Índice de Capítulo

    Bulianto devolvia os golpes no Bastardo, sua espada descendo e subindo, encontrando-o como um verdadeiro guerreiro. Mas, no final das contas, parecia que até mesmo a sua técnica não era mais suficiente.

    O Bastardo simplesmente aparava, rodeando em um sorriso, voltando para estocada e depois brandindo como se fosse uma brincadeira de criança. E mesmo assim, Bulianto sofria com a chuvarada de golpes em sua armadura.

    — Está sentindo o gosto da derrota se aproximando? — Bastardo deu um passo para o lado e rasgou para cima. Sua lâmina roçando o ferro negro, e o enviando para trás. — Depois do que me fizeram passar, eu fiquei meses planejando a minha vingança.

    Bulianto segurou mais dois golpes, sendo arrastado. O peso das suas aparadas, sendo obrigado a diminuir seu ritmo, mas… não podia usar sua habilidade.

    Esse lapso de tempo onde ele pensou no que fazer foi suficiente para Bastardo se aproximar. Ele girou contra um dos seus golpes, fazendo sua lâmina subir. O peso de antes, Bulianto não sentia mais.

    Algo tocou o casco do navio.

    Quando ele olhou para o lado, entendeu a perda do peso. Seu braço havia sido decepado.

    — Um só golpe? — Os subordinados de Bulianto ficaram chocados.

    Foram derrotados, jogados contra o chão, ajoelhados e feitos de reféns. O único de pé era Bulianto. Aquele pequeno espaço de ter entrado no campo de batalha rendeu aos seus inimigos de realmente se atirarem com mais ferocidade.

    A moral da sua tripulação havia decaído. Agora, sem o braço direito, o que restava…

    — Houve tempos em que eu tinha uma verdadeira admiração pela sua pessoa — disse Bastardo. Bulianto caiu de joelhos. Seu sangue jorrava pelo membro decepado, sujando o convés. — Muito tempo admirando o que você havia criado com a sua própria força. Eu te admirei, como um filho faria com o pai.

    Ele deu a volta por trás do Rei e esticou sua espada, parando ao lado de sua orelha.

    — Quando você enfrentou as duas Rainhas, eu vi que o seu semblante era o mais sério. Você via o que ninguém mais via, sabia o que os demais procuravam. Sua rede de informação, suas terras, tudo era como se fosse dado, nunca conquistado. Mas, quando eu vi que sua frota era inteiramente idealizada, entendi porque parecia tudo tão fácil.

    Ele puxou a espada de volta, balançando a cabeça.

    — Achei que era a sua força, a sua liderança, que tornava os homens ao seu lado mais fortes. Mas, eu errei, não foi? Eles não questionam a sua verdadeira imagem, quem você é. Eu, sim. — Quando parou de caminhar novamente, ficou cerca de um metro de Bulianto e abaixou, ficando cara a cara. — Ter me jogado para morrer naquele inferno de lugar não foi uma das suas melhores ideias, não é?

    O homem sequer moveu os lábios, apenas o fitando.

    — Sabia que se eu morresse, seu segredo ficaria guardado pra sempre. Sabia que você teria um problema grande demais se eu voltasse. Mas, os seus homens podem saber quem é você antes de partir desse mundo.

    Bastardo ficou de pé, encarando seus antigos companheiros.

    — O Rei que seguem é um homem sujo. Não aquele dourado e cheios de pratas, humilde e honesto. Antes de todos nós sermos escolhidos, ele já tinha feito uma escolha muito tempo atrás. Uma escolha que nos arrastaria para a prisão.

    Ao canto, ainda escondido entre os curandeiros, Pomodoro mordiscou o lábio. O Bastardo realmente entendia o que tinha acontecido. Bulianto sendo derrotado, ele assumiria um posto que nem mesmo o Rei do Oeste teria capacidade de aguentar.

