Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura:
Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!
Capítulo 20 — Leonard?
No vazio etéreo que se estendia diante de Leonard, o espaço e o tempo pareciam não mais existir. O silêncio era absoluto, cortante, como o ar antes de uma tempestade. Ele estava ali, preso em um limbo sem cor, sem vida, sem esperança. Não havia dor, mas também não havia alívio, apenas uma sensação de inanição, como se sua própria alma estivesse sendo devorada pela escuridão infinita.
“Onde estou? Eu morri?”
As palavras flutuaram em sua mente como uma brisa fantasmagórica. Mas ao tentar mover seu corpo, uma sensação estranha tomou conta dele. Ele ainda sentia suas pernas, seus pés tocando um solo invisível. Seus olhos estavam abertos, mas não havia nada além de branco absoluto. Não havia ferimentos. Não havia morte. No entanto, o pesadelo ainda estava presente em sua alma, como uma sombra persistente que se recusava a desaparecer.
— Estou morto? Sem poder fazer nada, simplesmente morri? — A voz de Leonard saiu tremida, como se ele tentasse se convencer de que aquilo era real, mas não conseguia.
Então, a resposta veio, baixa e distante, como um sussurro nas cavernas da própria alma:
— De certa forma, você está morto, garoto. — A voz ressoou, e uma vibração atravessou seu corpo. Era como se a própria essência do ser estivesse se rompendo em um grito silencioso.
Leonard olhou ao redor, tentando entender de onde vinha aquele som. Ele deu um passo hesitante para trás, sentindo o vazio ainda mais ameaçador ao seu redor.
— Onde você está? — A pergunta saiu de seus lábios quase sem querer. Ele olhou para os lados, procurando alguma forma de compreender o que estava acontecendo. — Quem é você?!
A resposta não veio imediatamente. Mas então, como se o próprio vazio tivesse ganhado vida, uma figura apareceu diante dele. Primeiro, era um borrão de branco, uma substância viscosa que se expandia de maneira errática. Lentamente, tomou a forma de um corpo humanoide, mas de algum modo, ele parecia ausente. Sem rosto, sem cor, sem um nome visível. Uma criatura nascida do nada, mas que, paradoxalmente, parecia imbuída de uma estranha sensação de poder e sabedoria.
— Estou aqui. — A voz era agora mais concreta, como se o ser tivesse se materializado no vazio de sua mente. Mas o que Leonard sentia não era o conforto de uma presença amiga, mas a desconfortante pressão de algo que deveria estar além da compreensão humana.
Leonard olhou fixamente para a figura, tentando encontrar algum sentido naquilo. Nada disso é normal… Mas bom… Não posso dizer que o que vivi até agora foi normal, hah…
A risada que quase escapou de seus lábios foi seca e amarga. Ele precisava entender. Precisava perguntar mais, antes que a realidade o devorasse completamente.
— Quem é você? Deus? Algum tipo de entidade sobrenatural poderosa? — A pergunta, saindo de sua boca, foi carregada de um tom de desesperada curiosidade.
— Eu sou… Um tolo. Um tolo pecador. — A voz hesitou, como se o ser estivesse ponderando suas próprias palavras. Uma pausa longa se seguiu, como se ele próprio estivesse tentando se convencer da verdade que acabara de revelar.
— Um tolo, é? — Leonard arqueou uma sobrancelha, uma sensação de apreensão tomando conta de seu peito. Isso não é bom… Ele sabia que o que estava ouvindo tinha mais significado do que as palavras simples indicavam.
— Mas, você também é um. Diria que é um tolo ainda pior. — A voz soou quase como uma acusação. Leonard sentiu um peso se instalar em sua alma.
— Talvez? — Ele soltou uma risada forçada, a dor da lembrança ainda fresquíssima em sua mente. — Durante todo esse tempo que passei naquele inferno, devo ter me tornado um tolo mesmo.
À medida que as palavras ecoavam no vazio, a figura diante dele continuava a ganhar forma, suas bordas agora mais nítidas. Um reflexo de Leonard, mas com uma beleza inquietante. Era como se ele estivesse vendo uma versão de si mesmo, mas esta versão fosse de um mundo onde a perfeição era possível, uma representação daquilo que poderia ter sido, se ele tivesse feito escolhas diferentes.
Em meio ao vazio, o ser agora parecia mais completo, mais humano, mais familiar. Mas Leonard sabia que aquilo era apenas uma ilusão. Um engano, criado para manipular seus sentimentos.
— Você… aquelas memórias, são suas? — Leonard perguntou, um arrepio percorrendo sua espinha. Ele sentia que cada resposta trazia mais perguntas.
— Talvez, um dia… Talvez foram. — A figura balbuciou, como se estivesse revivendo um fragmento esquecido de sua própria existência. — Mas a chama que tentou te manter vivo… um dia fui ela.
