Índice de Capítulo

    Combo final de ano destinado ao leitor Holanda!!!
    Obrigado por sempre comentar e incentivar – iremos para o combo de começo de ano? xD (talvez)

    Talia caminhava pelos corredores do Comando com passos firmes, mas seu braço tremia ligeiramente. A cada passo, sentia o peso do Cubo em sua mão, a superfície fria parecendo pulsar contra sua pele. Vários Oficiais a cumprimentaram ao passar, mas ela sequer levantou o rosto para retribuir. A urgência em sua mente abafava qualquer cortesia.

    A sala de reuniões estava logo à frente. Quando avistou a porta pesada de aço reforçado, também percebeu Tecno, parado próximo a ela. Ele segurava uma carta entre os dedos, os olhos fixos em algum ponto indefinido à frente.

    Talia diminuiu o ritmo ao se aproximar, tentando regular a respiração. Assim que parou ao lado dele, sentiu a tensão no ar. Tecno, mesmo imóvel, tinha uma presença que parecia preencher o corredor.

    — Oficial — cumprimentou ela, sem encará-lo diretamente.

    — Aspirante a Oficial Talia — respondeu ele, com um tom formal, mas não frio.

    Os dois permaneceram em silêncio por um momento, ouvindo as vozes que vinham de dentro da sala de reunião. Eram pelo menos dez pessoas discutindo acaloradamente, as palavras abafadas pela porta, mas ainda audíveis o suficiente para que os gritos de ordens e acusações ressoassem no corredor.

    Talia não esperava encontrar tantos deles ali. Cada voz carregava uma autoridade que parecia pesar mais do que o Cubo em suas mãos.

    — Algo muito importante? — Tecno perguntou, ainda olhando para frente, sem mover um músculo.

    Talia hesitou por um instante.

    — É algo… bem importante — respondeu, a voz saindo firme, mas baixa.

    Tecno finalmente desviou o olhar para ela, analisando-a de relance. Ele não perguntou mais nada, mas seu olhar era inquisitivo, quase como se tentasse decifrá-la naquele momento.

    Sentindo o peso do escrutínio, Talia ajustou a postura, escondendo o Cubo atrás das costas. Seus dedos apertaram o objeto com tanta força que a borda pressionou contra sua pele. Tecno notou o movimento, seus olhos seguindo brevemente o gesto antes de voltar a encará-la.

    — Se quiser, pode ir na frente — ele ofereceu-lhe, a voz neutra, mas com um leve tom de curiosidade.

    Ela balançou a cabeça, os lábios se comprimindo em uma linha fina.

    — Não. Prefiro esperar.

    Tecno ergueu uma sobrancelha, mas não insistiu. O som de uma voz particularmente exaltada do outro lado da porta quebrou o silêncio entre eles. Talia sentiu o suor se formar na nuca, o Cubo em suas mãos agora parecia um segredo impossível de carregar.

    O que aconteceria se alguém soubesse? Se Tecno descobrisse?

    Por fora, ela manteve a expressão impassível. Por dentro, sua mente fervilhava. A figura de Dante, tão claramente projetada pelos Cubos, ainda estava gravada em suas memórias como um fantasma que não podia ignorar.

    A porta da sala de reunião se abriu subitamente, interrompendo seus pensamentos. Um Oficial saiu de lá com o rosto avermelhado, claramente irritado, mas ao ver Tecno e Talia, limitou-se a um aceno curto antes de seguir corredor abaixo.

    Tecno olhou para ela mais uma vez, mas dessa vez com um pequeno sorriso, quase imperceptível.

    — Parece que não somos os únicos com assuntos importantes hoje — ele comentou, dando um passo em direção à porta aberta.

    Talia respirou fundo, preparando-se para entrar. O Cubo em suas mãos parecia pesar mais do que nunca.

    Assim que Talia entrou na sala, foi recebida por um ambiente pesado e cheio de tensão. Sete Oficiais estavam de pé, dispostos ao redor de uma grande mesa central, discutindo com vozes firmes e gestos controlados. Tecno moveu-se para o lado, dirigindo-se a um dos Oficiais mais velhos. Ele falava baixo, quase inaudível, enquanto seus gestos meticulosos demonstravam que o assunto era delicado.

