Capítulo 12: A Marionetista (2)
― Uau. ― Foi tudo que saiu da minha boca.
― Então eu te impressionei dessa vez, né!? ― disse girando seu corpo.
Ao fazer esse movimento, deu para perceber mais coisas sobre aquela sua aparência. O que eu achava que era apenas um cabelo longo era na verdade um rabo de cavalo e que realmente não chegava nem perto de seus pés, mas continuava sendo um cabelo gigantesco para minha perspectiva. Em sua pele de madeira era possível ver pequenas rachaduras, algo que não sei se eram para estarem ali.
― Então você é uma coelha que possui um fantoche, não é? Meio fofo eu diria.
― …Não? Essa é a minha aparência normal.
― Então por quê… ― Antes que terminasse de falar, fui interrompida por Gaia.
― Eu usava a aparência de uma coelha porque foi pedida no formulário. Consigo ficar assim sem gastar muito esforço quando não estou dentro da marionete.
Queee? Se foi um pedido meu, então quer dizer que eu gostava de coelhos? Como isso se conecta com tudo que sei? Quer dizer que sou uma fanática de coelhos? Não sabia.
― Seven? ― Me assustei, já estava me perdendo em pensamentos de novo.
Ela soltou um arzinho pelo nariz, claramente tirando sarro de mim.
― Se me permite. ― Antes que pudesse responder, ela já estava me levantando para a altura dos seus ombros. Ela é realmente alguém estranha, a sua cara após me levantar mostrava satisfação.
― Você está realmente feliz com isso.
― Sim, finalmente pude sentir o vento novamente após alguns milênios, é claro que vou estar feliz com tudo. ― Era evidente o quão feliz ela estava, pois além de me levantar agora estava me rodando junto a ela.
Dez? Não. Cem? Não. Mil anos, esse é o tempo que Gaia estava destacando e um detalhe importante, ela falava no plural. Ter vivido mais de mil anos deve ser doloroso, devo deixar ela aproveitar um pouco mais do mundo real.
― Gaia, tem mais alguma coisa que você possa falar sobre o meu eu de antes?
― Ah, então você ainda está pensando nisso. ― Ela fechou os olhos e parecia estar forçando a mente para lembrar. ― Tem sim!
Comecei a olhar fixamente para Gaia, como se esperasse que a mais forte das revelações saísse de sua boca.
― Você gosta de bolo de chocolate. Tenho quase certeza disso, lembro-me de você pedir isso na recepção.
Que quebra de expectativa. Suponho que foi eu quem pensou demais nessa situação, é claro que não seria algo tão grandioso.
― Mas você não pode procurar mais nos seus dados? Talvez algum documento?
― Haha! Você é engraçada mesmo. ― Ela ficou me olhando depois disso, como se eu tivesse contado a maior das piadas.
O silêncio acabou vencendo após um tempo, pois não tinha mais nada a dizer e ela parecia satisfeita com só me olhar. Era constrangedor, a vergonha me consumia pouco a pouco.
― Eeeh, se possível, talvez me colocar para baixo seja uma boa opção. ― Realmente a nossa diferença de altura era grande, podia dizer que tinha mais ou menos trinta centímetros a menos que ela, o que já é assustador pra mim.
Ela percebeu a minha situação e rapidamente me desceu do alto.
― Desculpe, desculpe, não acontecerá novamente. ― Após dizer isso ela se afastou de mim, começando uma série de alongamentos. Parecia meio involuntário da parte dela, como se fosse treinada para lutar.
Demorou um tempo para que finalizasse a sua preparação, até que por fim, ela estalou o seu pescoço.
― Por quê?
― Por quê o que?
― Você é feita de madeira.
― E eu não posso mais fazer coisas legais assim? Na minha época isso era considerado maneiro.
[Foi detectado uma habilidade prestes a ser usada ofensivamente, deve ser feito algo contra?]
Como assim? Espera, tem mais alguém aqui além de eu e Gaia?
