Índice de Capítulo

    Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura: 

    Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
    Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
    Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
    Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
    Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
    Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!

    O caminho que parecia interminável finalmente chegou ao fim quando Leonard encontrou-se diante do colossal tronco da árvore. Cada passo havia sido uma batalha contra seu corpo exausto, e a força que lhe restava o abandonou de repente. Ele caiu para frente, virando instintivamente o rosto para evitar que seu nariz esmagasse contra a madeira. Seu impacto fez algumas lascas do tronco se desprenderem, caindo ao redor de seus pés encharcados.

    Ofegante, ele recuou com dificuldade, afastando-se do tronco apenas o suficiente para recuperar o fôlego. Um pequeno corte em sua bochecha gotejava uma linha fina de sangue, mas isso logo se tornou insignificante diante do que capturou sua atenção. A parte do tronco onde ele havia colidido parecia… frágil, diferente do resto da superfície robusta da árvore. Havia falhas ali, como se aquela parte fosse menos sólida, quase convidativa.

    — O que é isso? — murmurou, enquanto estendia a mão trêmula para arrancar uma lasca maior.

    O pedaço de madeira revelou um vão escuro e estreito. A curiosidade e a tensão competiam pelo controle de seus pensamentos. Com um movimento desajeitado, Leonard pegou sua espada do chão. A lâmina estava gasta e lascada, mas ainda poderia cumprir seu propósito. Ele deu dois passos cambaleantes para trás, posicionando-se com o pé esquerdo à frente para se estabilizar. Erguendo a espada, realizou um golpe diagonal, rasgando a madeira frágil.

    O som ecoou como um grito abafado, e logo um odor pútrido emergiu do interior da árvore, invadindo suas narinas e revirando seu estômago. Leonard recuou instintivamente, enquanto seus olhos se arregalavam diante do que viu. Lá, no coração do tronco, um cadáver humano jazia preso, suas carnes entrelaçadas por raízes retorcidas que o envolviam como uma armadura grotesca. O cheiro era insuportável, mas o que o paralisou foi algo ainda mais perturbador: o cadáver era uma réplica quase exata de si mesmo.

    — Mas… que porra é essa? — Leonard gaguejou, enquanto cambaleava para trás, sem conseguir desviar o olhar.

    A mente de Leonard girava, os pensamentos embaralhados pelo choque e pela exaustão. Ele caiu de joelhos, apoiando-se no chão com as mãos enquanto sua visão se turvava. Vomitou repetidamente, o ácido queimando sua garganta, mas a náusea persistia. Ele sentia que o mundo inteiro estava desmoronando ao seu redor.

    Quando conseguiu recuperar algum controle sobre seu corpo, Leonard engatinhou de volta até o tronco, ignorando o cheiro nauseante que parecia estar impregnado em sua pele. Ele começou a arrancar mais pedaços da madeira com as mãos nuas, as farpas se cravando em sua carne sem que ele se importasse. Em pouco tempo, conseguiu abrir um espaço maior, o suficiente para o cadáver ficar mais visível.

    As raízes que saíam do corpo pareciam vivas, pulsando levemente, como se absorvessem algo daquele cadáver. Foi então que a verdade o atingiu como um golpe brutal: os frutos que ele havia comido, os mesmos que o haviam mantido vivo nas semanas anteriores, eram nutridos por aquele cadáver humano. O suco doce e carmesim que ele bebera tão avidamente… provavelmente era uma mistura do sangue e dos nutrientes do corpo em decomposição.

    — Não… — ele murmurou, sua voz um sussurro quebrado. — Não pode ser…

    O horror e o nojo o dominaram. 

    Ele caiu novamente, vomitando até que nada mais restasse em seu estômago. Lágrimas escorriam por seu rosto, misturando-se com a chuva que continuava a cair incessantemente. O chão abaixo dele estava encharcado com sua saliva, vômito e sangue. Leonard soluçava incontrolavelmente, a humilhação e o desespero o esmagando.

    — Eu só quero voltar para casa, porra! — gritou para o céu, sua voz rouca quase se perdendo no som da tempestade.

    Seus dedos sujos e ensanguentados arranharam suas próprias bochechas, num gesto desesperado para afastar a sensação de contaminação que o consumia. A pele começou a se romper sob suas unhas, e o sangue escorria livremente por seu rosto. Sua mente girava, uma tempestade de emoções conflitantes, até que algo o tirou de sua autoflagelação.

    Uma pressão súbita surgiu no olho esquerdo de Leonard. Era como se algo estivesse pulsando ali, um calor crescente que não fazia o menor sentido. O jovem cobriu o olho com uma mão tremula, tentando entender o que estava acontecendo. Quando finalmente ousou abrir os olhos novamente, ele viu… fios.

    Fios finos, prateados e brilhantes, emergiam de seu olho esquerdo, dançando no ar como teias etéreas de luz líquida. Eles se moviam com uma fluidez hipnotizante, cada fio pulsando com uma energia que parecia viva. Leonard ficou paralisado, observando os fios se estenderem em direção ao cadáver no tronco. Eles pareciam ser atraídos para o olho direito do corpo.

