Capítulo 120: Illia Lindsay (4/5)

Os nobres geralmente ostentavam o símbolo de suas casas em bandeiras ou trajes formais. Porém, aqueles com uma longa história e grande poder às vezes criavam uma placa especial para compartilhar com convidados, amigos ou aliados, provando a relação entre eles. As cinco famílias renomadas de espadachins do oeste possuíam placas desse tipo.

Quando se tratava de determinar qual era a mais valiosa, a resposta era a placa branca e dourada da família Lindsay. Diferentemente das outras quatro famílias, que compartilhavam suas placas com relativa facilidade, os Lindsay só as ofereciam a indivíduos com laços profundos. Era tão valiosa que apenas aliados poderosos podiam obtê-la.

Por isso, Heintz não teve outra escolha senão parar ao se deparar com a existência de tal item.

“O quê? Isso é real? Não pode ser!”

Era a placa branca e dourada dos Lindsay! Certamente, um jovem como ele não poderia tê-la adquirido; devia ser mentira. Provavelmente, um golpista tentando usar uma réplica para conseguir acesso a Illia Lindsay.

Mas, se fosse real, isso renderia uma matéria. Heintz, o autoproclamado melhor jornalista de Aisenmarkt, não podia perder essa possibilidade. Escondeu-se atrás de um prédio próximo e focou sua atenção com suas orelhas pontudas. Logo, conseguiu ouvir a voz do porteiro.

— E-e-espere… Por favor, aguarde um momento. Para fins de verificação… Poderia me deixar levar isto para dentro?

O porteiro parecia chocada, e isso era óbvio. O jovem chamava sua mestra de ‘Senhorita Illia Lindsay’ sem nem conseguir olhar diretamente para ela, e simplesmente apresentar a placa branca e dourada provava que aquilo estava muito além de sua competência. Além disso, ele não sabia como determinar se a placa era verdadeira ou não. Suando frio, pegou a placa e correu para dentro do portão em busca de um supervisor. Em silêncio, Airen Farreira apenas esperou calmamente.

“Por favor, por favor, por favor, que seja real!” Heintz aguardava, torcendo para que o jovem dissesse a verdade.

“Não, não posso apenas esperar aqui sem fazer nada.” Ele se acalmou e tirou uma câmera mágica para tirar fotos de Airen de vários ângulos sem ser percebido. Enquanto isso, o portão se abriu novamente, e uma mulher de aparência muito severa retornou com o porteiro. O elfo vibrou internamente e tirou fotos da mulher e do jovem juntos.

“A cavaleira guardiã, Emma Garcia!” ele exclamou mentalmente.

Emma era a cavaleira confiável do chefe da família Lindsay, Joshua Lindsay, e extremamente habilidosa, mesmo estando na casa dos 30 anos. Cuidava da maioria dos assuntos relacionados a Illia Lindsay e a protegia. E, se ela estava ali, significava que a placa de Airen Farreira era verdadeira. Heintz sentiu que aquilo era algo grande e tirou mais uma foto, capturando os rostos de Airen e Emma enquanto mantinha suas orelhas atentas. Logo, Emma falou com uma voz desapontada.

— Saudações. Sou Emma Garcia, cavaleira guardiã de Lady Illia Lindsay.

— Sou Airen Farreira. Estou aqui para ver Illia Lindsay.

— Entendido. Devolvo sua placa primeiro. Confirmamos que ela é autêntica. Por favor, entenda que este processo pode ter sido inconveniente. Temos enfrentado muitos incidentes com réplicas…

— Está tudo bem.

Airen respondeu calmamente. Ele não era tão impaciente a ponto de se irritar com algo assim. Não fazia diferença, já que também não havia esperado muito. No entanto, não pôde evitar uma expressão sombria ao ouvir as palavras seguintes de Emma.

— Mas… Sei que é muito rude com o dono da placa, mas minha senhorita recusou encontrá-lo.

— Ela… recusou?

— Sim.

— Minha senhorita está aqui, não como herdeira dos Lindsay, mas como cavaleira em treinamento na Terra do Testemunho. Embora devamos tratar bem os valiosos convidados da família Lindsay, ela pede desculpas, mas deseja focar apenas em seu treinamento.

Emma continuou explicando. Disse que sua senhorita sabia que aquilo era rude e que viria pessoalmente se desculpar quando o treinamento terminasse.

Airen olhou profundamente para a cavaleira, mas Emma manteve a cabeça baixa e não cedeu. Parecia dizer que ninguém passaria por ela sem derrubá-la.

Heintz ficou novamente chocado.

“Ela está recusando alguém que trouxe a placa dourada da família?! O que está acontecendo…?”

Como mencionado antes, a placa branca e dourada dos Lindsay tinha uma importância extraordinária. Mesmo quando a família inteira se recusou a receber visitantes nove anos atrás, devido à derrota de Karl Lindsay, ainda assim abriram exceção para os portadores da placa. Nesse sentido, a atitude de Illia Lindsay era muito estranha.

“Aconteceu algo com Illia Lindsay? Não parece que ela está apenas sendo tímida…” Heintz engoliu em seco e continuou ouvindo, atento à conversa. Illia Lindsay era importante, mas o que aconteceria agora era mais importante para ele. Não achava que o jovem loiro recuaria tão facilmente. Isso era evidente pelo modo como ele agia. Parecia gentil, mas Heintz sabia que esse tipo de pessoa podia ser extremamente teimosa quando quisesse. Por outro lado, a cavaleira não desobedeceria sua mestra, então algo estava prestes a acontecer.

