Capítulo 705: A Calma Antes da Tempestade (5/5)
O Mercado Anabada, que abriu no meio da noite, ficou ativo por mais tempo do que eu esperava, fechando apenas quando o sol nasceu.
“Não é uma má forma de conduzir as coisas.”
Embora nem todos tenham conseguido um item central para suas necessidades, cada um pôde melhorar uma ou duas coisas para si.
“Fazer isso uma vez aumentou o poder geral do clã em cerca de 5%…”
Eu estava com dúvidas no início, porque parecia uma distribuição forçada, mas fiquei feliz por ter seguido em frente com a ideia. Além disso, provavelmente poderia abrir outro mercado como esse no futuro.
— Heh… É a primeira vez que vejo uma distribuição feita assim, mas gostei.
— E não é divertido também? Cada pessoa compartilha o que precisa com os outros. Também parece que ficamos mais próximos.
— Isso pode virar uma tradição do nosso clã.
Como o método teve uma recepção positiva de todos presentes, provavelmente não teríamos problemas em continuar com o Mercado Anabada.
Mesmo assim, levei em conta o conselho de James Calla, que já foi vice-capitão de um clã considerável.
— Ainda assim, precisaremos ter cuidado se nossa escala aumentar um pouco mais. Embora só tenhamos pegado o que precisávamos desta vez, pessoas gananciosas podem se juntar ao grupo em algum momento.
Sinceramente, eu só estava considerando isso e não estava muito preocupado ainda. Não sou do tipo que tolera quem age assim. E, para começo de conversa, não aceitaria alguém assim no clã.
— Certo! Mesmo que estejam cansados, reúnam-se mais uma vez!
Como todos acordaram durante a noite, ficaram acordados por boa parte dela, mas era esperado que aventureiros aguentassem esse tipo de fadiga.
Com o dia claro, continuei com o próximo tópico.
— Há algo que preciso discutir com todos!
Era uma espécie de reunião executiva, ignorando, claro, que não havia executivos no clã, considerando nosso número reduzido de membros.
— Como todos sabem, o círculo mágico que nos levaria de volta para dentro dos muros da cidade está quebrado no momento.
Antes de entrar propriamente na reunião, fiz um resumo da situação para todos os membros.
O círculo mágico destruído.
As características dos monstros que existiam fora dos muros.
E até mesmo a existência do monstro que fez os Noarkianos, que saíram para explorar o vasto mundo, voltarem para a cidade por vontade própria.
Enquanto eu listava tudo que eles precisavam saber, naturalmente cheguei à parte sobre como, se conseguíssemos os materiais necessários, o GM poderia reparar o círculo mágico de retorno.
— E quanto aos materiais… quais são?
— Ah, escrevi os que ainda faltam. Quer dar uma olhada?
— Sim, por favor.
Depois que o GM entregou suas anotações para Lilith Marrone, ela leu por um momento antes de assentir.
— Então acho que não teremos que nos preocupar com os materiais.
— Perdão? Isso é verdade?
— Sim. Sabendo que o círculo mágico estava danificado antes de sairmos, trouxe tudo o que pude. A única coisa que falta é o Esporo de Pompura… Mas, se precisar dele pelas propriedades de estabilização de mana, não dá para usar o Cristal de Vento de Rapion?
— Sim, sim! Isso mesmo! O cristal de vento funciona!
Bem, isso foi inesperado. Pelo que parecia, poderíamos começar a reparar o círculo mágico ali mesmo.
No entanto, o problema era…
“O que devo fazer?”
Isso só aumentava as opções disponíveis para nós. A decisão sobre qual caminho escolher continuava difícil. Afinal, a cidade não parecia particularmente segura para mim agora que sabia por que Baekho estava tentando voltar tão rapidamente.
— Quando os Noarkianos terminarem os preparativos, eles irão direto para a capital imperial de Karnon e matarão o rei de Rafdonia.
Independentemente de Baekho estar ou não na cidade, um incidente certamente aconteceria.
“Como ele disse que seria em um ano, nove meses atrás… Acho que restam cerca de três meses.”
De certa forma, mesmo que pudéssemos retornar imediatamente, não podia dizer com certeza se voltar para a cidade era a decisão certa.
“Mas também não sou fã de ficar fora dos muros.”
