Capítulo 13 - O Preço da Vida
Seus músculos e pele se regeneraram parcialmente. Os ossos se fortaleceram, e seu cabelo cresceu, agora com picos que sinalizavam falhas.
Embora tenha se desesperado ao errar a colocação do braço, Derek sentia-se aliviado. Parte de sua teoria havia se concretizado: comer cérebros realmente ajudava na restauração do corpo. Ou quase isso.
Ainda enojado, ele mal podia acreditar no que fez. Mas sabia que, para alcançar seus objetivos, eram necessários os sacrifícios. Apesar da felicidade pela regeneração recente, uma sensação estranha parecia gravada em seu ser. Era um desejo insaciável.
Aproveitando essa motivação, Derek não perdeu tempo. A estranha sensação o dominava. Com o rosto ensanguentado pelo cérebro que devorou, ele apanhou a faca e dirigiu-se à porta.
Ao abri-la, os inúmeros mortos-vivos empurraram-na, prensando-o entre a porta e a parede. Eles avançaram em direção à cabeça decepada. Com vestígios de cérebro ainda visíveis, os mortos-vivos se lançaram sobre ele.
Derek não estava raciocinando direito; seu desejo superava tudo. Ao olhar para a rua, avistou um morto-vivo vindo em direção ao restaurante, isolado e vulnerável. Parecia a presa ideal.
Derek caminhou até ele e cravou a faca em sua boca, rasgando até fazer o maxilar cair. Sem hesitar, cravou a faca no céu da boca e bateu com força com a outra mão, atingindo seu cérebro e o matando. Sem recuar, ele quebrou o crânio com repetidos golpes na faca até expor o cérebro.
Ao abocanhar o cérebro, uma onda de repulsa o atingiu. Na primeira mordida, Derek voltou a si.
“O que…?”
Dessa vez, não sentiu aquela sensação; ao contrário, foi algo frio e nojento, como carne podre misturada com vermes em um cemitério. Imediatamente, jogou-se para trás, caindo de bunda no chão.
Ele sentia uma mistura de surpresa, nojo e medo. Afinal, tudo que lembrava era ter pensado em devorar outros seres e agora se encontrava em outra situação.
Derek teve um breve vislumbre do que poderia ser. Acalmando-se, pensou seriamente:
“Isso foi você, não é?”
Instantaneamente, retornou ao vazio. Sentou-se na escuridão com um olhar sério. Uma risada sádica ecoou ao seu redor; era aquele ser.
Aquele ser apareceu diante de Derek, olhando-o fixamente com olhos escuros e um sorriso medonho.
— Você não parece muito feliz em me ver! — disse o ser rindo antes de desaparecer subitamente.
— E como eu ficaria feliz em te ver se você estava me controlando agora há pouco? Miserável!
— Eu? Euzinho aqui? — o ser flutuava lentamente ao redor de Derek enquanto estava sentado de pernas cruzadas.
De repente, o vazio tornou-se sufocante; Derek começou a perder o ar. Era como se uma intenção assassina se espalhasse pelo ambiente.
Ele caiu no chão com as mãos no pescoço, lutando para respirar. O ser estava se expandindo; seus ossos estavam estalando e suas unhas se transformavam em garras enquanto tentáculos negros surgiam nas costas dele.
Derek suava de medo e estava paralisado.
Nos olhos obscuros do ser surgiu uma luz vermelha acompanhada de uma expressão de raiva.
— Ninguém… ousa… me comparar… aquele verme! — disse o ser com uma voz cada vez mais profunda e aterradora.
Derek começou a bater as mãos no chão em rendição; não adiantou. O ser aproximou-se mais e mais enquanto crescia ainda mais.
Os olhos e rosto de Derek estavam ficando vermelhos pela falta de ar.
— Me… Des…culpa… — conseguiu dizer com dificuldade.
Quando estava prestes a perder a consciência, a atmosfera se acalmou e o oxigênio voltou.
Derek virou-se de barriga para cima e respirou desesperadamente várias vezes.
O ser apareceu em pé perto dele com sua aparência normal. Derek estava tão assustado que não teve coragem de desviar o olhar do ser.
