Capítulo 64 — Entre a Chuva e o Silêncio (3)
Algo dentro dele estava em desordem, uma tempestade silenciosa que agitava suas entranhas e turvava sua mente.
Era um nó na garganta, no início.
Um incômodo leve, quase imperceptível, como se algo estivesse preso, querendo sair, mas sem força para romper.
Só que aquilo crescera, tomara forma, ganhara nome.
E o nome era pesado, carregado de significados que ele preferia ignorar.
Ansiedade.
A palavra ecoou em sua mente como um sino distante, mas claro.
Ele a conhecia de longe, como se visse um antigo inimigo se aproximando. Era a primeira vez, desde que se tornara investigador, que ela se manifestava com tanta clareza. Não era apenas o medo do desconhecido, do fracasso ou da morte.
Era o medo de ser — de ser quem ele era, de enfrentar as próprias limitações, de encarar a possibilidade de que talvez não fosse suficiente.
O medo de falhar.
O medo de evoluir.
Leonard parou diante da porta do quarto, a mão hesitante no trinco. Respirou fundo, tentando afastar a sensação de que o chão poderia ceder sob seus pés a qualquer momento.
— Isso não é real — murmurou para si mesmo, mas as palavras soaram vazias.
A ansiedade era real, tão real quanto o frio que agora subia por suas pernas, tão real quanto o silêncio que o envolvia.
Ele entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. O quarto estava escuro, apenas um filete de luz da lua entrando pela janela.
Sentou-se na cama, as mãos tremiam levemente.
“Eu não posso parar agora”, pensou, mas a voz interior parecia distante, abafada pelo turbilhão de pensamentos que agora dominava sua mente.
E então, como se fosse uma revelação, ele percebeu que a ansiedade não era apenas um inimigo — era também um sinal.
Um sinal de que ele ainda importava, de que ainda se importava. Era o preço de se importar demais, de se preocupar com o que poderia dar errado, com o que já tinha dado errado.
“Eu não posso deixar isso me consumir”
Leonard fechou os olhos.
“Não agora.”
Mas, mesmo assim, a ansiedade permaneceu, como uma sombra que não podia ser dissipada apenas com a luz.
Leonard se deitou na cama, o corpo rígido, os olhos fixos no teto. A noite prometia ser longa, e ele sabia que o sono não viria facilmente.
“Até quando?”
Perguntava a si mesmo, mas a resposta, como sempre, veio apenas em silêncio.
Leonard fechou os olhos, mas as imagens não paravam. Fragmentos de memórias, rostos desconhecidos, vozes distantes — tudo se misturava em um turbilhão que o arrastava para o fundo.
Ele tentou respirar fundo, mas o ar parecia escasso, como se o quarto estivesse se fechando ao seu redor.
“Preciso me acalmar.”
Mas o coração batia rápido, descompassado, como um tambor em ritmo de guerra. Suas mãos suavam, e o frio que antes era reconfortante agora parecia cortante. Ele se sentou de repente, as pernas tremendo.
“Isso não pode estar acontecendo.”
A luz da lua pela janela parecia distante, como se estivesse do outro lado de um abismo. Leonard olhou para as mãos, esperando vê-las firmes, mas elas tremiam como folhas ao vento.
“Respira. Só respira.”
Ele tentou contar, como ouvira dizer que ajudava. Um. Dois. Três. Mas os números se perdiam antes mesmo de chegar a dez.
A mente era uma tempestade, e ele estava no olho do furacão.
“Por que agora? Por que aqui?”
Claire.
Ele pensou em Claire.
Ela estava lá fora, talvez dormindo, talvez planejando o próximo passo. Ela nunca hesitava. Nunca duvidava.
E ele? Ele estava ali, preso em sua própria mente, incapaz de se mover.
“Preciso sair. Preciso fazer algo.”
Mas o corpo não respondia. Era como se estivesse preso em uma gaiola invisível, cada movimento exigindo uma força que ele não tinha.
O suor escorria pela testa e o quarto parecia girar.
“Não é real. Não é real.”
Mas era. A ansiedade era real. O medo era real. A sensação de que tudo poderia desmoronar a qualquer momento era real.
Leonard se levantou da cama, cambaleando.
Precisava de ar. Precisava de espaço. A porta do quarto parecia estar a quilômetros de distância, mas ele se arrastou até lá, as pernas pesadas como chumbo.
“Só mais um passo. Só mais um.”
A maçaneta estava fria ao toque.
Ele a girou e a porta se abriu com um rangido suave.
O corredor estava escuro, mas a escuridão parecia menos opressiva do que a luz da lua em seu quarto.
“Onde estou indo?”
Não sabia. Só sabia que precisava se mover. Precisava fugir daquela sensação que o consumia por dentro.
Os passos ecoavam no corredor, cada um mais rápido que o anterior.
“Pare. Pare.”
Mas não conseguia.
Era como se algo o empurrasse, algo que ele não podia controlar. A porta da frente estava lá, tão perto e tão longe ao mesmo tempo.
“Ar. Preciso de ar.”
Ele abriu a porta e o vento gelado o atingiu como um soco.
A neve cobria o chão, mas ele não sentia o frio. Só sentia o coração batendo, batendo, batendo.
“O que estou fazendo?”
Não havia resposta.
Apenas o silêncio da noite e o som de sua própria respiração ofegante.
Leonard olhou para o céu, as estrelas brilhando distantes, indiferentes.
“Eu não posso continuar assim.”
Mas como parar?
Como escapar?
A ansiedade era como uma corrente, puxando-o para baixo, cada vez mais fundo.
“Claire.”
Ele pensou nela novamente.
Ela saberia o que fazer. Ela sempre sabia. Mas ela não estava lá.
Ele estava sozinho, no escuro, com apenas seus próprios demônios para lhe fazer companhia.
“Respira. Só respira.”
Ele tentou novamente. Um. Dois. Três. Desta vez, os números vieram mais devagar, mais claros.
O coração ainda batia rápido, mas não tão descontrolado.
“Eu não posso deixar isso me vencer.”
Mas a noite ainda estava longa, e a ansiedade ainda estava lá, esperando, observando.
Leonard olhou para a casa, a luz fraca da lareira brilhando através da janela.
“Volte. Volte para dentro.”
Ele deu um passo. Depois outro. A porta estava aberta, convidando a entrar.
Mas ele sabia que, mesmo dentro, a batalha continuaria.
“Até quando?”
A pergunta ecoou em sua mente, mas desta vez, ele não esperou pelo silêncio.
Ele entrou, fechou a porta e se encostou nela, sentindo o peso do mundo em seus ombros.
“Até quando?”
A resposta, como sempre, veio apenas em silêncio.
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