De certo modo, o mundo fora da cidade era mais perigoso do que dentro dela. Aquele monstro perigoso, que matou milhares de Noarkianos sem que pudessem resistir, poderia aparecer a qualquer momento.
Ficar fora da cidade? Ou voltar para ela?
No final, tínhamos que escolher entre essas duas opções.
— Havellion, quanto tempo levará para reparar o círculo mágico se começar agora?
— Não levará muito. Já passou bastante tempo, então a Regeneração Natural deve ter progredido razoavelmente bem.
— Me diga o tempo exato.
— Pode ser reparado em uma semana.
Hmm, sério?
— Então comece imediatamente. Se precisar da ajuda de Versyl ou Maronne, peça.
— Sim, entendido.
Ainda assim, decidi dar a ordem para restaurar o círculo mágico. Independentemente de retornarmos à cidade ou ficarmos fora, ter o círculo consertado era a decisão certa.
— Vamos encerrar a reunião de hoje por aqui. Podem descansar à vontade!
Embora fosse mais cedo do que o esperado, encerrei a reunião rapidamente. Quero dizer, havíamos reduzido nossas escolhas a duas agora. Antes de decidir qual seguir, havia alguém com quem eu precisava conversar.
— Sven Parav.
O paladino da Igreja Reatlas. Goblin.
— Sim…? Não acho que fiz nada, certo?
Quando chamei seu nome, ele começou a se justificar por hábito. Sua reação me fez pensar no que ele poderia estar tramando.
Mas, incrivelmente, ele tinha um talento único.
— Não estou aqui para culpá-lo de nada, então não se preocupe.
— Então… é talvez por causa ‘daquilo’?
— Sim. Esses ‘sentimentos’ seus continuam os mesmos?
Sven Parav tinha uma intuição que chegava perto de ser premonitória. Não era um senso absoluto do futuro, mas ele tinha uma intuição milagrosamente precisa para coisas relacionadas a possíveis perigos.
E desta vez?
— Bem… Ainda não sei com certeza. Não senti nada até agora…
— Entendi.
— Se eu tiver um pressentimento, com certeza venho informá-lo primeiro.
— Certo, entendido.
Embora fosse uma pena não ter a intuição dele antes de tomar uma decisão, outra parte de mim também ficou aliviada.
“Ainda não…”
Isso significava que não era hora para o conteúdo do registro se concretizar.
Um dia, dois dias, três dias, quatro dias…
— Está tudo pronto. Agora podemos voltar para a cidade, basta ativar o círculo mágico.
O tempo passou rapidamente e, no sétimo dia, o GM me informou que o círculo mágico estava completamente restaurado.
Além disso, ele parecia bastante animado ao me dar essa notícia. Estava radiante com a perspectiva de poder voltar para casa após uma longa jornada.
— Perdão…? O que quer dizer?
— Como ouviu. Não retornaremos imediatamente.
— O quê?
Como alguém que tirou o GM de sua vida de recluso fora da cidade, senti-me um pouco culpado, mas não havia alternativa.
— Se não vamos voltar… O que você está planejando?
— Vamos continuar em modo de espera aqui.
— Posso saber o motivo disso?
— Ainda não posso te contar. Darei a resposta quando estiver mais certo disso.
Nem dei a ele uma resposta direta enquanto mantinha o modo de espera.
Um dia, dois dias, três dias…
Uma semana, duas semanas, três semanas…
Realmente não fizemos nada e passamos todo esse tempo entediados enquanto aguardávamos.
No entanto, para mim, aquele período de tempo só parecia a calmaria antes da tempestade. Embora não fosse tão precisa quanto a intuição de Sven Parav, algo dentro de mim dizia que algo estava por vir.
Ba-dum.
Havia uma inquietação no ar.
Fwoosh!
Parecia que algo enorme poderia acontecer a qualquer momento.
Um mês se passou.
Fwoosh!
Quando o segundo mês veio e foi embora, o vento calmo de repente começou a soprar rajadas violentas.
Com isso, o céu escureceu imediatamente.
Vwoong!
Como se o fim estivesse próximo, nuvens de tempestade começaram a se juntar e se fundir em uma única e enorme nuvem.
— E-está prestes a chover?
— Não acho que seja só isso…
— Alguém aqui sabe por que o clima está assim?
Os membros do grupo começaram a se agitar com as mudanças repentinas no ambiente, e procurei um membro em particular entre a multidão que estava fora de suas tendas.
