Capítulo 25: O Lar da Rata
“Hmm…” Charles franziu as sobrancelhas enquanto encarava o artefato em sua mão.
Era difícil determinar se um artefato que trocava inteligência por tamanho físico era algo bom ou ruim. Se o usuário perdesse até mesmo suas habilidades cognitivas básicas, ter a força de Hércules não serviria de nada.
Além disso, se seu corpo crescesse demais, ele não conseguiria usar os outros três artefatos em sua posse. Comparativamente, seu poder de combate geral poderia até diminuir.
Charles rapidamente percebeu a maior utilidade desse artefato. Embora eu não possa usá-lo, posso dá-lo à minha tripulação.
As aventuras à frente só ficariam cada vez mais perigosas, e contar apenas com sua própria força não seria suficiente.
O poder de combate de todos os membros da tripulação a bordo do Narval também precisava de um upgrade, para que eles não se tornassem um fardo nas batalhas.
A imagem de um certo indivíduo de músculos protuberantes passou pela mente de Charles. Ele havia encontrado um novo dono para o artefato.
Ignorando a dor ardente em seu corpo, Charles levantou os cobertores e saiu da cabine com o artefato em mãos.
Trinta minutos depois, Charles estava no convés, gritando para o Chefe de Engenharia de quatro metros de altura:
“James! Larga o artefato! Larga! Agora!”
Os outros tripulantes, que não tinham nada para fazer, se reuniram ao redor e assistiam à cena com empolgação.
O agora gigante James se sentou no convés, e o Narval inteiro balançava a cada movimento seu. Após cerca de três segundos, ele finalmente abriu a mão, deixando o 434 cair no convés.
“A queda na inteligência é maior do que eu imaginava”, Charles murmurou para si mesmo enquanto pegava a Pirâmide Roxa.
Após testá-la, ele percebeu que o crescimento físico aumentava significativamente a força do usuário. No entanto, a redução na inteligência era extremamente prejudicial. Alguém precisaria dar ordens a um James retardado, ou ele simplesmente ficaria parado, brincando com os dedos.
“Capitão, posso testar essa coisa?” Dipp se aproximou de Charles com uma expressão curiosa, seguido por um grupo de marinheiros.
Charles refletiu por um momento antes de jogar o 434 para Dipp.
“Todos vocês, testem à vontade. Vamos ver quem se adapta melhor a isso.”
Num instante, os tripulantes no convés começaram a gritar e a comemorar. Observando-os brincando com o artefato como se fosse um brinquedo, Charles não os impediu.
Afinal, humanos não são máquinas. E oportunidades para relaxar como essa eram raras no mundo subterrâneo.
Após dar algumas instruções, Charles seguiu para sua cabine. A dor em seus ferimentos começava a piorar novamente.
O tempo passou rapidamente no mar, e as feridas corroídas de Charles também cicatrizavam velozmente. Os ocasionais pequenos problemas na viagem de volta foram resolvidos perfeitamente pela tripulação. Finalmente, ele podia desfrutar dos privilégios de um capitão e não precisava mais cuidar de cada detalhe pessoalmente.
Quando avistaram o farol no Arquipélago dos Corais, o Narval quase virou de tanto que a tripulação comemorava. Eles haviam retornado vivos mais uma vez.
Assim que o navio atracou, todos receberam seus pagamentos de Charles e saíram correndo para extravasar suas emoções reprimidas.
Com os dois artefatos restantes em sua posse, Charles planejava fazer uma visita à Associação dos Exploradores. Ele não conhecia suas utilidades ou efeitos colaterais, então queria ver se os outros capitães tinham alguma pista.
Enquanto desembarcava, Charles avistou Lily parada no cais e percebeu que ela ainda não tinha ido embora. Ela estava cercada por uma multidão de ratos marrons.
Charles se aproximou e, ao chegar mais perto, notou que Lily estava com a cabeça baixa e as orelhas caídas.
“Por que ainda está aqui?”
Sua pergunta assustou Lily, que se virou ansiosa.
“Sr. Charles…”
“O que está fazendo parada aqui? Por que não foi para casa? Você não estava ansiosa para voltar?” Charles perguntou, pegando Lily pelo rabo.
“Mas eu me transformei em um rato. A mamãe vai me reconhecer? E se ela me expulsar com uma vassoura?” Lily perguntou, choramingando de maneira lamentável.
