Capítulo 710: Força Especial (1/4)
Dentro de uma enorme sala no interior do Palácio da Glória.
— O quê? Diga isso de novo — exigi, batendo na mesa.
O primeiro-ministro e atual comandante supremo, Marquês Tercerion, respondeu sem alterar a expressão.
— Direi isso apenas mais uma vez. Como comandante supremo, não permitirei que você mude seu posto.
Essa foi a resposta que recebi ao solicitar ser enviado de volta às linhas de frente, onde meu clã estava. Não consegui aceitar de imediato, especialmente porque nenhuma das razões que ele me deu fazia sentido.
— E por que não?
— Você é um nobre titulado.
— Ouvi dizer que há casos em que uma pessoa pode ser transferida do quartel-general se solicitar pessoalmente.
— O exército não trabalha para benefício individual, mas sim para o bem da organização, acima de tudo.
— Como ir até lá não seria benéfico para a organização?
Embora não fosse algo típico de um bárbaro, tentei expor meus argumentos de forma lógica, na tentativa de convencê-lo.
— Você tem uma tarefa a cumprir dentro do comando militar. E eu determinei que essa ‘tarefa’ é mais importante do que você ir para as linhas de frente e lutar pessoalmente.
— Algo que devo fazer…?
— Algo que estou dizendo apenas a você. A capital imperial de Karnon não está segura. Aqueles tolos Noarkianos se esconderam aqui, e o Departamento de Inteligência ainda não conseguiu descobrir o que estão planejando.
— E o que isso tem a ver comigo?
— Não importa quão sólida seja uma construção, ela desmoronará sem seus pilares. E os nobres titulados que se reuniram aqui são os pilares desta nação.
— Não, estou perguntando o que isso tem a ver comigo.
— Não há ninguém nesta cidade mais especializado em “proteger os outros” do que você. Não estou pedindo muito. Apenas fique aqui e prepare-se para quaisquer ameaças repentinas que possam surgir.
Soltei um suspiro. Contudo, ao menos finalmente entendi por que ele estava tentando me manter aqui.
O que não significa que eu iria simplesmente aceitar.
“No fim, sou um bárbaro, certo?”
Um guerreiro simples, que só sabia lutar.
Um selvagem desta era, que não se misturava bem com as leis e métodos do mundo.
Entretanto, as consequências me preocupavam um pouco.
“Hah, então o que devo fazer aqui? Ignorá-lo completamente e seguir meu próprio caminho? Ou…”
O marquês parecia ter percebido meu conflito interno, pois murmurou em voz baixa, como se quisesse me consolar:
— Bem… A única razão pela qual não posso enviá-lo é por causa dos Noarkianos escondidos na cidade… Então, se você puder encontrá-los para nós, talvez eu possa atender ao seu pedido.
Senti um ping! mental.
“Parece uma espécie de pré-missão…”
Certo, então só preciso lidar com isso?
Às vezes, jogos apresentavam momentos assim. Uma área aparecia com um aviso dizendo que você não podia entrar, mas ela se abria após você completar uma missão específica.
Minha situação atual era exatamente essa.
【Elimine a unidade de elite que se escondeu na capital imperial de Karnon.】
Se eu completasse essa missão, poderia deixar a capital imperial e me unir legalmente aos meus aliados na linha de frente. Contudo, havia algo decepcionante em toda essa situação.
— Então convoque meu clã para cá. Serei responsável por eles, e juntos caçaremos os espiões.
— Receio que isso seja impossível.
— Então, está pedindo que eu os encontre sozinho?
— Independentemente de sua opinião sobre o assunto, o que não pode ser feito simplesmente não será. Se eu der um tratamento especial ao seu clã, o que os outros aventureiros pensarão? Ninguém lutará de coração pelo palácio se eu fizer isso.
Tentei negociar alguma flexibilidade, mas o marquês cortou minha tentativa rapidamente.
— É claro que você precisará de pessoas para ajudá-lo. Chamarei aqueles que são adequados para esta missão para acompanhá-lo.
Ainda assim, como acabei conseguindo alguma ajuda, decidi que a tentativa não foi totalmente inútil.
— Digo isso agora, mas você e as pessoas com quem trabalhará estão juntos apenas para esta missão especial. Sua filiação ainda é com o comando militar.
— Eu sei.
— Só digo isso porque parece que você não entende a situação. Mais uma vez, você nunca deve deixar a capital imperial. Se o fizer, serei obrigado a condená-lo por deserção.
Parei por um momento, então concordei com relutância.
— Já disse que entendi.
— Muito bem. Então pode ir.
Com minha reunião com o marquês encerrada, retornei ao salão principal do Palácio da Glória e passei algum tempo conversando com outros nobres titulados para obter informações.
— Haha! O que há para se preocupar? O incidente desta vez não passa de um último esforço desesperado deles. O poder da casa real é absoluto.
