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    — Não! Me perdoe, por favor! — sussurrou Seven.

    Naquela pequena sala, Seven tremia em meio a seu sono. Não sabia o que lhe causava aquilo e nem como ajudar.

    Essa não era a primeira vez… e não tinha cara de ser a última.

    A única coisa que pensei para tentar livrá-la dessa dor foi abraçar Seven.

    Coloquei o lençol por cima de nós duas, apoiando sua cabeça em meu braço. A puxei para perto, na tentativa de fazer ela se sentir segura. Mas, nunca pareceu ser o suficiente.

    Seu corpo parou de tremer assim que grudou ao meu, contudo, os murmúrios nunca pararam. Tinha várias suposições do que poderia estar acontecendo, e a quase certeza de uma.

    — Mãe… não faça isso… — murmurava.

    Não queria aceitar nenhum desses palpites, na tentativa de recuar do sofrimento. Ela chorava e soluçava enquanto dormia. Tinha certeza de que seria pior que ontem.

    Passei a noite em branco, mais uma vez.


    — Ei… Acorda, sua dorminhoca! — Seven riu.

    Levantei de meu querido e curto sonho, um que com certeza não me importaria de lembrar. 

    — Hmmn… Dormiu bem? — Me espreguicei.

    — Ah, foi legal. Não foi a primeira vez que fizemos isso, mas fazer em um colchão é muito mais confortável — disse Seven. — E você… dormiu bem com seu novo urso de pelúcia?

    Ela não vai falar nada? Nada sobre seus sonhos?

    Ou talvez… ela não queira me falar nada.

    — O suficiente para querer dormir com essa pelúcia toda a noite — respondi.

    Seven corou ao escutar minha resposta. 

    É, pelo visto, ela ainda está normal… Que alívio.

    Será essa uma ótima oportunidade?

    Me aproximei, dando um leve e rápido beijo próximo aos seus lábios. Vi rapidamente sua expressão quando realizei o que tanto queria; ela tinha se tornado um tomate de tão vermelha que estava.

    Após essa ação, me levantei rapidamente, indo até a porta do quarto de Ester.

    Bati na porta.

    Ela demorou um pouco para atender, mas quando abriu a porta, foi como se eu me arrependesse instantaneamente dessa decisão. 

    Ester se cobria apenas com o lençol branco de sua cama. Seus cabelos bagunçados e seu jeito desajeitado deram uma pequena impressão do que estava rolando.

    Assim que me viu, ela rapidamente fechou a porta na minha cara.

    — G-G-Gaia! — gritou. — U-um segundo, florzinha!

    Eles tinham mesmo que fazer isso aqui?

    Se bem que essa viagem deles foi atrapalhada por mim e Seven, não posso culpar eles por isso. 

    Não tinha como me sentir constrangida por estar presenciando isso. Afinal, era nada mais que cômico.

    — Meu deus, já vai dar meio-dia! — gritou Jorge.

    É… parece que eles estão realmente encrencados. 

    Murmúrios dominaram o quarto em minha frente… por longos minutos. Isso durou até que finalmente a maçaneta girou novamente.

    — O-oi… é… as vestimentas, né? — disse Ester.

    — … Pelo visto, sim.

    Nunca tive tanto contato com Ester e isso deixava o clima ainda mais estranho. Ver Jorge calçando os seus sapatos no fundo do quarto, Ester arrumando seu cabelo na minha frente e a cama toda bagunçada não ajudaram em nada nessa situação.

    — Só mais um segundinho então. — Ela foi até Jorge, o expulsando de seu próprio quarto.

    Ester fez logo um sinal, me chamando para dentro do quarto. Vendo seu gesto, cheguei mais perto de Seven, que ainda estava paralisada com a minha ação.

    Sorri.

    Puxei-a pelo capuz até o quarto, até porque, não parecia querer se mover tanto assim. Assim que chegamos na frente de Ester, foi quando Seven parecia ter percebido a situação.

    Ela se levantou com o rosto ainda corado. Bateu a mão duas vezes sobre sua bochecha, voltando para a realidade.

    — O que você fez a essa menina? Olhe para ela, vai explodir a qualquer momento — disse Ester, apontando o polegar para Seven.

    Dei de ombros para sua pergunta.

    — Quem sabe.

    — E-Ela… — murmurou Seven, escondendo sua face por trás de sua mão.

    Ester, com uma expressão raivosa, me expulsou do quarto quase imediatamente.

    Não pude escutar nada que veio lá de dentro, apenas alguns murmúrios de vez em quando.

    Jorge estava sentado no sofá, ainda se ajeitando. Estava claramente desconfortável com minha presença, mas não era o suficiente para me incomodar.

    — É sempre assim…? — perguntei.

    Ele se assustou imediatamente com minha pergunta, tacando o pente que estava sendo utilizado para longe. 

    Revirei os olhos.

    — Ehm… Ester? — Ele não respondeu diretamente. Isso me deixou irritada. — Haha… Sempre… senti isso na pele.

    Ele riu desajeitadamente. 

    E, após isso, um silêncio constrangedor dominou o cômodo.

    Até que finalmente a porta do quarto foi aberta.

