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Capítulo 25 — Objetos Estranhos
A sala se revelou a Liam como uma cápsula do tempo abandonada, engolida pelo pó e pelo cheiro de madeira velha. A iluminação era escassa, a luz de lâmpadas trêmulas projetando sombras que dançavam sobre os móveis cobertos de relíquias.
“Quanto tempo faz que alguém pisou aqui pela última vez?”
Ele avançou lentamente, separando-se de Leonard e Claire, que logo desapareceram entre os corredores de quinquilharias e mistérios. Liam seguiu por uma seção cheia de armas antigas e artefatos curiosos: véus puídos, espadas com lâminas manchadas pelo tempo, arcos encurvados, lanças ressequidas, colares, presilhas de cabelo enferrujadas, estacas de prata e luvas com runas gravadas. Cada um desses objetos exalava uma presença, uma vibração tênue e inexplicável, como se sussurrassem histórias em línguas esquecidas.
“O que foi mesmo que Dante disse?”
Seus olhos pousaram em Claire. Ela segurava uma joia, o brilho fraco do objeto refletindo em seus olhos atentos. Liam arqueou a sobrancelha.
“Sério? Uma joia? Como isso vai ajudar em combate?”
Mas então algo lhe ocorreu.
“Investigadores, alguns são chamados de Santos de alguma arma. O Santo do Arco é sem sombra de dúvidas o melhor.”
Os dedos deslizaram pelo queixo.
“Arcos atacam à distância. Isso me daria vantagem, uma visão mais ampla do campo de batalha…”
Ponderou um instante, depois balançou a cabeça, afastando a hesitação.
“Ah! Então estas são as tais relíquias. Itens inestimáveis para os investigadores… faz sentido que haja tanto além de armas.”
A conclusão lhe deu um novo ímpeto. Mas ainda havia algo faltando.
“Aquilo… O que exatamente é aquilo que Dante mencionou?”
Seus olhos correram pelos arcos expostos. Cada um tinha uma forma peculiar, uma aura própria. Ele estendeu a mão e tocou um que se destacava pelo formato agressivo, suas extremidades adornadas com espinhos, o corpo recurvo e pesado. O contato lhe causou um desconforto imediato.
Silêncio. Nenhuma reação.
— Ué? — murmurou.
E então, um incômodo sutil. Não era um peso, mas uma recusa. Algo dentro de si rejeitava aquele arco, e o sentimento era mútuo.
“Então é assim… Eu posso tocar em cada um deles até encontrar o que me aceita?”
Ele respirou fundo e continuou. Seus dedos passaram por cordas e lâminas, testando texturas e formas. E então sentiu. Um frio profundo, saindo de dentro de si, como se algo despertasse em sua medula e se estendesse pelo corpo.
Um rastro fantasmagórico branco surgiu diante dele, sinuoso, chamando-o para outra parte da sala.
“O que é isso? De repente ficou tão frio…”
Esfregou os braços, tentando se aquecer. Cada passo adiante tornava o ambiente mais gelado.
Foi então que notou Leonard. Ele segurava uma espada de lâmina quebrada, os dedos crispados ao redor do cabo. Seus olhos estavam completamente brancos.
“Isso vai acontecer comigo?”
Virou-se para Claire. Ela segurava um pêndulo, envolto em um brilho fantasmagórico. Pequenas explosões translúcidas dançavam ao seu redor, uma cena belíssima e surreal. Seus olhos, no entanto, permaneciam normais.
Liam desviou a atenção de volta ao chamado invisível. Caminhou. O frio se intensificava.
Então o viu.
O arco.
Misto de madeira azulada e gelo, com bordas recobertas por uma camada de neve eterna. Névoa escapava de sua forma, como se estivesse vivo, respirando em um ritmo silencioso e imutável.
Liam engoliu seco.
— Aí está você…
Ele não precisava de mais nada para entender.
Não era uma escolha. Era um reconhecimento mútuo.
Seus dedos tocaram o arco.
O mundo estilhaçou.
O porão sumiu.
No lugar, surgiu uma vasta planície branca.
