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    Zorian encarou o homem por um momento antes de respirar profundamente.

    “Que adorável. Infelizmente, para você, não sou o quebrador de barreiras profissional que você parece pensar que sou”, ele falou a Gurey. “Quando você disse que queria minha ajuda com isso, havia pensado que seria apenas dar suporte ou coisa do tipo. Algo como isso, sendo franco, está fora da minha capacidade. Me desculpe, mas a menos que haja algo que você não esteja me contando, não tem como eu conseguir fazer isso.”

    Gurey inclinou-se para frente e lançou-lhe um grande sorriso conspiratório. “Mesmo se eu lhe desse o grimório de Aldwin e suas anotações de como os feitiços devem ser usados?”

    Zorian piscou. “O quê?”

    Duas horas depois, Zorian deixou a loja de Gurey com três livros novos debaixo do braço. Eles concordaram em fazer a ofensiva aos documentos três dias antes do festival de verão, presumivelmente para dar a Zorian o tempo necessário para praticar os feitiços do grimório de Aldwin, mas também porque, dessa forma, se tudo fosse por água abaixo, Zorian perderia apenas três dias do reinício.

    Zorian cantarolava para si mesmo em satisfação enquanto caminhava de volta à pousada. Era bom ter um lucro inesperado de vez em quando. Depois de toda chatice com Silverlake e o misterioso desaparecimento de praticantes de magia da alma, ele começou a pensar que todo esse reinício tinha sido uma gigante perda de tempo. Agora… bem, pelo menos ele conseguiu alguns feitiços novos e deslumbrantes, aqueles do tipo que ele nunca poderia ter adquirido por qualquer via legal.

    As coisas estavam melhorando.

    * * *

    Depois de sua conversa com Gurey, o tempo passou rápido. Era difícil praticar os feitiços encontrados no grimório de Aldwin, já que a maioria deles só interagia com barreiras e exigia um esquema de barreira real como alvo. Felizmente, Zorian conseguiu encontrar uma casa protegida cujo dono havia viajado, permitindo que Zorian praticasse nela o quanto quisesse, desde que se mantivesse fora da vista da estrada principal. Ele também ocasionalmente colocava proteções em objetos por sua conta para fins de prática, geralmente quando praticava os feitiços mais destrutivos, mas isso não era o mesmo que interagir com uma barreira desconhecida.

    Surpreendentemente, Gurey também estava disposto a fazer Zorian praticar os feitiços no esquema de barreiras da sua loja, contanto que não fizesse nada permanente. Zorian ficou surpreso com isso. Considerando tudo, Gurey estava sendo muito prestativo com ele. Ele suspeitava que o homem corpulento pensava nele como um investimento e esperava torná-lo em um ativo de longo prazo e, por isso, era mais generoso com Zorian do que ele normalmente teria sido, mas não tinha como ter certeza. Não parecia haver nada de malicioso nisso, então ele só ignorou e tentou apenas ser grato por sua boa sorte.

    Existiam essencialmente três maneiras de lidar com barreiras mágicas. A primeira, era deixá-las passando fome, privando-as de mana até que elas simplesmente se desfizessem. A segunda, era identificar uma maneira de perturbar sua estrutura, causando uma falha imediata. E, finalmente, a terceira era burlá-las para que, em primeiro lugar, não fossem ativadas. “Sifonagem”, “Ruptura” e “Contorno” eram os termos usados ​​na literatura para os três métodos. Cada um tinha suas vantagens e desvantagens, mas, para a tarefa que Gurey lhe confiou, ele teria que recorrer a contornar as barreiras do cofre.

    A sifonagem tinha a vantagem de sempre funcionar — cada barreira poderia ser sifonada até a morte com tempo e esforço suficientes, era apenas uma questão se o atacante estaria disposto a dedicar os recursos necessários para a tarefa. Algumas barreiras podiam durar meses após serem isoladas de suas fontes de energia, mesmo quando ativamente drenadas de mana durante o isolamento. Infelizmente, era necessário que o atacante tivesse controle total da área ao redor da barreira, pois as operações de sifonagem eram difíceis de configurar e manter — qualquer coisa menos que o controle total tornava muito fácil para o defensor arruinar o esquema. Era principalmente usado em cercos e para derrubar barreiras legadas que haviam sobrevivido à sua utilização.