Mas antes que esses pensamentos dominassem a minha mente, Gaia bateu palmas duas vezes. Ao fazer esse gesto algo muito confuso aconteceu, uma música bastante animada começou a tocar, estava longe, mas alta o suficiente para escutar.
― Aah! Que saudades dessa melodia. ― Disse em bom tom, ecoando sua voz pela floresta.
Parecia uma música de circo? Mas esse não era o mais estranho, de algum lugar daquela floresta era possível ouvir a música ficando cada vez mais alta. Antes que eu percebesse de onde essa música vinha, acabei sendo empurrada para o chão, de novo.
― Isso é de propósito, com certeza ― murmurei.
― Você falou alguma coisa!? ― Gritou.
Virei meus olhos para o que havia me derrubado e a minha única reação era de choque. Eram fantoches, mas não como o corpo de Gaia, eram fantoches de circo. Mas como sei disso? Minha mente apenas tinha esse conhecimento. Estavam carregando algo que não pude ver do meu ângulo, mas tinha certeza que era algo pesado e feito de metal.
Eles andavam em sincronia como se tivessem marchando, aquela música via dos mesmos e apenas parando quando chegassem perto do seu destino. Ela se agachou e pegou o que eles estavam segurando, colocando apoiado em seus ombros.
Era um machado com um cabo gigantesco, era claramente uma arma para ser usada em duas mãos, mas Gaia segurava como se não fosse nada. Essa arma branca era totalmente tingida de preto, desde seu cabo até suas lâminas, não posso dizer que a tintura era nova, porque senão estaria mentindo, aquilo tinha uma longa história e eu sentia isso.
― Vamos Seven, lute com o que tem!
― Eu não tenho nada! ― Tentei avisar a ela.
― É verdade, não é? Talvez esteja pegando um pouco pesado.
Ela largou o machado no chão nevado, afundando na neve. Logo preparou o seu corpo em uma posição ofensiva, cerrando seus punhos.
― Então vamos no soco!
Não acho que venceria no soco, mas ela estava determinada em continuar com isso.
Percebendo a situação, coloquei-me em em guarda alta, imitando Gaia.
― Ah não, acho que se eu fizer isso vou acabar quebrando seus ossos ― disse saindo de posição.
Imediatamente uma mão surgiu daquele chão de neve, como se fosse um morto-vivo saindo de sua cova. Após ela terminar o seu showzinho tudo que tinha na minha frente era uma marionete, vazia.
― O que é isso agora, vai me fazer lutar contra esse pedaço de madeira?
― Vou fazer melhor…
E então, a mesma coisa aconteceu. Uma cortina apareceu acima daquele boneco vazio e dessa vez a aparência que tinha não era de Gaia, mas sim minha.
Talvez essa deva ser a primeira vez em que eu realmente estava me vendo. Meus cabelos vermelhos estavam lá, com aquelas mechas esbranquiçadas e até as roupas pareciam a mesma. Mas diferente de mim esse fantoche tinha os dois braços.
― Isso é definitivamente um roubo…
A minha cópia não parecia se importar nem um pouco com isso, pois imediatamente tentou me atacar com um soco no meu rosto. Acabei desviando no último segundo e rapidamente corri para trás.
Meu corpo desviou sozinho e eu fiquei agradecida por isso. O soco que não me acertou jogou uma rajada de ventos em minha esquerda, tinha certeza que se isso me acertasse seria um estrago, e dos grandes.
Desviei meu olhar para observar o que Gaia estava fazendo nessa situação e ela estava nada mais do que com um bloco de notas em sua mão.
― O que você tá fazendo? Presta atenção aqui!
― Olha, acho que quem deveria prestar atenção é você ― disse com um sorriso malicioso em seu rosto.
Outro ataque, aquele autômato tentou novamente desferir um soco lateralmente em mim. Desviei novamente, mas dessa vez jogando me jogando para baixo.
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