Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura:
Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!
Esse capítulo se trata de um recorte do capítulo 80.
Capítulo 82 — A Dança dos Sonhos Estilhaçados (3)
O chão sob seus pés rachou, revelando um abismo escuro e sem fim, mas Leonard não olhou para baixo. Ele manteve os olhos fixos na criatura, que agora parecia menor, menos imponente.
— Você… não… entende… — A criatura sussurrou, sua voz quase sumindo no vento que agora uivava com uma força avassaladora. — Sem… mim… você… não… é… nada…
Leonard sentiu uma pontada de dúvida, um frio que se infiltrou em sua mente como uma lâmina sutil. Mas ele a afastou com um ímpeto feroz, sabendo que era apenas mais uma tentativa da criatura de minar sua resolução.
Ele avançou mais uma vez, o punhal fraturado em sua mão brilhando como uma estrela solitária em meio à escuridão que os envolvia. Com um golpe final, preciso e desesperado, ele cortou o último fio vermelho que conectava a criatura a ele.
E então, o mundo ao seu redor desmoronou.
O céu vermelho, antes opressivo e pulsante, se desfez em fragmentos de luz que caíam como estrelas cadentes. O chão sob seus pés desapareceu, e Leonard se sentiu cair em um vazio sem fim, um abismo que parecia não ter fundo. O ar sumiu, o som sumiu, e por um momento, tudo o que restou foi o silêncio absoluto.
Mas o vazio não durou muito.
Leonard foi engolido por um mundo de sonhos distorcidos, sonhos que não eram seus. Eram os sonhos de alguém que o Wendigo havia corrompido, memórias e visões que não pertenciam a ele, mas que agora invadiam sua mente como uma enxurrada.
Ele estava em um lugar que parecia a floresta de Eden Hollow, mas, ao mesmo tempo, era completamente diferente. A floresta tinha vida, tinha vontade própria, e Leonard sentiu que ele era apenas um nutriente para ela, uma presa capturada em uma teia invisível.
“Onde estou?”
A pergunta ecoou em sua mente, mas não houve resposta. O mundo ao seu redor se distorceu, os sonhos vívidos surgiam e desaparecem em uma batalha caótica de experiências alheias.
O Wendigo, em sua crueldade infinita, parecia querer destruir a mente de Leonard, o sobrecarregando com as memórias de inúmeras outras vidas. Era um jogo sujo, desleal, e profundamente cruel.
Cada sonho era uma realidade distinta, um universo próprio que Leonard era forçado a habitar por breves instantes antes de ser arrancado para o próximo. Em um momento, ele estava em um campo de batalha, cercado por gritos lancinantes e o cheiro metálico do sangue que encharcava o chão. No seguinte, ele se via em uma casa aconchegante, com uma lareira crepitante e paredes que pareciam respirar, mas algo estava terrivelmente errado — uma presença invisível observava, esperando.
O desespero do Wendigo era palpável, crescendo a cada sonho invadido, e cada fragmento dessas realidades distorcidas se incrustava na psique de Leonard, como faria uma faca cravada em sua mente. Ele sentia-se sendo despedaçado por dentro, sua identidade diluída em meio a memórias que não eram suas.
Os destinos e os sonhos, antes linhas paralelas, agora se entrelaçavam de forma caótica. Leonard sentia a perdição se aproximando, como uma sombra que se estendia sobre sua alma. A dúvida sobre sua própria existência o consumia, corroendo suas certezas.
Durante esse confronto mental exaustivo, ele pensou inúmeras vezes em falhar, em desistir, em deixar que o Wendigo o engolisse por completo. Mas algo o puxava de volta, uma força interior que ele nem sabia que possuía — uma centelha de resistência que insistia em brilhar mesmo nas horas mais escuras.
A cada sonho que invadiam, um contra o outro, Leonard se mantinha em pé. Mesmo sendo o mais fraco dos dois, mesmo sentindo o peso esmagador da criatura sobre sua mente, ele resistia.
Ele se questionava incessantemente: “Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? Por que ainda luto?” Mas não parava. A lâmina fraturada em sua mão, mais um punhal em pedaços do que uma arma propriamente dita, continuava a cortar os sonhos, as lembranças de alguém que não era ele. Cada golpe era uma tentativa de se libertar, de retomar o controle de sua própria mente.
