No outro dia, Kael levantou e acordou a todos. Eles se arrumaram e desceram enquanto Kael fechava o quarto. Quando chegou ao térreo, entregou as chaves ao velho e fez seu último pagamento. O velho agradeceu e disse:
    — Voltem mais vezes.

    Eles caminharam para fora do lugar, que estava coberto por uma leve neblina. Desceram a rua em direção ao porto, que estava quase deserto, e seguiram até o ponto de encontro. Era bem cedo, tão cedo que Lótus ainda cambaleava, quase caindo no primeiro lugar que achasse confortável.

    Durante o trajeto, eles encheram Kael de perguntas sobre o homem chamado Hassini. Ele explicou poucas coisas, mas o suficiente. Para Kael, Hassini era mais que um amigo: era como um irmão, alguém com quem ele tinha realizado várias missões importantes e, mais do que isso, a pessoa que o apresentou a Mila.

    Kael usava roupas leves e frescas. Apesar do sol já ter aparecido, o frio era intenso, e ninguém mais ousou vestir algo parecido. De longe, eles avistaram o homem alto, de cabelos avermelhados, parado no local combinado.

    — Bom dia! — gritou Hassini, acenando para eles.

    Eles acenaram de volta. Quando chegaram mais perto, avistaram o barco que antes só conheciam através de livros. Enquanto Kael conversava com Hassini, os três correram para dar uma boa olhada na embarcação.

    O barco tinha um casco escuro e largo, a madeira marcada pelo sal do mar, com várias incrustações espalhadas. Suas velas, velhas e sujas, estavam um pouco arranhadas e rasgadas, mas ainda funcionais. Os mastros altos e robustos sustentavam toda a estrutura. Havia dois canhões de cada lado, pouco enferrujados, e as cordas amarradas nos cabos estavam visivelmente desgastadas. O barco balançava suavemente ao ritmo das ondas, enquanto os meninos olhavam fascinados para cada detalhe.

    Nossa! pensou Luca, esticando a mão para tentar tocar o barco.

    Que incrível! pensava Lótus, enquanto continuava a analisá-lo de perto, seus olhos percorrendo cada detalhe.

    Bacana! pensou o terceiro, com um brilho discreto nos olhos, que ele tentou esconder.

    — E aí, galerinha, não fala mais comigo, não? — perguntou Hassini, brincalhão.
    — Ah, oi — respondeu Lótus, assustado. — Esse é o barco que vamos usar para ir ao mar?
    — Esse mesmo! E quem comanda ele é aquele cara ali. Respeitem ele ao máximo, hein! — respondeu Hassini, apontando para um homem que parecia jovem, talvez com cerca de 26 anos.

    Os meninos olharam para ele admirados. Era um rapaz de cabelo ondulado e preto, que batia nos ombros e balançava ao vento. Seu rosto tinha um maxilar bem marcado, e seus olhos castanhos eram comuns, mas expressivos. Ele usava um manto ciano que cobria apenas os ombros e as costas, que se levantavam levemente ao passar do vento. Por baixo, vestia uma camiseta bege, calça clara e uma sandália simples. Caminhava tranquilamente pela embarcação. Ao notar os meninos, acenou para eles com um sorriso fofo no rosto.

    — Ele é maneiro mesmo — disse Hassini, observando o rapaz junto com os meninos. — Quando o conheci, ele tinha a idade de vocês. Acho que envelheci muito.
    — Tu é maneiro também — afirmou Luca.
    — Nah, não tem como.

    O som de uma tábua batendo na madeira do porto foi seguido por uma voz equilibrada e suave.
    — Vamos! — anunciou o jovem do barco.

    Os meninos atravessaram a tábua sem nem pensar.

    — Senhor, podemos explorar o navio? — perguntou Lótus, empolgado.
    — Claro! — respondeu o rapaz com um sorriso no rosto. — Não há problema algum, desde que não quebrem nada importante.

    Quase imediatamente, eles se espalharam pelo navio, começando suas investigações. Luca foi direto para a cabine principal, o provável local onde o jovem rapaz ficava. Lá dentro, encontrou uma mobília robusta de madeira. No centro, havia uma grande mesa, com alguns mapas e documentos espalhados por ela. Ele se sentou em um sofá de couro e olhou ao redor, analisando as cadeiras de madeira e tentando encontrar algo escondido.

    Infelizmente, nada interessante apareceu, mas o mapa na mesa chamou sua atenção.

    Ao lado, ele viu um grande baú de ferro. Não tentou abri-lo, pois um cadeado gigante e enferrujado o protegia. As paredes eram cobertas por um tecido estranho, decoradas com objetos como conchas de diferentes tamanhos, lanternas e imagens de pessoas que já haviam sido capitães daquele navio.

    Luca se aproximou e leu algumas das placas nos quadros:
    “Augusto Lampart, o maior capitão que este navio já teve.”
    Era um homem de rosto redondo, olhos expressivos e sobrancelhas grossas. Seu cabelo era bem raspado, e sua pele era negra. Ele usava um brinco simples, porém destoante de sua roupa preta e amarela, que era extremamente elegante.

    “Alexiandra N. Lampart, a maior capitã que este navio já presenciou.”
    Era uma mulher de beleza marcante, com lábios volumosos, nariz fino e cabelos lisos e escuros. Sua pele era muito clara, quase pálida. Vestia uma roupa toda branca com botões pretos, que lhe dava um ar imponente.

    No canto da cabine, havia um móvel com portas de vidro, cheio de garrafas enfileiradas. Curioso, Luca se aproximou e leu em uma delas: “Luinei.” A garrafa trazia a imagem de uma mulher loira, magra e esbelta, apontando para o rótulo. Ele forçou os olhos para decifrar as letras pequenas logo abaixo da figura:
    “Diretamente de Aurenith, a melhor bebida alcoólica.”

    Luca franziu o rosto, intrigado. Ele se perguntou o que era uma bebida alcoólica, mas não se demorou ali. Saiu da cabine e foi explorar outros locais.

    Enquanto isso, Lótus desceu para o andar inferior do barco, onde a parte dos canhões se separava dos quartos.

    — Aqui embaixo é bem grande — murmurou.

    No corredor, viu cordas penduradas e lanternas a óleo acesas, que ajudavam a iluminar o ambiente com a ajuda das janelas e do sol. Também havia caixas e barris empilhados no canto, contra a parede; alguns dos barris estavam abertos, com mapas rasgados, documentos e papéis escritos em letras diferentes do habitual. O cheiro predominante era de madeira úmida e sal do mar.

    Ao entrar em um dos quartos, ele viu beliches de madeira, projetados para economizar espaço no ambiente. Deitou-se em uma das camas: eram simples, com colchões e cobertas limpas e macias, além de travesseiros aconchegantes, ainda que apresentassem alguns furos. Não era um problema.

    Ele se levantou e começou a vasculhar o quarto. Encontrou roupas em alguns baús — eram de todos os tipos, e nenhuma estava suja. Também encontrou algumas botas de couro.

    Ao sair do quarto e explorar outro, notou armários no corredor. Abriu alguns, e lá dentro encontrou ferramentas e até cordas. No próximo quarto, havia espelhos que refletiam a luz do sol que entrava pela janela. Um ambiente bem comum.

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