Capítulo 2 (II) — Mudanças.
A floresta parecia viva, com os galhos balançando e os passos rápidos cortavam o silêncio.
Os sons de uma perseguição ecoavam entre as árvores.
— Pearl, pela esquerda! — gritou Luca, saltando de um galho para o outro, os olhos fixos no alce à frente.
Pearl correu pela esquerda; com precisão, atirou uma pedra que acertou o corpo do alce. O animal, assustado, mudou de direção, correndo direto para onde Lótus estava.
A presença de Lótus foi suficiente para fazer o alce hesitar e virar de volta, correndo agora em direção a Luca.
Luca pulou no ar, agarrando-se ao alce e cravou sua adaga na perna do animal. A força do impacto fez Luca cair ao chão, mas o alce, enfraquecido, desacelerou.
Karl, observando a oportunidade, agarrou uma pedra maior, levantando-a com facilidade. Lançou-a atingindo a cabeça do alce com um estrondo.
Yuki, com calma, puxou sua flecha e disparou, acertando o pescoço do alvo.
O animal se debateu brevemente antes de finalmente cair, dando fim à perseguição.
— Boa! — comemorou Luca, com um sorriso largo no rosto.
— E então, pai, fomos bem? — perguntou Pearl, seus olhos brilhavam de curiosidade.
— Vocês foram… Incríveis! — respondeu Kael animado, acenando positivamente com seu polegar para cima.
Já se passaram 12 anos, eles estão bem crescidinhos mesmo, Kael refletiu enquanto observava, com um sorriso orgulhoso, seus filhos já tão independentes e fortes.
O tempo passou rápido, e ele não podia deixar de perceber o que cada um se tornava.
Após uma longa caminhada subindo a montanha, o terreno alternava entre a neve fina, cobrindo o chão branco, e trechos de solo mais verde, onde o clima mais quente descongelava a neve.
Ultrapassando a barreira e chegando finalmente perto do vilarejo, Kael olhou para trás, vendo todos eles exaustos após a jornada.
— Podem descansar, já estamos dentro da barreira.
— Pai, a senhorita Hia é demais, né? Como ela fez a barreira?
Pearl, com seu tom de sempre, respondeu com segurança:
— Mas é óbvio, Luca! A senhorita Hia é incrível, ela que protege todos nós.
Eu também não sei como funciona, refletiu Pearl coçando a cabeça.
— Tá, Pearl, tá. Não se faça de sabichona.
— Você disse o quê, Luca?!
— Vamos para casa, vamos — disse Kael, levantando a voz.
Com um gesto firme, ele conduziu os filhos para o vilarejo.
Após chegar em casa, Kael abriu a porta, carregando o alce recém-caçado nas costas, pronto para ser preparado.
Antes mesmo que ele pudesse dizer algo, Yuki correu até Mila, radiante de entusiasmo:
— Mãe, eu acertei uma flechada no alce! Foi direto no pescoço, tão rápida que ele nem teve reação!
Com um sorriso orgulhoso, Mila respondeu:
— Sério? Meus parabéns! Você é incrível. Sabia que podia confiar meu arco a você.
Kael passou a mão na cabeça de Yuki, bagunçando seus longos cabelos carinhosamente enquanto seguia para o interior da casa.
Deixou o alce na cozinha e começou a conversar com Mila sobre o dia.
Yuki subiu as escadas em direção ao segundo andar, os passos rangendo levemente na madeira, enquanto os meninos saíam animados pelas portas dos fundos; batidas na porta da frente, ecoavam pela casa. Pearl, que estava no andar de baixo, correu para atender, curiosa para saber quem era.
— Mãe! A Nyoha me chamou para brincar com ela, posso ir? — gritou Pearl após abrir a porta de casa, sua voz carregada de entusiasmo.
Mila, ocupada na cozinha, olhou para Kael, sorriu e respondeu:
— Pode sim, mas volte antes do meio-dia, está bem?
Ainda era bem cedo e o Sol já estava no céu, mas o tempo não estava nem um pouco quente.
Pearl foi para perto da casa de Hia, “brincar” é o que ela dizia, sempre foi curiosa, passava muito tempo com Nyoha, aprendendo coisas fascinantes com ela, a filha de Hia.
— Ah, Pearl, vamos lá! Você consegue! É só imaginar o que está fazendo e recitar o que aparece na sua mente. É quase automático!
— Aaah, eu não consigo — respondia frustrada — Nya! Não dá, sério!