    Ruptura era o método mais rápido de neutralizar barreiras — bastava perturbar sua estrutura e deixá-la colapsar sozinha. Infelizmente, muitas dessas proteções colapsavam explodindo ou tinham outros efeitos colaterais desagradáveis ​​se simplesmente quebradas, geralmente resultando na destruição da coisa protegida e, às vezes, daquele que estava fazendo a ruptura. Muitas barreiras também eram só poderosas demais para serem quebradas por um único mago, ou mesmo um grupo de magos, a menos que o atacante tivesse identificado uma fraqueza particularmente gritante. Então, no geral, quebrar uma barreira comumente não era possível e, via de regra, não era desejável mesmo que a possibilidade existisse. Ainda assim, se alguém quisesse se livrar de uma barreira rapidamente e tivesse poder de sobra, rompê-la era o caminho a ser seguido.

    Por fim, havia o contorno das barreiras — o modo preferido de lidar com elas, isso se fosse possível. Se os atacantes soubessem como a proteção funcionava, seja porque tivessem acesso às plantas técnicas do esquema de barreira ou porque analisaram sua estrutura por meio de feitiços de adivinhação, eles poderiam ter o cuidado de não ativar nenhum dos gatilhos que faziam a barreira reconhecer que havia um problema a ser combatido. Dependendo de como a barreira funcionava, poderia ser até mesmo possível colocar camadas adicionais sobre ela para neutralizá-la completamente. Se um invasor quisesse manter sua intrusão em segredo, o contorno das proteções era uma necessidade, já que era o único método que deixava as proteções intactas após seu uso.

    Como a ideia era não deixar rastros de sua invasão domiciliar, ele obviamente não poderia romper ou sifonar as barreiras do cofre — ele tinha que decifrar seu caminho por elas e deixá-las intactas. Havia muitas maneiras de fazer isso nos livros que Gurey lhe dera, já que Aldwin estava interessado principalmente nesse tipo de solução para as barreiras, mas até Zorian dar uma olhada real no cofre, ele não poderia dizer quais meios deveria usar. Então ele decidiu simplesmente praticar todas elas.

    Conforme a data do festival de verão se aproximava, Zorian decidiu visitar Vani mais uma vez para ver se o homem tinha alguma notícia sobre os magos de alma desaparecidos. Ele não tinha, embora admitisse que não havia tentado descobrir nada sobre isso com afinco. Era uma questão para as autoridades policiais, Vani alegou, e se envolver apenas os pintaria como suspeitos. Ele provavelmente estava certo, e Zorian sabia que não havia sentido em bisbilhotar por aí agora que o caso estava sendo investigado pela polícia, mas ele definitivamente pretendia iniciar uma investigação pessoal em futuros reinícios para ver o que estava acontecendo ali.

    Vani o perguntou se ele havia encontrado a tribo metamorfa, mas Zorian admitiu que meio que desistiu disso. Ele não podia ir até Raynie, pois ela estava em Cyoria, e ninguém mais podia lhe dizer para onde ir. Ou talvez pudessem, mas não quisessem — o resultado era o mesmo em ambos os casos. Fora isso, ele estava cético a respeito do quanto eles poderiam realmente ajudar com seu problema.

    Finalmente, o dia havia chegado. Gurey conseguiu colocar um pequeno cartaz dentro da casa de Vazen, estufando-o dentro de um envelope e enviando-o ao homem junto com alguns anúncios ridículos. Zorian não conseguia acreditar que aquilo realmente tinha funcionado, mas tinha, e agora eles só tinham que esperar o homem ir trabalhar antes que ele pudesse se teletransportar para dentro e procurar o cofre. Vazen era um solteiro de 40 anos, então era suposto que deveria haver ninguém na casa com ele fora, mas Zorian havia preparado um conjunto de roupas de disfarçe para si de qualquer forma (que ele pretendia jogar fora imediatamente após a operação) e estava disposto a se teletransportar para fora ao primeiro sinal de problema.

