Índice de Capítulo

    Kevyn e Améli caminhavam pela cidade. Ali era um local bem frio e com neve em toda parte. Olhares cercavam o garoto, que já estava acostumado e apenas ignorava.

    “Não é normal ele sair, as pessoas ainda ficam surpresas. Talvez eu devesse caminhar um pouco com ele, não é todo dia que saímos”, pensou Améli, que coçou seu cabelo prateado com leves mechas negras.

    Eles passavam por uma ponte, olhando para seu rio congelado. O garoto subiu no corrimão da travessia ao mesmo tempo que olhava para ela.

    — Você já decidiu qual arma vai comprar? — A mulher segurou a mão dele.

    — Eu acho que vou comprar uma espada! — Kevyn movimentou seu outro braço como se estivesse cortando algo.

    — Que nem a sua mãe? — Ela riu pela pequena semelhança.

    — Sim, a mamãe tem uma bem bonita, não tem?

    — É… eu já vi ela em ação uma vez. É uma espada bem especial e dizem que só os dignos conseguem êrguê-la.

    — Será que eu conseguiria uma igual? — Os olhos dele brilharam.

    “Ele realmente está ignorando o braço. De toda forma… o pessoal daqui não ficaria nervoso com um príncipe segurando uma espada. Astéria quer que ele treine e saiba se proteger, principalmente pelo tanto que ele vale e pelos outros países que sabem a importância dele. Ela mesma não vai conseguir protegê-lo para sempre”.

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    Após saírem da ponte e caminharem por algumas horas, eles finalmente foram para a loja de armas, mas não era uma loja comum.

    Eles passam por um beco e chegam até uma porta. Os dois entram e Améli vai até o vendedor, já Kevyn, ao ver diversos acessórios, andou pela loja animado.

    — Olha só, se não é a Améli! — O vendedor observou o garoto.

    — Olha só, se não é o Jeremy! — Sorriu.

    Um homem alto, de cabelo longo e ruivo encarou o garoto com suas íris amarelas.

    Percebendo um olhar analítico vindo dele, Kevyn o olhou de volta e sentiu a presença assustadora que ele tinha.

    Os olhos do homem brilharam, mas o garoto estava ocupado demais, andando pela loja inteira.

    — Ele dá muito trabalho? — Ele voltou seu olhar para Améli.

    — Trabalho ele não dá não, mas é bem curioso pensar na maldição que está no braço dele.

    — Sim, eu estou vendo. É uma maldição inquebrável, pelo visto.

    — Inquebrável?! — Ela se assustou.

    — Bem, deixando isso de lado, o que vai comprar?

    — Trocando de assunto? — Cruzou os braços. — Vim comprar uma espada para o garoto.

    — Foi ela quem pediu, né? — O sorriso no rosto de Jeremy se desfez.

    — Sim, foi.

    Após observar mais um pouco, Jeremy terminou de analisar e retirou uma espada debaixo de seu balcão.

    — Essa é perfeita para o garoto. — Ele colocou uma espada negra em cima do balcão.

    — Ei, Kevyn! Venha ver a espada.

    O garoto correu até o balcão e tentou ver a espada, mas o balcão era maior que ele. 

    Améli pegou a espada e se ajoelhou, mostrando a arma.

    — Aqui!

    — Ah… ela é tão… — Seu olhar brilhou enquanto passava a mão sobre o meio da arma. — Ela é meio torta, mas é tão charmosa.

    — Torta? Haha — Améli riu, mas quando olhou melhor, percebeu ser realmente torta.

    — Eu a amei! — Sorriu.

    — Tem certeza? — Se levantou.

    — Tenho.

    — São 25 mil grafos. — Jeremy olhou para ela com um sorriso.

    — Esse seu sorrisinho, você já sabia, né? — disse botando o dinheiro no balcão.

    — Não sei? — Ele pegou o dinheiro ao mesmo tempo que colocou a outra mão no queixo.

