A obra atingiu um pequeno ponto de hiato e novos capítulos serão publicados na segunda metade de julho.
Capítulo 728: Traidor (2/5)
O museu de arte do Distrito Quatro havia sido abandonado, deixado sem um zelador devido à invasão dos Noarkianos. Lá, uma mulher que já tinha visitado seus corredores algumas vezes no passado andava pelo lugar, guardando as peças de arte nas paredes em seu subespaço.
— Hm… Senhorita Emily?
— Não estou roubando.
— Perdão?
— Se as deixarmos aqui, pessoas que nem sequer conhecem o valor delas podem danificá-las…
— A-ah… Certo… Claro.
— Definitivamente, não estou pensando em levá-las para mim e pendurá-las na minha casa. Eu as devolverei se pedirem. Entendido?
— Sim, eu entendi — respondeu Auyen. — Mas não era disso que eu ia falar…
Embaraçada, Amelia deu uma tossida seca e ordenou — Fale.
— Bem, não é nada de mais… Ah! Eu não estou tentando pressioná-la por uma resposta, de jeito nenhum! Só… Eu quero saber quais são nossos planos para o futuro…
Amelia levou a mão ao queixo, pensativa. Após um momento de silêncio, respondeu — Estou pensando nisso.
— Perdão?
— Podemos ficar assim por enquanto. Não há necessidade de pressa. Seja paciente, mesmo que esteja frustrado.
— Não, não! Eu não estou frustrado ou nada do tipo!
— Então está bem.
Com isso, Amelia continuou vagando pelo museu escuro, enquanto Auyen a ajudava.
— Você não vai levar aquele ali? — perguntou ele, em certo momento.
— Aqueles são lixo. Dizem que, quando o artista estava vivo, ele cometeu atrocidades monstruosas com meninas jovens.
— Vamos queimá-los.
Após queimar as obras que restavam daquele legado, Amelia encostou-se a uma parede para descansar, e Auyen não a incomodou por um bom tempo.
O silêncio se estendeu, longo o suficiente para que a luz do lado de fora da janela se apagasse. Então, Auyen falou com a voz embargada.
— Me desculpe, senhorita Emily…
Desculpar-se pelo quê?
Mas Amelia entendeu mesmo sem ele especificar. Um sorriso irônico surgiu em seus lábios.
— Você está falando sobre quando se separaram?
— Sim… — ele admitiu. — Se eu não tivesse ficado para trás naquela hora… não precisaríamos nos esconder assim, sozinhos.
No dia em que a força principal os abandonou, Auyen estava na linha de frente quando uma flecha o atingiu; ele não conseguiu desviar e acabou ficando para trás. Amelia viu o que aconteceu e imediatamente voltou para ajudá-lo. Apesar de ter conseguido salvá-lo, eles acabaram se separando dos outros membros do clã. Desde então, os dois viajaram juntos, evitando confrontos hostis tanto quanto possível, até finalmente chegarem ao museu no Distrito Quatro.
— Me desculpe por atrasá-la…
— Não peça desculpas.
— …Perdão?
— Você deveria dizer ‘obrigado’ em momentos como este. — Apesar de dizer isso, Amelia não conseguiu evitar rir de si mesma.
“Diga obrigado, não desculpe…”
Era algo que ela jamais teria dito no passado, quando estava tão cheia de ódio.
O pensamento trouxe consigo uma pontada repentina de saudade. Não um simples sentimento de falta, mas uma emoção com um sujeito específico no centro.
“Espero que ele não tenha feito nada imprudente…”
Embora sua atenção estivesse dominada pela preocupação com ele, isso não a impediu de perceber algo.
Esse sentimento ia além do desejo de ver alguém como ela ‘queria ver’ sua irmã mais velha.
Instintivamente, Amelia agachou-se no canto onde havia menos luz. Um momento depois, levantou-se e foi até a janela, onde a luz da lua brilhava intensamente no ambiente.
No início, ela não gostava desse lugar. Procurar a escuridão era um hábito que aprendera quando jovem. A escuridão a confortava, enquanto lugares iluminados sempre lhe pareciam desconfortáveis por algum motivo.
“Ainda assim, não é tão ruim.”
Silenciosamente, enquanto abraçava a luz suave da lua, Amelia murmurou para si mesma.
— Emily Raines.
Um novo nome que foi criado porque ela não queria causar problemas.
Originalmente, ela estava satisfeita em saber que poderia viver com aquele nome sob o sol. Sempre fora uma pessoa tão gananciosa?
— Amelia Rainwales.
Pela primeira vez em muito tempo, ela disse seu nome com sua própria boca.
“Talvez.”
Talvez sua época vivendo nas sombras estivesse chegando ao fim…
Foi então que ela notou algo estranho em seu corpo e rapidamente ativou sua habilidade.
“Auto-Replicação.”
No entanto, a habilidade que era tão familiar quanto seu próprio corpo não se ativou.
— Fiquei gananciosa demais.
Ela sabia muito bem o motivo.