Sven Parav.
Não foi difícil encontrá-lo.
Ao entrar em sua tenda, o vi tremendo como um doente, com o cobertor puxado sobre a cabeça.
Eu soube assim que o vi.
— B-Barão…
A intuição de Sven Parav finalmente havia se ativado.
— P-Precisamos sair daqui! Ah, não… Sair daqui e ir para onde…? N-Não há para onde correr…
O problema era que era a primeira vez que eu o via perder completamente a compostura.
— Acalme-se e fale — ordenei. — O que quer dizer com não haver para onde correr?
— V-Vamos morrer! Mesmo que fiquemos aqui…! Mesmo que saíamos e voltemos para a cidade…!
Embora ele tremesse intensamente ao balbuciar estas palavras, o conteúdo era simples.
Não importava se estávamos fora dos muros da cidade ou dentro deles. Estaríamos em perigo.
Em outras palavras, seria uma zona vermelha, não importava para onde fôssemos.
Ba-dum!
O que estava prestes a acontecer?
Não, antes de tudo, se nada parecia funcionar, o que eu deveria fazer?
— Pois é…
Mesmo enquanto meu coração frustrado começava a bater com raiva, uma parte de mim aceitava calmamente a situação.
— Que sorte a minha, não é?
Era impossível evitar o evento dessa forma desde o início.
Eu estava planejando ficar fora o máximo de tempo possível antes de voltar para a cidade caso o Lorde do Andar aparecesse e continuar fora caso não aparecesse, mas essa não era uma tempestade que eu pudesse evitar.
— Ah, ah…! Ah…!
Olhei para Sven Parav, que começou a passar de tremores a convulsões completas, e, no meu coração, fiz minha resolução silenciosa.
— Yandel! Não é hora de ficar aí! Venha para fora!
“Seja uma tempestade, um raio ou uma enchente. Ou algo ainda mais inacreditável.”
— Algo está se aproximando de nós… Sr. Parav! V-Você está bem?
“Pode vir!”
“Porque eu nunca vou desistir.”
— Capitão! Dê-nos uma ordem…!
Kaislan havia entrado na tenda para me procurar e pediu uma ordem.
— Deixarei o Sven Parav com você — respondi. — Ele não está em condições de se mover sozinho.
— Entendido.
Quando finalmente saí da tenda, vi que os outros membros já haviam empacotado tudo e estavam prontos, aguardando meu comando.
— Emily, qual é a situação atual?
— Uma reação de mana poderosa pode ser detectada naquela direção. As ondas de mana correspondem às de um monstro, mas não posso confirmar.
— Por quê?
— A leitura é grande demais para ser um monstro. Nem mesmo um monstro de primeiro nível daria uma reação assim.
— Entendi…
— Está se aproximando rapidamente, então você precisa decidir logo.
“Tudo bem, nesse caso…”
Olhei ao redor para os membros que aguardavam minha ordem.
Era algo que eu sentia o tempo todo, mas este momento parecia o mais pesado e assustador.
Qual era a escolha certa, e quais eram as erradas?
Ba-dum.
Mesmo que ninguém pudesse ter certeza de nada, eu ainda precisava tomar a decisão.
E essa decisão determinaria o destino de todos ali.
— Primeiro, vamos para dentro da caverna. Depois de ativar o portal, ficaremos prontos para nos mover para a cidade a qualquer momento.
Assim que tomei minha decisão, o clã inteiro rapidamente se moveu em formação e correu para dentro da caverna o mais rápido que pôde. Logo, o círculo mágico reparado apareceu diante de nós, e o GM o ativou após receber minha ordem.
“Três minutos.”
Como já havíamos feito todos os preparativos, o tempo necessário para abrir o portal foi reduzido para apenas três minutos.
Fwoosh!
Então, por que esses três minutos pareceram tão longos?
— Está se aproximando ainda m-mais rápido! — gritou Lilith Marrone enquanto o radar de detecção de mana que ela havia montado perto do acampamento captava mais sinais.
Os aventureiros experientes, que haviam refinado seus instintos de sobrevivência após superarem muitas dificuldades, estavam todos prontos para a batalha com expressões sérias.
Aqueles segundos tensos se repetiram inúmeras vezes, até que…
— Está pronto!
O círculo mágico finalmente brilhou, e um portal se abriu à nossa frente.
