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    Por que ela não responde?

    Já se passaram vinte minutos desde que entrei nessa sala, então, por que ela não fala nada? Esse silêncio é insuportável.

    — Erm… olá…? — disse, minha voz tremelicando.

    — O que foi? — respondeu Ester, se arrumando no sofá. — Não vai falar nada mesmo?

    Como assim?

    — Foi você quem me chamou aqui.

    Ela pegou a garrafa que estava na mesa ao centro, colocando o conteúdo em sua xícara. Aquilo já estava frio há muito tempo!

    Ela é psicopata?

    — Só existe um único motivo para eu vir aqui, Hitomi. — Colocou açúcar em sua bebida, levando à boca logo após. Um pequeno gole. — Teve notícias dela?

    Ah…

    Scarlett.

    Era sobre Scarlett, aquela maldita anomalia.

    Fiquei em silêncio, sem saber responder. Meus olhos evitavam seu rosto, e talvez, só talvez, estivesse mostrando uma expressão ruim naquele momento.

    Talvez eu não devesse contar para ela que a anomalia fugiu… Isso pioraria as coisas.

    — Eu… não sei — respondi, pegando um dos biscoitos que estavam do lado da garrafa, comendo-o. — Nunca mais tive nenhuma informação. 

    Ester bateu na mesa, o som troou para fora da sala. Naquela pequena mesa de vidro, uma rachadura menor ainda apareceu.

    — Sabe, Hitomi. Eu não estou aqui para brincadeiras — disse Ester. — Apenas não te matei por conta de você manter contato com Seven… Ainda vou descobrir em que prisão ela está.

    Meu orgulho estava sendo ferido. Então, como uma resposta automática, olhei para ela.

    — Por que você se importa tanto com ela? 

    Ester abaixou sua cabeça, escondendo seus olhos pelo cabelo que caíra junto. Uma presença sufocante. Tinha motivos para ela ser chamada de comandante… e essa função foi atribuída após muito esforço de sua parte.

    A morte.

    Sentia isso.

    Era como se a morte estivesse à minha frente.

    Mas, quebrando minhas expectativas, lágrimas caíram em sua roupa.

    — Chorando…? — sussurrei. 

    Antes mesmo de se tornar um grande choro, Ester limpou seus olhos e assoou o nariz.

    — Ainda me sinto culpada por ter deixado ela ser levada — respondeu. — Eu podia ter feito mais coisa, mas fiquei parada, olhando ela ser acusada desse tipo de coisa.

    Cruzou as pernas.

    — Você já deve estar cansado de escutar os lamentos de uma mãe arrependida, né? Apenas me dê o que eu quero, Hitomi — terminou, comparava seus olhos com os de um falcão. Ainda continuavam sem qualquer sinal da sua alma.

    — Já lhe disse tudo que precisava, Ester — falei, apoiando meu braço no sofá. — Eu não tenho mais notícias de Scarlett.

    — É Seven — retrucou. — Chame-a de Seven.

    Ela não está dizendo isso? É sério?

    — Ela não faz parte dos heróis. Esse nome pertence a outra pessoa.

    Antes mesmo que a tela do sistema pudesse aparecer, senti uma lâmina em meu pescoço. Era fantasmagórico, quase como se fosse minha benção.


    [Uma habilidade está sendo usada…]

    É meio tarde pra isso aparecer…

    Quem é essa mulher?

    Uma ceifadora, e eu estava pronto para desafiar a senhora morte.

    — Você mente sobre sua verdadeira benção. O que é real na sua vida, Ester? Nem mesmo seus filhos são seus de verdade — provoquei, tentando mostrar uma reação mínima à sua ameaça. — De que adianta querer usar minha benção contra mim? Vamos, mate-me logo, se é isso que quer.

    — … Tome cuidado com suas palavras, Hitomi. Você é apenas um guarda daquela prisão. — Desfez a cópia, sentando-se de volta ao seu lugar. — Não é como se eu não pudesse te matar aqui e agora.

    — Já encontramos quem receberá o nome de Seven. A quem você chama assim não passa de uma anomalia se espreitando em nosso mundo.

    Pelo menos, é assim que eu me lembro.

    Essa história já está tomando rumos muito diferentes de antes, então, qual a probabilidade de ela não ser? 

    Pequenas lembranças passavam em minha mente. Seus olhos me olhando com desprezo foi a primeira memória que me veio. 

    Não… nenhuma.

    Ela é uma anomalia.

    — Você ainda não consegue acreditar que ela tem sua guia? Não é a primeira vez que afirmo isso — disse Ester, tomando mais um gole de sua bebida. — Eu vi com meus olhos.

    Com aquela aparência?

    Não é compatível com a aparência que me lembro de sua guia.

    — Fala sobre Gaia?

    Nem mesmo seu nome era igual.

    — Também não a encontraram até hoje… Isso é um saco. — Ester se mostrava pensativa. De alguma forma, conseguia conter o desespero que estava em seu coração.

    Não era igual à primeira vez que nos encontramos.

    — Só esse indício não é suficiente para dizer que ela não é uma invasora. — Levantei do sofá, indo até as janelas.

    A vista para a cidade era linda. Um horizonte quase infinito de casas.

    Como isso tudo se perdeu tão… rápido?

    — É por não lembrar de nada?

    — Que? — indaguei, virando-me para Ester. 

    — O outro indício é a perda de suas memórias?

    Ah…

    — Sim, é. Esse é um dos maiores indícios para a gente. — Comecei a andar pela sala, meus olhos admirando as artes que ali estavam. — O outro cara mostrou que ele é o herói verdadeiro antes dela.

    Mesmo que ambos tenham apitado no Sistema de Residentes… É melhor não arriscar.

    — Você está escondendo algo — disse Ester, um tom seco e sem hesitação.

    E-escondendo? 

    Será que meus movimentos lhe disseram algo? Essa mulher é anormal por perceber algo assim! É algum tipo de analista de movimentos corporais?

    — Não, nada — respondi, pegando um pequeno barquinho de papel. — Por que eu esconderia algo? 

    — Você sabe sim, Hitomi. — Em um instante, Ester apareceu do meu lado, copiando minha benção. 

    Minha visão estava ficando turva, os olhos quase fechando. Ela me drogou?

    O meu corpo perdia as forças.

    Sentia minha mente esvaziar.

    O que poderia ter me drogado? O que?

    Tentei olhar para todos os lados da sala, mas nenhuma resposta vinha.

    Cacete, que merda!

    Caí ao chão após perder a força nos joelhos.

    E, antes de cair em um sono profundo, tive minha resposta.

    Ah… foi o biscoito.

    Devia ter imaginado isso.

    Naquele momento, desmaiei.

    Não consegui ter nenhum sonho.


    Acordei de repente, sem entender o que estava acontecendo e nem mesmo me lembrar de muita coisa.

    — Ester…? — sussurrei, procurando-a na sala. — Onde ela está?

    De alguma forma, vim parar no sofá.

    O sol estava quase sumindo do céu.

    Eu dormi por uma tarde inteira? Que merda.

    Olhei para a mesa, encontrando um pequeno bilhete.

    “Consegui o que queria, Five! Muito obrigada por ter me dito aquelas informações.”

    Ao lado, havia um pequeno desenho de seu rosto.

    Que droga… ela havia me enganado.


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