Capítulo 227: Você Está Fora de Si (3/3)
Lance Patterson observava seus companheiros do lado de fora. Apesar da expressão calma, seus olhos estavam cheios de desespero e amargura. Ele não esperava vencer de forma alguma. Afinal, estava enfrentando um espadachim que se tornou um mestre ainda no início dos vinte anos, alguém incomparável a ele, que estava apenas começando sua jornada de graduação. Ainda assim, Lance não pôde deixar de se sentir abatido como alguém que já havia superado Airen no passado.
“Achei que conseguiria aguentar um pouco mais…”, pensou amargamente.
Airen não tinha dado o seu melhor. Ele não puxou sua Aura da Espada nem atacou com força total. Ainda assim, Lance sentiu como se estivesse diante de uma muralha de aço. O desespero de nunca conseguir ultrapassar essa barreira e o medo de que Airen derrubasse sua espada a qualquer momento o levaram a desistir no meio do combate.
“Ele é simplesmente… muito melhor.”
Enquanto Lance se afundava em sua miséria, Airen e Brett se preparavam.
Observando os dois se encarando com familiaridade, Lance se entristeceu ainda mais. No entanto, ele não ficou remoendo por muito tempo.
— Ei, Brett! Vejo que está prestes a levar uma surra! — provocou.
— Fique quieto. Já estou nervoso o suficiente enfrentando esse monstro — respondeu o filho mais velho dos Lloyds, bem-humorado.
Airen também riu. Mas as brincadeiras terminaram ali. Brett avançou, e o duelo começou.
Clash!
Brett investiu, mirando a garganta de Airen. Normalmente, um movimento assim seria considerado perigoso demais em um duelo amistoso, mas Airen não se importou. Mantendo sua postura, ele balançou a espada e interceptou o ataque. A lâmina de Brett deslizou para baixo. Airen bloqueou novamente. Ele bloqueou, bloqueou e bloqueou. Apesar dos ataques incessantes de Brett, o jovem mestre da espada manteve-se tão composto quanto sempre, como se já soubesse quando e onde cada golpe viria.
E ele sabia. Desde que lesse o fluxo e se preparasse com antecedência, ele não perderia o equilíbrio nem desperdiçaria esforço.
Brett já havia desferido seu sétimo ataque quando Airen liberou a energia acumulada.
Clank!
Brett franziu a testa com o impacto pesado. Sempre que duelava com Airen, às vezes sentia como se estivesse enfrentando uma estátua de aço. Airen provavelmente estava misturando sua aura com a Arte dos Cinco para usar uma técnica de endurecimento. Embora Brett entendesse o suficiente sobre os elementos, ele não podia sequer sonhar em copiar esse movimento.
Mas isso não o incomodava. Afinal, Airen sempre fora assim. Se Brett invejasse um homem talentoso como ele, acabaria se destruindo.
“Vamos focar no que eu posso fazer…”, pensou Brett, observando Airen avançar.
Com uma expiração silenciosa, sua espada se tornou mais fluida.
Clang! Clang! Clash!
Airen começou a atacar sem piedade. Seus movimentos não eram rápidos, mas eram poderosos e controlados. Brett se viu encurralado como se estivesse enfrentando um gigante. Airen continuava expandindo sua pressão, mas ainda não havia dominado completamente seu oponente.
Os olhos do espadachim dourado brilharam ao balançar sua lâmina novamente.
Clang!
Mas seu tornozelo torceu. Seu tempo de ataque falhou. Seu alvo mudou. O círculo silencioso parecia afastar Airen. Como um rio fluindo, a espada de Brett girava em um círculo fluido para conter o poder de Airen, assim como seus passos.
Clang!
Sua aura neutralizava o choque que sua espada não conseguia suportar. Antes que esse impacto pudesse atingir seu corpo, sua movimentação o dissipava pelo chão. Era como se Brett estivesse se movendo com a água.
Após dezenas de trocas de golpes, Airen sentiu como se o próprio campo de treinamento estivesse úmido. Não, não era apenas uma sensação. O solo estava impregnado com a aura de Brett.
“Parece que estou golpeando a água”, pensou Airen.
Para ser mais preciso, parecia tentar atacar alguém que caminhava sobre a água, exibindo um equilíbrio impressionante que desviava os golpes com naturalidade.
De fato, Brett era um adversário complicado. Mas Airen não acreditava que estivesse em desvantagem.
Clang!
Thud!
Crack!
Crack!
Boom!
— Ugh! — gemeu Brett enquanto a espada de Airen se movia graciosamente.
Ele começou a franzir a testa. Seus movimentos ficaram tensos. Mas não era porque Airen estava atacando com mais força ou velocidade. Na verdade, ele havia encontrado o ritmo de Brett. Sua defesa começou a desmoronar à medida que a espada de Airen se encaixava em seu fluxo. Incapaz de manter seus movimentos fluidos, Brett teve que se preparar para o impacto.
— Droga. Eu desisto. Ufa… — admitiu.
— Ufa… obrigado — respondeu Airen.
— Seu monstro. Achei que conseguiria resistir por mais tempo — disse Brett, balançando a cabeça.
Desde que retornou para casa, ele dominou cerca de metade do que aprendeu durante sua jornada. Embora não soubesse quando dominaria o restante, acreditava ter boas chances contra Airen se ele não usasse sua Aura da Espada. Mas agora percebia que estava enganado. Airen havia ficado mais forte, assim como ele, ou talvez ainda mais.
Embora sentisse um leve amargor, ele logo se livrou desse sentimento.