O frio se intensificou, como se o próprio vazio tivesse se tornado mais denso.
— Aquele calor, foi você? Agora entendo… os gritos desesperados que ouvi durante a chuva? — perguntou Leonard, o horror em sua voz misturado com uma estranha compreensão. O enigma começava a tomar forma.
— Esses… — A voz parecia trêmula agora, como se o peso de suas próprias palavras fosse demais. — São os gritos das pessoas que matei. Por minhas ações tolas, mergulhei meu próprio mundo no caos… Tentei, com você, meu descendente, talvez? Restaurar a ordem que um dia foi tirada pela semente do caos.
Leonard sentiu a dor daquilo reverberar em sua alma. Mas, ao mesmo tempo, não podia deixar de sentir um estranho vínculo com aquele ser. Uma conexão que transcendia o tempo e o espaço.
— Mas eu também falhei. — Leonard disse, a culpa evidente em seu tom. Falhei ao tentar restaurar aquilo que estava perdido.
A figura diante dele parecia murchar, como se estivesse lentamente perdendo sua própria essência, como se a dor de suas próprias falhas fosse finalmente cobrando seu preço.
— E agora? — A voz tornou-se frágil, quase quebrada. — Além da minha própria essência se esvaindo… a porta foi aberta ao seu mundo.
Leonard engoliu seco, o medo e a incredulidade tomavam conta de seu corpo. Ele sabia o que estava prestes a ouvir, mas não estava preparado para isso.
— Não me diga que… Foi aquele maldito livro? — As palavras saíram com um sussurro de horror, como se fosse a última verdade a ser revelada.
— Livro? Eu não sei… Aquele maldito sem nome… — A figura parecia vacilar, a memória falhando-lhe momentaneamente. — Tomava a forma de um colar com uma chave esquisita quando o encontrei… Quando me forçou um pacto.
O som do pacto reverbera em sua mente como um trovão prestes a desabar sobre tudo o que ele conhecia.
— Um pacto… — O frio agora corria por sua espinha como lâminas afiadas, o pavor se instalando em cada célula de seu corpo. Com o próprio diabo…
No vazio absoluto, onde as fronteiras entre o ser e o não-ser se desfaziam, Leonard sentia-se cada vez mais distante de si mesmo, como se sua própria essência estivesse sendo corroída pela imensidão ao seu redor. A luz parecia desvanecer-se a cada segundo, e o som de sua respiração, já quase inexistente, ecoava como um tímido reflexo da vida que ele havia perdido. O ser diante dele, ainda um espectro pálido e impreciso, continuava a sua estranha revelação, como se as palavras fossem a última linha que conectava Leonard a uma realidade que estava se desintegrando.
— Não só pode, como o prenúncio da guerra já deve ter iniciado, você viu, não viu? A visão do fim do seu mundo. — A voz, etérea e distante, cortava o silêncio com a precisão de uma lâmina, sem misericórdia.
Leonard, ainda tenso com as palavras que ressoavam em sua mente, balançou a cabeça, como se quisesse expulsar as imagens que não paravam de invadir sua visão. O peso daquilo tudo era insuportável, uma carga sobre seus ombros que o esmagava, impedindo-o de respirar.
— Essa habilidade… É semelhante à que você portava? “Visão Eterna”, acho que era assim chamada. — perguntou ele, as palavras saindo com um tom de cansaço profundo, como se a explicação já fosse uma verdade que ele não queria ouvir, mas sabia que precisava.
— Existem duas versões… — A voz parecia vacilar, como se tentasse reformular uma antiga verdade. — Uma que Cedric havia herdado e a outra a minha… e, infelizmente, você teve o azar de ser destinado a receber a visão eterna da loucura.
A ideia de loucura percorreu os pensamentos de Leonard, como um veneno se infiltrando nas fissuras de sua razão. Ele piscou, tentando organizar as palavras que agora parecia que se desfaziam no ar ao seu redor.
— Loucura? Por quê? — Sua voz tremia. Ele não sabia se estava se questionando ou tentando entender a resposta.
— Assim como a visão eterna da sabedoria, a visão eterna da loucura precede os finos fios do destino… mas não conseguimos usá-la voluntariamente. Claro, durante seu tempo no “mundo dos sonhos”, tudo o que experimentou foi uma versão de ambos os olhos em um só… talvez seja a falta de um segundo portador que tenha causado isso.
As palavras foram caindo como pedras pesadas em seu peito. “Mundo dos sonhos”, “visão eterna”, “loucura”. Leonard sentia sua mente girar, como uma roda enferrujada que não conseguia mais parar.
— Entendo… Mas por que sonhos? Isso significa que morri em um sonho? — A dúvida que ele carregava o levou ao abismo, onde a linha entre o real e o ilusório parecia completamente apagada.