    — Isso não é real… — sussurrou, mas não conseguia desviar o olhar.

    Os fios prateados começaram a se transformar diante dos olhos de Leonard, adquirindo lentamente um brilho dourado, como se estivessem sendo forjados por uma luz celestial. 

    Eles se moviam com uma graça hipnótica, como dançarinas etéreas guiadas por uma força invisível, convergindo para o cadáver preso na árvore. Havia algo quase sagrado naquele movimento, mas também profundamente perturbador, como um segredo antigo sendo revelado contra a vontade do universo.

    A conexão entre Leonard e os fios parecia cada vez mais tangível, quase viva. Sentia um peso no ar, como se o próprio espaço ao redor dele vibrasse com uma energia pulsante. 

    Suas mãos, trêmulas e ensanguentadas, estenderam-se por impulso. A hesitação tomou conta dele por um breve instante, sua mente oscilando entre o desejo de desvendar aquele mistério e o puro terror do que aquilo poderia significar.

    Finalmente, seus dedos alcançaram o ponto onde os fios dourados se encontravam, mergulhando na estranha luminosidade.

    “Que lindo…” — murmurou, quase sem perceber, sua voz carregada de fascínio e inquietação.

    O toque foi como uma explosão silenciosa dentro de sua mente. Assim que seu dedo indicador tocou a raiz daqueles fios, uma conexão incompreensível e ancestral o atravessou como um raio. Sentiu-se transportado para um abismo de memórias que não eram suas, vislumbres de segredos antigos e futuros incertos que dançavam como sombras na periferia de sua consciência. Era como se seu ser estivesse sendo entrelaçado a algo maior, algo infinitamente vasto e incompreensível.

    “Tão… perto…”

    Enquanto Leonard era consumido por essa troca silenciosa, os fios dourados começaram a se dissolver, sua luz enfraquecendo até desaparecer completamente. Quando recobrou algum senso de realidade, percebeu que o olho esquerdo do cadáver havia desaparecido, deixando para trás apenas um vazio escuro e sem vida. Tudo ao redor pareceu se silenciar por um instante, como se o mundo inteiro tivesse prendido a respiração.

    “Acabou?” — a palavra escapou de seus lábios, mas ele mal acreditava nisso.

    A calmaria foi cruelmente quebrada. Subitamente, uma dor excruciante tomou conta de sua cabeça, como se seu crânio estivesse sendo partido ao meio. Leonard gritou, levando ambas as mãos ao rosto, enquanto seu olho esquerdo parecia prestes a explodir. A pressão era insuportável, como um vulcão prestes a entrar em erupção dentro de seu próprio corpo.

    Seus ossos começaram a ranger, o som ecoando como uma sinfonia grotesca dentro de si. Cada articulação, cada vértebra parecia estar sendo torcida e distorcida por uma força invisível, arrancando dele toda e qualquer resistência. Leonard caiu de joelhos, com o coração batendo em desespero, enquanto o mundo ao seu redor se desfazia em caos.

    O brilho dourado que desaparecera dos fios agora parecia estar queimando dentro dele, transformando, consumindo, reconstruindo. Ele sentia que algo estava sendo arrancado e, ao mesmo tempo, implantado em sua alma, deixando um eco que jamais poderia ser apagado.

    … 

    Sangue. Não apenas manchas, mas rios escarlates que fluíam sem fim, envolvendo Leonard em um pesadelo vivo. A visão diante dele era grotesca e impossível de ignorar: montanhas de corpos empilhados, suas formas torcidas e sem vida, alcançando o céu como um monumento macabro. A noite envolvia tudo em uma escuridão sufocante, quebrada apenas pela luz fria e sobrenatural de uma lua carmesim, reluzente e fantasmagórica.

    Leonard correu, seus pés escorregando no chão encharcado de sangue, mas não havia para onde escapar. Seus olhos foram atraídos para algo subindo entre os cadáveres — não, alguém. Um homem escalava a pilha de corpos como se fossem meros degraus, seu movimento calculado e cruel.

    O homem era impressionante, um paradoxo entre elegância e horror. Vestia um meio fraque cinza com tons esverdeados, por cima de uma malha fina que reluzia sob a luz da lua. Uma gravata impecável adornava seu pescoço, enquanto seus cabelos longos e loiros esvoaçavam em um ritmo hipnotizante ao toque do vento. Seus olhos, porém, eram vazios, dois poços de puro branco, sem vida ou emoção.

    A visão do homem era aterradora, mas Leonard não conseguia desviar o olhar. Ele parecia estar ascendendo aos céus, segurando algo que irradiava uma energia perturbadora: uma chave. Não era uma chave comum, mas um objeto esquisito, de design incompreensível, que parecia pulsar com um poder ancestral.

    “Ele vai acabar com tudo…”


    Era mais do que um pensamento; era uma certeza, uma convicção que atravessou Leonard como uma lâmina fria.

    O caos ao redor intensificou-se. Criaturas indescritíveis emergiam das sombras, seus corpos grotescos e disformes espalhando destruição pelas ruas. As pessoas lutavam desesperadamente, enfrentando seres que pareciam retirados diretamente de seus piores pesadelos. Mas o homem continuava sua ascensão, indiferente ao caos que se desenrolava abaixo dele.