— Ouvi dizer que toda a área será ‘varrida’ em breve, então estou esperando para ver como isso se desenrola.
— A propósito, pelo fato de Sua Majestade ainda não ter se mostrado, parece que ele ficará doente por um bom tempo.
Bem, na maior parte, era conversa fiada.
Ainda assim, tentei ouvir o máximo de conversas possíveis com o maior número de pessoas.
— Barão Yandel, a unidade de apoio designada a você pelo comandante supremo chegou.
Consegui encontrar o grupo de que o marquês havia falado comigo, e até mais cedo do que esperava.
Um total de dezenove pessoas. Incluindo eu, a unidade especial de busca do comando militar seria um grupo de vinte pessoas.
“Nada mal.”
E havia mais uma coisa que me surpreendeu.
— Senhor Yandel?
— Raven…?
Haha, eu não esperava que o marquês também a designasse para a unidade.
— Você é o líder da unidade especial de busca…? — Raven perguntou. Assim como eu, parecia que ela não havia sido informada de todos os detalhes, dada sua expressão surpresa.
— Parece que sou. Conto com você por enquanto.
Como sabia que Raven era uma pessoa excepcional, estendi a mão com satisfação. No entanto, ela parecia insatisfeita com algo, mesmo enquanto apertava minha mão.
— Ah, estou realmente preocupada agora.
— Preocupada?
— Nada. Acabei de perceber que esta será uma missão muito, muito perigosa.
— Não se preocupe. Não estou planejando causar problemas.
— E você já causou problemas por planejar?
Ei, não seja má com o bárbaro.
— De qualquer forma, o que exatamente precisamos fazer?
— Hmm? Você não ouviu nada antes de vir para cá?
— Não. Só nos disseram que precisávamos encontrar algo. Mas tive a impressão de que era algo importante pela rapidez com que fomos recrutados. Então, o que é?
Parecia que ela não tinha a menor ideia do motivo de estar ali, então dei uma explicação da missão que realizaríamos.
— Então, basicamente, precisamos encontrar essas pessoas, aquelas que nem mesmo o Departamento de Inteligência do palácio conseguiu localizar? — O semblante de Raven se fechou ao ouvir isso.
Senti um pouco de pena dela, mas deixei de lado meu ego e abaixei a cabeça.
— Conto com você.
— Não, mesmo dizendo isso, não é como se eu tivesse algum superpoder…
— Preciso fazer isso para voltar onde estão meus aliados.
Quando olhei para ela com olhos suplicantes, Raven soltou o suspiro profundo que estava segurando.
— Hah… Entendi. Farei o meu melhor.
— Isso será suficiente.
Essas palavras não foram vazias. Aquela promessa dela bastava para mim. Afinal, há quanto tempo trabalhávamos juntos? Considerando sua personalidade, o fato de ela ter dito isso significava que faria o máximo possível para me ajudar.
“Parece que o marquês realmente pensou bem neste grupo.”
Por que o marquês, que sempre faz coisas que eu não quero, fez algo que gostei?
Embora eu estivesse surpreso, fui cumprimentar o restante da unidade.
— Como vocês sabem, sou Bjorn, filho de Yandel. E você ali, qual é o seu nome?
— Sou Marcus Batelan.
— Ah, você é da Baronia Batelan?
— Não da linha direta, mas de um ramo, meu senhor.
Tirei um tempo para perguntar quem eram todos e quais eram suas especialidades. Em resumo, havia dez cavaleiros, três magos e cinco ‘batedores’ especialmente designados para a tarefa.
— Por ‘batedores’, suas habilidades são adequadas para rastreamento?
— Sim, exatamente.
— Quão boas elas são?
— Ninguém num raio de vinte metros de mim será capaz de escapar da minha visão.
Eu podia sentir o orgulho em suas vozes enquanto os batedores respondiam. E não parecia um orgulho sem fundamento.
— Talvez você não saiba disso, mas quando os cavaleiros do palácio guardam os limites entre os portões, pelo menos um batedor real é destacado para o posto junto com eles.
Já que até o palácio os utilizava nos portões da cidade, não tinha dúvidas sobre suas capacidades.
Com isso, desviei minha atenção dos batedores e olhei para a última pessoa. Era um jovem que não usava o uniforme militar padrão, mas sim um uniforme cinza sem marcas ou padrões.
— Você disse que é do Departamento de Inteligência.
— Disse, meu senhor barão.
— Qual é o seu nome?
— Pelos protocolos do Departamento de Inteligência, não posso revelar meu nome. Peço sua compreensão.
— Então, pelo menos responda isso: seu nome ou sobrenome é Hans?
Ele piscou, claramente pego de surpresa.
— É importante, então responda. Se não puder, não importa se você é do Departamento de Inteligência. Vou ter que cortá-lo desta operação.