Nya respirou fundo, mantendo o tom encorajador e respondeu:
— Tenta de novo Pearl. Feche os olhos e imagine.
— Ok, vamos lá! — disse Pearl, determinada, fechando os olhos para tentar mais uma vez.
Pearl respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado.
Fechou os olhos, deixando tudo ao seu redor ser esquecido.
Em sua mente, uma pequena chama oscilava na escuridão.
Concentração, repetiu para si mesma.
A chama cresceu, mas logo se dissolveu, transformando-se em uma esfera de neve que, por sua vez, explodiu em calor.
— Ignis… magnus pila… flammis! — disse em voz baixa com hesitação, depois gritou, estendendo as mãos.
Uma bola de fogo surgiu, girando, mas algo estava errado.
O calor era intenso demais, e a bola crescia sem controle.
— Solta, Pearl! Solta ela!
O calor derreteu a neve sob seus pés, fazendo Pearl escorregar.
Ela instintivamente liberou a bola de fogo para o céu, onde ela explodiu em um espetáculo de luzes amarelas.
O que é isso? pensou impressionada e maravilhada, enquanto seus olhos brilhavam com o reflexo do que acabara de acontecer.
Ela mal podia acreditar no que presenciava, o coração disparado e a mente cheia de perguntas.
— Incrível, Pearl! Você tem talento! — exclamou Nya, fascinada.
Pearl, sentada na neve derretida, olhou para suas mãos, os olhos arregalados de surpresa e maravilha.
— Eu… eu? Eu fiz isso? Eu finalmente aprendi!
— Fez, Pearl! Foi incrível! Como você conseguiu fazer uma bola tão grande? — perguntou Nya, ainda encantada com o que acabara de testemunhar.
Enquanto Pearl e Nya se concentravam no treinamento de magia, o som de vozes animadas e gritos ecoavam pela montanha.
— Vou contar hein! Um… dois… três…e já! — anunciou Karl, dando início à luta.
Luca partiu para o ataque direto, desferindo um soco forte pelo meio; Lótus desviou com facilidade pulando.
Com um movimento fluido, girou o corpo pela esquerda e tentou um chute forte na lateral direita de Luca.
Este, no entanto, bloqueou o golpe com o braço, obrigando Lótus a recuar.
— O que há, Luca? Você desaprendeu a lutar, é isso? — provocou Lótus com um sorriso confiante.
Eu estou melhorando!
A provocação fez com que Luca se enchesse de raiva. Ele avançou com um salto, mirando um chute na parte superior do corpo de Lótus.
Mais uma vez, Lótus desviou.
Você não vai conseguir dessa vez, Luca!
Após cair no chão, Luca se ajeitou rapidamente e jogou todo o peso do corpo para a direita espalhando a neve por todo lugar, girou chutando de esquerda as pernas de Lótus.
O impacto fez Lótus perder o equilíbrio e cair, sentindo a dor do golpe.
Sem dar tempo para a reação, Luca correu na direção de Lótus.
Quando este tentou se levantar, Luca já estava à frente, desferindo um soco em seu peito.
O golpe lançou Lótus para trás fortemente, fazendo-o bater as costas na árvore e derrubar a neve em cima dela; Karl observava com atenção, pronto para intervir caso necessário.
— O que houve, Lótus? O gato comeu sua língua? — provocou Luca, com um sorriso triunfante.
— Tsk, não me importa… — respondeu ofegante, enquanto se levantava da neve, tentando recuperar o fôlego.
Eu perdi de novo, pensou Lótus, frustrado, enquanto observava seu irmão sorrir vitoriosamente.
— A vitória vai para Luca e agora está 9 a 1 — anunciou Karl com imparcialidade, pegando uma pedra para marcar mais um ponto a Luca.
Com um movimento firme, ele riscou mais uma vitória na contagem gravada em uma grande rocha próxima, que servia de quadro de pontuação para as disputas dos irmãos.
— Melhor começar a treinar mais, Lótus, ou vai acabar ficando para trás — comentou Luca com um leve sorriso.
Mila abriu a porta dos fundos, deixando o aroma da comida escapar pela casa enquanto chamava:
— A comida está pronta! Venham comer!
Ela olhou para os meninos, ainda suados e cheios de neve da luta, acrescentou:
— Luca, vá buscar sua irmã. Quero todos na mesa agora, sem desculpas!
Após alguns minutos.
Todos estavam reunidos em casa, sentados à frente da grande mesa retangular feita de madeira escura e robusta da montanha.
Sobre ela, estavam os pratos preparados com cuidado por Mila, incluindo a carne do alce caçado mais cedo.
