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    — E-espera Ester! Como diabos você conseguiu esses ingressos? — perguntei.

    Não fazia sentido. 

    Ester, uma dona de pousada, em contato com uma nobre? Mesmo que não queira diminuir ela, ainda é uma situação muito estranha.

    — Vocês não precisam saber. Só tenham em mente que eu tinha ingressos para mim, meu marido e mais um acompanhante. E já que Jorge não vai… É perfeito.

    Mas… eu nem tinha falado para ela que Gaia tinha voltado. Ester apenas tinha visto ela agora, e até diferente da última vez que se encontraram. Tinha algo muito estranho nessa história…

    Dei uma leve cotovelada em Gaia e ela logo percebeu o que queria falar com aquilo. Colocou sua mão para trás da cabeça, olhando para o além.

    — Oi, Ester — disse Gaia. 

    — Ahh! Gaia! — Antes mesmo que percebesse, Gaia já havia sido puxada para a mesma sessão de beijos que tinha passado.

    Dessa vez, só pude olhar e rir da sua face incomodada com essa ação. Mereceu bastante. 

    — Como está, minha querida? Está cuidando bem de Seven? Como foi sua viagem? Soube pelas cartas que tinha saído para bem longe. Ainda bem que voltou, Seven sentia sua falta — falou Ester.

    Logo ela soltou Gaia. 

    — Estou bem. — Após esse assunto ser tocado, sua expressão mudou drasticamente. Como se ainda sentisse uma culpa maçante do que fez.

    Não podia ajudar ela nesse quesito, afinal, é algo que Gaia deve lidar consigo mesma. O meu perdão havia sido dado.

    Pus a mão em meu bolso e senti algo muito estranho. Retirei com muito cuidado, apenas para ver o colar que havia perdido na torre. Ou melhor, eu realmente o perdi na torre? Não sabia. 

    Confusa, apenas rodei ele. A pequena moeda não era nada compatível com a usada no estado, então não adiantaria de nada tentar ganhar algum dinheiro com ela. Ah! Talvez penhorar seja uma ótima ideia.

    Hehe. Será que valia a pena tirar proveito do objeto dado pelo Velho? Vou ter que tentar.

    Coloquei de volta no bolso, seguindo para mais perto de Gaia. 

    — Tem certeza de que isso é certo? Você não os roubou ou nada assim, né… — murmurei.

    — Claro que não! Tá achando que eu sou o quê? Uma ladra? — gritou Ester.

    Tentei manter o tom baixo, mas não foi o suficiente para evitar que ela gritasse isso em público. Foi constrangedor, afinal pude ver algumas pessoas olhando para cá assim que Ester berrou.

    — Por favor, não grite… — sussurrei, tentando manter o tom baixo como predominante na conversa.

    Ela parece ter percebido o que estava tentando fazer. Logo percebeu que seu comportamento não era tão adequado a se fazer em público, então seguiu minhas instruções.

    — Olha… é uma festa chique, naquele palácio ali — apontou.

    Quando olhei para onde direcionava sua mão, pude ver um castelo no alto de uma pequena colina. Suas cores eram claras, bastante claras. Tão claras que fizeram meus olhos doerem, apenas de olhar ao longe.

    Arquitetura formosa, torres bem construídas e um grande sino, localizada dentro de uma daquelas estruturas.

    — É que… eu fui… — Hesitou. — Deixe essa parte para lá. Saibam que eu sou muito amiga dela, só isso mesmo. Esses convites são todos verdadeiros, então não vamos ter problemas.

    — Hmmm… Só um segundinho, Ester.

    Puxei Gaia um pouco para longe, perto de algumas árvores.

    — Não faça esses movimentos tão de repente… — Gaia colocava parte de trás de sua mão sobre a boca. — Assim você me faz…

    Que? 

    — Ei! Eu não te chamei aqui para isso.

    — Foi para quê, então? Estamos longe das pessoas e não vai ter incômodos.

    — Ô, cabeça oca! Que diabos está passando nessa sua cabeça? — Dei um leve soco em Gaia. — Mas, voltando ao assunto… Você vai querer ir?

    — Ir para onde? — Ela ainda parecia constrangida, então dei outro soco leve. — Ah, para a festa? Se você quiser…

    Hmmm. 