Os fios cinzentos retornaram, tecendo-se em padrões complexos que sua visão já não conseguia acompanhar. O cérebro de Leonard enfrentava burnouts constantes, momentos em que ele sentia sua mente à beira de se estilhaçar, como um cristal sob pressão. A eternidade parecia ter se passado, e a cada ciclo, ele se sentia um pouco mais forte, mas também mais cansado, como se cada vitória custasse um pedaço de sua sanidade.
Sua visão fraquejava a cada instante. O mundo ao seu redor se tornava um borrão indistinto, formas e cores se misturando em uma dança caótica. Os sons distorcidos de grunhidos e gargalhadas do Wendigo ecoavam em sua mente, o arrastando cada vez mais perto do abismo.
Mas, em meio a todo aquele caos, as lembranças de seus dois irmãos mais novos e de sua avó o reconfortavam. Eram sua âncora, sua esperança em meio à bagunça. Eles o mantinham são, ou pelo menos o mais próximo de são que ele poderia estar naquelas circunstâncias.
O combate parecia ter durado uma eternidade. Nem Leonard, nem o Wendigo estavam próximos de ceder, embora fosse evidente que o domínio da criatura estava trincando. Como uma taça cheia até a borda, o líquido vazava, e toda a essência acumulada do Wendigo se perdia no vazio. A criatura, outrora imponente e inabalável, agora mostrava sinais de fraqueza, sua presença diminuindo a cada sonho invadido.
Mas o mesmo acontecia com Leonard. Ele se sentia vazio, suas forças se esgotando a cada visão forçada de futuros possíveis. Sua mente estava próxima de se estilhaçar, como um espelho prestes a se despedaçar em mil fragmentos. Ele sabia que não poderia aguentar por muito mais tempo. A linha entre a vitória e a derrota era tênue, e ele estava caminhando sobre ela com passos vacilantes.
Antes que o combate pudesse chegar a um fim, o juramento quebrado — aquela promessa antiga que ele nem mesmo conseguia mais lembrar. A lâmina fraturada, que mais parecia um punhal em pedaços, cortou o ar com um som sibilante, como um suspiro de dor ou talvez de libertação. E, de repente, Leonard estava sozinho.
O silêncio era absoluto.
Ele estava perdido.
Não havia nada nem ninguém ao seu redor. Apenas o vazio, infinito e impenetrável, como um abismo que se estendia em todas as direções. Leonard olhou para as mãos, esperando ver algo, mas elas pareciam quase translúcidas, como se ele mesmo estivesse se dissolvendo naquela escuridão sem fim.
— Eu morri? — A voz ecoou dentro dele, fraca e incerta, como se fosse a última réstia de consciência se agarrando à existência.
Leonard fechou os olhos e se lembrou de quando conheceu Calius. A mesma sensação destoante, como se ele não pertencesse àquele lugar, invadiu-o novamente. Em meio ao vazio, ele se sentia pequeno, insignificante, como um verme rastejando em um deserto infinito. A grandiosidade daquela solidão era avassaladora, e por um momento, ele questionou se tudo o que havia vivido até ali havia valido a pena.
Então, um som repentino rasgou o silêncio. Era como vidro quebrando, agudo e claro, reverberando em um eco que parecia vir de todas as direções ao mesmo tempo. Leonard sentiu algo tocar seu ombro, uma mão firme e reconfortante, que transmitia uma calorosa sensação de familiaridade. Ele se virou rapidamente, esperando encontrar alguém, mas não viu ninguém. Ainda assim, a presença era real — tão real quanto o próprio vazio que o cercava.
— Quem… quem está aí? — Sua voz soou rouca, quase irreconhecível.
Não houve resposta, mas a mão invisível permaneceu, como um lembrete silencioso de que ele não estava completamente sozinho. E, lentamente, o mundo incolor ao seu redor começou a voltar ao normal. As cores retornaram, primeiro como manchas difusas, depois como formas definidas. Os sons se estabilizaram, o uivar do vento substituindo o silêncio opressivo. Leonard sentiu o chão sob seus pés novamente, firme e sólido, e respirou fundo, sentindo o ar fresco enchendo seus pulmões.
Ele não estava sozinho. Alguém — ou algo — o havia puxado de volta da beira do abismo. E, pela primeira vez em muito tempo, Leonard sentiu que talvez houvesse esperança.
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