【Você entrou em uma área de Anulação.】
【Todas as habilidades de essência estão seladas.】
“Traidor.”
Não pude evitar estremecer com a palavra enquanto minhas orelhas se aguçavam. Era uma reação instintiva de qualquer ser humano que vive em sociedade, na verdade.
“Já é um pouco tarde para persegui-lo de qualquer forma…”
Decidi simplesmente desistir de perseguir o Coletor de Cadáveres por completo. No entanto, sabendo que poderia ser um truque, deixei meu aviso claro.
— Você terá um fim doloroso se estiver mentindo.
Não estava falando apenas por falar, e, felizmente, ela pareceu entender o recado.
— C-Claro… Mas tudo bem! Eu não estou mentindo de jeito nenhum!
— Então fale — ordenei, indo direto ao ponto sem rodeios. Vivian engoliu em seco e começou a falar.
— Arua Raven! Aquela maga ex-aliada maga é a traidora!
Hoh, então Raven era a traidora…
Apertei o cabo do martelo assim que ouvi aquilo. Pode parecer óbvio, mas não era porque eu me sentia traído ou algo do tipo.
— Você desperdiçou meu tempo.
Desisti da perseguição por essa bobagem?
“Sim, se eu simplesmente lidar com ela aqui e agora…”
— Eu vi! Eu vi com meus próprios olhos! — gaguejou a Bruxa Lamentadora.
Viu o quê?
Enquanto eu me convencia cada vez mais de que ela estava tentando ganhar tempo, surpreendentemente, sua boca foi mais rápida que meu martelo.
— Quando a Capital Imperial de Karnon estiver em chamas! Você definitivamente disse isso enquanto a olhava: ‘Eu nunca esperava ser traído assim…’ Foi isso que você disse!
Pisquei para ela. — Precisa de algum remédio ou algo assim?
— N-Não! Eu sei que parece estranho, mas… Argh! Só um segundo! Abaixe o martelo! Eu posso explicar.
— Dez segundos.
— Perdão?
— Nove, oito…
Ignorando-a, comecei a contar os segundos, e Vivian se apressou em explicar.
— E-Eu não sei se você sabe, mas há uma magia negra de Primeiro Nível chamada Visão do Futuro, e eu a usei. Ah, c-claro, não fiz isso sozinha! Só conseguimos com a ajuda de outros magos negros e muito apoio…
— A única coisa que você precisa conseguir é ‘chegar’ ao ponto.
— Usamos essa magia para profetizar se teríamos sucesso ou não nisso, e o feitiço terminou em fracasso! Vimos Karnon queimando, mas não conseguimos ver a morte do rei, a parte mais importante, e, em vez disso, vimos algo aleatório!
— E essa cena aleatória foi Raven me traindo?
— Sim! Exatamente! Foi por isso que eu disse que vi com meus próprios olhos!
“Hmm… Acho que posso ouvi-la um pouco mais.”
— Mais trinta segundos — cedi.
— O quê? Estou dizendo a verdade!
— E eu dei tempo para me convencer de que é a verdade.
— Você quer que eu prove em trinta segundos que estou dizendo a verdade? Como exatamente…?
“Hmm, quem sabe?”
— Isso é com você — informei. Tudo o que eu precisava era provar que defendia a igualdade de gênero caso ela não me desse uma resposta convincente no tempo estipulado.
Segundos de silêncio se passaram entre nós enquanto eu continuava a contagem. Ela parecia travada, sem saber como explicar dentro dos trinta segundos…
— Quinze segundos já se passaram.
Vivian começou a falar apenas depois que metade do tempo já havia acabado. — Não posso provar isso de forma alguma.
— Dez.
— Talvez se você me der mais tempo.
— Nove.
— Mas é impossível em trinta segundos.
— Oito.
— Então prefiro usar esse tempo…
— Sete.
— …para convencê-lo…
— Seis.
— …de por que não deveria me matar.
— Oh?
Uau, talvez eu devesse esperar isso de uma maga. Ela foi bem decisiva.
— Essa foi uma boa resposta — elogiei. — Mais quinze segundos.
Como não queria continuar contando em voz alta, passei a fazer a contagem mental, e Vivian usou esse tempo para prosseguir com sua investida.
— Você está tentando ir para a terra sagrada dos bárbaros, certo? Posso levá-lo até lá sem interferências.
— Estou confiante de que posso chegar lá sozinho.
Claro, as coisas poderiam ficar complicadas no processo, mas não havia necessidade de introduzir uma nova variável aceitando a ajuda de uma mulher que originalmente era minha inimiga.
Vivian parecia ter esperado por essa resposta, pois imediatamente contra-atacou — Comunicação. Se você me tiver, poderá ouvir as comunicações entre os executivos.
— Hmm…
— Apenas saber os movimentos gerais deles será útil para você. E não se trata apenas de planos estratégicos; você poderá saber imediatamente se algo acontecer com seus aliados. — Quando ainda não respondi, ela acrescentou — Isso é tudo o que tenho. Se disser que nem isso é útil, não tenho mais nada a oferecer.