    — Vamos, Kevyn! — Pegando a mão do garoto, ela ergueu a espada e colocou-a em seu ombro.

    — Vamos!

    Após saírem da loja, eles retornam pelo mesmo caminho, aproveitando cada momento antes de chegarem na mansão.

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    Depois de algumas horas, eles retornam. Chegando em casa, os dois foram recepcionados por Astéria, que olhava para a espada com seus olhos brilhando.

    — Essa espada… — Astéria cruzou seus braços.

    — O que tem ela? — Améli perguntou preocupada.

    — Não, nada. — Ela virou-se de costas e saiu andando.

    — Será que aconteceu alguma coisa? — Kevyn olhou para Améli confuso.

    — Não, provavelmente não. Vamos para o campo. — Ela caminhou na frente do garoto.

    — Vamos! — Seguiu ela.

    Chegando ao campo, Améli olhou para o garoto e jogou a espada para ele.

    Ele reagiu o mais rápido que pôde, mas ao tentar pegar no cabo, a espada bateu com o meio sem lâmina em sua testa. “Bonk”, um som fora emitido pelo impacto.

    Améli tentou segurar, mas começou a cair na gargalhada.

    Kevyn, sem reação, estava com a espada ainda em sua testa.

    Ele caiu de joelhos enquanto grunhiu: — Arhh! — lacrimejando.

    — Hahahhaha!!!! — Améli se agachou na frente dele e riu apontando o dedo em seu rosto.

    Kevyn não conseguiu segurar a espada por ser muito pesada. Ele lentamente tirou ela de sua testa, em seguida, cravou-a no chão e usou-a para se levantar.

    Améli retomou a compostura enquanto se levantava. Ela definitivamente não esperava que aquilo fosse acontecer.

    Kevyn olhou para ela.

    — Ela é pesada, é? — Sorriu.

    Cabisbaixo, Kevyn demorou alguns segundos antes de responder: — Sim.

    — Coloca ela no seu ombro, você consegue?

    — Ela é maior que eu, mas calma… — Ele lembrou de algo: — Espadas não deveriam ter 1 kg?

    — Materiais afetam o peso, mas ela tem 160 cm também.

    — Ela é feita de quê?

    — Talvez obsidiana, parece ser um metal negro fundido com obsidiana. Ela deve ter uns 11 kg.

    — Ela é pesada…

    — Ela até pode ser pesada, mas tenho certeza que você consegue!

    — Tá bom, lá vou eu! 

    Com extrema dificuldade, ele ergueu a espada e botou-a em seu ombro. Entretanto, Kevyn se desequilibrou com o peso e acabou caindo para trás.

    O jovem caiu sentado de maneira descuidada e teve seu ombro cortado. Com o próprio sangue manchado em suas roupas, ele definitivamente achou que não iria conseguir.

    Améli percebeu e foi até ele para confortá-lo. Ela se ajoelhou e pegou Kevyn em seu colo, abraçando-o e sentando-se.

    — Tá tudo bem, você só precisa melhorar — Ela cruzou as pernas, e o deixou sentado em seu colo.

    — Tá bom — Não acostumado com qualquer tipo de afeto, o jovem ficou um pouco encolhido.

    Améli percebeu o desconforto do garoto, então tentou parar de o abraçar, mas ele segurou seus braços antes.

    Percebendo, ela voltou. Ele não sabia o que fazer, então acabou não retribuindo o abraço.

    — Obrigado por ser uma mãe pra mim — Ele escorou a cabeça no peito de Améli e fechou seus olhos.

    — A-ah… — A empregada se surpreendeu e não soube como reagir, então apenas fez um cafuné nele.

    Kevyn ronronou, e se aconchegou.

    Améli se sentiu realizada, mas para sua infelicidade, ela não podia simplesmente tomar a guarda dele.

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    Alguns minutos depois, Kevyn iria tentar de novo. Ele ergueu a espada, mesmo com dificuldade.