“Está tudo bem. Estou com Judith agora, e ele ainda está solteiro. Pobre coitado”, concluiu.
Depois de acalmar seu orgulho de maneira rápida e simples, perguntou a Airen:
— Qual é o problema?
— Hã? — ecoou Airen.
— Você disse que queria tirar algo deste duelo. Então deve ter algo na sua mente.
— Hmm…
Airen hesitou. Brett estava certo. Embora Airen não tivesse grandes problemas, ele não estava satisfeito com sua situação. Para ser exato, ele estava perdido, mas não sabia como explicar isso de forma concisa.
Vendo a expressão preocupada de Airen, Brett balançou a cabeça. Sentando-se, fez um gesto para que Airen se aproximasse.
— Senta aí — convidou.
— Hã? — respondeu Airen.
— Vamos discutir. Faz tempo que não temos uma dessas. Você deve conseguir tirar algo disso. E eu também tenho muitas perguntas.
— Certo…
Seu cenho franzido foi substituído por um sorriso alegre enquanto Airen se aproximava do amigo.
— Lá estão eles de novo — disse Lulu com um bocejo, observando os dois imersos na conversa.
— Eles fazem isso com frequência? — perguntou Kiril.
— Sim. Geralmente, é o Airen quem fica remoendo as coisas enquanto o Brett o convida para uma conversa.
— Sério? Entendo…
— Por quê?
— Quero dizer, no começo achei que ele fosse um homem bobo, mas… — disse Kiril antes de continuar: — Ele parece ser bem decente.
De fato, qualquer um sentiria inveja se alguém que antes ficava para trás começasse a se destacar, mesmo que esse alguém fosse seu melhor amigo. Mas quando Kiril olhou dentro da mente de Brett com sua feitiçaria, não sentiu nenhum traço desse tipo de sentimento negativo. Embora ele estivesse um pouco irritado, parecia mais preocupado com seu amigo do que qualquer outra coisa.
— Ele é bastante generoso — comentou.
— Você está certa quanto a isso — respondeu Lulu.
— Talvez tenha sido isso que chamou a atenção de Judith. De qualquer forma, que sujeito curioso. Acho que devo dar mais crédito a ele.
— Isso mesmo. Brett é um bom amigo! Não o odeie!
— Eu nunca o odiei.
Lance Patterson lançou um olhar para Kiril e Lulu, que discutiam como sempre, antes de desviar o olhar para esconder sua própria expressão. Ele se lembrou de como se sentiu quando Brett perdeu.
“Eu me senti um pouco satisfeito…”
Ele sabia por quê. Airen havia avançado para um lugar onde ele não podia alcançá-lo, então ele também não queria que Brett se afastasse. Ele mal podia acreditar no quão mesquinho estava sendo. Talvez fosse por isso que as palavras das duas feiticeiras o incomodaram tanto; elas destacaram o quão generoso seu amigo foi, apesar da derrota.
“Pensando bem, nunca venci Brett desde que éramos crianças”, refletiu Lance.
Ele estava prestes a se afundar ainda mais nesses pensamentos quando uma voz o chamou.
— Lance, o que está fazendo? — perguntou Brett.
— Hã? — respondeu Lance.
— Por que está parado aí desse jeito? Não vai se juntar a nós? Está perdendo a chance de interagir com seu amigo de sucesso.
— Do que você está falando…
— O próprio mestre da espada está dando uma palestra gratuita, então venha se juntar a mim. A fala dele até melhorou, então não está tão ruim.
— Não sei se dá para chamar de palestra quando só estamos discutindo… — protestou Airen timidamente.
— É mesmo? Lance, o mestre da espada precisa da sua ajuda — chamou Brett.
Olhando para Brett, que o incentivava, e para Airen, que o olhava com expectativa, Lance ficou em silêncio por um momento.
— Tudo bem — disse finalmente, com um sorriso.
Mas ele não foi o único a se juntar à conversa.
— Hmm?
— Kiril? Por que você…
Os espadachins de Krono olharam para Kiril, surpresos, enquanto ela se acomodava ao lado de Lance. No entanto, ela estava impassível. Tomando um gole do mojito sem álcool que havia pedido na estalagem, disse:
— Só vou ouvir em silêncio.
— Por quê? Não é como se fosse tirar muito proveito disso… — perguntou Airen.
— Meu instinto de feiticeira me diz que vou aprender alguma coisa com essa conversa — respondeu Kiril com ar altivo.
— Você sabe o quão afiado pode ser o instinto de uma feiticeira, certo?
Kiril olhou para Airen e Brett. Os dois encolheram-se sob seu olhar penetrante e assentiram.
— Ah, me desculpe. Acho que fui um pouco rude… Se estou incomodando, posso ir embora — disse Kiril, em um tom de desculpas.
— Ah, está tudo bem, senhorita Kiril…? — disse Lance.
— Pode me chamar só de Kiril — respondeu Kiril docemente, olhando para Lance de um jeito que nunca olharia para Airen ou Brett.
— Posso te chamar de Lance? — perguntou.
— Claro, pode.
Mas Lance Patterson não foi quem respondeu.
Kiril se virou e viu Brett Lloyd olhando para ela com um sorriso sincero de nobre.
— Você também pode me chamar de Brett, Kiril — acrescentou.
— Me chame de senhorita Kiril, senhor Lloyd — retrucou Kiril.
— Tudo bem — respondeu Brett sem protestar, antes de se voltar para seus amigos.
— Podemos continuar?
A discussão prosseguiu.
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