    Talia percorreu a sala com os olhos, procurando por Dalia. Não demorou a encontrá-la, conversando com o imponente Comandante Sergi Viegal. A figura dele era quase lendária para Talia: um homem de presença intimidante, com cabelos grisalhos perfeitamente alinhados e uma postura que exalava autoridade. Freto e Crish já haviam contado histórias sobre ele, especialmente a do “Charuto do Eterniso” — um artefato único que Sergi teria confiado a Dante, um charuto que nunca se consumia completamente.

    Quando os olhos de Dalia encontraram os de Talia, a Oficial ergueu ligeiramente a sobrancelha, reconhecendo a urgência na expressão da Aspirante. Com um breve pedido de licença, Dalia deixou o Comandante, que lançou um olhar breve, mas avaliativo, na direção de Talia antes de assentir com a cabeça e voltar à conversa com outro Oficial.

    Dalia aproximou-se com passos firmes, sua presença naturalmente impondo respeito.

    — Boa tarde, Oficial — começou Talia, tentando manter o tom formal, mas sentindo sua voz tremular levemente. — Posso… conversar em particular com a senhora?

    Dalia inclinou a cabeça de forma quase imperceptível, analisando-a por um momento antes de responder:

    — Claro, só um momento.

    Ela virou-se para se despedir de Sergi, que apenas fez um gesto curto de aprovação antes de voltar sua atenção para os documentos à sua frente. Quando Dalia retornou, ela indicou o caminho para a saída com um movimento discreto.

    — O Comandante Sergi tem muito apreço pela sua pessoa, Aspirante — comentou Dalia enquanto caminhavam juntas para fora da sala.

    Talia sentiu um arrepio ao ouvir aquilo, mas não respondeu de imediato. Enquanto seguiam pelo corredor, seu coração parecia bater mais alto do que seus próprios passos. Ela não sabia se deveria esperar para falar ou despejar tudo ali mesmo. O peso do Cubo em suas mãos parecia insuportável, uma âncora de nervosismo que puxava sua determinação para baixo.

    Dalia, com os olhos frios e fixos no horizonte, mantinha-se impassível, como se esperasse pacientemente pela explicação. Quando os olhares das duas finalmente se cruzaram, Talia percebeu um brilho quase imperceptível de curiosidade na Oficial.

    — Parece inquieta — comentou Dalia, com um tom neutro. — Seria um assunto urgente sobre os experimentos dos polos magnéticos que está testando?

    Talia hesitou por um momento, mas sabia que não poderia guardar aquilo por mais tempo. Com um movimento firme, puxou o braço para frente e mostrou o Cubo de Comunicação.

    — Eu tenho isso — disse, sua voz carregada de tensão.

    Dalia não demonstrou nenhuma reação imediata. Seu rosto permaneceu inexpressivo enquanto observava o Cubo com atenção. Não houve surpresa, nem preocupação aparente. Apenas um olhar analítico, como se estivesse diante de algo que já esperava.

    — E o que eu deveria observar, Aspirante?

    — Por favor, quero que veja sem ninguém por perto — insistiu Talia, sentindo a urgência em suas palavras.

    Dalia manteve sua postura imperturbável, mas assentiu com um gesto breve. Sem dizer mais nada, virou-se e conduziu o caminho até sua sala particular. O corredor parecia mais longo do que o normal para Talia, cada passo ecoando em sua mente como um lembrete do peso daquela revelação.

    Quando finalmente entraram no espaço amplo, iluminado por uma janela de vitral que lançava sombras coloridas sobre o chão, Dalia aproximou-se de sua mesa. O ambiente era silencioso, decorado com simplicidade e funcionalidade, com apenas alguns documentos e dispositivos organizados sobre a superfície.

    Talia não perdeu tempo. Aproximou-se rapidamente da mesa, colocou o Cubo em um dos suportes e deu um passo para trás, quase como se o objeto fosse explodir a qualquer momento.

    A imagem azulada surgiu, e Dalia parou com sua caneca, assoprando a fumaça do café quando avistou o rosto de uma figura um tanto quanto conhecida, e distante. Sua boca se abriu, com os olhos ficando maiores, e se aproximou em passos curtos.

    Era Dante, parado na sua frente, em um holograma. Era claramente seu amigo, o Recruta que havia deixado sua posição para salvá-la.