— Sim, o que você experimentou deve ser algo como uma morte cerebral… — A voz sibilava agora, com um tom quase de indiferença. — Mas nós, usuários da Visão Eterna, lidamos com isso inúmeras vezes. Afinal, cada destino que vemos é tão vívido que sentimos todas as dores…
As palavras caíram como um peso no peito de Leonard, e então, de repente, ele sentiu uma ânsia avassaladora, uma sensação de descontrole que tomou conta de seu corpo. Ele tentou, em vão, controlar o que acontecia, mas o mundo ao seu redor estava se distorcendo, e logo vomitou ao lado. O líquido era estranho, incolor, vazio, como se fosse uma extensão de sua própria alma, desprendendo-se dele com uma força que ele não podia compreender.
— Ei, ei, ei, não deixe vazar um pedaço tão importante da sua alma, sua existência já está uma bagunça o suficiente pelo que tive de transmitir. — A voz, que antes parecia impessoal, agora soava quase como uma preocupação. O ser parecia incomodado com a manifestação de Leonard.
Afastando a mão do rosto, Leonard, com dificuldade, tentou respirar, tentando processar o que estava acontecendo. Seu corpo, no entanto, já estava tão marcado pelas experiências anteriores que ele não conseguia mais distinguir entre dor física e psicológica.
— Que merda você está falando? — A raiva e a confusão agora dominavam suas palavras, que saíam secas, quase sem vida.
— Você é burro? Acha mesmo que teria sobrevivido quanto tempo naquelas condições de fome, desidratação e ferimentos? — A voz se tornou mais dura, como se o ser tivesse perdido paciência. — Óbvio que tive que usar um pouco da energia da minha própria alma para não te fazer morrer em nenhuma das vezes… mas tudo tem um preço. Tsk, por conta do esforço que tive de fazer, minha própria alma está aos poucos se desfazendo.
As palavras, que antes eram apenas um sussurro de mistério, agora se revelavam com uma clareza cruel. A chave de suas dúvidas foi finalmente virada. Leonard sentiu que a verdade estava ali, diante dele, mas ele não sabia como reagir. O peso daquelas revelações, somadas à ideia da alma, algo que ele jamais poderia compreender, o afligiam. Como se toda a lógica do universo estivesse se despedaçando diante de seus olhos.
— Energia da alma… — murmurou Leonard, como se repetisse uma palavra que não compreendia, mas que, de algum modo, ressoava profundamente em seu ser.
— Virou um papagaio? Para repetir tudo o que falo… é claro que é alma, o núcleo que torna você quem é. — A voz do ser parecia entediada agora, impaciente, como se estivesse lidando com um aluno lento.
A conversa se esvaziou em um silêncio desconfortável, onde Leonard não sabia mais o que perguntar, e o ser diante dele parecia cada vez mais distante. O vazio ao redor deles se tornava mais pesado, como uma cortina de ferro caindo sobre tudo.
— Muito obrigado por ter acompanhado de perto o meu inferno? — A ironia em sua voz estava carregada de um cansaço que ele mal conseguia esconder.
— Uh… Tanto faz, você logo deve acordar. — A voz do ser soou desinteressada. — Não se esqueça de tudo o que viu. Os fins dos tempos ainda virão…
A figura diante de Leonard começou a se derreter, como uma vela ao vento. O vazio, antes denso e impenetrável, agora começava a se partir, rachando como vidro espelhado, emitindo um som crescente e cacofônico que reverberava por todo o lugar.
Leonard sentiu um impulso desesperador, uma sensação de libertação que o envolvia como um fogo. Mas, ao mesmo tempo, o terror o paralisava e ele viu a aparição se distanciar, como se estivesse sendo puxada para longe por uma força invisível. Ele avançou para esse vazio negro, mais rápido do que pensava ser possível. Um túnel, uma partícula de luz no final da eternidade, começou a crescer diante dele, mas ele não ousava tentar compreender o que estava acontecendo. Era algo além da compreensão, algo que partia sua mente se ele tentasse resistir.
Enquanto o som de vidro quebrando seguia, Leonard desapareceu na escuridão.
…
Calius, sozinho, permaneceu naquela vastidão que era sua prisão desde os primeiros dias da sua queda. Seu corpo estava despedaçado, sua alma fragmentada, mas ele não morria. Ele estava banido do céu e do inferno, condenado a existir no limbo, entre os mundos. Observava o infinito diante de si, com uma expressão triste, como se tivesse perdido tudo o que um dia amou.
— Um dia… Estaremos juntos novamente… — sussurrou ele, a dor de um milênio de solidão pesando sobre suas palavras, como uma promessa quebrada que nunca seria cumprida.
Bom dia, nos vemos novamente amanhã!
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