Capítulo 14 (XIV) — Tripulação.
Karl ficou na parte superior do navio com os ventos cortando seu rosto enquanto notou remos de madeira cuidadosamente arrumados em suas cordas, um bote pequeno e várias cordas penduradas.
Um barco pequeno… talvez seja usado para alcançar lugares difíceis…
Caminhou até o meio do navio e viu um balde de ferro no canto, com água e esponjas ao lado. Algumas garrafas com líquidos desconhecidos estavam espalhadas pelo local. Havia mochilas e bússolas presas à madeira, além de cadernos de anotações sobre mesas fixadas no chão. Ele também notou uma gaiola com um pequeno pássaro. Suas asas eram pretas, o corpo branco e o bico de um amarelo vibrante.
Hassini apareceu ao lado de Karl, com um sorriso discreto no rosto.
— E aí, Karl. Seu nome, né? — perguntou Hassini calmamente, encostando-se no navio.
— Sim, por quê?
— Nossa, você sempre foi tão direto assim?
— Talvez, não sou de falar muito.
Hassini riu disfarçadamente, mas antes que pudesse falar foi interrompido pelo capitão que gritou em direção ao porto:
— Tripulação Lamart! A bordo!
Três pessoas estranhas, que estavam no porto realizando atividades diferentes, uma delas bebiam, a outra saiu de uma loja de roupas e a última estava com um item estranho que o pôs na cintura, atendiam ao chamado e subiram a bordo.
O primeiro a subir foi um homem alto, com pele negra e cabelo trançado de forma impecável. Seus olhos brilhavam com energia e confiança. Ele vestia roupas chamativas que se destacavam contra o fundo do navio e usava algumas fitas nos dedos.
Logo em seguida, veio uma moça jovem, parda, com sardas no rosto e cabelo preto despenteado. Ela andava de um jeito peculiar: na ponta dos pés, enquanto carregava algo parecido com um pergaminho.
Segundos depois, outro cara meio velho subiu. Era forte, de estatura mediana, usava uma bota estilosa e uma boina feia. Ele era branco, tinha cabelo liso penteado para um lado e uma sobrancelha grossa, e sua maneira de andar era estranha, dando pequenos pulos.
Todos eles foram cumprimentar Kael, e um deles parecia conhecê-lo, Kael parecia estar nervoso, coçava a nuca enquanto interagia. O rapaz negro com roupas elegantes pulou de alegria ao vê-lo, enquanto Karl observava, sem entender o motivo.
— Seu pai é famosão, olha lá! Fez várias missões contra criaturas e monstros. Ó, tempo bom que não volta mais… Bom, era bom quando a gente não tinha perdido ninguém, né? Fomos um grupo famoso, até que sua mãe ficou grávida. Aí ele perdeu o fogo que tinha pra continuar lutando. É isso, uma hora todo homem se aquieta.
Mesmo que não demonstrasse, os olhos de Karl se enchiam de admiração.
O homem da boina se aproximou de Karl e estendeu a mão.
— Falai, rapazigo, comcêta? — Ele falava muito rápido, com uma voz engraçada e meio estranha.
— Bem, eu acho — respondeu Karl, hesitante.
— E aí, velho Churra! — disse Hassini, animado.
— Saí daqui! Cê é macaco véi, conheço já. — Resmungando, o homem saiu enquanto inspecionava cada detalhe do barco, dando seus pequenos pulinhos enquanto andava.
— Esse aí é gente boa. O nome dele é Bartolomeu Churra, mas a gente só chama ele de Churra mesmo. Só não pergunta nada que faça ele demorar muito pra responder, pois quando ele responder, você não vai entender nadinha — explicou Hassini. — Ele é a pessoa que verifica se tá tudo bem com o navio e repara os danos, caso necessário. Pego caronas com eles quando possível.
— Ah, entendi isso. Tá, e aquela ali que tá conversando com o Luca?
— Ela mexe nos mapas e também é a namoradinha do capitão. Ela tem muita influência sobre quem entra nesse navio. E, aproveitando, o cara de tranças ali é quem controla o leme do navio, aquela coisa redonda que gira e faz o navio ir de um lado ao outro. De resto, é só.
— Ah, entendi.
— Você só fala isso, é?
— Não.
— Enfim, acho que vou descer e escolher logo meu beliche e minha cama. — Hassini desceu as escadas, deixando Karl sozinho.
Finalmente, o navio zarpou, suas velas tremulando ao vento enquanto o som das cordas sendo ajustadas com todos trabalhando nas suas respectivas funções. Não demorou muito para eles se afastarem da costa, o vento estava bem forte e levou o barco para longe rapidamente. Ao ver a costa se afastando cada vez mais, Karl sentia que aquele dia era mais especial que o normal. Luca, coitado, começou a passar mal, ficou enjoado muito facilmente. Lótus e Kael tentaram ajudá-lo, mas nada funcionou.
A noite chegou, as tochas foram acesas por todo o barco, e foi o único momento em que todos ficaram na parte de cima, enquanto começaram a escutar várias histórias de Churra:
— Aí, gente, tava lá, no meio do nada, sem ninguém, o capitão Turt falou: “Estamos no caminho certo.” Eu disse: “Como é que você sabe, capitão?” Aí ele disse, se liguem, ele disse bem assim ó: “Olhe pra frente e veja você mesmo.” Aí a ilha tava lá bem na minha frente, eu olhei de canto assim ó, e não era mentira não, ó, ela tava bem lá mesmo.
— Foi assim, Churra? — perguntou o capitão rindo. — Meu nome sempre foi Turt?
Todos estavam rindo de Churra e suas histórias viciantes, não porque todas eram boas, mas porque ele sabia contá-las de uma forma que todos achariam graça.
— É sério, rapa, é que seu nome é difícil demais, Stur, Sturti, chamo logo de Turt.
— A gente aceita, Churra, a gente aceita.
— Capitão Stuart Lamart — disse a mulher, encostando no capitão. — Não se acham mais homens corajosos como esse.
— Churra, a quem diga — respondeu Kael, rindo com todo mundo.
O homem trançado, que não parecia mais velho nem mais novo que Stuart, de onde estava, fez um pedido:
— Então, Kael e Hassini, vocês poderiam contar uma das suas histórias, não? — No momento em que ele falou isso, as crianças começaram a prestar ainda mais atenção.
— Calma, Mateo, também não é assim, logo de cara, nossas histórias são lendárias! Merecem ser contadas com um clima… — disse Hassini.
— Qual é, não seja assim com nosso apreciador, conte uma, vai — disse Kael.
— Tudo bem… Então, contarei uma.
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