Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura:
Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!
Capítulo 87 — Respostas Pecaminosas
Víctor observou-o por um longo momento, seu rosto impassível, mas havia algo nos cantos de seus olhos — uma aprovação silenciosa, talvez, ou simplesmente a satisfação de um caçador que finalmente vê sua armadilha ser acionada. Calli, no entanto, ainda se sentia deslocado. Um estranho em seu próprio corpo. Um intruso em sua própria mente.
E então, a dúvida surgiu. Não como um pensamento passageiro, mas como uma necessidade urgente, uma pergunta que queimava em sua garganta.
— O que são esses artefatos?
A pergunta ecoou no ar, e por um breve instante, Calli teve a certeza de que já sabia a resposta. Era como se o fragmento de Asharoth — esse nome agora tão familiar, tão pertencente — sempre tivesse estado ali, sussurrando verdades que ele ainda não conseguia decifrar completamente.
Víctor não respondeu imediatamente. Em vez disso, começou a se afastar, seus passos ecoando suavemente no chão de pedra enquanto se dirigia para fora do cômodo. Seu olhar, porém, permaneceu fixo em Calli, como se medisse cada uma de suas reações.
— Nada mais do que artifícios que remontam a histórias tão antigas que sequer temos registros.
Sua voz era suave, quase professoral, mas havia uma corrente subterrânea de algo mais sombrio, algo que sugeria que essas palavras eram apenas a ponta de um iceberg muito maior.
— De certa forma, os artefatos são inferiores àquilo que os investigadores chamam de “relíquias”.
“Relíquias.”
A palavra pairou no ar, carregada de um peso que Calli não conseguia ignorar. Havia algo nela, algo que fazia seu peito apertar, como se uma mão invisível estivesse comprimindo seu coração.
Víctor continuou, agora já próximo dos escombros que marcavam a saída do local.
— Relíquias são objetos que recebem tanta da energia desconhecida que transcendem, criando um próprio ego a partir da própria existência de suas histórias. Nelas residem espíritos dos mais variados tipos e lendas. No entanto, aqueles que firmam um contrato com uma relíquia precisam prometer algo em troca. E também… precisam se assimilar a ela.
“Assimilar.”
O termo ecoou na mente de Calli, familiar e estranho ao mesmo tempo. Havia uma ressonância ali, como se essa palavra fosse uma chave para algo muito maior, algo que ele ainda não conseguia enxergar completamente.
— Assimilar-se a uma relíquia fortalece o usuário, mas também faz com que ele, aos poucos, se torne semelhante ao espírito que a habita. Seja em características físicas… ou psicológicas. É uma mutação. Uma transformação inevitável.
O pensamento cortou Calli como uma lâmina.
“Leo. Ele também teve que fazer isso?”
A imagem de seu irmão surgiu em sua mente, e com ela veio uma onda de desconforto. Ele sempre soube, em algum nível, que Leo estava mudando. Mas ouvir isso dito de forma tão crua — que ele poderia não apenas usar um poder, mas se tornar algo diferente — era diferente. Era como se uma porta tivesse se fechado em sua mente, trancando dentro dela a possibilidade de que, um dia, Leonard poderia não ser mais o Leo que conhecia.
Víctor, aparentemente alheio à turbulência interna de Calli, continuou.
— E então vêm os artefatos. Antes de uma relíquia se tornar o que ela é, ela reside no formato de um artefato. Independente do item utilizado. Sua concentração dessa energia não é suficiente para criar um ego próprio, mas também não a deixa ser algo comum.
Ele parou por um momento, pigarreando. Sua voz estava mais áspera agora, como se as palavras estivessem arranhando sua garganta por dentro.
— Usando esses artefatos, conseguimos criar espécies de “relíquias artificiais”, emitindo para fora uma parte do pacto que fizemos — ou recebemos — dos espíritos. São diferentes das relíquias verdadeiras, porque a forma como funcionam é… imposta. Controlada.
“Iguais… mas também diferentes.”
Calli olhou para a espada em sua mão, agora marcada com os símbolos dourados. Ela não era uma relíquia. Mas também não era apenas uma arma. Era algo no meio do caminho — um fragmento de poder, um eco de seu pacto.
Víctor esfregou o pescoço, claramente cansado.
— Esses artefatos, por possuírem uma parte de nossos contratos, com isso conseguem emular algumas das habilidades dos espíritos sem trazer danos diretos ao portador. Por isso os usamos.
— Entendi…
As palavras saíram de seus lábios como um suspiro, mas Calli sabia que não era verdade. Ele não entendia. Não completamente. Ainda assim, havia algo reconfortante em dizer aquilo, como se fingir compreensão pudesse, por um momento, acalmar a tempestade de perguntas que girava em sua mente.
Finalmente, ambos atravessaram os escombros, deixando para trás o cômodo que havia sido palco de sua transformação. O cômodo lá fora estava exatamente como antes — ou quase. A poeira ainda pairando no ar, os mesmos raios de luz fraca filtrando pelas frestas do teto, o mesmo cheiro de álcool de um lugar que o tempo parecia ter esquecido.
A única diferença eram os rastros de destruição que haviam deixado para trás, um lembrete silencioso de que algo ali havia mudado, mesmo que o mundo ao redor insistisse em permanecer o mesmo.
Calli olhou para sua mão, esperando ver a espada negra, mas ela não estava mais lá. Em seu lugar, um pequeno colar de prata repousava em sua palma, pendurado por uma corrente fina e delicada. No centro, uma pequena lâmina escura, quase como um pingente, brilhava sob a luz difusa. Era estranho pensar que aquilo era a mesma arma que, momentos antes, parecia pulsar com vida própria.
Antes que pudesse questionar, Víctor pigarreou, um som áspero que quebrou o silêncio. Ele parecia desconfortável, como se algo estivesse preso em sua garganta — ou talvez fosse apenas mais um daqueles gestos calculados, uma forma de chamar atenção sem precisar dizer uma palavra.
— Coff, coff… Ah, certo. Aurora, Alice, podem consertar isso?
Ele se virou para as duas garotas de cabelos prateados que estavam sentadas em um canto, observando tudo com olhos curiosos. A mais baixa — Aurora, Calli presumiu — se levantou com um salto, seus pés quase não fazendo barulho contra o chão amadeirado. Ela se aproximou da parede danificada, seus dedos finos pairando sobre os escombros como se estivesse tateando o ar.
Calli ficou parado, observando.
Então, algo aconteceu.
Aurora fechou os olhos, e de suas mãos surgiu uma energia azulada, tão suave quanto a luz da lua refletida na água, mas com uma intensidade que fazia o ar ao seu redor vibrar. A poeira começou a se agitar, os pedaços de pedra que haviam sido arrancados da parede se movendo lentamente, como se puxados por fios invisíveis. Era sinistro. Não pelo que estava acontecendo, mas pela naturalidade com que tudo se reorganizava, como se o tempo estivesse sendo rebobinado, cada fragmento retornando ao seu lugar original.
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