    Leonard reconheceu o rosto do homem — ou algo próximo disso. Dante. Sim, era ele, ou pelo menos uma versão distorcida e infernal de quem um dia conheceu. O fraque era diferente, mas a conexão era inegável. Ele o havia visto antes, naquela livraria, naquele fatídico dia que agora parecia pertencer a outra vida.

    De repente, o céu se rompeu. A realidade se partiu como vidro estilhaçado, e uma fenda colossal se abriu acima de tudo. Por ela, desciam criaturas inimagináveis, formas horripilantes que desafiavam a razão e a lógica. Eram visões de puro terror, que pareciam devorar a sanidade de qualquer um que ousasse olhar diretamente para elas.

    Leonard foi arrastado de volta ao presente pela dor. Uma dor que parecia queimar sua alma e consumir seu corpo. Os fios dourados que haviam desaparecido agora pareciam se fundir dentro dele, transformando-o. Ele quase enlouquecia com as sensações que o invadiam, cada uma mais intensa e esmagadora que a anterior.

    Seu cabelo, que antes exibia os sinais de sua vida desgastada, tornou-se completamente branco, como se o estresse acumulado tivesse disparado uma transformação instantânea. Sua mente fervilhava com um súbito entendimento, peças se encaixando em um quebra-cabeça impossível.

    Nos confins de sua consciência, uma palavra ecoou, gritando para ser reconhecida, uma nomenclatura que parecia carregar o peso de tudo o que havia acontecido.

    Nome: Visão Eterna1

    Descrição: O portador dessa técnica é capaz de enxergar, tocar e compreender os finos fios do tempo, podendo compreender o fluxo próprio do destino por meio do passado, presente e futuro que a partir de gatilhos as visões se geram.

    Sentado na base do tronco da árvore, Leonard permanecia imóvel, tentando processar as revelações que acabara de vivenciar. A dor excruciante que havia consumido cada fibra de seu corpo começava a se dissipar, mas o peso das novas informações permanecia esmagador. Seu corpo, manchado de sangue seco e fresco, parecia carregar as marcas físicas e emocionais de sua provação.

    Ele respirou fundo, sentindo o ar pesado e úmido da noite invadir seus pulmões. A ironia do que acabara de descobrir o fez rir, um som amargo que ecoou na escuridão.

    — Ha… O cara que eu atendi na livraria está destinado a destruir o mundo? Uau, mundo de merda, que reviravolta…

    As palavras saíram com um misto de sarcasmo e desespero. Ele olhou para o alto, observando as folhas carmesim da árvore que se soltavam dos galhos com a brisa noturna. 

    Seus movimentos lentos e graciosos contrastavam com o caos que dominava sua mente. A quietude ao redor era opressiva, como se o mundo estivesse esperando, em silêncio, pelo próximo ato de sua desgraça.

    — Estou fadado a assistir o fim do mundo? — murmurou, a voz carregada de um cansaço existencial. — Não posso deixar isso acontecer… Mas, comparado às pessoas que vi lutando, eu sou… inferior a uma formiga.

    Ele baixou o olhar, encarando a espada ao seu lado, agora mais um peso do que uma arma. Com esforço, apoiou-se nela para se levantar. Seus movimentos eram trôpegos, cada passo denunciando a exaustão que consumia seu corpo e sua alma. Seu peito arfava com descrença, como se cada respiração fosse um desafio ao destino.

    — Preciso sair daqui… Preciso… sair para fora daqui…

    Sua determinação, embora frágil, o impulsionava. Ele começou a caminhar, cada passo um lembrete de sua fragilidade. Cambaleava, usando a espada como bengala improvisada, dirigindo-se para o lado oposto do grande castelo que rasgava os céus. Aquele monumento colossal, que havia testemunhado em seu primeiro dia naquele inferno, ainda causava desconforto. Era uma lembrança de sua pequenez diante do que enfrentava.

    Mas algo dentro dele, uma intuição silenciosa, lhe dizia que o castelo e ele estavam ligados. Que um dia teria de enfrentá-lo, mesmo que isso significasse desafiar o impossível.

    — Um dia… — murmurou para si mesmo, as palavras mal audíveis.

    Por agora, porém, Leonard queria apenas uma coisa: sair. Escapar daquele lugar. Encarar o que fosse necessário, mas longe daquela árvore, daquele destino que parecia inevitável. Ele sabia que o caminho seria longo e árduo, mas por seus irmãos, pela chance de mudar aquele ciclo sombrio, ele daria tudo de si.

    E assim, mesmo ferido e desgastado, Leonard seguiu em frente, cambaleando em direção a um futuro incerto, mas determinado a lutar por algo maior que ele próprio.

    1. Nota: A obra não tem sistema, mas quando tais técnicas aparecerem e termos o entendimento sobre ela, usarei uma tela de sistema para a destacar.[]

    Boa tarde, terça feira tem mais! Todos os capítulos anteriores, foram revisados, sinta-se a vontade para ler novamente.

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