— Não sei por que está perguntando isso, mas não sou um Hans.
— Jura pelo nome da casa real?
— Juro.
Muito bem, então isso significava que não havia nenhum Hans ali. Alguém do Departamento de Inteligência não mentiria ao jurar pelo nome do palácio.
— Então como devo chamá-lo?
— Pode me chamar de ‘Sem Nome’.
Uau, com aquele discurso, aquele uniforme e agora o nome ‘Sem Nome’? Estava óbvio à primeira vista que ele não tinha muitos amigos.
Decidi.
— ‘Sem Nome’ é muito longo.
— O que você quer dizer com ‘Sem Nome é muito longo…’?
— Vou encurtar e chamá-lo de Mumu.
Após receber seu novo nome, Mumu pareceu confuso com o que eu estava dizendo.
— Como isso é encurtar?
— Mumu e Sem Nome. Não preciso dizer tanto.
Suas pálpebras piscaram ainda mais, confusas.
— Se não gostar, me diga seu nome verdadeiro. Aí eu o chamo por ele.
Quando tentei pressioná-lo, Mumu soltou um suspiro antes de balançar a cabeça. — Está bem. Não importa como me chame. Faça como quiser.
— Certo, Mumu.
Apesar de ter me dado permissão, seu rosto se contorceu um pouco com isso. Ele claramente não gostou de ser chamado de Mumu.
Bem, isso não era algo que eu precisava me importar. Estava claro que ele era a pessoa plantada pelo marquês na unidade, então qual era o ponto de ser simpático com ele?
— Enfim, antes de começarmos oficialmente nossa missão, quero as informações que o Departamento já coletou.
— Já sabia que você pediria isso. Preparei tudo com antecedência.
Nosso rapaz do Departamento, Mumu, me contou quais distritos foram investigados, o que foi encontrado, quais pistas eles obtiveram e assim por diante. Passamos algum tempo absorvendo as informações, mas, no final, nada se destacou.
— Então vocês procuraram em todos os lugares e nem mesmo encontraram um fio de cabelo desses caras?
— Suponho que se pode colocar dessa forma…
— Hmm, então há a possibilidade de que esses Noarkianos escondidos sejam todos carecas.
— Você… está falando sério?
— Não? Foi uma piada.
Esse cara agia como se bárbaros não tivessem cérebro.
— Certo, vamos nos mover — ordenei.
— Tem algum lugar em mente?
— Não exatamente. Algo deve surgir se começarmos a andar por aí, certo?
Mumu parecia ter muito a dizer, mas decidiu guardar para si, provavelmente achando que não faríamos muito e que poderia passar o tempo sem fazer nada.
— Ainda assim, consegui restringir um pouco as áreas graças a você. — Quando ele piscou, surpreso e esperançoso, acrescentei — Significa que os Noarkianos não estão escondidos em lugares comuns.
Sua expressão mudou imediatamente para exasperação com isso. Contudo, mesmo que fosse um ponto óbvio, honestamente, também era o mais importante.
— Pelo que vejo, vocês não investigaram as mansões das casas nobres.
Mumu estremeceu antes de se apressar em dizer: — Senhor barão? Não está pensando em…
Ele não queria acreditar, mesmo enquanto dizia isso, mas eu não iria recuar nesse ponto. — Pode haver clãs aliados aos Noarkianos, então isso não é suspeito?
— V-Você acha que os deixamos de fora porque não pensamos nessa possibilidade?
— Raven, a unidade especial tem autoridade para investigar dentro das mansões dos nobres?
— Quem sabe? Eu não sei.
— Então diremos que temos, a partir de agora.
Mumu recuou, chocado com minha declaração calma, e virou-se para olhar para Raven, mas ela apenas assentiu, sem achar nada de errado na minha fala.
— Já que o marquês foi quem criou a unidade, ele deve cuidar desses problemas para nós. E como todos os chefes das casas estão reunidos no Palácio da Glória, os criados também não poderão nos impedir.
— Do que vocês dois estão falando?!
— Certo, então está decidido — disse, ignorando Mumu. — Vamos nos apressar. Precisamos realizar busca e apreensão em quantas casas pudermos antes que os chefes das casas percebam.
— Certo, mas o que significa busca e apreensão…? — Raven perguntou.
— Significa que, se encontrarmos algo suspeito, levaremos conosco para verificar depois.
— Ah…
Pela expressão de desprezo no rosto dela, pude perceber que entendeu que meu objetivo real aqui era vasculhar as casas e secretamente pegar coisas que me interessassem. Mesmo assim, parecia cansada de tentar me impedir, apenas me lançou um olhar exausto e perguntou.
— Então, por qual casa começamos?
Ah, essa? Era óbvio.
— Nosso primeiro destino é a Casa do Marquês Tercerion.
O que será que está escondido na casa do primeiro-ministro?
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