Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura:
Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!
Capítulo 77 — Coroa, Adaga e Tecido
— A Grande Ceia — começou Chloe, sua voz suave e melodiosa, como se estivesse recitando uma antiga lenda —, é o momento em que estamos mais próximos das graças de Awain. É celebrada no décimo quinto dia do inverno, quando quatro pessoas encenam o momento em que os três cavaleiros oferecem itens sagrados para a donzela Brunestud, mãe de Awain, antes do seu nascimento. É um ritual de reverência e conexão com o divino.
Leonard ouviu atentamente, mas sua mente não parava de fazer conexões.
“Itens diferentes… Isso me parece um pouco com a história que contam sobre três reis magos visitando Jesus…”
Sentiu um frio percorrer sua espinha. A vela que queimava próximo a eles parecia intensificar a atmosfera, projetando sombras dançantes nas paredes da igreja. A chama tremulante trazia uma falsa sensação de conforto, mas Leonard sabia que aquilo era apenas uma ilusão. Havia algo mais profundo e sombrio por trás daquela cerimônia.
— Quais são os itens? — perguntou, tentando manter a voz firme, embora sua curiosidade estivesse misturada com uma inquietação crescente.
Chloe se levantou com graça, dando alguns tapas suaves em seu manto branco, como se estivesse limpando poeira invisível. Ela caminhou até o altar e, com movimentos deliberados, pegou uma caixa de madeira antiga que estava escondida atrás dele.
A caixa era adornada com desenhos intricados em tons de azul claro, símbolos que Leonard não reconhecia, mas que pareciam carregar um significado profundo.
Leonard se levantou e se aproximou dela, ficando ao seu lado enquanto ela abria a caixa sem dizer uma palavra. Um cheiro forte e desagradável subiu das profundezas da caixa, um odor que misturava mofo, metal enferrujado e algo que ele não conseguia identificar.
Era como se a caixa guardasse não apenas objetos, mas também memórias antigas e sombrias.
Dentro da caixa, havia três itens: uma tira de pano vermelho, desgastada e rasgada, mas que parecia emanar uma energia quase palpável; uma lâmina de prata, fina e afiada, com detalhes gravados que brilhavam sob a luz fraca da vela; e uma coroa feita de espinhos, grotesca e, ao mesmo tempo, hipnotizante, como se carregasse o peso de séculos de dor e sacrifício.
— Estes são os três itens que serão entregues à donzela Brunestud no dia da Ceia — explicou Chloe, sua voz ecoando suavemente na igreja silenciosa. — Otis, Owen e você serão os responsáveis por entregá-los.
Leonard olhou fixamente para a adaga, sentindo um frio percorrer sua espinha.
“Adaga de prata…”, pensou ele, sua mente correndo para tentar entender o significado por trás daquele objeto.
“O que irão fazer com a adaga de prata?”
A pergunta ecoou em sua mente, mas ele sabia que não poderia revelar suas dúvidas. Ele engoliu em seco, tentando se recompor antes de fazer a próxima pergunta.
— Para que serão usados cada item? — perguntou ele, tentando parecer apenas curioso, mas sua voz traiu um leve tremor.
Chloe sorriu, como se estivesse feliz com o interesse genuíno de Leonard. Ela parecia animada em compartilhar mais detalhes sobre a crença de Awain.
— Cada um desses itens representa uma passagem crucial no futuro de Awain — respondeu, sua voz assumindo um tom quase reverente. — A adaga de prata foi dada a ele por sua mãe quando ele decidiu partir em sua jornada. Era a única coisa que o protegia, permitindo que ele eliminasse o mal que cruzava seu caminho. A tira de pano vermelho serviu como seu cobertor durante a infância, protegendo-o contra as forças sombrias e permanecendo com ele por toda a vida.
Ela fez uma pausa, como se estivesse escolhendo suas palavras com cuidado. Leonard sentiu sua ansiedade aumentar, como se estivesse prestes a descobrir algo crucial. Ele não conseguia tirar os olhos da coroa de espinhos, que parecia emanar uma energia perturbadora.
— E a coroa? — perguntou ele, quase sem querer, sua voz saindo mais baixa do que ele pretendia.
Chloe olhou para a coroa, e por um breve momento, seu rosto pareceu sombrio, como se estivesse relembrando algo doloroso.
— A coroa — disse ela, finalmente — foi usada por Awain durante sua morte. Ele foi crucificado nos tempos antigos, ao lado de ladrões, pelo povo que traiu seu salvador. A coroa de espinhos simboliza seu sacrifício e a dor que ele suportou por todos nós.
Leonard sentiu um arrepio percorrer seu corpo. As semelhanças com a história que ele conhecia eram perturbadoras, mas as diferenças eram ainda mais assustadoras. Ele não conseguia evitar a sensação de que havia algo profundamente errado naquela narrativa.
— Entendi… — disse ele, tentando manter a voz estável. — No dia da Ceia, o que eu devo entregar para a Morgan?
Chloe respondeu sem hesitar, como se já soubesse que ele faria essa pergunta.
— A adaga. Você entregará o símbolo de força ao nosso protetor.
Leonard assentiu, mas sua mente estava a milhares de quilômetros dali. Ele sabia que aquela adaga não era apenas um símbolo — havia algo mais por trás dela, algo que ele ainda não conseguia compreender.
Após mais alguns minutos de conversa, Leonard finalmente se despediu de Chloe com um aceno discreto e saiu da igreja. A noite havia caído completamente, e o vilarejo estava envolto em uma escuridão quase absoluta, apenas quebrada pela luz fraca e trêmula das lanternas que balançavam ao vento gelado.
O céu, antes cinzento e carregado de nuvens, agora estava negro, sem estrelas, como se o próprio firmamento tivesse sido engolido por uma escuridão infinita.
O tempo parecia distorcido, passando cada vez mais rápido, como se o próprio mundo estivesse acelerando em direção a algo inevitável, algo que Leonard não podia evitar, mas também não conseguia compreender completamente.
Ele caminhava pelos caminhos silenciosos, seus passos abafando na neve do seu próprio rumo. O vento cortante uivava entre as casas de madeira, carregando consigo um sussurro quase imperceptível, como se vozes antigas tentassem falar com ele. Leonard puxou o casaco mais para perto do corpo, tentando se proteger do frio que parecia penetrar até seus ossos.
Sua respiração formava pequenas nuvens de vapor no ar, e ele sentia o peso da adaga de prata não apenas em sua mente, mas também em sua alma. Aquele objeto, tão pequeno e aparentemente inofensivo, carregava consigo um significado que ele ainda não conseguia decifrar. Era como se a adaga fosse um símbolo de algo muito maior, algo que estava além de sua compreensão.
Enquanto caminhava, Leonard não conseguia evitar a sensação de que estava sendo observado. As sombras ao seu redor pareciam se mover, como se estivessem vivas, o seguindo, rastejando pelas paredes das casas e pelos cantos escuros das ruas.
Ele olhou para trás algumas vezes, mas não viu nada além da escuridão e das lanternas balançando ao vento. Ainda assim, a sensação persistia, como se algo ou alguém estivesse ali, invisível, mas presente.
E assim, o tempo passou voando.

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