O dia estava tão frio quanto o de ontem. Karl foi o primeiro a se levantar da cama, sentindo o frio penetrar em seu corpo. Ainda sonolento, olhou pela brecha da cortina e viu nuvens em um céu claro. Imaginou que hoje seria um ótimo dia.

    Ouviu alguém gritar na rua:
    — Jornal! Jornal! Novas! Notícias sobre o Reino de Aurenith!

    Curioso sobre o jornal, o reino de Aurenith e como seria lá, sua atenção foi rapidamente desviada quando Kael acordou. Kael cumprimentou-o e começou a conversar um pouco, mas parecia robótico ao acordar. Realizou uma sequência de tarefas sem parar ou descansar: arrumou a cama em cinco segundos, foi ao banheiro, deixou tudo pronto para as crianças usarem depois, lavou todos os pratos e organizou todo o ambiente.

    Depois disso, acordou Luca e Lótus. Os irmãos se levantaram dispostos a fazer qualquer coisa. Arrumaram as camas com movimentos rápidos ajeitando os travesseiros, gastaram energia brincando de queda de braço e, já cedo, fizeram uma competição de flexões. Luca venceu Lótus. Foi uma manhã comum.

    Kael comentou que sairiam para um lugar muito especial e enquanto conversavam, o ar frio que saía da boca deles era visível. Kael acreditava que o tempo estava voltando a esfriar. Os meninos se arrumaram e, dessa vez, não levaram mochilas. Kael carregava apenas um pequeno saco. Luca notou que a espada nem sempre estava com Kael e se perguntava onde ela poderia estar.

    Quando saíram, apenas Kael usava o capuz do casaco de pele macia de animal, ajeitou o capuz, abaixando a cabeça. Explicava para Lótus que não gostava de ser reconhecido nas ruas, mas algo em seu tom mostrava que isso lhe causava desconforto. Caminharam pelas ruas onde raramente passavam carroças. A maioria das pessoas estava ocupada vagando entre as lojas, comprando itens de necessidade.

    Por algum motivo, as ruas tinham placas enfeitadas e coloridas. Luca leu algumas placas ao longo da rua. Cada uma parecia contar uma história diferente de um senhor famoso. Enquanto andavam, Karl notou pessoas estranhas ocasionalmente. Usavam mantos roxos com capuzes e símbolos esquisitos, parecendo se esconder. Desapareciam facilmente, mas Luca e Lótus não perceberam.

    Entraram em um beco estranho, viraram na primeira esquina e chegaram a um lugar muito bonito. Era uma grande casa de pedregulho, bem construída, com uma chaminé que soltava fumaça. Ao entrarem, um sininho tocou. Lá dentro, o ambiente era ainda mais impressionante: era uma casa de ferreiro. Tinha tantas espadas e equipamentos de batalha que Luca ficou maravilhado.

    — Olá, rapazes. Como posso ajudá-los? — Um homem se aproximou.

    Ele tinha o rosto redondo, olhos pequenos, um nariz torto que parecia se esticar pela sala. Não era maior que Kael, mas era bem alto. Seus braços eram grossos e ele usava um bigode peculiar.

    — Vim comprar algumas armas — disse Kael.
    — Que tipo de armas deseja?
    — Hum, vejamos…

    Outro sininho tocou, fazendo Kael se virar. A atmosfera na sala ficou estranha. Um outro homem entrou. Desta vez, era alguém com cabelos avermelhados, longos e presos. Ele tinha um corpo atlético, sobrancelhas bem formadas, lábios marcantes e uma cicatriz no seu elegante pescoço. Assim que entrou, encarou Kael diretamente e ambos ficaram surpresos.

    — Eu não posso acreditar… — disse o homem com uma voz grossa, firme e suave.
    — Nem eu… — respondeu Kael.
    — Kael… Stellara… — disse o homem enquanto se aproximava de Kael, estendendo o braço como se fosse dar um tapa.

    Rapidamente, o homem se moveu, mas ao invés de um golpe, Kael reagiu acertando a palma dele com a sua. Era um cumprimento de mão. A sala se estremeceu, as armas no local tremiam, e os dois apertaram as mãos com força e excitação, ambos sorrindo.

    — Kael!!!
    — Hassini!!! — respondeu Kael, finalmente o abraçando.
    — Como vai, cara? Você sumiu de vez! Olha como o seu cabelo está grande!

    — To com saúde, mas eu não fui o único que mudou. E essa cicatriz aí?

    — Gostou? Porque eu gostei. Mas me fala, e a Mila, como está?

    — A Mila vai bem, continua forte como sempre!
    — Cara, quanto tempo! — Hassini apertava a mão de Kael com tanta força que Luca não conseguia acreditar.

