Capítulo 233: Descobrindo Forças (I)
— Vou ficar com essas criaturas — disse Kalish para Dante, enquanto observava os Felroz caídos no milharal. — Pood, mande Sena e Rit virem coletar os Felroz. Desde que descobriram que existe uma certa resistência na pele dessas criaturas, pediram para estudar mais.
Pood curvou a cabeça levemente, mantendo o respeito.
— Sim, senhor.
— E mande Fred estar no tatame de treinamento — continuou Kalish, fitando Dinamite, que ainda estava animado e um pouco surpreso. Uma mistura de emoções transparecia em seu rosto ao observar o Soberano bem diante de seus olhos. — Pode dizer que vai ter algo interessante para ele assistir.
Eles se recolheram e começaram a voltar para trás dos portões. Dante não tinha tanta familiaridade com a habilidade de ‘Portas’, como Pood chamava. Ele criava literalmente um espaço quadricular que ligava um lugar ao outro.
Se for possível, ele poderia abrir uma porta numa distância muito grande?
A pergunta era pertinente demais. Se a Capital fosse um lugar viável, ele poderia… Não. Não. Dante tirou isso da cabeça imediatamente. Ele precisava terminar o que começou na Cuba. Precisava reerguer a cidade por inteira.
— Kalish — Dante se aproximou pela lateral, ambos indo na direção da ‘Porta’. — Quando irá mandar suprimentos para minha gente?
— Quando? Já foi feito, Dante.
Os dois passaram pelo portal, saindo no portão principal, com as muralhas ao redor. Fora do milharal, os soldados caminhavam ao redor, seus rostos marcados por espanto e surpresa. Uma mistura agradável que combinava bastante com o que Dante tinha feito.
Derrubar Felroz não era uma tarefa fácil ou simples, por isso, era normal que tivessem aquela expressão.
— Já foi enviado? — Dante parou, surpreso. Kalish manteve seus passos, sem se abalar. — Por que não me avisou?
— Eu cumpri minha parte do acordo, Dante. Eu sempre cumpro. Você queria comida, então, eu entreguei o suficiente para meses. — Um dos rapazes, usando um gibão marrom, se aproximou com uma prancheta. Kalish a tomou, dando uma olhada rápida. — Lembre-se sempre disso, meu caro.
Ele devolveu a prancheta e acenou para o rapaz, que saiu em disparada pela rua.
— Quando você tiver aliados fortes, que fazem você questionar a realidade atual, sempre faça mais do que apenas o acordado.
Uma nova Carabina ISE. Marcus tocava a madeira da arma, renovada e completamente estruturada, com filamentos de aço no meio, reforçando sua estrutura. O cano e a boca haviam sido refinados, mais finos e longos.
Era uma arma diferente. Mais leve, mais firme. Era o legado que ele tinha perdido sendo refeito.
— Não precisa babar em cima dela — zombou Duna ao entrar no armazém. — Ela foi feita pra ser usada lá fora, não aqui dentro. Pare de tentar entender coisas complicadas. Deixe isso comigo.
Marcus resmungou ao erguer a arma novamente, tocando sua superfície inteira. Um homem havia redefinido sua própria forma de agir apenas porque sua arma havia sido quebrada. Agora, ele poderia ter um novo caminho a seguir. Não era esse o certo a se fazer?
Com Dante fora, Marcus deveria agir como um verdadeiro guerreiro.
— Ah, achei você, Marcus.
Heian apareceu na porta do armazém. Ele viu Duna no fundo, mexendo em algumas caixas e pegando uma fruta. Ignorou o velho cientista, focando no atirador.
— Recebemos uma entrega vinda da Zona Cega. Clara está chamando para fazer uma averiguação.
— Já recebemos a comida? Não passou nem uma semana.
Heian fitou o lado de fora, para onde possivelmente a entrega era descarregada. A indiferença que normalmente regia a face do Criador foi substituída por um curto erguer de sobrancelha, contente.
— Ele deve ter feito algo diferente porque recebemos bem mais do que foi dito pelo Soberano Kalish.
Marcus ficou de pé, indo para a porta. No pátio, o que viu foram quase cinquenta caixas sendo descarregadas por dez homens. Eram pesadas, feitas de madeira bruta, despejadas lado a lado. Ele se aproximou de Clara, que supervisionava de braços cruzados.
Um dos homens, de pé ao lado da carroça, listava e ditava todos os suprimentos que eram despejados. Ele não tinha receio ou medo, apenas era sistemático. Quando todas as caixas, mais de cinquenta, desceram da imensa carroça, ele virou-se.
— Senhora Clara, esses foram os recursos que o Soberano Kalish pediu que fossem entregues para o mês. Temos um contrato de um mês, então, assim que for renovado por vocês, ele vai enviar mais. — O homem entregou um rolo fechado, lacrado com o símbolo ‘SK’ no selo. — Por favor, abra, leia e assine da forma que achar necessário.
— Vão voltar para a Zona Cega hoje? — perguntou Clara, tomando o pergaminho.
— Se possível, teríamos a possibilidade de passar um dia para descansarmos? A viagem é sempre bem longa, e tomamos cuidado para não atrair nenhum tipo de atenção indevida. — Ele pegou outra prancheta dada por um dos seus subordinados. — E também, nós temos que ditar o rumo que o Soberano Kalish gostaria que pudessem seguir em relação ao acordo.
— Claro, podem descansar quanto quiserem. Temos um quarto para cada um na Cuba. — Ela apontou a mão para um dos locais onde boa parte dos moradores paravam para conversar. — Nosso refeitório improvisado vai ser onde poderão comer. Por favor, se sintam à vontade.
Um deles bateu a própria mão, gostando da ideia, e começou a caminhar para lá.
— Obrigado por nos receber. — O chefe abaixou a cabeça, bem respeitoso. — Senhor Kalish disse muito sobre vocês. Espero que possam nos assegurar em sua casa por esse tempo que estivermos. Aliás, me chamo Queback, filiado e Comerciante Nobre de Consyegas.
Os olhos dele foram de Clara para Marcus, e depois para a Carabina ISE. Ele piscou algumas vezes e recuou dois passos, um pouco retraído.
— Perdão se ofendi o senhor de alguma forma, não era minha intenção.
Marcus teve a atenção dos demais, tanto moradores quanto visitantes. Ele guardou a arma nas costas, encaixando-a num suporte de ferro, e deu as costas, saindo. Gente estranha. Por que estariam ofendidas por ele estar segurando uma arma?
— Não se preocupe — comentou Clara, tentando acalmar Queback. — Ele sempre anda dessa maneira. É como está acostumado. Desculpe se pareceu que estamos preocupados.
Queback ainda mantinha os olhos em Marcus, mas concordou com Clara.
— Atiradores sempre são raros, senhora Clara. Desculpe por minha falta de decoro.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.