“O que será que vai acontecer? Gostaria de vê-los lutarem…”

Claro, escrever um artigo sobre isso colocaria a família Lindsay contra ele, mas ser um elfo tinha suas vantagens. O Reino Sagrado, que abominava conflitos raciais, certamente interviria.

“Então, mostrem-me, o que quer que seja!” Heintz lambeu os lábios secos, concentrado.

Mas, como era de se esperar, a tensão aumentava rapidamente, com ou sem as expectativas dele.

Airen encarou Emma Garcia. Emma, que havia abaixado a cabeça brevemente, também não desviou o olhar. Ficou firme, como se usasse uma máscara de ferro, enquanto encarava o visitante. E foi quando o porteiro começou a suar de nervoso que Airen a questionou.

— Você disse que Illia Lindsay recusou me encontrar, certo?

— Isso mesmo.

— Você mencionou meu nome ao explicar? Que Airen Farreira está aqui?

— Eu… ia contar a ela agora. Como disse, minha senhorita não esquecerá essa grosseria. Então…

— Nesse caso, eu aguardarei. Por favor, vá perguntar de novo. Diga a Illia Lindsay que seu amigo, Airen Farreira, está aqui e deseja vê-la agora. Mas, se ela ainda recusar… Então irei embora sem causar problemas.

Airen concluiu e olhou para frente.

Emma ficou sem palavras. Quem era aquele jovem que possuía a placa dourada dos Lindsay e chamava sua senhorita de ‘amiga’? E por que parecia tão confiante de que ela o receberia? Normalmente, já teria expulsado o visitante, mas não conseguia fazê-lo dessa vez. O olhar firme do homem, sua postura orgulhosa e o peso no nome Airen Farreira lhe diziam que precisava informar sua senhorita.

— Por favor, aguarde um momento…

Emma inclinou-se e entrou. Airen esperou calmamente, enquanto o porteiro permanecia inquieto. Heintz, à distância, também aguardava ansioso pelo desfecho. Após um tempo, Emma retornou com uma expressão extremamente surpresa.

— Por favor, entre.

Ela não era a única chocada. O porteiro e Heintz também ficaram surpresos. Airen entrou na mansão, e isso significava que tudo o que ele dizia era verdade.

“O quê? O que está acontecendo?” pensou Heintz. O jovem era habilidoso o suficiente para derrotar sozinho toda a gangue ‘Caveira Preta’, possuía a placa dourada dos Lindsay e ainda era considerado um ‘amigo’ de Illia Lindsay, sendo autorizado a vê-la, mesmo ela tendo se recusado a interagir com outros.

“E como eu não sei nada sobre uma pessoa tão incrível?”

Como isso era possível? Ele conhecia todos os espadachins famosos, não apenas no oeste, mas em todo o continente. Sua irritação crescia junto com o sentimento de orgulho ferido, então começou a se mover rapidamente, murmurando o nome do jovem.

— Airen Farreira, Airen Farreira…

“Usarei todos os meus recursos para descobrir quem ele é em duas horas.”

O estranho elfo, Heintz, um jornalista apaixonado, caminhava rapidamente pelas ruas com esses pensamentos.

Enquanto isso, Airen seguia Emma para dentro da mansão. Era bom poder encontrar Illia, mas ainda se sentia confuso. O que deveria dizer? Perguntar se ela estava bem? E por que ela parecia tão perturbada? Seria por causa do irmão? Poderia fazer uma pergunta tão delicada? Muitas dúvidas surgiam em sua mente enquanto os dois se aproximavam do quarto de Illia. Emma fez uma reverência.

— Só posso lhe acompanhar até aqui, a senhorita o aguarda adiante.

Ela se afastou, provavelmente pensando que até ouvir a conversa seria um desrespeito à sua mestra. Mas isso não parecia estranho, considerando que Illia era um gênio, uma das cem Mestres Espadachins do continente.

“Na verdade, é até engraçado eu me preocupar com ela…”

Mas ele não conseguia evitar. Airen respirou fundo e refletiu. Como seria vê-la além daquela porta? Que expressão ela faria ao vê-lo? O que diria?

Não havia respostas para essas perguntas. Ele balançou a cabeça e bateu na porta.

— Entre.

A voz soou. Parecia muito mais madura do que antes. Airen pensou em como o tempo havia passado rápido, respirou fundo novamente e abriu a porta.

E ao abri-la, viu Illia, agora com dezoito anos, sentada elegantemente em sua cadeira. O semblante levemente severo que já havia visto antes estava lá, mas logo deu lugar a um sorriso incrivelmente radiante.

— Faz muito tempo, Airen.

— Illia…

Airen sentiu-se aliviado. Ela parecia sombria e cautelosa no palco, mesmo tendo se tornado uma poderosa Mestre Espadachim. Mas o sorriso que ela usava agora não tinha nada a ver com isso. Pele clara, dentes brancos e um brilho no rosto. Ele relaxou e começou a se aproximar dela.

— O que te fez demorar tanto? — ela perguntou, interrompendo seus passos. — Eu até te escrevi uma carta, mas a resposta só dizia que você tinha negócios a resolver. E nem foi escrita por você.

Airen não conseguiu responder imediatamente.

— Bem, acho que devo ouvir sua explicação primeiro. Mas… ficarei muito desapontada se for por uma razão tola — disse ela.

Illia sorriu ainda mais brilhantemente depois disso, e Airen pensou, com suor escorrendo pelas costas.

“Pensando bem, acho que deveria explicar meu lado da história primeiro.”

Então ele se sentou com um sorriso sem graça e começou a contar sua história à velha amiga.