    — Isso… é de quando? — perguntou Dalia perto demais para saber que não era uma brincadeira. — Ele está vivo?

    Talia tentou sorrir, mas queria chorar. Não o fez, não na frente da sua Oficial. No entanto, Dalia não respeitou isso deixando uma lágrima escorrer pelo canto do seu olho direito.

    — Não pode ser possível que seja algo recente.

    Talia apontou para o cubo, que abriu um segundo holograma. Dessa vez, era uma esfera com relevos, mares, o polo norte e sul.

    — Esse é o nosso planeta. — Dalia puxou a cadeira, sentando, ainda chocada. — O que isso significa? O que é isso, Talia?

    — Eu recebi uma mensagem, senhora. Hoje cedo quando fiz o experimento. Chegou para nós sem querer, mas eu reconheci… — ela comprimiu os lábios. — É o meu irmão. É o Dante.

    Dalia pôs a caneca em sua mesa, observando cada detalhe da imagem. Talia não sabia o que ela pensava, mas Tecno, Freto e Crish disseram que a Oficial Dalia nunca sentiu tanta dor em perder algo na vida como foi com Dante.

    Por algum motivo, a afinidade que ela teve com seu irmão fez Talia a respeitar. Não somente isso, mas como a Oficial também cuidou de todos os seus estágios de recrutamento para o Comando. Não tinha muito contato no dia a dia, mas sempre a respeitou como se fosse sua própria irmã e superiora.

    E pela forma como Dalia respeitava Dante, era notável que suas emoções não estariam tão frias quanto aparentava minutos atrás.

    — Esse lugar — o dedo de Dalia apontava. — É Kappz, não é? Nossa.

    — Conhece o lugar, senhora? Se pudermos ir até lá, seria possível que Dante possa voltar. Talvez se…

    Dalia ergueu a mão e ela se calou na hora.

    — Kappz não é mais o mesmo lugar que me contaram ser.

    O armário no canto. A Oficial abriu a porta e retirou um rolo largo. Talia a ajudou a carregar para o centro da sala, empurrando a mesa e as escrivaninhas para a lateral. Quando rolou o pergaminho enorme, ele se mostrou ser um mapa. Bem detalhado, com descrições e até mesmo irregularidades que indicavam a vegetação e montanhas erguidas.

    Era imensa, Talia nunca tinha visto um mapa tão largo e tão bem desenhado.

    — Eu ganhei isso quando me formei — comentou Dalia. — Queria viajar pelas cidades que conheci na biblioteca, lendo. E Kappz, o Berço da Criação, se encontra aqui.

    O ponto vermelho marcado ficava praticamente depois de dois oceanos, três continentes, bem isolado de tudo. Talia tinha esperanças de que não fosse tão longe da Capital, mas Dalia marcou o segundo ponto, parecendo que ambas as cidades eram divididas entre o céu e a terra.

    A cara da Oficial era de reflexão, fitando os mapas com cautela.

    — É distante demais — disse ela. — Mais do que qualquer lugar que uma pessoa daqui já foi.

    — Mas, mesmo assim, senhora. Se pudermos pelo menos pisar lá.

    Dalia negou com a cabeça, na hora. A esperança que ela tinha ali era diferente de antes. Era resoluta, impassível.

    — O que podemos fazer é entender como ele foi parar lá. Pelo portal, mas não temos como caminhar para Kappz. Demoraríamos mais de duas décadas se fossemos até lá. Antes da queda da civilização, havia portais, como o que usamos, interligando uma cidade a outra, mas foram os primeiros a serem derrubados. Não tem como ele chegar até nós e nem nós a até eles.

    Talia voltou a encarar o rosto do seu irmão no holograma. Tão perto e tão longe…

    — Mas, alguma coisa aconteceu lá — continuou Dalia, olhando para o mapa. — E que chegou até a gente de alguma forma. Então, eles podem não ter comunicação como a gente. Kappz caiu cedo, uma das primeiras, mas não porque eram inconsequentes, mas porque existiam pessoas que acreditavam numa ideologia ariana. Meu tutor me contou isso. Se Dante está indo na direção de reacender a cidade, então, é só uma questão de tempo para que eles batam de frente.

    — Eles quem, senhora?

    Dalia a fitou.

    — A Cidade Ariana, o Aquário Feudal — parecia que sua resposta era óbvia. — GreamHachi.  

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