Ok, então era isso.
— E então… O que você fará?
Foi um pouco ousado da parte dela, mas dava para perceber que vinha de um medo profundo.
Ninguém era verdadeiramente estoico diante da morte. Ninguém no mundo.
Foi exatamente por esse motivo que fui tão afetado por aquela escolha no passado.
— Vou adiar seu julgamento por enquanto.
Como não podia ficar ali para sempre, peguei Vivian como se fosse uma bagagem e retornei à muralha da cidade. Também queria falar com Raven sobre algo, de qualquer forma. Mas primeiro precisava ter certeza de uma coisa.
— Sobre aquela história de traidor — comecei.
— Sim?
— Não conte a ninguém sobre isso. Entendido?
— S-Sim! Claro! Minha boca está selada!
Eu não diria ‘selada’. Ela confessou tudo, até coisas que eu nem perguntei, quando sua vida estava em perigo.
Quando voltamos, encontrei Raven e Astarota diante do portão, que estava ligeiramente aberto.
— Senhor Yandel!
Assenti ao cumprimento de Raven. — Parece que as coisas foram resolvidas por aqui?
— Foi fácil — ela confirmou. — Assim que você saiu, a maioria dos cadáveres aqui perdeu a força.
Hmm, talvez ele não pudesse controlá-los direito porque estava ocupado fugindo? Quem sabe.
Após trocarmos cumprimentos, o olhar de Raven se moveu para meu ombro.
— Mas essa mulher… É ela, não é?
— Ah, vocês já se encontraram antes, certo?
— Mesmo que não tivesse, provavelmente saberia de qualquer forma.
— Ahaha… Olá? — disse a Bruxa Lamentadora, sem jeito. — Faz tempo, irmãzona.
— Irmã… irmãzona?
— Hã? Estou errada? Tenho quase certeza de que você é mais velha que o senhor Yandel…
Raven ficou momentaneamente sem palavras diante da atitude descarada da Bruxa Lamentadora.
— Apenas… Apenas me chame pelo meu nome. Não me lembro de ter dado permissão para me chamar assim.
— Ahaha… Entendido, senhorita Raven.
Como não era algo para discutir ali, continuamos a conversa em um prédio próximo.
Não havia muito o que explicar: capturei essa mulher enquanto perseguia o Coletor de Cadáveres, e ela me convenceu de que seria útil para mim. Excluindo a parte sobre o traidor, toda a história podia ser resumida nessas duas frases.
— Então esse é o problema agora, imagino? Decidir se a usamos ou eliminamos o problema que ela poderia trazer.
— É. Trouxe-a aqui porque queria sua opinião primeiro.
— Hmm… Então vamos confirmar o que ela ofereceu como garantia para sobreviver? — Raven aproximou-se de Vivian. — Então você pode se conectar à rede de comunicação de alto escalão dos Noarkianos? Vamos ver. Talvez sua autoridade de conexão já tenha sido revogada.
— Hehe… Isso provavelmente não vai acontecer.
— Então vamos confirmar. Precisamos saber quão importantes são as mensagens trocadas.
— Claro.
A pedido de Raven, Vivian puxou calmamente um cristal de mana negro e conectou-se à rede de comunicação. O dispositivo ativou sem problemas.
— Zibne, Tera, Didibar.
— O que estão dizendo? — perguntei.
— É código militar. Nem mesmo o Departamento de Inteligência teria decifrado ainda.
— Entendi… Me perguntei por que você se conectou tão facilmente à rede de comunicação. Você estava confiante de que não a mataríamos logo após nos mostrar isso.
— Não sou tão burra assim, sabe?
— Tanto faz, traduza. O que estão dizendo?
— Área 5-3, soldados do palácio, conversas sobre reunião, observar… É isso que estão dizendo.
Raven e eu trocamos olhares silenciosamente. Ambos sabíamos exatamente onde ficava 5-3. Afinal, fui eu quem pediu que os soldados causassem uma distração amanhã de manhã.
“Interceptar… Ela pode ser bem útil.”
Ainda assim, como precisava confirmar suas habilidades, pedi que traduzisse todas as ordens que ouvimos.
— Área 13-2, batalha em pequena escala, pedido de reforços.
— Área 5-1, reforçar barricada, pedido de soldados.
— Área 13-2, limpeza concluída, trinta e um inimigos derrotados.
— Área 4-2… Hã?
Notei então que ela de repente estremeceu.
— O que significa isso? — pressionei, aproximando-me para deixar claro que não deveria tentar nada.
Vivian parecia aflita ao responder:
— Área 4-7, L, dois intrusos descobertos.
— O que isso quer dizer? E por que você hesitou agora?
Cuidadosamente, ela respondeu — Área 4-7 fica no Distrito Quatro… Hm… Esses dois intrusos… Provavelmente são seus aliados, senhor Yandel.
Parei. — E o que é L?
— Ricardo Lüchenprague. É a letra que se refere ao nosso capitão…
“Maldição.”
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