Índice de Capítulo

    A maldição do demônio bufão chegou ao fim. Nem mesmo um diabo ancestral conseguiu resistir ao reforço vindo do Reino Sagrado de Arvilius. Sob o comando de Julius Hule, o cavaleiro sagrado mais poderoso do continente, a barreira foi destruída, e a energia demoníaca dissipada. A situação foi rapidamente avaliada.

    No final, entre os 127 membros, apenas um pereceu. Ninguém ficou ferido. O problema era que eles não haviam conseguido nenhum saque.

    Perry Martinez, líder da equipe Lavaat, suspirou profundamente diante do resultado decepcionante.

    “Eu achava que tínhamos uma boa chance…” pensou ele.

    De fato, masmorras eram jogos de sorte. Podia-se lutar arduamente para chegar ao centro apenas para encontrar um bando de monstros mortos-vivos ou descobrir que o artefato conquistado com tanto esforço estava corrompido por energia demoníaca.

    No entanto, isso era algo típico de masmorras pequenas ou recentes, criadas no último século. Masmorras de barreira, especialmente as antigas, com séculos de existência, prometiam muito mais.

    Infelizmente, o resultado foi um fracasso total. A masmorra em que investiram tanto dinheiro e tempo revelou-se um covil de demônios. Tudo o que encontraram estava corrompido por maldições. Para piorar, nem mesmo tiveram a honra de derrotar um diabo ancestral.

    “Não que eu não entenda, mas…” resmungou Perry.

    Sem exceção, os diabos nascem no reino demoníaco. Os que surgiram séculos atrás só conseguiram entrar neste mundo pelas fissuras criadas pelo caos no continente. Por isso, o reino sagrado proibia guerras entre as nações. Apenas limitando a desordem no continente era possível manter as fissuras interdimensionais seladas e os diabos afastados. Assim, a notícia de que outro diabo apareceu após 150 anos precisava ser mantida em segredo.

    No fim, a equipe Lavaat não obteve nem riqueza nem honra com a masmorra, apesar de seus esforços.

    — Hunf… — suspirou Perry.

    Seu único consolo era a promessa de Julius Hule, Capitão dos Cavaleiros Brancos e líder dos reforços, de oferecer alguma compensação, embora ele não soubesse quanto. Seria bom se fosse uma quantia alta, mas não podia reclamar se fosse pouco. Afinal, quem ousaria contestar o reino sagrado, que não só era o mais poderoso, como também o mais legítimo?

    “Além disso…”, pensou o velho mago, fechando os olhos e recordando o momento do resgate.

    O carisma de Julius Hule, o maior cavaleiro sagrado do continente, surgindo envolto em luz, era uma visão memorável. Mesmo ele, que sempre viveu com orgulho, sentiu-se tenso.

    Mas não foi a chegada de Julius que surpreendeu Perry. Todos já sabiam o quão grandioso ele era. O que chamou sua atenção foram os outros que o seguiam. Ele reconheceu alguns daqueles rostos.

    “Eu pensei que estivessem mortos…”, pensou Perry Martinez, ao recordar o velho rabugento entre eles.

    Concluindo que uma negociação não era possível, ele começou a escrever ao rei de Lavaat.


    Fazia uma semana desde que a equipe de expedição escapara do covil do demônio bufão. Felizmente, nada aconteceu. Embora alguns sofressem mentalmente, os altos sacerdotes da capital do reino sagrado fizeram milagres, curando suas mentes e corpos rapidamente enquanto investigavam o local. Os membros da expedição voltaram em paz, livres de responsabilidades, mas com um severo aviso para não falar sobre o incidente.

    “Todos parecem ter muito a dizer”, pensou Airen, acenando com a cabeça ao relembrar a ameaça quase explícita do reino sagrado.

    Para ser honesto, ele entendia como as pessoas se sentiam. Haviam gasto toda sua energia nesta expedição apenas para sair de mãos vazias, sem sequer honra. Era natural que se sentissem injustiçados. Mas Airen não se importava. Ele não enfrentou o diabo nem invocou sua espada dourada para ganhar algo.

    “Ainda assim, consegui muito”, refletiu.

    Primeiro, derrotou o demônio bufão, seu arqui-inimigo do passado. Sentia-se aliviado, não apenas pelo fato de o continente estar em paz, mas também por ter obtido sua vingança.

