho confiança de que Vulcanus vai gostar de mim.
— O quê? Vai tentar colocar seu futuro na espada, como Sir Randel? Ou vai me zombar por ser velho, como ele fez? É isso?
— Não, eu só…
— Hahaha! Estou brincando. Vamos dar nosso melhor.
— Sim!
— Já terminaram de conversar? Vamos começar — disse Vulcanus, irritado.
Victor e seu oponente assentiram. Com a voz de Vulcanus, a segunda luta começou, e, como a primeira, o resultado veio imediatamente.
Clang!
Victor parou sua espada bem próxima ao pescoço do adversário. O jovem espadachim suava frio enquanto sentia o olhar feroz de Victor.
— Desculpe, mas não pretendo deixar espadachins mais jovens tirarem isso de mim.
Victor afirmou, liberando sua energia, o que fez os espadachins na fila perderem a confiança.
— Uau…
— Outra vez!
— Ele fez de novo!
— Golpe Único, Randel? Não, não. Devia ser ‘Golpe Único, Victor’!
— A diferença de poder é simplesmente absurda.
Trinta minutos haviam se passado desde o início da competição. Não era muito tempo, mas tampouco curto, considerando que duelos entre espadachins de habilidade similar geralmente duravam mais de uma hora. Mas isso não aconteceu ali. As lutas não duravam nem um minuto. Victor derrotava todos.
Bam! Às vezes, Victor esmagava a espada de seus oponentes. Outras, superava-os com um ataque mais rápido do que o de Randel. E, ocasionalmente, confundia seus adversários com ataques imprevisíveis. Ninguém teve chance contra ele.
— Argh!
— Mais alguém?
Victor, que acabara de derrotar outro desafiante, sorriu gentilmente. Mas ninguém ousava encará-lo. A multidão balançava a cabeça.
— Acabou.
— É. Ele é simplesmente forte demais.
Dezessete espadachins saíram do palco amargurados. Entre eles, estavam mercenários de nível ouro e espadachins especialistas famosos. Mas ninguém conseguiu sequer mostrar sua técnica.
Victor estava lá, firme como uma montanha. Sua presença sozinha intimidava os desafiantes restantes, que desistiam antes mesmo de subir ao palco. Parecia que ele já era o dono da Décima Espada Numerada.
Mas ainda não havia acabado. Os olhos do público agora estavam voltados para um homem específico. Com o passar do tempo, quase todos se concentravam nele.
O homem, Charlot, permanecia calmamente no centro das atenções. Com uma expressão embaraçada, falou:
— Acho que terei que ser eu, então.
— É, você é o último. Pare de preguiça e venha logo — respondeu Victor.
— É assim que trata seu próprio irmão? Eu esperava que Sir Randel tivesse aberto um buraco no seu peito.
— O golpe dele foi fenomenal, sim. Agora, venha. Não há mais ninguém.
Charlot assentiu às palavras do irmão mais novo. Ele já esperava esse desfecho. A menos que um mestre aparecesse, isso era inevitável. Eles seriam os donos da Décima Espada Numerada. Claro, Vulcanus poderia decidir não escolher ninguém, mas Charlot, com seu extremo orgulho, achava isso impossível.
“Podemos até lutar contra mestres espadachins juntos.”
Charlot fechou os olhos, refletindo sobre o caminho que ele e seu irmão haviam trilhado. Nenhum espadachim de nível especialista era preguiçoso, mas ele acreditava que eram os que mais treinavam.
“Muito bem. Vamos mostrar a eles. Farei aquele anão teimoso olhar para nós em choque e mostrar ao público que somos os donos da Décima Espada Numerada!”
Foi então que Charlot abriu os olhos e viu um jovem.
— Airen, você vai competir agora? — perguntou Lulu.
— Sim.
— Não vai esperar por Gerog?
— Acho que ele não está interessado.
O jovem loiro parecia ter pouco mais de vinte anos. Seu rosto era liso, e a pele clara dava a impressão de alguém que nunca enfrentou dificuldades. Ele parecia alguém que nunca havia realizado trabalho pesado.
Mas Charlot sabia que esse homem era um espadachim, e um formidável. Ele não precisava observar os músculos, o físico, a respiração ou o modo como o jovem caminhava. Charlot simplesmente sabia. O ar ao redor do jovem loiro era sólido como ferro. Outros poderiam não perceber, mas Charlot conseguia.
“Interessante.”
E era impressionante. Mas apenas isso. Charlot não pensava que perderia ou sequer teria dificuldades contra ele. Isso era simplesmente impossível. A menos que o jovem tivesse começado a treinar esgrima desde o ventre de sua mãe, não havia como alguém tão jovem pudesse representar uma ameaça a ele.
Charlot sorriu. Então, viu algo arder nos olhos do jovem e falou com ele.
— Um gato falante. Que fascinante. Ele é seu animal de estimação?
— Oh, é minha professora.
— Hã…?
— Minha professora de feitiçaria.
— Ah… Minhas desculpas. Cometi um erro.
— Desculpa aceita! Você pode cometer um erro se não souber! — respondeu Lulu.
A voz da gata veio de trás. Charlot riu novamente. Fosse quem fosse a gata, era adorável. O jovem também sorriu para Charlot.
— Vou esperar pelo próximo turno se você for subir ao palco — disse Airen.
— Ah, tudo bem. Pensei em subir se não houvesse mais ninguém, mas pode ir primeiro, se quiser. Ei, Victor, tudo bem para você?
— Claro. Mas uau, você é muito jovem…
Victor parecia surpreso. Mas o irmão de Charlot parecia ter sentido algo dentro do jovem. Charlot assentiu.
“Talvez esse jovem consiga uma das três espadas dos ferreiros.”
Claro, a maioria das pessoas não pensava assim. A multidão parecia confusa ao ver o jovem subindo ao palco. Ele parecia ingênuo demais, jovem demais para ser considerado um competidor.
Além disso, ele não tinha nada em mãos. Na verdade, Charlot e Victor também acharam estranho. Victor estava prestes a perguntar onde estava a arma do jovem, quando Vulcanus, de repente, pulou de sua cadeira e correu até o palco como um louco.
— Senhor ferreiro? — Victor chamou frustrado, mas Vulcanus não deu atenção. Ele apenas olhava fixamente para o rosto do jovem loiro. Parecia tão ansioso que deixou o rapaz visivelmente desconfortável, e Victor teve que chamá-lo novamente.
— Vulcanus, pode nos explicar o que está acontecendo…
— Eu decidi! — gritou Vulcanus.
— Argh!?
— Ugh!
O grito de Vulcanus foi tão alto que algumas pessoas ao redor do palco se assustaram e caíram sentadas. Sua voz soava como se estivesse martelando ferro. Ele levantou ambos os braços, pousou-os sobre os ombros do jovem e então riu. O jovem parecia confuso, mas Vulcanus não se importava. E, com uma voz cheia de empolgação, ele gritou novamente.
— Eu decidi! Este homem é o mestre da Décima Espada Numerada!