    — Aos que me ouvem — falou Bastardo passando seus olhos nos demais. — Cerca de dez anos atrás, quando ainda não existia uma dinastia própria no Oceânico Polar I, esse homem apareceu com uma proposta. Não somente com o desejo de criar uma verdadeira federação, mas sim uma proposta de que quando assumisse o posto de Rei, o único dentro desse mar, ele traria a Marinha do Oceânico Polar II.

    Miatamo e Guaca franziram o cenho no mesmo momento. Os homens de Bulianto rasgaram xingamentos para Bastardo, alegando que ele era mais um ordinário mentiroso. O homem manteve-se quieto.

    — Por que eu mentiria sobre isso? Por que eu mentiria sobre algo que nunca me beneficiou? Acharam mesmo que o motivo desse homem ter me deixado em uma ilha, sem nada além da minha saliva e do meu suor, depois de ter batalhado por ele, depois de ter quase sido morto, foi por qual motivo?

    — Não… — Bulianto ergueu a cabeça. — Diga…

    — Naquela batalha contra o Rei do Oeste, ele recebeu uma carta diretamente do Oceânico Pollar II. Do Almirante Stannis para o grande Rei do Leste. A carta dizia que se ele conquistasse mais algumas terras, vencesse uma das Rainhas, eles teriam uma parte do oceano para navegar até ali.

    Mais uma vez, eles ficaram calados.

    — Eu não preciso do consentimento de vocês — continuou Bastardo. — Aquele que recebeu a carta, que interceptou e quem enviou para o Bulianto está presente.

    A sua espada foi erguida para a direita, onde um Anão era segurado por dois dos seus homens.

    — Nekop foi quem recebeu essa carta. Todos os dias, as frotas são enviadas para um lugar para que ganhem mais renome, mais terreno. O que procuram é o Desejo, isso é certo, mas Bulianto se vendeu antes mesmo de ser um Rei. Ele sabia quem escolher, ele sabia quais pessoas ter ao seu lado, quais prisioneiros de guerra, quais mercenários, quais terras. Tudo foi orquestrado por ele.

    Bulianto abaixou a cabeça.

    — Porque esse homem que vocês seguem carrega o nome de Bulianto Asopo, o herdeiro da casa Asopo, das Terras Fluviais, e também, um vice-almirante da Marinha do Oceânico Polar II.

    Pomodoro praguejou no mesmo instante. Ele realmente sabia, mas… como? Bastardo esteve preso por aquele tempo inteiro na ilha, como a informação chegou a ele? O Rei do Oeste e nenhuma das Rainhas sabiam desse planejamento.

    Pomodoro somente sabia que Bulianto tinha um passado na Marinha, mas nunca imaginou que o plano dele fosse trazer a Marinha para cá. Se estivesse certo mesmo, então, tudo o que foi dito na carta que pediram para que ele entregasse estava errado.

    Bulianto não deveria ser um Rei… Seu pai estava errado esse tempo todo? Como?

    — Por fim — Bastardo disse mais alto que todos os múrmuros —, a cabeça desse homem ficará perdida no sal que ele tanto ansiava. Nós somos homens livres, homens que fizeram de tudo para ter seu lugar ao mar. E você queria trazer as correntes.

    Bastardo apontou a espada para a testa de Bulianto.

    — O Rei do Leste se despede, senhores. Com as suas últimas palavras.

    A lâmina atravessou a carne, o perfurando facilmente. O corpo de Bulianto tombou para trás, olhos sem vida, com a boca aberta, e o sangue respingando pela lâmina, descendo até o convés.

    A morte do capitão do Nokia fez com que seus homens ficassem sem nada a dizer. Apenas travados, ouvindo a tripulação do Bastardo gritar em euforia. Gargalhadas que ecoavam como ondas espumantes.

    O capitão que serviram por tanto tempo foi morto sem ninguém o defender.