    Poderia ficar em meu aconchego e voltar para Azaleia, esperando o dia da expedição. Ou ir para a festa que Ester me convidou, onde experimentaria iguarias novas e de quebra veria Gaia com uma roupa nova…

    Acho que, apenas de pensar um pouco, a resposta se tornou óbvia.

    Voltamos para perto de Ester, que estava apenas apoiando seu rosto em uma mão. Ela parecia diferente agora, como se tivesse visto uma coisa nova.

    Seu rosto parecia levemente corado e, mesmo sem falar exatamente o motivo, eu já imaginava o porquê.

    — Nada aconteceu ali — disse.

    — Não precisa se explicar, mocinha! Está tudo bem — respondeu Ester, com a cara mais cínica que já vi. — E então, pombinhas, vão querer me acompanhar nessa jornada? 

    — Vamos.

    — Oh! — Sua expressão demonstrava surpresa a minha resposta, como se esperasse que eu dissesse não. — Poderia repetir? Meus ouvidos estão falhando bastante recentemente.

    — E-eu disse que vamos! — A voz saiu hesitante da minha boca.

    Sabia que Ester estava fazendo isso para me provocar. Olhei para seu rosto, e tudo que pude ver foi um sorriso de vitória.

    — Que tal me ajudar com outra coisa antes? Afinal, a festa é amanhã à noite, não hoje.

    Ufa.

    Um alívio repentino subiu pela minha espinha ao ouvir essa informação. Pelo menos iria ter algum tempo para preparar as roupas.

    Mas Gaia… ela ficaria bem no quê?

    Uma nova dúvida surgiu em minha mente.

    — Para que precisa de ajuda, Ester? 

    Ela abriu um sorriso.

    — Tudo no seu tempo, Seven. Me siga que eu mostrarei para vocês. 

    Mais uma vez, Ester plantou outro mistério em minha mente. A primeira foi quando enviou uma carta pedindo para que viesse encontrar ela nessa cidade, e agora, essa sua repentina solicitação de ajuda. 

    Segui Ester pela cidade, e ao meu lado, Gaia acompanhou.

    Mesmo na neve, pude ver várias pessoas com roupas leves e curtas. Sabia que em Erica as ventanias e o frio eram menores, mas o suficiente para poderem utilizar essas vestimentas? … Intrigante.

    Podia escutar sinos ao longe tocando. Mas não do palácio, e sim de barcos. No caminho, Ester foi explicando um pouco sobre a cidade, e a cada vez que falava, me interessava mais e mais por esse pedaço de mundo.

    Havia algumas carroças levando caixas de madeira, que deduzi ser alguma mercadoria para exportação. Diferente de Azaleia, pessoas jovens pilotavam esses veículos. Eram famílias, alguns adultos sozinhos, outros com esposas, que direcionavam as carroças.

    Então é mais cultural do que um trabalho…


    [Hefesto está intrigado!] 

    É, até eu.

    Pelo que foi dito por Ester, essa cidade vem ganhando bastantes lucros recentemente, apenas por encontrar uma forma nova de preservar uma espécie de peixe: o atum. 

    Espécie marinha essa que quase havia sido dada como extinta. Fiquei ansiosa, afinal iria experimentar uma nova carne, e não existia nada melhor que isso.

    Gaia seguiu o caminho em silêncio. Em um certo momento da caminhada, tentou levemente segurar em minha mão, mas parece que seu subconsciente interveio. 

    Não contestei sua decisão. Afinal, se ela tinha coisas a resolver com ela mesma, era melhor deixá-la decidir sozinha.

    E, quando chegamos ao nosso destino, pude ver uma grande pousada. Chique e elegante, feito do mais puro mármore.

    — Aqui, finalmente chegamos! — exclamou Ester.

    — Essa é sua nova pousada…? — perguntei.

    — Claro que não! É onde eu estou me hospedando. Afinal, minha pousada é localizada em Camélia. — Mais uma vez, um sorriso cínico apareceu plantado em seu rosto.

    — Entendo… Mas, para que colocar tanto suspense nesse seu pedido? 

    — É mesmo! Já tinha esquecido que não tinha falado para vocês o motivo. — Ela bateu em sua testa. — Além da festa, precisava de algumas cobaias para experimentar umas roupas.

    Então as coisas iam mais a fundo do que pensei…


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