    Dessa vez, ele sabia melhor o peso dela. Ele gentilmente a colocou em seu outro ombro e não foi cortado dessa vez.

    O príncipe olhou para Améli, que dizia: — Agora quero que você corte o ar.

    — Calma, isso é difícil! — Ele empunhou a espada com as duas mãos e tentou não cair com ela de novo.

    O garoto dá um passo à frente e faz um corte na diagonal. Todavia, com o peso, a espada leva ele junto, mas para tentar não cair, ele acaba rodando com a espada.

    Vendo a deplorável situação dele, com apenas uma de suas mãos, Améli para a espada. Pela freada repentina, o jovem foi jogado para longe e, rolando pelo chão, caiu e ficou deitado.

    — Hm… eu preciso fazer outras coisas por enquanto, vou te dar 50 tentativas. Quero que você golpeie o ar de maneira perfeita até eu voltar — Ela fincou a espada no chão e saiu andando do campo.

    O garoto se levantou e encarou sua espada. — Ah… — Suspirou e caminhou em direção a ela. — Você precisa me ajudar, ok?

    Kevyn respirou fundo, agarrou e retirou a espada do chão. Com ela aos céus, ele deu dois passos para trás enquanto a colocava em seu ombro.

    “Na primeira vez, você me cortou, o sangue deve selar nossos laços. Vou te chamar de Night, como a noite”, pensou e agarrou seu cabo.

    O centro da espada brilhou em um tom roxo, ele não percebeu, pois estava perdido em seus pensamentos.

    O príncipe então suspirou e, com toda sua força, puxou a espada de seu ombro.

    Algo pareceu errado, Night estava leve como uma espada de uma mão e, quando percebeu, Kevyn destruiu todo o chão à sua frente.

    — A-AH! — surpreso, ele se afastou, soltou Night ao mesmo tempo que tropeçava em si, caindo e olhando para as próprias mãos — E-eu sou tão forte assim?

    Ele olhou e percebeu que o campo se regenerou, aquilo era uma novidade. Se aproximando, o jovem pegou Night com apenas uma de suas mãos.

    Após finalmente entender, ele disse: — Você… — fechou os olhos e pensou: “Eu não sei o que você é, mas se você me aceitou, eu prometo cuidar bem de você”

    Kevyn sorriu após perceber que estava falando com uma espada.

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    Após alguns minutos, o garoto estava cortando o ar diversas vezes.

    A espada não era pesada, mas apenas para ele. Podendo usar toda sua força, os ataques eram devastadores.

    Da entrada do campo, observava Klei. Ele ouviu pelas sombras que Kevyn não estava conseguindo sequer erguer a espada, então aquilo era uma surpresa.

    Com suas expectativas sendo quebradas, o homem veio a se questionar: “Então é isso que chamam de fazer o impossível? Erguer uma espada maior que si, estar aguentando a maldição… Isso me deixa curioso”.

    De braços cansados, o príncipe fincou Night ao chão, enquanto se sentava e suspirava: — Fuuh~, isso é tãããooo~ Difícil.

    Em seu meio, Night brilhou em tom roxo. Ao perceber, Kevyn se aproximou, mas antes que pudesse falar algo, Klei apareceu o aplaudindo.

    O vampiro sorria, falando em tom de deboche: — Ohoho, você é realmente um dragão formidável, garoto!

    O garoto tomou um susto com a voz dele, mas no mesmo momento se recompôs e virou com um semblante sério. — O que você tá fazendo aqui?

    — Vim apenas te parabenizar pela espada. Você parece… feliz — desfazendo seu sorriso, Klei o encarou com nojo. — Você continua com a maldição, por que parece tão sorridente?

    — Isso não te interessa — Kevyn se levantou e retirou sua espada do chão.

    O homem sorriu e ameaçou pegar algo debaixo de seu sobretudo. Entretanto, antes de poder fazer qualquer coisa, seu pescoço foi cortado. No mesmo momento, regenerado.

