― Dessa vez eu não vim comprar roupas para a minha esposa! A sua cliente é essa aqui, Beatrice ― disse Jorge, me empurrando até ela.

    O jeito que estava sendo observada era similar ao de Jorge quando estava julgando as minhas roupas. Parecia triste comigo, talvez as roupas totalmente remendadas não eram de seu gosto. 

    ― Quais são seus gostos? Algum tipo de roupa específica que goste? ― perguntou a mim, puxando uma fita métrica de seu bolso.

    ― Acho que algo parecido com que estou vestindo agora, gosto delas ― respondi.

    ― Muito bem, já é o suficiente para ter uma noção de seu estilo.

    Ela saiu de perto, indo a um lugar mais ao fundo da loja para pegar algumas roupas. Logo após isso, outra funcionária se aproximou, indicando o provador do estabelecimento, então segui até lá.

    Jorge sentou-se em um banco perto do caixa da loja, e Gaia estava me seguindo até o provador. 

    ― Você… não deveria ficar sentada ali esperando? 

    ― Só por precaução ― respondeu-me, desviando do significado real da pergunta.

    Beatrice voltou com algumas roupas colocadas em um carrinho de mão. Quando chegou mais perto, viu que Gaia estava ao lado do provador, junto a mim.

    ― Ehh, não era só uma?

    ― Ela não gosta de ficar sentada, não vai atrapalhar ― disse.

    ― Tsk ― resmungou.

    Gaia era incrivelmente intimidante, e talvez isso tenha contribuído para Beatrice não ter a mandado para longe. Então ela pegou algumas roupas do carrinho e me deu para vestir, mas estranhamente não era o estilo que queria.

    ― Um vestido? ― Virei meu rosto para Beatrice e ela parecia esperançosa em me ver vestindo isso. ― Ok… já estou aqui, então não custa tentar. 

    O vestido era fofo, não poderia negar. Branco e com bolinhas em vermelho, ia até meus joelhos e tinha um lacinho. Mas uma coisa me incomodava, e tinha as costas abertas, me sentia muito exposta.

    ― Está tudo bem aí, Seven? Está demorando demais ― ouvi Gaia falar de fora do vestiário.

    ― Sim! Terminei agora de me vestir.

    ― Estou entrando então. ― Puxou a porta do provador, olhando-me para o vestido que estava usando. ― É… você realmente gostou desse vestido? 

    ― Talvez sejam bons de vestir em certos momentos, mas esse não. Olha, é aberto atrás. ― Me virei.

    Gaia não me respondia, ela deveria ter realmente odiado esse vestido. Uma conclusão precipitada que tirei, então fui até ela.

    ― Está tão ruim assim?

    Ela fechou a porta do vestiário, trancando a gente no local. Minha mente estava confusa, até que ela de repente me abraçou, caindo em meu colo.

    ― Essas cicatrizes…

    Cicatrizes? Não deveria ter nenhuma tão grande, todos os cortes que foram feitos em meu corpo não deixaram tantas marcas assim.

    ― Do que você está falando? ― A segurei pelos ombros. ― Você está me assustando.

    ― Eu vou encontrar quem fez isso com você ― disse Gaia, com um tom de voz melancólico.

    Virei minha cabeça até o espelho do provador, querendo entender o que Gaia havia visto.

    ― Ah… ― Cicatrizes, várias delas indo desde o começo até o final de minhas costas. Eram totalmente antigas e indolores, mas a marca continuava no local.

    Agora a situação com Ester fazia sentido, ela derrubou aquele balde porque viu essas cicatrizes. Realmente, era feio, até eu iria me assustar com o tamanho delas.

    Essa situação foi rapidamente interrompida por Beatrice, que batia na porta perguntando o que nós estávamos fazendo trancadas no vestiário. Gaia saiu sem dizer nada e eu não pude perguntar se ela estava bem com aquilo. Eu estava sendo um fardo…?

    Beatrice entrou pela porta, com uma nova leva de roupas em sua mão. E logo se aproximou dizendo: ― Você está linda! Esse vestido combinou em tudo com você, pode dar uma viradinha agora para eu ver melhor? 

    ― Não… Eu quero apenas roupas longas agora. De preferência parecidas com a que já usava.

    Parecia decepcionada com a minha resposta, mas atendeu ao meu pedido. Saiu e pegou algumas roupas no carrinho que vinha trazendo, então logo me entregou elas. 

