— CAPÍTULO DEZENOVE —

    Um sentimento e uma sensação

    Desde que começaram a explorar, não encontraram quase nada mágico ou estranho. Até visitaram a estrutura onde Pearl estivera, mas ela já estava completamente desmanchada, reduzida a meros destroços. Enquanto investigavam cada canto, mapearam as áreas acessíveis, registrando locais e passagens em um grande pedaço de papel simples, onde transcreviam pontos de referência.

    Caminharam dia após dia, cobrindo boa parte do território. Naquele final de tarde, estavam concluindo o mapeamento de mais uma área. Porém, essa região em particular parecia desprovida de qualquer interesse: era apenas floresta, nada além disso.

    — Yuki! — chamou Mila, caminhando atrás dela em meio à floresta de Vamne.

    — Oi, mãe.

    — Lembra daquela vez que eu te trouxe para ver os pássaros?

    — Claro que lembro, mãe. Foi o dia em que você me deu esse arco — respondeu Yuki friamente.

    — É… verdade. Yuki… — Mila segurou a mão de Yuki e continuou: — Por favor… me promete uma coisa…

    — O que foi, mãe?

    — Me promete que não vai mudar. Me promete que vai voltar a ser essa menina doce que você é. A Pearl vai acordar, eu sei disso. Eu só não quero te ver assim… Não quero que seu brilho mude, mesmo depois da Pearl acordar.

    Yuki parou e olhou para Mila. Pela primeira vez, viu sua mãe mostrando a fraqueza que guardava dentro de si. Ao vê-la chorar por sua causa, sentiu um aperto no coração que a comoveu profundamente.

    Eu não imaginava que você sofreria por minha causa dessa forma.

    — M-me perdoa… mãe. — Yuki estendeu os braços, abraçando Mila carinhosamente enquanto as lágrimas da mãe escorriam em silêncio. — Eu não vou mudar, mãe, eu prometo! Eu… só estou assim porque estou preocupada…

    — Me desculpa, Yuki. Eu não queria chorar, mas… eu não sei como ser forte em uma situação dessas. — Mila soluçou fracamente. — Eu te amo, Yuki. Só quero o seu bem.

    Mila abraçou Yuki ainda mais forte.

    — A gente se afastou muito durante esses dias, mas eu vou te proteger, vou proteger a Pearl, vou ajudar as duas no que quiserem, no que vier. Foi erro meu ficar distante das minhas filhas, me desculpa, Yuki.

    — Mãe…

    Minha mãe sempre foi assim? Por que estou me sentindo emocionada? Eu… eu…

    — Eu também te amo, mãe! Mais que tudo! Eu queria dizer ainda mais sobre você e como eu te amo, mas mãe, esta tarde vai cair, vai ficar escuro e não nos vamos enxergar nem a nós mesmas.

    Mila recuou um pouco, aliviada. Sentiu que tirou um peso muito grande das suas costas ao desabafar tudo isso para Yuki, mesmo que ela talvez não entendesse tudo o que havia dito. Dizer o que sentia naquele momento a acalmou. Por fim, enxugou os olhos e bateu um pouco na roupa, limpando-se da neve que começava a cair.

    — Verdade, verdade. Vamos andando.

    Elas estavam caminhando mais próximas do que antes. Voltaram e atravessaram a barreira, que, por sorte, não estava tão distante dali. Ambas sentiam aquele frio congelante que voltava cada vez mais, dia após dia. Se acomodaram aos casacos enquanto andavam na direção da casa de Lawrer para ver como Pearl estava. Elas seguiam essa rotina, sempre com a esperança de que, um dia, quando voltassem, veriam Pearl acordada e bem de novo. Hia tinha dito que a recuperação dela estava indo muito bem e até foi bom ela ter ido para lá, já que, a qualquer momento, ela poderia analisá-la.

    Pearl deitada, a expressão neutra no rosto dela poderia insinuar a falta que todos sentiam do sorriso lindo que possuía. Seus cabelos curtos e brancos, puros, espalhados pela cama, e a respiração suave que movimentava sutilmente seu corpo, poderiam ser sinais de vida. Se chegassem perto, poderiam sentir aquele vento quente.

    — Ela é linda — disse Nya, sentada ao lado, inclinada para ver Pearl sendo tratada carinhosamente por Yuki, que mexia em seus cabelos.

    — Sim, é a pessoa mais linda que eu conheço. Acho que nunca verei alguém igual.

    — E você, Yuki, como está se sentindo? Com tudo isso, com sua irmã?

    — Eu estou me esforçando para que ela não tenha que passar por isso de novo. Acho que o bem-estar dela é o mais importante agora. Eu fui lá, no lugar onde a achamos naquele dia, só que eu ainda não entendi o que realmente aconteceu ali.

    — Yuki — Nya se aproximou de Pearl e segurou a mão dela, mostrando o que estava nos seus dedos. — Aquilo foi algo construído por alguém muito forte, para guardar isso.

    Yuki, por mais que já tivesse notado diversas vezes aquilo nos dedos de Pearl, nunca deduziu que fosse isso o motivo de todo esse sofrimento.

    — E como você pode saber sobre isso?
    — Existe uma enorme quantidade mágica guardada dentro dele, é tão forte que tivemos que selar metade do seu poder no próprio anel. Eu e minha mãe não conseguimos dormir antes do selamento por causa disso.
    — E isso é tão forte assim? Porque não tiraram ele daí?
    — Com certeza… não o tiramos do dedo dela, pelo medo do que pode acontecer com ela, já que isso aí se conectou com toda a energia que ela tem dentro do corpo.
    Alguém forte, né? Usava magia…
    Yuki se arrumou e saiu do quarto sem dizer mais uma palavra a Nya, esperou Mila terminar de ver Pearl. Mila se despediu das duas e seguiu Yuki.

    — O que foi, Yuki? — perguntou Mila enquanto sacudia sua bota quente, retirando a neve ao entrar em casa.

    — Algo me deixou intrigada.

    — É sobre a Pearl?

    — Sim, se a pessoa era forte e construiu tudo aquilo para proteger o anel, como ela o encontrou tão rápido?

    — Também pensei sobre isso, Yuki. Talvez aquela construção não fosse para defender o anel, mas sim para testar quem o encontrasse.

    — Mãe, você é incrível!

    — Sou?

    — Sim! Era isso que eu estava tentando deduzir, talvez o anel não seja para matar a Pearl, mas seja algo que contenha os conhecimentos de uma pessoa muito forte! Talvez ajude a Pearl.

    — Bom, se for isso… Talvez agora ela fique bem, né? Mas não dá pra esquecer que o mesmo cara que deu poder ao anel a ela quis matá-la também.

    — Eh…

    Elas terminaram a conversa e foram deitar, para que no próximo dia explorassem uma nova área, a área leste, a parte colocada à montanha.

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