Capítulo 45 - Estruturas Refinadas (3/3)

Semanas se passaram e, embora ele não tenha feito nenhuma descoberta incrível, seus vários projetos continuaram avançando lentamente. Ele absorveu tudo sobre criação e reforço de pacotes de memória que Memória das Glórias Sublimes poderia lhe ensinar, praticou diligentemente o que os outros dois Sábios da Filigrana tinham para lhe ensinar, vasculhou a biblioteca da academia em busca de exercícios de modelagem interessantes para ele e Taiven, construiu nada menos que três golens diferentes com Edwin, e ele aprendeu um grande número de feitiços dos livros que ele e os Sábios da Filigrana encontraram no tesouro das araneas.

O mais interessante desses novos feitiços eram algumas variações de teletransporte altamente ilegais que podiam atravessar barreiras de teletransporte mais fracas. Se ele pudesse dominá-las, ele obteria um grande aumento de mobilidade dentro da cidade. É verdade que era possível que as autoridades da cidade pudessem detectar quando alguém estava contornando o redirecionamento de teletransporte da cidade dessa forma, mas mesmo que pudessem fazer isso, isso ainda tornaria esses feitiços incrivelmente úteis durante a invasão real, quando estariam ocupados demais com outras coisas para lidar com ele.

Ah, e ele também se encontrou com Raynie algumas vezes. Ele recebeu muitas informações sobre o clima político atual entre as tribos de metamorfos e sua história, o que foi meio interessante, mas provavelmente não muito importante para nada. No entanto, as reuniões eram uma boa distração, então ele não se importava em não estar realmente aprendendo nada.

“Então, há algo sobre o qual estou meio curioso quando se trata de magia dos metamorfos”, disse Zorian. “Peço desculpas antecipadamente se estou pedindo para você revelar algum tipo de segredo tribal, mas qual é exatamente a grande vantagem de ser um metamorfo em vez de apenas usar uma poção ou um ritual para assumir uma forma animal? Sei que metamorfos podem dispensar componentes materiais que, por outro lado, seriam necessários para fazer uma concha de transformação, e que você pode fazer uma transformação parcial para acessar os sentidos e outras características de suas formas alternativas, mas isso parece um pouco decepcionante, considerando tudo…”

“Bem, você tem que lembrar que metamorfos se originam de uma época diferente, quando outros métodos de transformação eram muito menos desenvolvidos e comuns do que são agora”, Raynie disse. “Mas há algumas coisas que você está esquecendo. A transformação dos metamorfos é muito mais rápida e segura do que qualquer coisa que você possa preparar com suas habilidades de alquimia, e você automaticamente obtém instintos para acompanhar sua nova forma. Um mago normal que se transforma em um animal terá grandes problemas para se mover em seu novo corpo e até mesmo interpretar os sentidos do animal se eles forem muito diferentes do que os humanos estão acostumados. Um metamorfo pode entender inatamente como sua forma alternativa funciona, então não é preciso muito para que metamorfos pássaros aprendam a voar tão facilmente quanto pássaros ou para que metamorfos lobos realmente entendam o que seus narizes aprimorados estão dizendo a eles.”

“Ah”, disse Zorian em compreensão, lembrando-se de quão mal ele voou enquanto transformado em uma águia, mesmo depois de passar várias sessões praticando seu voo. “Sim, isso parece uma grande melhoria em relação a uma poção de transformação.”

“Há também um fator furtivo a ser considerado, como seus amigos metamorfos gatos podem atestar”, Raynie continuou. “É muito mais fácil usar magias de transformação discretamente quando você pode se transformar à vontade, quando quiser, na medida que quiser, sem movimentos estranhos e auxílios materiais necessários. E já que estamos falando de seus amigos gatos, deixe-me perguntar algo em que estive meio curiosa. Você sabia de tudo isso sobre metamorfos antes de conhecer os metamorfos gatos, ou você só pesquisou o assunto porque começou a andar com eles?”

“Eu sabia sobre metamorfos há um tempo quando os conheci”, disse Zorian. Era verdade, de certa forma. “Eu estava procurando ajuda com algo e fui até Vani para pedir conselhos. Ele, na verdade, me aconselhou procurá-la.”

“Eu!?” ela perguntou incrédula, franzindo a testa. “Ou você quer dizer metamorfos em geral?”

“Ambos. Mas ele recomendou você pelo nome”, disse Zorian.

“Oh?” ela se inclinou para frente em sua cadeira, curiosa. “E com o que exatamente eu poderia ajudá-lo?”

“Não importa”, disse Zorian, balançando a cabeça. “Já consegui ajuda em outro lugar, e outros me disseram que você não poderia ter me ajudado de qualquer maneira.”

“Ah, vamos lá”, ela bufou. “Isso é pura provocação. Você não pode simplesmente falar algo assim e depois dizer que não importa. Ou você me conta ou eu mando uma carta para Vani, perguntando por que ele te mandou até mim.”

Ugh. Ele não achava que ela estava falando sério, mas se estivesse, isso poderia facilmente levar a perguntas embaraçosas sobre por que Vani não se lembra de ter falado com Zorian no passado. Ele realmente tinha que aprender a controlar melhor sua língua; ele estava ficando tão ruim quanto Zach.