— Está desculpado. — sorriu o ser escondendo os dentes enquanto fechava os olhos.
Derek levantou-se devagar sem desviar o olhar do ser. Suando frio e tremendo perguntou:
— Mas o que é você afinal?
O ser mostrou seus dentes novamente e abriu os olhos.
— Hum… De novo essa pergunta? Eu sei onde você quer chegar. Como já respondi isso antes, vou lhe dizer quem sou eu. — disse o ser antes de desaparecer na escuridão novamente.
Enquanto sua voz ecoava ao redor, Derek tentava acompanhar olhando para todos os lados.
— Eu sou aquele que se esconde nas sombras do medo e do desespero. Estive presente no início e estarei no fim. Sou a razão pela qual você ainda vive, a voz que ecoa em sua mente nos momentos de fraqueza. Sou a insanidade que alimenta sua luta, desafiando-o a enfrentar seus próprios demônios. Sou Insane!
Uma gota de suor escorreu pelo rosto de Derek enquanto ele tentava compreender toda a situação.
Insane apareceu diante dele, ajoelhado, limpando o suor que escorria. Derek estava paralisado pelo medo, incapaz de formular palavras.
O ser levantou a mão e lambeu a gota de suor com sua língua longa.
— Delicioso! — ele lambeu os dentes. — Talvez seja muita informação para você assimilar. É compreensível! Mas o que você precisa saber agora é: sua regeneração vem com um alto preço. — cochichou na orelha de Derek. — E não, nada de tirar a vida dos outros.
Ele se afastou, desaparecendo no vazio.
— Longe disso. A sua vida! A cada regeneração, o vírus se fortalece e tenta assumir o controle. Você achou que seria fácil? — o ser riu descontroladamente. — Você só se livra dele após a morte. Mas isso não é o fim. Tudo que você precisa é se manter forte, tomar o controle e usar isso a seu favor. Para isso, deve fortalecer sua mente!
Mesmo aterrorizado, Derek teve coragem de perguntar:
— E… E como eu faço isso? — as palavras saíram entre espasmos enquanto ele olhava para baixo.
— Oh, decidiu falar? Muito bom! Já é um começo. Para fazer isso você deve… — o ser foi interrompido quando Derek foi puxado abruptamente por uma luz branca intensa.
Ao voltar à realidade, já era noite.
Derek estava em choque com tudo o que havia experimentado. Mesmo desejando gritar em sua mente por ajuda, o medo o paralisava. O que viu e sentiu fez com que percebesse quão ridículo era temer algo que nem era real. Ele não culpava Insane, mas a si mesmo.
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Enquanto isso, a oito quadras dali, um grupo de sobreviventes invadia um hospital abandonado. As luzes estavam queimadas, o piso descolando e as paredes manchadas de sangue.
No corredor escuro, usavam lanternas e objetos improvisados como armas; um deles carregava um revólver na cintura. À medida que avançavam, eliminavam os mortos-vivos com mais facilidade do que durante o dia, já que os mortos-vivos não enxergavam bem à noite.
De repente, um ruído sutil acompanhou a passagem de um vulto atrás deles.
Um dos homens virou-se rapidamente com a lanterna, visivelmente assustado.
— Esperem! Tem algo aqui! — exclamou ele.
Os outros pararam e iluminaram as lanternas na direção indicada. No entanto, não havia nada atrás deles. O homem disse nervosamente:
— Ué, eu juro que tinha algo…
Um dos sobreviventes, aquele que portava o revólver, colocou a mão sobre seu ombro e disse:
— Tudo bem, cara. Este lugar é aterrorizante. É normal imaginar coisas por aqui. Mas nunca deixe de avisar sobre qualquer sensação estranha; todo cuidado é pouco. Vamos continuar!
Todos retomaram a caminhada.
Quando já estavam distantes, algo pequeno desceu da tubulação e caiu no chão do corredor. Nas sombras, essa criatura se ergueu com olhos brilhantes e observou os sobreviventes à distância.
— Se eu soubesse que seria tão fácil assim, teria vindo sozinho! Esses remédios estão no papo! — brincou um dos sobreviventes, fazendo os outros rirem.
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