Índice de Capítulo

    Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura: 

    Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
    Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
    Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
    Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
    Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
    Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!

    A chuva caía pesada, lavando o sangue que escorria das feridas abertas no corpo de Leonard. O som rítmico das gotas parecia ganhar vida própria, cada uma carregando histórias que ecoavam em sua mente cansada. A visão começava a se fechar, um túnel escuro que o conduzia à beira do esquecimento.

    — Tudo é tão… calmo… — murmurou, enquanto sua mandíbula relaxava e depois abria, deixando a boca roçar contra a grama molhada.

    A confusão que fervilhava em sua mente minutos antes se dissipava, dando lugar a uma quietude quase sobrenatural. Era um silêncio preenchido apenas pela chuva e pelo trovão distante, uma serenidade estranha que parecia carregar em si um eco de desespero.

    Cada gota que caía sobre ele tinha um peso, uma história, um grito sufocado. O som da chuva era, ao mesmo tempo, um lamento e uma melodia, um coro fantasmagórico que o preenchia com sentimentos conflitantes. Paz. Agonia. Uma conexão inexplicável com aquela tormenta que parecia tão revoltada quanto sua própria alma.

    — Eu… não posso… parar — sussurrou, embora as palavras mal alcançassem seus próprios ouvidos.

    Uma chama, pequena e vacilante, ardia em meio à escuridão dentro dele. Era um calor frágil, mas envolvente, irradiando por cada fibra do seu corpo, desafiando a água gelada que escorria por sua pele. Ele agarrou-se a essa fagulha, esse último resquício de esperança, como se fosse a única coisa que o mantinha preso ao mundo dos vivos.

    Com um esforço quase sobre-humano, Leonard estendeu a mão e agarrou o cabo de sua espada quebrada. Usando-a como apoio, começou a se arrastar. O movimento era lento, cada puxão parecia arrancar mais da pouca energia que lhe restava. A dor era insuportável, os músculos gritavam de dor, a pele esfolada no chão úmido, mas ele continuava.

    O céu se iluminou com um clarão, e o trovão que se seguiu parecia querer partir o mundo ao meio. Leonard parou por um instante, ofuscado, sentindo o estrondo reverberar em seus ossos. A dança frenética da tempestade acima parecia zombar dele, mas também o desafiava. “Levante-se”, parecia dizer, “Prove que você continua vivo.”

    A lembrança de sua infância veio como um raio de luz em meio à escuridão. Ele se via, ainda criança, correndo descalço pela terra úmida, escondendo-se de Liam e Calli nos jogos intermináveis de esconde-esconde. Era um tempo mais simples, quando a vida era apenas brincadeira e riso. Um sorriso amargo surgiu em seus lábios rachados.

    “Eu só quero… voltar para casa.”

    Mas a realidade esmagava as memórias. A dor que o fazia estremecer a cada movimento, o peso esmagador da chuva e a constante sensação de estar sendo consumido pela terra que o acolhia. Leonard se perguntava se já haviam desistido dele, se sua ausência era uma ferida ou apenas uma sombra que se desvanecia com o tempo.

    “Talvez eu deva desistir…”

    A mente de Leonard flertava com a liberdade final que a morte prometia. Mas então, como uma lâmina atravessando a neblina, a determinação voltou. Não era hora de parar. Não ainda.

    Com esforço renovado, ele se ergueu parcialmente, apoiando-se na espada. Cada passo era uma agonia, mas ele mancou em direção a uma grande árvore que surgia à sua frente. Uma visão que parecia sair de um sonho: o carvalho carmesim era imenso, seus galhos se estendendo até onde os olhos podiam alcançar, como se rasgassem o céu.

    — Lá vamos nós de novo — murmurou, um riso rouco escapando de sua garganta.

    O vento uivava ao seu redor, a chuva golpeava como chicotes, mas Leonard continuou, arrastando-se até a base da árvore. Quando finalmente chegou, a tempestade pareceu aumentar de intensidade, como se o mundo estivesse chorando junto a ele.

    Ele caiu de joelhos, o corpo exausto e pulsante de dor, mas a chama dentro dele não se apagou. Pelo contrário, queimava mais forte. Era uma determinação que não podia ser silenciada.

    — Eu vou voltar para casa.

    As palavras eram um juramento, um pacto consigo mesmo. O fardo que carregava era esmagador, mas também era o que o mantinha de pé. Mesmo naquela tempestade, mesmo naquele estado deplorável, Leonard sabia que não desistiria. Ainda não.

    Enquanto estava sob a árvore, a tempestade parecia contar uma história. O vento soprava em redemoinhos, como se tentasse lhe dizer algo. Leonard, em seu estado delirante, começou a enxergar formas dançando na chuva. Figuras indistintas, como sombras, movendo-se entre os pingos. Eram memórias? Alucinações? Ele não sabia dizer.

    De repente, uma lembrança mais nítida atravessou sua mente. Ele estava na cozinha de sua antiga casa, o cheiro de pão recém-assado enchendo o ar. Sua mãe sorria para ele enquanto colocava uma tigela de sopa quente na mesa. Era um momento tão mundano, mas que agora parecia um sonho distante, algo precioso demais para ser real.

    — Eu prometi… eu prometi que voltaria — murmurou, agarrando-se à espada com mais força.

    A imagem de sua mãe desapareceu tão rápido quanto veio, substituída pela visão de um monstro que ele enfrentara meses antes. A criatura, uma gosma negra com tentáculos e um olho único, parecia estar rindo dele. O som da chuva se transformou em risos abafados, zombeteiros. Leonard sacudiu a cabeça, tentando afastar as visões.

    — Vocês não vão me deter — rosnou, sua voz rouca, mas firme.

    A chuva continuava a cair, mas agora parecia mais quente, quase reconfortante. Leonard sentiu uma estranha sensação de paz enquanto caminhava até o tronco do carvalho. A árvore era imensa, e sua presença parecia quase protetora. Ele fechou os olhos por um momento, permitindo-se um breve descanso.

    Mas o descanso foi interrompido por um som diferente. Um sussurro. Leonard abriu os olhos, olhando ao redor. Não havia ninguém ali, apenas a chuva e o vento. Mas o sussurro continuava, uma voz suave que parecia vir de dentro da própria árvore.

    — Você ainda tem força. Use-a. Não é o fim — disse uma voz vinda das profundezas que nenhuma consciência deveria acessar.

    Leonard não sabia se estava ouvindo coisas ou se a árvore falava realmente com ele. Mas as palavras atingiram como um raio. Ele se levantou, usando a espada como apoio. Seu corpo ainda doía, mas a chama dentro dele queimava mais forte do que nunca.

    — Eu não vou cair aqui. — disse, com determinação renovada.

    Ele começou a caminhar, mancando, mas com mais firmeza do que antes. A chuva continuava a cair, mas agora parecia uma bênção, lavando suas dúvidas e medos. Cada passo o levava para mais perto de algo desconhecido, mas também para mais perto de si mesmo.

    A jornada de Leonard ainda estava longe de terminar. Mas naquele momento, sob a tempestade e a sombra do carvalho, ele encontrou algo que achava ter perdido: esperança.

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