Índice de Capítulo

    Na manhã seguinte em que Leonard viajou, Calli estava tendo uma insônia.

    Essa provavelmente era a primeira vez que o mais velho ficaria longe dos dois por tempo indeterminado e isso, sem sombra de dúvidas, lhe dava uma sensação azeda.

    Observando por instante James ainda dormindo, ele se levantou e foi até a sala.

    Lá, sentou-se em frente a um porta-retrato 1 de sua avó Morgiana, a foto por algum motivo, o dava esperança, mas também um sorriso de dor.

    “Desde aquele dia, vovó…”

    Passou a manga da camisa no vidro da moldura, tentando limpar ainda mais aquilo que todos os dias fazia questão de se certificar de não haver poeira alguma.

    “Todos nós mudamos desde aquele dia… Você tinha mesmo que ir?”

    Doía em seu peito essa perda de alguém que ele mesmo considerava como mãe, um reflexo daquilo que ele deveria seguir.

    Lágrimas silenciosas escorriam em seu rosto mal iluminado pela luz do sol que espreitava entre as cortinas.

    — Sabe… Desde aquele dia, todos nós tentamos aprender o máximo do legado que você havia passado…

    Reuniu forças, embora sentado, sentia as próprias pernas perderem a força, enquanto um nó na garganta o percorria.

    — Mas sabe? Até sorrir nas mais diversas adversidades se tornou um desafio… Não pelo mundo, mas pela lembrança de você, vovó…

    Percebendo o horário, Calli se apressou para guardar o quadro no lugar onde deveria estar e enxugou suas lágrimas. Não gostaria de demonstrar a sua lástima a seu irmão mais novo e por isso permaneceu quieto, encostando o corpo na parte de trás do sofá.

    Aos poucos, começou a escutar James acordando e se preparando para ir às aulas daquele dia, e olhando para a mesinha em sua frente.

    Notou um bilhete estranho que parecia ter caído do quadro quando guardou, mas isso era estranho… Afinal, essa não havia sido a primeira vez que mexeu no quadro.

    “Como isso é possível?”

    Na parte da frente do bilhete estava escrito “Para Calli e o seu futuro”, ponderando-se por alguns instantes, não entendia completamente o porquê se sentia atraído em ler o outro lado, mas escutando os passos de James se tornando cada vez mais próximo, escondeu o papel em seu bolso.

    “Por que estou caindo em algo que claramente deve ser mentira?”

    “Mas ainda sim… Me sinto atraído…”

    “Quem será que colocou isso? O Leonard? Ou o James?”

    “Não… ambos não fariam sentido, eles não brincariam com algo assim…”

    Recebendo uma possível iluminação, Calli observou aquilo que havia além da janela e o sol, como se observasse o nada.

    — Sophie? — Disse baixo para ele mesmo.

    Mas isso não faria sentido, foi algo muito repentino, por que ela faria isso?

    Existe algum mistério por trás do desaparecimento?

    Ela planejou algo? No que realmente está envolvido o seu desaparecimento?

    “Se me lembro… Ela não apresentava nenhum sinal… Embora não fosse a melhor das mães, ela ainda tinha um pouco de responsabilidade…”

    Após a saída de James para as aulas daquele dia, o jovem loiro permaneceu sozinho dentro da casa.

    — Finalmente… Agora posso ler…

    Não entendia direito porque desejava esconder dos outros, o papel, mas já havia sentido isso anteriormente também, não foi?

    “A mesma sensação daquele livro…”

    Um pouco surpreso e decidido ainda mais omitir algumas informações como se fosse comum, Calli desdobrou o papel, buscando algo.

    Mas, diferentemente daquilo que pensava, tudo o que tinha era um endereço. Apenas um endereço e que, mesmo assim, o deixava com um sentimento amargo na boca.

    Digitando no celular o endereço, o jovem percebeu que o mesmo ficava em Ottawa, um lugar perto de um cemitério que nunca havia visitado.

    A área em si era longe de tudo aquilo que já andou pela grande cidade.

    “Isso só pode ser uma brincadeira, não é?”

    — Mas ainda sim… Eu sinto vontade de ir até lá.

    De certa forma, decidido, o jovem se levantou e subiu novamente para o segundo andar.

    Lá, buscou algumas roupas no guarda-roupa e foi tomar banho.

    Saindo do chuveiro e em frente ao espelho, o mesmo vestiu uma camisa de linho manga longa branca com o símbolo de três azaleias vermelhas, uma calça preta de alfaiate e um cachecol velho carmesim.

    Por ter um cabelo relativamente longo, Calli ajeitou, deixando mechas caírem suavemente sobre sua testa e fez um cabo de cavalo preso atrás, deixando ainda algumas partes soltas nas laterais da cabeça.

    “Acho que agora está pronto…”

    Estando pronto, Calli saiu finalmente de casa, já eram dez horas da manhã.

    Chegando finalmente a seu destino, o jovem pagou o motorista e desceu do carro, sendo deixado sozinho naquela área.

    Por ficar em uma área subalterna, era comum que não tivesse tanto movimento, mas nesse lugar não havia movimento nenhum…

    “Está certo isso? Por que ela deixaria um bilhete para ir em um lugar tão abandonado?”

    Seguindo em frente, ao lado do cemitério, Calli percebeu um armazém abandonado, este que, por sua vez, batia com o endereço do papel.

    “Mas… Se está abandonado assim, como eu entraria? Não… Eu não vou ter que invadir, não é?”

    Embora soubesse que era moralmente errado, sentia como se um fluxo estivesse o atraindo, era uma sensação esquisita, aos poucos ele havia começado a ganhar características que não tinha anteriormente.

    Não era de seu feitio omitir e ele o fez. Não era normal ele mentir… Mas ele também já mentiu.

    Agora invadir um lugar, isso parecia uma ideia tão errada, mas que ainda sim…

    “Por que isso está acontecendo? Desde quando eu comecei a mudar tão rápido?”

    Andando de um lado para o outro, ele começou inconscientemente a analisar as possíveis rotas para que entrasse e saísse daquele armazém se preciso.

    Delineando um caminho, tacou o “foda-se” para a sua moralidade e seguiu o caminho, aproveitando uma cerca falha e degradada.

    “Está esfriando…”

    Embora os indícios lá fora fossem de que não havia sinais de pessoas ou até mesmo estar funcionando, o armazém por algum motivo exalava o frio quanto mais chegava perto.

    “É isso, Calli… Se você encontrar alguém, só diga que se perdeu, está no lugar errado e saia, sim… É só fazer isso…”

    Tensionado pelo momento, olhou em volta e se esgueirou com cuidado para dentro do armazém, mal sabendo o que lhe aguardava lá dentro.

    1. Nota: na realidade, é mais uma errata, no capítulo 32, havia dito ser um quadro, mas para melhor entendimento trataremos como um porta retrato daqui para frente[]

    Nos vemos novamente hoje ou amanhã!

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