“É algo muito pessoal, então eu agradeceria se você deixasse o assunto de lado, ok?” Zorian suspirou. “A história curta é que eu tive o azar de acabar no caminho de um feitiço necromântico e tive um pedaço de alma estrangeira fundido com a minha. Eu queria respostas sobre o que exatamente aconteceu comigo, e Vani sugeriu que eu procurasse sua tribo para obter ajuda. Mas como ele não tinha ideia de como encontrá-los, ele nomeou você como um possível contato.”

“Ah, isso é… mais sério do que eu pensava”, ela disse. “Desculpe por ter me intrometido. Você está…”

“Estou bem”, disse Zorian, acenando para que ela não se preocupasse. “Não se preocupe com isso. Eu encontrei um bom sacerdote que me ajudou a aprender a sentir e proteger minha alma, então não deve haver mais incidentes como esse.”

“Entendo. Isso é bom”, ela disse. Ela olhou para o lado por alguns segundos, considerando algo, antes de se concentrar novamente nele. “Então você pelo menos tirou alguma habilidade útil da coisa toda?”

“Eu… não tenho certeza”, Zorian disse evasivamente. “Ainda não tenho certeza do que exatamente é a mais nova adição à minha alma ou o que ela faz.”

“Sério?” ela franziu a testa. “Mas você não disse que aprendeu a sentir sua alma?”

“Sim, e daí?”

“Então por que você não se concentra na parte emendada por um tempo e tenta descobrir o que é? Parece importante saber. Eu sei que você provavelmente quer esquecer o que aconteceu com você, mas como um metamorfa, posso dizer que é muito prejudicial ignorar partes da sua alma, porque elas não vão te ignorar.”

“Espera aí, como eu sentiria uma parte específica da minha alma?” Zorian franziu a testa. “Isso não fazia parte da lição que recebi do sacerdote.”

Raynie abriu a boca para dizer algo antes de fechá-la rapidamente. Ela ficou em silêncio por um tempo, considerando algo.

“Sabe”, ela finalmente disse, “não tenho certeza se alguém além dos metamorfos gostaria de sentir partes específicas de sua alma. Provavelmente não há necessidade. A menos que pretendam modificá-la de alguma forma, e isso geralmente é uma má ideia. E também não é algo que um sacerdote faria, a menos que seja um sacerdote muito herético. Então seu professor provavelmente nem sabia que isso poderia ser feito.”

“Ah”, Zorian disse sem graça.

“Você quer que eu te ensine como fazer isso?” Raynie perguntou.

“O quê?” perguntou Zorian. “Sério? Os metamorfos não são muito reservados sobre sua magia?”

“Não?” Raynie disse incerta. “Não sobre coisas assim, pelo menos. Isso é algo simples, todo metamorfo aprende a fazer isso quando criança. Eles têm que fazer se quiserem usar suas habilidades corretamente. Não vejo mal algum em te ensinar como fazer isso se você estiver disposto, e eu meio que sinto que lhe devo por toda a ajuda que você me deu durante as sessões de prática que você organizou.”

Huh, algo de bom saiu daquele desperdício de tempo? Este reinício foi cheio de surpresas.

“Bem, estou disposto”, ele deu de ombros. “Diga a hora e o local.”

Ele não tinha muita esperança de que uma técnica projetada para sentir uma parte de sua alma lhe daria algo particularmente substancial sobre seu marcador de alma, mas não custava nada tentar e ver se isso levaria a algo.

No mínimo, Raynie deu a entender que era uma coisa simples de aprender, então não deveria se tornar mais uma coisa competindo por seu tempo.

* * *

No fim das contas, o método para sentir partes da alma acabou sendo bem simples quando alguém realmente o apontava o caminho para você. Bem, desde que alguém já tivesse passado pelo trabalho de desenvolver um sentido pessoal de alma de antemão. Os resultados que ele obteve quando o usou para inspecionar sua alma foram… melhores do que ele esperava. Ele realmente conseguia sentir seu marcador e a maneira como ele estava tecido em sua alma, mas, diferentemente dos metamorfos, ele não tinha nenhuma compreensão instintiva de sua função e como usá-lo (se é que era algo que pudesse ser realmente usado por aquele em que estava estampado). O que fazia sentido, considerando que ele não era realmente uma parte de sua alma da maneira como a forma alternativa era para um metamorfo.

A própria Raynie parecia imperturbável com o fracasso parcial e disse a ele para continuar tentando por um tempo. Normalmente, demorava meses para os metamorfos mapearem completamente a maneira como as diferentes partes de sua alma interagiam entre si, e embora ela duvidasse que o caso dele se tornasse tão complexo quanto um metamorfo, ela sentiu que era muito cedo para desistir depois de um ou dois dias.

Justo. Ele supôs que poderia reservar uma ou duas horas todo fim de semana e ver se isso levaria a algum lugar.

Enquanto isso, o dia do festival de verão se aproximava e Zorian ficou consumido com os preparativos para o fim do reinício. Desta vez, ele tinha algo um pouco mais ambicioso que queria tentar.

Ele tentaria se infiltrar na base principal dos Ibasans durante a invasão e passar pelo portal dimensional para ver aonde ele levava. E então, esperançosamente, encontrar alguém novo e mais interessante para interrogar do outro lado.