    Após uma hora de espera, Vazen saiu de casa e Zorian teletransportou-se para dentro. Gurey permaneceu do lado de fora sob um campo de invisibilidade, agindo como um vigia — se ele notasse Vazen voltando, apertaria um botão no cronômetro que Zorian lhe dera, o que faria um anel da mão de Zorian esquentar.

    A casa estava, felizmente, completamente vazia… mas também completamente sem cofres, protegidos ou não. Mesmo após adicionar uma camada adicional às barreiras para excluir o interior da casa da barreira anti-adivinhação, seus feitiços ainda não deram resultados… provavelmente porque o próprio cofre era protegido contra adivinhações. Frustrante. Estava obviamente escondido atrás de algo, mas Zorian não conseguia descobrir onde. Não havia paredes ocas, escotilhas secretas sob o carpete, lugares onde o chão era desgastado devido ao movimento constante de móveis, nada. Quando Zorian estava prestes a desistir e começar a devorar livros procurando por um feitiço de adivinhação exótico que pudesse funcionar apesar das proteções, ele finalmente o encontrou. Estava na lareira, de todas as coisas — se ele não tivesse notado o quão relativamente limpa ela estava (e lembrado do quanto ele odiava limpar a de sua casa em Cirin), nunca teria ocorrido a ele olhar lá.

    A lareira não foi construída para um acesso conveniente, então interagir com ela era bastante irritante — o cofre estava posicionado à esquerda, realmente impossibilitando ver a fechadura sem o uso de um espelho. Mesmo assim, isso era apenas um inconveniente, não um obstáculo real. Ele começou conjurando feitiços de análise na barreira que protegia o cofre, tentando encontrar uma maneira de passar por elas.

    Ele só teve tempo apenas o suficiente para registrar que havia uma barreira localizada muito fraca presente na lareira antes de ser forçado a pular para trás e erguer um escudo na sua frente. Uma explosão ensurdecedora irrompeu da lareira, envolvendo toda a sala em cinzas ofuscantes e sufocantes, enquanto a barreira, em resposta à detecção de seu feitiço de análise, acionava a armadilha explosiva. Seu escudo o protegeu da explosão, mas a nuvem de cinzas era um inferno para seus pulmões.

    Ele se teletransportou para fora, agarrou Gurey e então se teletransportou novamente — dessa vez para longe da casa de Vazen. A operação foi um fracasso.

    * * *

    Na sequência da operação desastrosa, toda a ideia foi descartada. A segurança estava fadada a aumentar agora que Vazen sabia que alguém estava atrás dos documentos, e Zorian não estava a fim de ir contra as novas e aprimoradas defesas quando até as antigas quase o mataram. Gurey, por incrível que parecesse, estava ainda mais abalado com toda a coisa do que Zorian. Ele se desculpou copiosamente por todo o episódio e berrou sobre como tais armadilhas letais eram ilegais e como ele não conseguia acreditar que Vazen empregava tal coisa, o que Zorian achou mais do que um pouco cômico. No entanto, isso ajudou a explicar por que Vazen aparentemente não se preocupou em relatar a invasão à polícia.

    Pessoalmente, Zorian estava se sentindo muito irritado consigo mesmo. Independentemente do que Gurey parecia pensar, isso era tudo culpa dele. Ele realmente deveria ter verificado se havia armadilhas na lareira. Inferno, ele deveria ter checado a casa inteira por elas! Só porque Gurey dissera que não havia outras defesas, não significava que ele deveria ter dado isso como certeza. O homem até mesmo disse que suas informações estavam desatualizadas…

    Bem, não importa — ele conseguiu alguns feitiços bacanas com tudo isso e sabia o que prestar atenção em reinícios subsequentes.

    Ele pensou em confrontar o caçador cinza no final do reinício, mas então decidiu não fazer. Pois só teria morrido desajeitadamente, e ele já teve muitos resvalos com a morte nesse reinício em particular.

    Ele foi dormir e acordou com sua irmã lhe desejando um bom dia.

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