— Está aqui…
Alguém na caverna murmurou isso, e as conversas entre os companheiros pararam ali. Todos guardaram suas palavras, focando no que estava diante deles enquanto aguçavam os ouvidos.
Shrk, shrk.
Algo estava arranhando o chão.
Fwish, fwish…
Seus passos pesados pareciam encharcados de água.
Screech!
O vento soava como o grito de alguém.
— Luz.
Com essa ordem curta, Versyl, que estava ao meu lado, conjurou um orbe de luz e iluminou o outro lado do túnel escuro. Graças a ela, conseguimos entender algumas coisas.
Shrk, shrk.
Os sons vinham das correntes presas a ambos os braços da criatura.
Fwish, fwish…
Não era o som de água, mas de incontáveis olhos piscando.
Screech!
A cada passo que dava, inúmeros espíritos gritavam de dor enquanto voavam ao seu redor.
— Yandel. Não podemos lutar contra isso.
Amelia deu seu conselho, fruto de sua habilidade de 【Detecção de Perigo】, que permitia avaliar o quão perigoso um monstro era.
— Ah, ah…! Ahh…! Aaack…!
E eu nem precisava olhar para o rosto pálido de Sven Parav para saber que ele estava convulsionando de medo e indecisão.
Mas, mesmo sem tudo isso, instintivamente reconheci.
Era ‘aquele’ monstro.
Ba-dum, ba-dum, ba-dum!
E aquele monstro era perigoso.
Mais perigoso do que qualquer inimigo que eu já havia enfrentado.
Mas, graças a isso, consegui abandonar minha última hesitação.
Pensei em lutar contra aquilo sem voltar para a cidade, mas rapidamente desisti da ideia com um suspiro pesado.
— Todos, atravessem o portal e retornem para a cidade!
O GM, que estava mais próximo do portal, saltou rapidamente para dentro, seguido por mais pessoas, uma a uma.
— Você vai vir, certo…? — Missha perguntou, com os olhos cheios de incerteza.
— Senhor, vou com você. — Erwen declarou sua teimosia.
— Bjorn! Não podemos apenas lutar contra isso? Talvez consigamos algo precioso se o matarmos… — Ainar parecia nem perceber a gravidade da situação.
— O que estão fazendo?! — rugi. — Entrem no portal!
Erwen e Ainar recuaram, então imediatamente seguiram em direção ao portal.
— Kyaaaak!
O problema foi que meu grito pareceu ter agitado ‘aquilo’.
Depois de caminhar lentamente em nossa direção, o monstro de repente começou a avançar.
— Ahhh! N-Não! Não! Não…!
Para piorar, Sven Parav começou a entrar em pânico bem na frente do portal.
— V-Vamos morrer se formos para lá! E-Eu não vou…!
— O que você está dizendo?! Vai ficar aqui sozinho, então?!
— Ahhh! Ah! Aaack!
— Droga! Que força é essa…?
Nem mesmo Kaislan conseguia arrastá-lo à força.
— Tudo bem, Kaislan! Entre primeiro! — ordenei.
— Mas…!
— Não se preocupe, eu o levarei comigo.
Com isso, mandei Kaislan primeiro e fiquei responsável por Sven Parav.
Olhei para trás para verificar o monstro.
— Kyaaaaaak!
Felizmente, ele não era tão rápido.
Excluindo este paladino e eu, todos já haviam atravessado o portal. Depois de calcular rapidamente quanto tempo restava, agarrei-o pelo queixo e o forcei a olhar nos meus olhos.
— Pare de reclamar. Eu também não quero ir.
— Hã…?
— Se entendeu, vá logo.
Esse cara estava irritando um bárbaro em um momento crucial.
— Ah! Aaack!
Joguei Sven Parav no portal.
“Agora só restava eu.”
Eu só precisava entrar no portal. E, felizmente, meus pés não hesitaram no momento final. Apenas…
Huump!
Pensei em algo enquanto lançava meu corpo no portal.
Não, lembrei-me das palavras da Bruxa da Terra.
— Você enfrentará muito mais dificuldades e tristezas lá.
— Ainda quer voltar?
Minha resposta ainda era a mesma.
“Sim.”
Quero dizer, já estava bastante acostumado com isso.
【Você foi transportado para Rafdonia.】
Vamos lá.
Para dentro da tempestade.
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