    Além disso, ele cresceu em suas habilidades. Sua espada larga se fortaleceu ainda mais graças ao vínculo com Karin Winker, e ele adquiriu novas técnicas com Ignet Crecensia.

    “Na verdade, consegui algo até maior do que artefatos de masmorra” concluiu Airen Farreira com um suspiro antes de abrir os olhos e ver Illia Lindsay ocupada treinando.

    Seus movimentos não pareciam muito habilidosos ou chamativos. Na verdade, aqueles que não a conheciam bem poderiam dizer que ela não tinha talento.

    No entanto, Airen, o espadachim e feiticeiro, sabia que ela estava incorporando a espada do herói, não, a espada da mente, a si mesma. Logo, ele também se juntou a ela.

    Swoosh!

    Wooosh!

    Mais uma vez, teve de admitir que era incrivelmente difícil aprender a espada da mente. Sentia-se como alguém que nunca se movera na vida tentando fazer acrobacias pela primeira vez. Como espadachim aprendendo a sentir a aura, não podia controlar simultaneamente o armazenamento, fortalecimento, endurecimento, aprimoramento, concentração e materialização. Airen precisou começar com o básico para se acostumar à espada da mente.

    Swoosh! Wooosh! Swoosh!

    Esvaziando a mente, sentindo o corpo, trabalhando a aura e adicionando a Arte dos Cinco, Airen refinava sua espada, dando fogo ao metal.

    No entanto, começou a escorregar. Sua espada vacilava, assim como sua respiração e postura. Airen sabia o motivo. Retirando a espada e sentando-se em um banco, ele refletiu.

    “Vim aqui para ver Ignet.”

    De fato, ele veio à região central do continente para ver Ignet Crecensia. Ainda lembrava do que ela o chamou em Derinku um ano e meio atrás.

    — Um pirralho segurando o aço que não consegue controlar.

    Ela estava certa. Por isso ele ficou furioso e indignado. Tão irritado que imediatamente visualizou o rosto de Ignet, pronto para mostrar a ela seu crescimento quando forjou sua espada após ver sua vida passada. Airen queimava por Ignet.

    Ainda assim, conseguiu mostrar algo. Em vez de se perder no ritmo dela, exibiu sua recém-forjada espada. Não recuou diante dela, mas mostrou sua vontade. Sentiu-se bastante satisfeito e confiante quando Ignet olhou para ele surpresa, ao menos até entrar na masmorra.

    “Não sou bom o suficiente…”

    Airen fechou os olhos, lembrando claramente o que aconteceu na masmorra, como se tivesse ocorrido há pouco.

    A forma como a espada de Ignet atingiu o demônio bufão, como ela bloqueou a explosão sozinha e como ofereceu ensinar a espada do herói, apesar de seus ferimentos graves, não saíam de sua mente.

    Ele sabia que seus sentimentos eram inúteis. Afinal, Brett não disse que não havia herói melhor ou pior? Que, fosse forte ou fraco, era significativo o suficiente trilhar esse caminho?

    Mas agora, ele não tinha certeza…

    Airen abriu os olhos, recordando como os cavaleiros sagrados olharam para Ignet. Foi quando notou uma figura familiar diante dele.

    — Sir Georg — murmurou Airen.

    — Faz tempo, Airen — cumprimentou Georg.

    — Bem, suponho que não tanto. Mas é a primeira vez que nos vemos cara a cara desde nosso reencontro…

    Georg Phoibe estendeu a mão educadamente. Airen Farreira hesitou antes de aceitá-la.

    Após o aperto de mão, Georg perguntou se podia sentar. Airen assentiu, enquanto Illia parava para observar.

    Passou-se cerca de um minuto até que Georg abriu os lábios.

    — Posso pedir-lhe um favor? — perguntou ele.

    — Que tipo de favor…? — respondeu Airen.

    — Quero perguntar o que aconteceu durante o ano e meio desde a última vez que nos vimos.

    — Sei que posso estar ultrapassando limites, mas minha curiosidade falou mais alto.

    Georg estava sério. Mesmo no salão de banquetes, ele pôde perceber que Airen havia crescido muito, tanto mental quanto fisicamente, a ponto de até mesmo sua capitã ter ficado intrigado.

    No entanto, sua curiosidade só atingiu o auge agora.

    — A capitã mudou — disse Georg.

    — Talvez não muito, mas mudou. Acho que… é por sua causa, Airen Farreira. Mas não entendo — explicou ele.