    Ao olhar para trás, o vampiro viu Astéria guardando sua espada na inexistência.

    “Ela não estava brincando. Preciso me conciliar com o garoto”, pensou Klei. Ele ignorou o corte e colocou a mão sobre a cabeça do garoto.

    Em choque, o cabelo de Kevyn se arrepiou. O jovem levantou suas orelhas e tentou perfurar a perna de seu pai, mas era como tentar cortar o titânio.

    O homem observou sua perna ser atingida e começou a rir: — Garoto, você me odeia tanto assim?

    — Sim — Com o abaixar de seu cabelo, o garoto encarou-o com um morto olhar.

    — Como eu posso pedir desculpas, hein? Hoho

    — Morre. — Espetou a perna.

    Klei parou de rir e percebeu que não iria ser tão fácil assim. — Tudo bem, eu já entendi.

    O vampiro tirou a mão da cabeça do garoto e se retirou do campo. Mas antes, passou por Astéria, que observou tudo.

    — O garoto vai ser meu.

    — Apenas me dê motivo para te matar logo, já está indo longe demais — Ela se virou e foi para o lado oposto ao do homem.

    Vendo seus pais saírem do local, Kevyn olhou para Night e sorriu. Ele voltou a treinar, tentando melhores jeitos de se movimentar com ela.

    ❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍

    Algumas horas atrás, Mind estava no escritório de Astéria.

    A sala que, reforçada com campos de força, estava fria. A mesa onde Astéria estava sentada, era cercada por dois grandes armários com documentos importantes.

    Mind, de pé, olhou para sua chefe e disse: 

    — Senhora Astéria, eu finalmente consegui o dinheiro para ir à universidade de magia em Impel-sister.

    — Entendo, fico muito feliz, Mind, mas o que pretende? — Como sempre, Astéria a encarou sem demonstrar nada.

    — Eu… — Mind se ajoelhou e continuou — Irei deixar Aradam sobre os ensinos do Kevyn. Deixo tudo o que ela deve ensinar em um diário.

    Aradam, como secretária de Astéria, ao ouvir a afirmação da garota, se assustou.

    — Q-QUE?! — Desnorteada, ela se apoiou na mesa de sua chefe e continuou — E-eu ensinando o filho, d-da Astéria?

    — Por favor, Aradam. É a única coisa que vou te pedir em toda minha vida.

    — Vocês duas, me deem um momento. — Astéria suspirou e colocou a mão na testa enquanto terminava de ler um documento.  — Tudo bem, podem conversar.

    — Mind, eu nem sei o que falar — disse nervosa.

    — A Améli se responsabiliza por ensinar combate para ele, você vai poder ficar mais perto dela. — Mind se levantou enquanto olhava para ela com um sorrisinho bobo.

    — A-a-ah… — Corada, Aradam desviou o olhar e apenas continuou — s-se é isso que a Astéria quer.

    Neutra, Astéria observou ambas por um instante, até então responder: — Tudo bem. Mind, seja feliz na universidade, espero que seu sonho se torne realidade.

    — Muito obrigada, senhora Astéria.

    Aradam encarou sua chefe.  — Mas, Astéria…

    — Tá tudo bem, Aradam, eu já fiz esse trabalho por milhares de anos.

    Ela então pensou: “Ela aceitou tão rápido! Isso que é patroa boa”.

    — Só não deixe o Kevyn ver o seu romance com Améli. — Astéria fechou seus olhos e suspirou.

    — Eu nunca deixaria! — Aradam prestou continência.

    — Um amor proibido, é? Hihihi. — Mind riu ao mesmo tempo que saia do escritório.

    Entretanto, antes da garota sair, Astéria disse: — Mind, não se esqueça de se despedir do Kevyn.

    — Ah… — Ela parou na porta e voltou um olhar triste para ela. — Eu vou.

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