O céu cinzento parecia pulsar, carregado de neve e vento. Flocos dançavam ao redor dele, mas não se acumulavam no chão. A temperatura era cruel, próxima dos −7 graus, e ainda assim Liam não sentia frio. Seu corpo estava quente, vivo.
Um som de passos.
Lá, no horizonte esmaecido, uma figura surgiu.
Usava uma túnica cinza, longa e surrada, parecendo um caçador glacial saído de um pesadelo. O rosto estava oculto, mas algo nele despertava um pressentimento terrível.
Liam sentiu o peso de um destino desconhecido.
— Já estava na hora — disse a figura. A voz era fria como a paisagem, mas não hostil.
Liam franziu a testa.
— Quem é você?
O homem inclinou levemente a cabeça.
— Não me reconhece, Liam?
Os dedos se moveram. Um estalo soou.
O mundo ondulou, como uma miragem de gelo rachado.
— Sempre estive com você. Desde que seu pai se foi.
Liam tropeçou para trás, o coração martelando contra as costelas.
— Como você…
A figura ergueu a mão.
— Seu pai foi um grande homem. Lembro-me do dia em que firmou seu contrato. Era um usuário brilhante.
Liam cerrou os punhos.
— Que morreu em batalha.
Os flocos de neve giraram no vento, como lembranças perdidas no tempo.
— Você… — Liam engoliu em seco. — Você é o arco que meu pai empunhava naquela foto?
O silêncio que seguiu pareceu eterno.
— Um dia fui — respondeu o espírito, com um pesar quase tangível. — Mas o que sou agora… é apenas uma fração do que fui naquela época.
A revelação pesou nos ombros de Liam.
— Então me diga. O que realmente aconteceu com meu pai?
O espírito hesitou.
— Estas memórias se apagaram de minha existência. Talvez um dia, quando eu estiver completo novamente, possa me lembrar.
Liam apertou os olhos.
— Meu pai disse algo sobre mim?
A resposta veio com suavidade.
— Muitas coisas. Você, ao contrário de seu irmão mais velho, seguia os passos dele. Mas você…
Liam baixou o olhar.
— Eu fugi.
O vento pareceu soprar mais forte.
— Eu fugi de tudo. Me escondi na sombra daquela família, tentando viver uma vida comum, enquanto todos esperavam que eu fosse como ele…
O espírito permaneceu imóvel.
— Sua energia está próxima do limite, garoto. Sua aptidão espiritual não é tão elevada quanto a dele. Mas… vejo que teremos um futuro juntos.
A planície começou a se dissolver, girando em fragmentos espectrais.
O espírito deu um passo à frente.
— Até mais, Zephyrus…
Zephyrus não respondeu.
Apenas ergueu a mão e a pousou sobre a cabeça de Liam.
O toque era quente. Familiar.
Como o último cafuné de um pai que se despede.
Então tudo se dissolveu.
…
Junto a Liam e Leonard, a mulher ruiva entrou na sala.
A sala se abriu diante dela como um relicário esquecido, envolta em penumbra e poeira. O ar tinha o peso da memória e o cheiro de madeira velha, com prateleiras abarrotadas de relíquias que, por alguma razão insondável, pareciam olhar de volta para quem ousasse encará-las por muito tempo.
— Esse é o tipo de muquifo que vou ter que entrar? — Claire franziu o nariz, abanando uma mão à frente do rosto. — Dante, isso é nojento. Você sabe que é nojento, né?
— Olha os lugares que você já me meteu, Teresa! — resmungou para si mesma, revirando os olhos. Mesmo entre sombras e quinquilharias, os objetos brilhantes chamavam sua atenção como estrelas num céu sem lua. Cada joia parecia pulsar com um brilho próprio, convidativo e perigoso.
— Uau! Por que deixaram essas joias tão bonitas jogadas assim? — Seus olhos brilharam como os rubis que repousavam na mesa. Por um instante, esqueceu-se do propósito da missão.