    Kael se virou e apontou para os três garotos.

    — Olha aqui, minha garotada.
    — Você tá brincando, não acredito. — Hassini se curvou e estendeu a mão. — Como vão, carinhas? Qual o nome de vocês?

    — Karl — respondeu o primeiro.
    — Lótus…
    — Luca Stellara.
    — Prazer, Hassini Macedo — cumprimentou o homem com entusiasmo, apertando a mão de cada um.

    — Que bacana, Kael! Então esses são os filhos da Mila?
    — Todos esses.
    — Tem certeza, Kael? Eles parecem ser da mesma idade.
    — Eles nasceram ao mesmo tempo.
    — Tá de brincadeira! — Hassini começou a rir. — Mila vivia dizendo que só queria ter um filho, porque era muito difícil de cuidar.
    — Pois é! — Kael riu junto. — E não foram só esses três. Foram cinco! Ainda tem mais duas meninas.

    Hassini ria tanto que precisou se apoiar para não cair. Mesmo se esforçando muito, levou alguns segundos para conseguir se controlar.

    — Não, Kael! Tadinha da Mila! Cinco?! Mas realmente, não dá pra negar… o núcleo deles brilha igualzinho ao dela.

    Kael, naquele momento, se sentiu orgulhoso, por algum motivo.

    — O que veio fazer aqui? — perguntou Hassini.
    — Eu vim comprar armas pros meninos…
    — A primeira arma… Bem lembro da primeira que ganhei… — O homem analisou os três meninos de cima a baixo. — Acho que posso ajudar, Kael.
    — Por favor.

    Ele se aproximou de Lótus e começou a observá-lo com atenção, analisando cada detalhe. — Olha esse aqui, aparentemente mais fraco, talvez o mais veloz, e pequeno demais para usar uma espada comum. Adagas, dê a ele — disse, enquanto mexia nos pequenos músculos de Lótus.
    — E esse? Equilibrado, talvez. Bem difícil… Gosta de lutar como?
    — Gosto de aproveitar bem a batalha e sair vitorioso.
    — Hum… Isso é interessante, vende katanas aqui, chefe?
    — Ehh, temos duas. São caras, feitas em um lugar específico de Aurenith. Difícil alguém pagar por elas.
    — Kael… Vou dar de presente só porque é seu filho.
    — Não precisa, de verdade.
    — Claro, nunca dei presentes aos seus filhos, como não?

    Hassini voltou sua atenção para Karl. Aproximou-se, levantou um dos braços e analisou os músculos que ele tinha, observando cada detalhe.

    — Tem que ser algo pesado, para estimular esse corpo forte. Quando crescer, pode ficar igual a mim, ou até mais forte. Armas pesadas, chefe? — perguntou, direcionando-se ao ferreiro.
    — Tenho uma perfeita para ele. Já vou buscar as coisas que solicitaram. Enquanto isso, podem escolher as adagas ali no canto.

    Sem muita indecisão e com poucas opções, Lótus escolheu as mais bonitas: eram pretas e azuis, com um desenho de raio na lâmina.

    Todos aguardaram silenciosamente enquanto o ferreiro foi buscar as armas. Ele voltou com as duas katanas mencionadas. Uma tinha a bainha vermelha, decorada com linhas entrelaçadas, e a outra era mais simples, com uma bainha completamente branca. Luca olhou para ambas e sentiu algo ao estender a mão. A branca o queria mais do que ele precisava dela. Então, ele a tirou da bainha e viu a lâmina completamente platinada. Era perfeita. Ele a escolheu sem nem olhar para a vermelha.

    O ferreiro voltou ao galpão e, pouco tempo depois, trouxe uma espada tão distinta quanto uma katana. Era uma espada curvada, com a ponta quadrada e a lâmina larga. No cabo, havia um pano que parecia uma fita.

    — Uma dadao! Minha nossa, esse menino vai brilhar — disse Hassini, empolgado.

    Karl pegou a espada e sentiu que poderia cortar até a maior cobra do mundo. Uma onda de confiança surgiu dentro dele, como se tivesse acabado de ficar ainda mais forte. Ele se arrepiou.

    — Gostou, filho?
    — Essa aqui… — disse Karl, enquanto olhava para a espada como se já quisesse experimentá-la. — Eu gostei bastante.

    Hassini pagou por todas as armas, e o total deu 31,07 Rr. Kael não conseguiu conter a risada ao ouvir o valor. O ferreiro quase parecia comemorar pela quantidade de dinheiro que iria receber. As moedas de Rogro eram avermelhadas e chamaram a atenção de Lótus, que as achou lindas.

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