    Vesti as roupas idênticas às que tinha, talvez só faltasse meu óculos para completar de volta todo o meu conjunto. Coloquei o colar que ainda estava junto a minhas roupas e o bracelete que Klaus havia me dado.

    ― Quanto estou te devendo agora, Beatrice? ― disse Jorge.

    ― Está tudo bem, elas vão ficar por conta da casa.

    É… pelo visto me dei bem pegando de graça as roupas.

    Saí da cabine, me aproximando de Gaia. Ela ainda parecia estar bastante melancólica, evitando meu olhar. 

    ― Gaia, podemos conversar?

    ― Agora não. Podemos conversar depois? ― Suas palavras perfuraram meu coração como facas. 

    Ela não havia nem deixado eu responder a sua pergunta. Apenas se levantou e saindo pela porta da loja, olhou para mim e disse:
    ― Deixe que eu cuido de tudo.


    [Uma habilidade está sendo usada próxima ao usuário, deve ser impedida?]

    Eu deveria ter dito sim a isso, deveria ter a impedido. Gaia havia saído pela porta da frente e desaparecido da minha visão. Você disse que nunca iria me abandonar, então porque quebrou a sua promessa?

    ― Seven! Agora podemos continuar a viagem…? Onde está a sua parceira? ― Chegou Jorge por trás de mim.

    Meu coração errava suas batidas. Estava prestes a desabar a qualquer momento, mas eu tinha que ser forte.

    ― E-ela saiu, tinha alguns assuntos para resolver aqui. ― Em meio a todos esses sentimentos, isso foi tudo que consegui responder a Jorge.

    ― Tem certeza…? Que estranho. ― Ele coçou sua cabeça. ― Agora vamos ter que partir sem ela?

    Gaia prometeu nunca me abandonar, então talvez se eu ficasse em Azaleia ela iria me reencontrar. 

    ― Não, você pode voltar já. Vou ficar aqui por um tempo, pode deixar que encontro meu caminho.

    ― Você não parece nada bem mesmo, Seven. ― Ele virou-se, chamando a atenção de Beatrice novamente.

    Não consegui escutar a conversa, e nem queria. Abri a porta do estabelecimento, e tudo que queria fazer era fugir. 

    Corri sem olhar para onde estava indo, em pleno meio-dia. Passava entre multidões de pessoas às pressas, pois eu queria me esconder e não demonstrar meu lado fraco.

    Acabei tropeçando em frente a uma grande escadaria de mármore na minha longa corrida. Estive segurando o choro até o momento, mas esse foi o gatilho para desabar em lágrimas.

    Em meio a todo esse meu escândalo senti algo em meu bolso, o que chamou minha atenção. Peguei o que havia e era uma pequena marionete de madeira de Gaia, era definitivamente dela. Talvez um sinal que ela ia voltar…

    Quando me acalmei um pouco foi quando percebi a situação que havia me metido. Corri para longe de Jorge, uma pessoa que estava me ajudando, simplesmente por puro desespero. Talvez se eu voltar agora as coisas seriam consertadas…

    Olhei para o local em que estava, a escada de mármore branca me lembrava as paredes da Igreja que havia visto na cidade anterior. Então virei meu rosto para cima e tinha uma grande estrutura, maior que meus olhos poderiam entender.

    Sua arquitetura me lembrava a da igreja anterior, mas agora parecia robusta e maior. Os vitrais eram grotescos de gigantes e a porta do local nem se falava. Um fator que diferenciava as duas era a grande flor desenhada acima do portão, mas não consegui identificar a espécie.

    Perdi o foco de meus pensamentos por um instante, eu tinha que voltar para resolver essa situação. Mas havia um problema nisso tudo, que era não saber onde eu estava. Corri de olhos fechados sem rumo e agora estava sofrendo as consequências de minhas ações, então não via outra opção além de entrar na igreja.

    Empurrei a porta, dando de cara com um grande salão. Essa parte parecia idêntica a outra igreja, mas dessa vez havia uma pessoa perto do altar, ajoelhada. Uma mulher de cabelos longos e prateados, rezando na frente das figuras dos herois.

    ― Com licença? ― perguntei.

    Não obtive resposta, parecia focada no que estava fazendo. 

    ― Está tudo b- 

    ― O que te traz aqui? ― disse a moça, me interrompendo.


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