Charles entendeu seus medos imediatamente. Afinal, Lily ainda era só uma criança. Era normal sentir medo depois de passar por uma transformação tão drástica.
“Não se preocupe. Os pais nunca deixam de amar seus filhos. Mesmo que você tenha se transformado em um rato, eles não vão te rejeitar,” Charles a confortou.
“Sério?” As orelhas de Lily se animaram ao ouvir as palavras de Charles.
“Sim, é sério.” Olhando para o pequeno rato branco diante dele, Charles se lembrou, de alguma forma, de sua própria irmã mais nova.
Lily sacudiu o corpo animadamente e piou: “Sr. Charles, você tem razão. A mamãe não vai me esquecer. Eu fiquei fora por tanto tempo, ela deve estar morrendo de saudades de mim.”
Charles colocou a ratinha branca de volta no chão e estava prestes a sair quando ela segurou seu dedo e pediu:
“Sr. Charles, você pode me levar para casa?”
Quando estava prestes a recusar, Charles viu a expressão lamentável no rostinho da pequena ratinha.
Ele suspirou e cedeu: “Tudo bem, eu te levo para casa.”
Por alguma razão desconhecida, a garotinha diante dele havia sido transformada em um rato, e ainda era incerto se poderia voltar à sua forma humana. Ajudá-la um pouco era o mínimo que ele podia fazer.
Logo, uma cena incomum apareceu no Píer 3 do Arquipélago dos Corais: um homem de olhos negros caminhava pela multidão com um grande grupo de ratos atrás dele.
Ele teve que pagar quatro vezes o valor normal e garantir repetidamente ao motorista que os ratos não roeriam os assentos para que um condutor de carro a vapor aceitasse levá-los.
A casa de Lily ficava a quase uma hora de carro do porto. Quanto mais se aproximavam do destino, mais animada ela ficava.
Ela deve estar muito feliz agora, certo? Será que um dia eu poderei sentir isso também? Charles se perguntou enquanto observava a ratinha branca correr em círculos sobre sua coxa. Seus olhos brilharam com um traço de inveja.
“Senhor, chegamos. A casa do Dr. Oliver fica logo na esquina à esquerda. Ele tem uma filha adorável, então é melhor não levar esses ratos com você. Eles podem assustá-la,” o motorista alertou.
Sem conseguir conter sua empolgação, Lily não esperou o carro parar completamente e saltou. Liderando o grupo de ratos, correu em disparada para a esquina.
No entanto, seu pequeno corpo congelou no momento em que chegou ao destino, como se tivesse sido atingida por um raio.
“Hmm?” Charles sentiu algo estranho e se aproximou.
Ao virar a esquina da rua, ele viu uma elegante vila de dois andares erguendo-se graciosamente sobre uma rocha saliente. No jardim da frente, uma mulher gentil estava sentada com sua filha, tomando chá e conversando.
Embora a garota parecesse ter apenas onze ou doze anos, sua semelhança com a jovem de cabelos castanhos do primeiro filme daquela famosa saga de bruxos era inegável.1 Sua beleza encantadora sugeria que, no futuro, poderia até superar a da mãe.
“Lily, você tem uma irmã?” Charles perguntou, hesitante. Ele notou que a mulher não demonstrava nenhum sinal de tristeza.
As palavras de Charles tiraram Lily de seu estado de choque, e ela soltou um grito estridente.
“Aaaaaaaah! Aquela Lily é falsa! Eu sou a verdadeira filha da mamãe! Ela deve ser a bruxa das histórias de fadas! Ela me transformou em um rato e roubou o amor da mamãe! Eu vou arrancar aquela cara dela com os dentes!!”
No instante em que terminou sua frase, Lily arreganhou os dentes e as garras. Os ratos atrás dela fizeram o mesmo e avançaram na direção da vila.
Com um simples movimento de sua mão esquerda adornada com o anel, Charles levantou Lily no ar.
“Se acalme!” ele gritou.
Vendo sua líder capturada, a horda de ratos rapidamente se virou, mostrando seus dentes afiados para Charles. Seus olhos brilhavam com um instinto assassino.
Quando Charles tentou alcançar a Máscara do Palhaço com a outra mão, Lily guinchou, ordenando que os ratos parassem de atacar.
Suspensa no ar, ela começou a soluçar: “Sniff… sniff… Sr. Charles, eu não posso mais voltar para casa… A mamãe não me quer mais… O que eu vou fazer??”
- Nota: Hermione?[↩]
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