Uma mesa cheia de vida e algumas frutas estranhas, que para eles eram muito comuns.
Kael olhou para todos à mesa e, com a voz firme, anunciou:
— Como todos já estão aqui, vim avisar que vou sair em uma viagem.
— Sair, pai? Como assim? — perguntou Pearl, surpresa.
— Sim, senhorita, vou passar um mês fora.
— Pai? Um mês? — interrompeu Luca.
Essa é uma boa oportunidade para sairmos daqui.
— Eu, Lótus e o Karl vamos com você!
— Não, — retrucou Mila com firmeza — vocês não estão preparados para sair da vila.
— Mãe, temos treinado a vida inteira para isso! — respondeu com um tom insistente.
— Não para vocês saírem daqui! — revidou com ainda mais ênfase.
Kael levantou pedindo calma.
— Mila, eles precisam disso. Deixe que o destino decida — sussurrou Kael para Mila, segurando gentilmente sua mão.
Mila suspirou, mas cedeu com um leve aceno de cabeça.
Kael então virou-se para eles com um sorriso determinado e declarou:
— E então, meninos, vamos decidir se vocês vão ou não… no ímpar ou par.
Yuki deu uma leve risada.
— Pai você não muda mesmo.
Kael se posicionou à frente de Luca, ambos escondendo as mãos nas costas para fazer a escolha.
— Ímpar, Luca.
— Par, pai.
— Um, dois, três e já!
Kael lançou o número dois com os dedos. Para sua surpresa, Luca havia jogado zero.
Kael olhou para o resultado, incrédulo, enquanto Luca comemorou internamente sua vitória, tentando esconder um sorriso.
Mila e Kael foram discutir sobre a viagem e as crianças continuavam à mesa, e Pearl lançou uma pergunta que chamou a atenção de todos enquanto comiam:
— Para que o Papai passaria um mês fora?
Lótus mostrando confiança, com um tom meio impaciente:
— Pearl, você não é muito inteligente. O pai sempre vai ao porto da cidade lá embaixo para comprar coisas dos mercadores, mas isso nunca demora mais que alguns dias, menos de uma semana.
— E o que você quer dizer com isso? — Inclinou a cabeça, intrigada.
— Pearl, isso quer dizer que ele vai sair da ilha! — respondeu de forma direta e cruzou os braços.
Yuki, interveio, desacreditada e disse:
— Pai não seria doido levar vocês para fora da ilha.
— Mas ele vive falando sobre o livro do Joe! — Rebateu Luca, entusiasmado.
Pearl franziu a testa, confusa:
— Quem?
— O cavalo do pai, Pearl!
— Ahh, o cavalo. Sei.
Os irmãos trocaram olhares cheios de curiosidade e teorias sobre o que realmente estava acontecendo.
— Então, se o Tutu estiver certo, vocês vão ter a oportunidade de conhecer um lugar que o papai nunca contou pra gente. Nesse caso, eu também quero ir — disse Yuki, pensativa, enquanto sentava no sofá.
— Não, Yuki. Você tem que ficar pra cuidar da mamãe — respondeu Luca.
— Você não acha que é muito bicudo, Luca?
— Yuki e Pearl, vocês têm que ficar com a mamãe — disse Karl, colocando ordem.
— Tanto faz, Karl. Não ligo mesmo mais pra essa viagem idiota de vocês.
Karl é incrível, pensou Luca quando olhava para Karl.
Kael reapareceu e com um semblante sério, e anunciou:
— Vocês três vão, mas com uma única condição.
— Qual, pai? — questionou Lótus, curioso e ansioso.
Kael olhou para os filhos, sua expressão firme, e respondeu:
— Vocês vão ter que obedecer rigorosamente qualquer ordem minha. Estamos combinados?
— Vumbora, Lótus! Nossa primeira viagem, Karl!
— Vamos arrumar as nossas mochilas, vamos, os dois. — Disse Karl, ordenando os dois enquanto subia as escadas.
Os meninos começaram a se preparar, a excitação estampada nos rostos, enquanto as meninas, do outro lado, refletiam em silêncio sobre o que fariam a partir disso.
Pearl e Yuki trocavam olhares, um misto de curiosidade e incerteza sobre a jornada dos outros. Mila se aproximou de ambas e, com um sorriso suave, sussurrou:
— Eu vou sair várias vezes com vocês também.
— A mamãe vai sair?! — gritaram, juntas, a emoção transbordando em suas vozes, algo que não acontecia há muito tempo.
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