    — O que você quer dizer? — perguntou Airen.

    — Eu não sei como você influenciou a capitã.

    — A capitã tem sido uma pessoa firme desde que a conheci — disse Georg, relembrando os velhos tempos.

    Seja há dez anos, quando ela corrigiu sua insolência na força, ou agora, como capitã no Reino Sagrado, usando palavras sofisticadas, Ignet sempre foi a mesma. Como se tivesse nascido completa, ela seguia seu caminho sem hesitar.

    Agora, aquela capitã havia mudado. Embora continuasse tão confiante e orgulhosa como sempre, algo parecia diferente.

    Georg sabia disso. Afinal, mesmo que Ignet nunca tivesse prestado atenção nele, ele passou dez anos observando-a. Por isso, sentia-se um pouco amargo ao perceber que alguém tão efêmero pôde influenciá-la, enquanto nem ele nem Anya conseguiram.

    Ainda assim…

    “Não posso negar que é graças a este jovem que a capitã finalmente está abrindo o coração”, pensou Georg.

    Essa foi a razão pela qual ele procurou Airen. Georg sabia que não podia se comparar a Ignet, não apenas em habilidade, mas também em percepção. Como não tinha ideia do que ela sentia, decidiu procurar Airen e ouvir sua história. Sem isso, ele não poderia seguir sua capitã.

    — Foi por isso que vim até você… — admitiu Georg.

    Airen o observou antes de olhar para o céu. Não havia razão para não contar a história. Embora ele e Georg não tivessem se encontrado em boas circunstâncias no passado, todos os sentimentos amargos haviam se dissipado. Porque sabia o quanto Ignet significava para Georg, Airen decidiu contar-lhe toda a história.

    Mas antes disso, ele tinha uma pergunta.

    Observando Georg com os olhos de um feiticeiro, perguntou:

    — Eu contarei a história…

    — Obrigado… — respondeu Georg.

    — Se você me contar o que está escondendo — completou Airen.

    — Há algo que você está escondendo… sobre Ignet e o diabo, certo?

    Os olhos de Airen Farreira brilharam, seus sentidos aguçados analisando a mente de Georg.

    O Tenente-Capitão dos Cavaleiros Negros sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele não deveria ter perguntado… Mas agora, não havia como fugir.

    Airen parecia enxergar tudo. Ele apenas perguntava para confirmar.

    — O reino sagrado acredita… que o bufão ainda pode estar vivo — Georg Phoibe disse com um suspiro.


    A porta da sala de reuniões se abriu abruptamente. Alguns cavaleiros sagrados olharam com irritação.

    A sala estava cheia de figuras importantes que até mesmo o Capitão dos Cavaleiros Negros reverenciava. Imaginar que alguém entraria sem permissão…!

    No entanto, os intrusos pareciam não se importar. Lá estavam dois jovens espadachins com menos de trinta anos e uma gata flutuante.

    — Ouvi dizer que o demônio bufão ainda está vivo — disse o homem loiro.

    — Também ouvi que há vários diabos escondidos pelo continente e que uma equipe será organizada para exterminá-los — continuou o jovem.

    — E? — questionaram os cavaleiros.

    — Resumindo, queremos nos juntar à equipe.

    — Para quê?

    A reação foi menos do que amigável.

    É claro que Airen não podia esperar nada diferente, considerando que estava praticamente invadindo e se queixando. Ele olhou para o velho calvo que o encarava de volta.

    “Ele é forte.”

    Embora a quantidade de aura não determinasse a força de um espadachim, era um dos padrões objetivos.

    Tendo escaneado a aura de todos na sala, Airen percebeu que o velho possuía a maior aura, ficando atrás apenas de Julius Hule.

    “Quem é ele?”, perguntou-se.

    O velho não parecia ser nenhum dos dez espadachins mais conhecidos do continente. No entanto, parecia tão formidável quanto Karakhum, o guerreiro.

    O velho levantou-se e falou:

    — Venha aqui.

    — Perdão? — perguntou Airen.

    — Você parece muito confiante em suas habilidades, então venha aqui e mostre-nos — declarou o velho.

    — Espero que tenha coragem suficiente.

    Olhando de volta para o velho, que o encarava friamente, sem admiração nem desprezo, Airen Farreira assentiu.

    — Eu tenho — respondeu.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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