Ela observou Leonard ao fundo da sala, já agarrado a alguma coisa, imerso na escuridão, imóvel como uma estátua. Liam, ao seu lado, hesitava diante das armas antigas e talismãs espalhados pelo local. Claire, porém, ignorava essas preocupações.
— Cara, esse é o paraíso! — sussurrou para si mesma. — Cada coisa aqui deve valer uma fortuna! Obrigada por esse desejo, Teresa!
O pensamento de escolha a incomodou. Teresa sempre lhe falara sobre a importância desses artefatos. Uma joia para lembrar a amiga, algo que estivesse tanto no seu agrado quanto carregasse uma sombra daquela lembrança. Mas o quê? Um colar? Uma pulseira?
As armas pareciam cafonas. Passou os dedos por um véu preto, fino como teia de aranha, e sentiu um arrepio desagradável. Livros mofados e faixas manchadas não a interessavam.
Nada ali era bonito o suficiente.
Então, viu um pêndulo.
Simples, insignificante à primeira vista, mas a pérola na extremidade era magnífica. Avermelhada como brasas, capturando a luz rarefeita e devolvendo-a em fragmentos de incêndios passados. Fogos de artifício congelados no tempo.
— Achei! — Um sorriso brotou em seus lábios.
“Algo bonito, que lembra as esquisitices paranormais que você comprava achando que funcionava. Agora eu me tornarei uma verdadeira investigadora por nós duas, Teresa.” Ela estendeu os dedos e tocou a joia.
O mundo explodiu.
Não houve transição, apenas o som abrupto de inúmeras detonações, como se estivesse no meio de uma cidade sitiada. Uma centena de vozes gritava dentro de sua mente, cada uma carregada de urgência e loucura. Tudo ao redor ardia em um caos vibrante de cor e destruição, o fogo consumindo sombras invisíveis.
E então, tão repentinamente quanto começou, acabou.
Claire piscou. O porão estava ali novamente, imóvel e empoeirado. Sua respiração saiu entrecortada.
— Ué? Já acabou? Que porcaria foi essa? — Olhou ao redor, procurando alguma mudança. O pêndulo sumira.
Liam estava paralisado, claramente tão confuso quanto ela. Mas Leonard…
O garoto estava imóvel.
Seus dedos crispavam o cabo de uma espada quebrada. Os olhos estavam completamente brancos, como se tivessem sido tragados por um vazio sem fundo.
Claire arqueou a sobrancelha.
— O que está acontecendo com ele?
Voltou a atenção para a mesa, buscando algo que explicasse a situação. Havia um pequeno fragmento de espelho. E no reflexo, viu algo novo.
No seu pescoço, uma tatuagem carmesim de lótus, intricada e estranha.
— Eita, tatuagem de graça?! Eu nem queria mesmo…
Passou a palma sobre a pele, mas a marca não se desfez. Era como se sempre tivesse estado ali.
Pegou o celular e tirou uma selfie, enviando a foto para uma conversa já aberta antes de sair da sala. O choque e a surpresa já haviam se dissipado. Claire sempre se adaptava rápido.
Ela e Liam foram os primeiros a sair. Do lado de fora, Dante e Katherine os esperavam.
Katherine sorriu ao vê-los.
— Foram rápidos, hein.
— Ei, Kaká! Eu ganhei uma tatuagem, olha só! — Claire apontou para o pescoço, animada.
Dante não se moveu.
— Essa… é a sua relíquia. — O tom de sua voz era neutro, mas os olhos carregavam o peso do reconhecimento.
— E o Leonard? — perguntou Katherine.
Claire deu de ombros, ainda examinando a marca na pele.
— Pelo visto, o chato continua passando por algo. — Seu tom zombador parecia destoar do ambiente.
— Ei, não fale assim do Leo. Ele só é alguém quieto. — Liam franziu a testa.
— Não muda que ele parece estranho. Sempre perdido.
Dante verificou seu relógio de bolso, a paciência se desenhando em seu rosto como a de um homem acostumado a esperar. Leonard ainda não havia saído.
E lá dentro, algo o segurava.
Nos vemos novamente amanhã!
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