    Enquanto os rostos travavam no corpo do falecido Rei, uma mão escalou os convés, os dedos enfincando na madeira, subindo um a um, chegando até em cima. Quando ele tocou no convés, a madeira rangeu.

    A pressão causou desconforto em alguns. Fockus, Cloud e até mesmo os Irmãos Enguia ergueram suas cabeças, procurando de onde vinha aquela Energia Cósmica estranha. E se deram conta de que o velho Capital se puxava para cima.

    O alívio de Pomodoro foi imediato quando viu Dante segurar e ficar de pé, quase caindo de tão cansado. Ele respirava profundamente, mantendo seu peito subindo e descendo. As cicatrizes no braço e no pescoço que ele possuía pareciam mais vivas, mas Pomodoro achou estranho apenas o olhar dele.

    Não eram os olhos do mesmo homem de alguns momentos atrás.

    — Você deve ser o Capital — disse Bastardo erguendo os braços. — Um senhor de idade tão avançada não deveria se jogar no mar por um homem que não faria o mesmo por você. Veja o que aconteceu com o seu capitão. Se estivesse presente, poderia ter salvado sua pele. No final de tudo, a culpa é da fraqueza de vocês, da burrice de vocês. São todos burros por acreditarem nas falsas promessas de um homem que nunca foi sincero.

    — Me dá um segundo. — Dante colocou as duas mãos na perna, inclinando um pouco. — Acho que bebi água demais. E meu ouvido entupiu, não consigo ouvir as merdas que está falando.

    — Eu…

    — Por que não fica quieto, moleque? — Dante balançou a cabeça. — Eu tive uma pequena visão. Vi meu pai me batendo, minha mãe chorando e minha irmão dizendo que eu deveria voltar para casa. Estou um pouco emotivo.

    — Ele não é velho demais para ter pai e mãe vivo? — ouviu de Guaca.

    Dante riu e concordou.

    — Sempre esqueço disso. Esqueço que eu não preciso segurar mais. Tenho feito isso a minha vida inteira achando que eu machucaria as pessoas, acredita? — Ele levantou um pouco a cabeça. — Te chamam de Bastardo por que você é filho de uma concubina ou só por que era feio demais para estar na família?

    Bastardo não se mexeu. Ele abaixou a espada, apenas esperando.

    — Me chamam de Capital porque vim de um lugar chamado Capital. Mas, eu nunca enfrentei muita gente forte na minha vida. Matei uma mulher, depois matei alguns Felroz. Cai de um Abismo. Mas, eu sempre fiquei com isso na cabeça.

    — Matar pessoas é difícil — respondeu Bastardo. — Você teve seus motivos. Eu tive os meus.

    — Claro, claro. Teve seus motivos para fazer o que fez. — Dante fechou o punho e ficou ereto. — Mas, não acho que você tenha certeza quando diz que é difícil. É fácil fazer.

    Bastardo tentou intimidar com o olhar, mas Dante nem mesmo se mexeu diante dele.

    Pomodoro tinha certeza de que Dante faria alguma coisa, mas o que? Ele tinha enfrentado uma criatura manchada e teve seu corpo bem ferido. Se mover do jeito que fazia antes claramente deveria aberto um dos pontos no seu peito ou barriga.

    — Por que não nos mostra a facilidade, então? Cloud, tome conta dele.

    O braço direito de Bastardo saiu da fila, dando uma risadinha. E antes de passar pelo seu chefe, uma pressão de ar esmagadora assolou sua posição, o enviando para trás, o fazendo rolar pelo chão e bater no beiral de madeira.

    Pomodoro ficou sem palavras. Ele encarou Cloud que tinha o rosto amassado e seu corpo torcido para trás. E quando encarou Dante, apenas o braço esquerdo estava erguido, com o dedo anelar saindo uma pequena quantidade de Energia Cósmica.

    — Eu posso mostrar, sim — avisou Dante. — Mas, não vai ser do jeito que você quer.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota