Capítulo 256: Durante Sua Ausência (2/3)
— Então, estou indo — disse o Barão Farreira.
— Eu também estou indo — disse Airen.
— Vou trazer presentes! Faça uma boa viagem também, Lulu! — disse Kiril.
— Se cuidem, queridos. Você também, Airen, Kiril — disse a Baronesa.
— Sim! Vou cuidar do seu grifo! — garantiu Lulu.
— Claro que sim. Se você maltratar minha Cherry, eu vou brigar com você! — advertiu Kiril.
— Você chama seu grifo de Cherry…? — murmurou Airen.
Uma semana após a aula especial de esgrima, o Barão Farreira, Airen e Kiril partiram em viagem rumo à capital do Reino Heyle.
A comitiva era pequena, composta pelo Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo, dois cavaleiros da Casa de Farreira e quatro soldados encarregados de pequenas tarefas. Normalmente, um pequeno lorde do interior viajaria com um grande séquito para preservar seu orgulho ao se dirigir à capital. No entanto, desta vez, ninguém questionou a escolha do Barão Farreira.
“Airen Farreira, o mestre espadachim… Esse título por si só era incomparável dentro do reino. Por que o barão se preocuparia com formalidades?”
Mas Airen não era a única estrela. Kiril Farreira, sua irmã, também era um talento jamais visto em reinos pequenos como Heyle. De fato, quem ousaria menosprezar a renomada prodígio do Principado de Cezar, a nação líder em feitiçaria?
O Capitão Oswaldo Odone sentiu o peito se encher de orgulho.
“Sonan, Colon e, especialmente, Bisau… Vamos ver se ainda podem olhar para Heyle de cima como faziam há alguns anos”, pensou.
— Então, partiremos agora — anunciou o capitão formalmente, quando a carruagem começou a se mover.
Apesar de saber que a carruagem luxuosa era confortável, ele continuou perguntando ao Barão Farreira se precisava de algo. Afinal, o capitão sabia que, tão importantes quanto o mestre espadachim e a genial feiticeira eram, era o respeitado pai deles que ele deveria cuidar com ainda mais atenção.
— Nenhum problema, de fato. A carruagem está muito confortável — disse o barão.
— Que alívio. Se precisar de algo, por favor, me avise — assegurou o capitão.
— Você é muito atencioso, mas não creio que precisarei de nada. Obrigado pela consideração.
“Que homem bom”, pensou o capitão, soltando um suspiro de alívio ao ouvir a resposta de Harun Farreira.
Ele estava convencido de que era graças àquele homem que Airen Farreira possuía tanta bondade e lealdade ao seu reino. Afinal, as coisas teriam saído tão bem se um mestre espadachim tivesse surgido da Casa do Visconde, agora rebaixado a Barão, Gairon?
“Não teria sido fácil. Hill Burnett, você estava certo.”
Recordando como seu tenente lhe dissera que ele não precisaria se preocupar, o capitão sorriu.
Enquanto isso, a carruagem luxuosa que levava os Farreira seguia diligentemente rumo ao palácio real.
— Certo. Eu também devo ir agora. Você está pronto para partir, não está? Bem, suponho que você não esteja partindo… está voando! — disse Lulu.
Squawk! respondeu Cherry.
— Haha, não faço ideia do que você está dizendo. Mas vamos lá mesmo assim, Cherry! Espero que você me escute!
Squawk!
A criatura com corpo de leão, cabeça de papagaio, asas de águia e um nome fofo grasnou como um pato. Marcus e alguns cavaleiros de Farreira observavam a cena incomum com cautela.
Lulu, é claro, não se importou. Afinal, finalmente ficaria sozinha. Empolgada com a perspectiva de resolver o que vinha incomodando sua mente havia tanto tempo, a gata preta não via mais nada além de seu objetivo.
— Estou indo então! Adeus! Não se esqueçam de mim! — gritou.
— Como poderíamos esquecer uma gata que fala e usa feitiçaria? — responderam os cavaleiros.
— Ei, não respondam de volta! Agora estou indo de verdade!
— Faça uma boa viagem.
Com a despedida gentil de Marcus, Lulu montou no grifo. Rapidamente alçou voo e ganhou velocidade. O vento fresco e agradável soprava em seu rosto. Sentindo-se bem, Lulu conferiu seu plano.
— Primeiro, preciso ir ao Reino Adan e entregar o presente de Bill Stanton, ver Illia e pescar com outros gatos da região. Depois, vou para Durcali ver Khubaru e aprender mais sobre os elementos com Gorha. Ah! Preciso pegar um pouco, não, muito, pó de taihoi… e…
Então, seguiria mais ao norte. Rastrearia aquela memória vaga que borbulhava há um ano.
“Isso realmente é uma boa ideia?”, Lulu pensou seriamente enquanto mudava para sua forma de garota mágica.
Lulu acreditava ser uma gata. Uma gata nascida no leste do continente. De fato, quando viajou com Airen no ano passado, foi sua primeira vez visitando o norte.
No entanto, as memórias fragmentadas que ressurgiram desde que despertou sua habilidade lançaram dúvidas em sua mente. Lulu era realmente uma gata? Era realmente uma gata da floresta, nascido no leste? Se sim, o que significava aquela cena da caverna que a atormentava? E as imagens do frio, do vento cortante e das montanhas nevadas que só existiam no norte?
De fato, tais memórias foram a razão pela qual Lulu decidiu se separar de Airen, concluindo que precisaria ir sozinha até aquele lugar para desvendar o mistério de suas lembranças incertas.
— Hmm, eu não sei.
Poof!
Após pensar bastante, Lulu voltou à sua forma de gata e se deitou. Para ser sincera, ainda não estava convencida de que deveria buscar essas memórias do passado ao custo de perturbar a felicidade do presente. O passado não deveria permanecer no passado?
Ainda assim…
— Bem, o fato de eu estar voando para lá já deve ser resposta o suficiente — murmurou Lulu ao se sentar.
— Cherry! Vamos mais rápido! Mais rápido! — ordenou, dando um tapa no grifo.
Squawk! Squawk!
O grifo encantado obedeceu sem hesitação, mesmo soltando um grasnado contrariado. Sentada silenciosamente, Lulu disse a si mesma que deveria seguir seu coração. E seu coração, por sua vez, ansiava pelo norte. Se assim fosse, deveria continuar em frente, em vez de se prender ao arrependimento.
Tendo tomado sua decisão, Lulu, agora sentindo-se muito mais em paz, chegou ao Reino Adan para entregar os itens e cartas confiados por Airen.
Estava prestes a sair para se divertir com seus amigos gatos quando alguém apareceu.
— Vamos — declarou Illia Lindsay.
— Hã? Ir para onde? — perguntou Lulu.
— Para o Reino Heyle.
— Agora?
— Sim, agora. Vou me preparar imediatamente, então me leve até lá. Você pode fazer isso, certo?
— Hã? Uh, sim…
Lendo a carta de Airen, Illia Lindsay se levantou imediatamente e pediu, não, ordenou, a Lulu.
“Não posso parar Illia quando ela está assim…!”, pensou Lulu ao ver o brilho ardente nos olhos dela.
De fato, ela era bastante assustadora.
Lulu simplesmente não conseguiu recusar. Infelizmente, a gata preta não era corajosa o suficiente para pedir a Illia que esperasse e explicar que tinha outros assuntos a resolver. Assim, Lulu se viu retornando direto para a propriedade Farreira, contrariando seus planos iniciais.
Ao avistar o grifo no céu, Marcus correu até o campo de treinamento antes de se deparar com a espadachim de cabelos prateados que seguia a gata.
— Oh! Você seria, por acaso, a Senhorita Illia Lindsay…? — ele gaguejou.
— Sim — respondeu Illia simplesmente.
— Bem, eu, uh… é uma h-honra conhecê-la! Quero dizer… — Marcus continuou a gaguejar ao encarar a genialidade da Casa Lindsay, que parecia ter surgido do nada.
Ele sabia que Illia era amiga de Airen. Por alguma razão, Airen raramente falava sobre ela. No entanto, Kiril e Lulu haviam lhe dado informações suficientes.
O que Marcus não esperava, no entanto, era que Illia aparecesse tão de repente na propriedade. Nem precisava dizer que nada estava preparado para receber a convidada.
— Uh, desculpe, mas talvez não possamos recebê-la adequadamente, já que não sabíamos que viria! Ah! Além disso… você está aqui para ver o jovem mestre Airen Farreira, por acaso? — perguntou Marcus, finalmente conseguindo se acalmar.
É claro que ele não quis dizer nada além do óbvio. Afinal, por que outra razão a amiga de Airen viria visitá-lo? Marcus apenas queria dizer que Illia teria que esperar um pouco, já que Airen estava fora.
Infelizmente, Illia Lindsay não interpretou dessa maneira. Ela havia subido no grifo sem pensar muito. Seu único desejo era ver Airen. Não queria esperar mais. Airen que deveria esperar por ela! Isso era tudo.
No entanto, sua razão voltou a ela durante os dias de viagem no grifo.
“Isso realmente está certo?”, sussurrou para si mesma.
“O que as pessoas vão pensar ao me ver voando apressada para a propriedade Farreira?”
“E se perceberem que eu amo Airen?”
“O que aconteceria então?”
Na verdade, nada aconteceria. Estar apaixonada por alguém era algo digno de elogios, não de censura. Illia, porém, estava um pouco infantil naquele momento.
De forma ridícula, acreditava que ninguém sabia como se sentia. O fato de que ela e Airen tentavam desesperadamente esconder algo que todos já sabiam era o verdadeiro problema.
“O que devo fazer?”, pensou Illia, incapaz de raciocinar direito.
‘Você veio ver o Mestre Airen?’ soou para ela como “Você ama tanto Airen que veio correndo?’
Sentindo-se como uma donzela envergonhada, Illia corou. Seu coração acelerou. Seu sangue pulsou. Seu corpo esquentou. Sua mente girou e sua cabeça rodopiou.
Tentando se acalmar, ela concentrou sua aura.
Swoosh!
— Ugh!
— Ah!
— Ugh…
Embora Illia Lindsay nunca tivesse intenção de pressionar os outros, sua confusão a fez liberar uma poderosa aura, levando não apenas Marcus, mas também os cavaleiros e soldados que treinavam no campo a gemerem sob a pressão. Eles se sentiram tão chocados quanto na primeira vez que testemunharam a aula de esgrima do Mestre da Espada Airen Farreira.
Somente Lulu, uma feiticeira que já vira de tudo, permaneceu ilesa.
Mas não foi a única.
Um jovem se aproximava rapidamente ao longe. Seus raros cabelos azuis e sua postura elegante se destacavam.
“Quem é?”
“Quem…?”
“Ele não parece ser daqui…”
Todos o observaram com dúvidas enquanto o jovem se aproximava de Illia e liberava sua própria energia.
Swoosh!
— Hmm?
— Ufa… mhm!
A energia do jovem interrompeu a aura errática de Illia, permitindo que os presentes no campo de treinamento finalmente respirassem aliviados e olhassem surpresos para o espadachim de cabelos azuis.
Por que a prodígio da Casa Lindsay havia liberado sua aura de repente?
Ou melhor…
Quem era aquele jovem que conseguira deter com facilidade a energia da mais jovem mestre espadachim?
É claro, alguns já sabiam quem ele era. Ainda se recuperando, Marcus apressadamente enxugou o suor e se aproximou.
— Jovem lorde Brett Lloyd? — perguntou.
O maior talento do Reino Gaveirra e o graduado dourado da Academia de Esgrima Krono?!
Mais uma vez, todos olharam com admiração.
— Sim, sou eu. Mas me dê um momento… — respondeu Brett Lloyd, tão calmo quanto sempre.
De fato, ele já estava acostumado com tais reações. Afinal, era bonito, elegante e vinha de uma boa família. Claro que todos olhariam para ele onde quer que fosse.
Pensando em sua responsabilidade como alguém ilustre, ele olhou para o grifo, para Lulu e para Illia, que parecia bastante surpresa.
Sentindo-se travesso, Brett comentou:
— Vejo que você sentiu muita falta de Airen.
— Por quê? Por que sentiu tanta falta dele?
— Quieto…
— Por que eu deveria? Só fiz uma pergunta.
— Há alguma razão para querer que eu me cale? Por acaso você ama…
Woooosh!
Infelizmente, Brett não pôde terminar sua pergunta, pois Illia Lindsay, a mestre espadachim, a prodígio do Reino Adan, não, de todo o continente ocidental, invocou sua Aura da Espada que reluziu mortalmente.
— Que tal um duelo? — ela sugeriu.
— Faz tempo.
A voz de Illia cortou o silêncio.
Embora a maioria achasse aquilo assustador, Brett não se abalou nem um pouco.
Com um sorriso, ele ergueu sua espada.
— Como desejar.
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