Capítulo 40 — Dia de Investigação

Após os preparativos dos cinco estarem completos, o momento havia finalmente chegado, essa era a hora para começarem a investigar os mistérios de Eden Hollow. Por algum motivo, a tensão pairava no ar, cada um deles sentia de forma diferente isso, embora o vilarejo à sua frente parecesse calmo demais para ter algum mistério ou algo assim.

— Uh… Senhor Cassiano, como deveríamos começar? — indagou Leonard, seu olhar deslizou pelo cenário monótono lá fora, onde os habitantes seguiam suas vidas sem sinais de diferenças.

Cassiano franziu o cenho, mas antes que pudesse responder, havia sido cortado.

— Primeiro, precisamos reunir informações sobre o que está acontecendo, se eles estão com a ameaça verdadeira do Wendigo, irão comentar, hora ou outra acredito — comentou Katherine, andando descontraída.

Cassiano assentiu levemente, preferindo guardar suas palavras. Para ele, a abordagem que Katherine escolheu era prática o suficiente.

“Entendi…”, Leonard estava com um certo nervosismo palpável em seu peito.

Próximo a uma das casas, eles avistaram um homem alto, na casa dos cinquenta, vestindo uma jaqueta vermelha gasta e um machado em mãos. O rosto dele era marcado por rugas que carregavam uma expressão animada, de certa forma, destoante do clima gélido e sombrio que deveria assombrar o vilarejo. Cassiano e Katherine se entreolharam antes de caminharem em direção a ele, aparentavam conhecer o senhor.

Os três perderam o timing, mas também foram até o senhor e os outros dois, Claire e Liam, olhavam para os mais diversos lados.

— Bom dia, Senhor Luke. Como está? — comentou Cassiano, sua postura não mais tão engessada.

— Ooh, Cassiano! Que bom que você está aqui! — respondeu Luke enquanto reunia algumas coisas, após alguns instantes ele interrompeu o que estava fazendo para estender a mão e apertar a de Cassiano. — Katherine! Vejo que vocês seis ainda andam colados um no outro.

Katherine, que estava um pouco atrás, seguiu seus comprimentos, em determinado momento o vento parecia ter ficado ainda mais gélido, fazendo-a ajustar o casaco. — Bom dia, Senhor Luke. 

“Essas pessoas… todas estão felizes, como se nada de errado estivesse acontecendo… por alguns instantes também tive essa impressão de normalidade, se não fosse a neve.”

Enquanto o grupo interagia com o senhor, Leonard que estava inquieto, começou a olhar apressadamente para os caminhos assemelhados às ruas. Algo no vilarejo estava de fato errado, embora ele não conseguisse distinguir o que era.

Os caminhos de neve estavam cheios de vida e os moradores pareciam ocupados por suas tarefas cotidianas.

— Ei, Liam — comentou Claire.

— O que foi? — Ele se virou para a direção dela.

— Como será que podemos fazer para descobrir algo? Não tivemos nenhum treinamento assim…

Liam se questionou por alguns instantes, percebendo que a conversa de seus dois veteranos com aquele senhor provavelmente demoraria, se sentia perdido, buscando alguma solução, ele olhou em direção a Leonard que se mantinha indiferente olhando para os outros lados.

— Acho que nos separarmos e irmos reunindo informações, seria uma boa ideia, não é? — comentou, aguardando a opinião de Leonard.

Claire também se redirecionou para ele, aguardando alguma resposta, uma pena que essa resposta não viria.

…

“Desde que chegamos aqui, por algum motivo não consigo me sentir bem…”

Deixando Claire e Liam para trás, Leonard se afastou deles, atraído por alguma coisa que não conseguia entender o que era.

“Sinto como se algo tivesse acontecido com eles ou é apenas uma preocupação com meus irmãos? Estou com saudades deles mesmo…”

Caminhando distraído, Leonard se manteve cabisbaixo, olhando para as pegadas na neve que dificultava cada passo que dava. Repentinamente, sentiu um choque e escutou o som de alguém caindo após bater o corpo contra o dele.

— Ai! — exclamou uma jovem, caindo sobre o casaco marrom feito de pele de urso. O impacto fez o capuz dela deslizar e revelar seu rosto.

Percebendo o que fez, Leonard olhou na direção da jovem surpreso. 

— Você está bem? — perguntou em um tom preocupado.

A garota ergueu o olhar para ele, um brilho incerto em seus olhos castanhos-escuros. — Estou, sim, irmãozão Damian… — murmurou.

“Damian?”, o nome de Damian, por algum motivo ecoava na mente de Leonard, de maneira estranha e deslocada. O jovem hesitou, encarando a jovem com uma pitada de curiosidade e uma ponta de desconfiança. Não a conhecia, mas algo em sua voz parecia como se ambos fossem conhecidos.

— Hã… desculpe, acho que você está me confundindo, não? — perguntou, estendendo a mão para ela se levantar.

A garota aceitou a mão de Leonard e sem pressa, se levantou. Enquanto batia as palmas no casaco para retirar a neve acumulada, Leonard se manteve observando quieto.

Ela tinha um cabelo castanho-claro, sua pele morena e com algumas sardas. O cabelo dela era um ondulado puxado para alguns cachos substanciais, os lábios da jovem pareciam rachados e seus olhos, por algum motivo, aparentavam ter um certo… vazio inquietante?

“Mas por que Damian? Esse nome… lembro que o Cassiano citou antes, mas ele não estava lá na base, ou estava?”

— Desculpe. Você está bem? — Leonard perguntou, tentando quebrar o silêncio que se instaurou em ambos.

— Estou sim — respondeu ela, sua voz permanecia baixa, quase introspectiva. — Mas você não parece estar.

Leonard piscou, surpreso com a resposta direta.

— Quê? — Leonardo perguntou, um pouco desconcertado.

A jovem encarou Leonardo por alguns instantes, seus olhos analisando o ele lhe dava uma sensação inquietante em meio à calma que ambos estavam.

— Para onde você está indo? — Ela tentou mudar o assunto de maneira abrupta.

“Não faz sentido…”

Leonard desviou o olhar por alguns instantes, sentindo o peso do vento gelado ao redor.

— Estava só… caminhando. E você? Está precisando de alguma ajuda? — disse, enquanto tentava ao máximo parecer casual, embora um desconforto crescente nascia em seu peito.

A mulher não respondeu imediatamente. Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso inocente, mas havia algo de estranho nele, seus olhos vazios não combinavam com o resto.

— Talvez… — continuou murmurando, mas dessa vez, sua voz carregava uma sensação de melancolia inexplicável. — Ou talvez você precise.

E, enquanto aquelas mesmas palavras pairavam no ar, uma súbita rajada de vento trouxe consigo uma sensação de desconforto, como se a própria terra de Eden Hollow tentasse sussurrar segredos que ninguém ousava ouvir.