    Minha mente imaginou vários estilos dos quais Seven poderia estar vestida. Mas não importava qual era, todos acabaram ficando excelentes em minha imaginação.

    E então? No que ela estava vestida?

    Uma névoa imaginária escondeu sua roupa. Pelo menos até meus olhos focarem nela. E ela estava… vestida normalmente?

    — Por que você está assim?

    — Ué… assim como? Estou normal, acho.

    Fiquei extremamente confusa, pensando no que poderia ter acontecido. Será que voltaríamos para Lótus agora? Deu realmente tudo errado com Ester?

    — Mas… Eu queria ver você com roupas diferentes — disse.

    E, após alguns momentos, prestei atenção no que tinha dito. Meu pensamento havia simplesmente saído por minha boca, deixando ainda mais desconfortável o ambiente.

    Ela riu docemente.

    — Sua boba.

    — Parem de flertar. Estou realmente tendo um ataque nos nervos vendo isso — Ester puxou uma fita métrica do bolso. — Tsk. Nem eu e Jorge somos assim — murmurava. 

    Sua expressão nada boa me chamou para entrar no quarto.

    Hesitei no primeiro momento, pensando em quantas coisas ruins poderiam me acontecer se eu colocasse um dedo dentro daquele cômodo. Mas, acabei cedendo ao chamado.

    A cada passo que dava para dentro do quarto, era como se fosse um passo para a morte. Sentia uma pressão imensa vindo do olhar de Ester.

    Até que… ela fechou a porta.

    — Então, Gaia… quando você e Seven se conheceram? — perguntou.

    Apenas com esse início de conversa, era possível imaginar tudo que viria pela frente: perguntas e mais perguntas. Quis evitar por um breve momento a sua pergunta, mas, novamente, cedi à pressão.

    — Foi na rua… nos esbarramos e aqui estamos — respondi com uma clara mentira.

    Ela começou a me medir com a fita métrica. Primeiro os braços, depois as pernas e, por fim, o busto.

    — Tem certeza disso…? Seven não me contou essa história.

    Ester perguntou para Seven também? Que droga, droga, droga.

    Meu corpo começou a tremer, pensando no que poderia me salvar daquela situação. Nada vinha à mente. E agora!?

    — Bwahaha! — Ela riu. — Por que você está assim? Hahaha… Era claramente uma mentira.

    Um alívio repentino surgiu.

    Foi como se tivesse rejuvenescido 30 anos de uma vez só.

    — Tem preferência de roupa? Talvez um vestido, ternos, coletes… — disse Ester.

    — Vestidos, se possível.

    E, pelo resto da tarde, Ester ficou testando várias combinações de vestidos em mim até achar o perfeito.

    No final de tudo, fui expulsa assim que trocada.

    Foi-me passada maquiagem, algumas joias e um vestido de se invejar. Um vestido roxo e longo, com alguns detalhes em preto. Luvas de cores combinando e um pano do qual utilizei para me enrolar, na tentativa de evitar um pouco mais o frio.

    Fiquei na porta da pousada, assim como Ester havia mencionado. Esperei… esperei e esperei. Mas, no final, apenas uma carruagem de luxo apareceu na frente da pousada.

    Deveria ser de alguma nobre hospedada naquele lugar, então, acabei não me importando.

    Estava ansiosa o suficiente, pensando em todas as versões diferentes de roupas que Seven poderia estar usando. 

    Até que a porta da pousada se abriu, e Seven saiu de lá.

    Ela estava… linda.

    Roupas quase militares tingidas a um verde escuro. 

    Obtinha uma capa de ombro que cobria apenas a parte esquerda de seu corpo, mudando totalmente seu estilo mais recluso.

    Não pude deixar de tirar meus olhos dela por um único minuto.

    Cheguei mais perto, estendendo minha mão para que pudesse descer os degraus com segurança. Seven recusou a minha ajuda, o que me deixou muito triste a princípio.

    — Suponho que seja melhor eu fazer esse gesto, Gaia. 

    Desceu os degraus graciosamente e logo pediu minha mão. Aceitei, sendo conduzida até a carruagem desconhecida.

    — Mas… essa carruagem…

    — Fique tranquila, afinal, é a carruagem que Ester indicou. — Sinalizou ao cocheiro. — Eles virão mais tarde… pelo menos me disseram isso.

    O caminho foi calmo.

    Pessoas andavam para o festival que também ocorria naquele lugar. Mas, eu e Seven, estávamos indo em direção ao palácio acima da colina.

    Chegamos em um lugar chique.

    Tudo cheirava à riqueza.

    Na frente do palácio, dois guardas repousavam. Assim que chegamos, eles imediatamente pediram os convites para o baile.

    Seven por sorte havia trago lacrado para eles, que em pouco tempo abriram. O olho do primeiro guarda se arregalou, e logo após o segundo entrou em desespero. 

    — Q-que? Esse convite é legítimo?

    Um frio passou pela minha barriga, pensando que tudo poderia dar errado. Logo, outro guarda chegou.

    Ele pegou o convite para checar sua veracidade e…

    — Meu deus!

    Eles começaram a cochichar entre si. 

    Murmúrios e murmúrios, até um deles passar a informação ao corneteiro que se mantinha dentro do palácio.

    A mensagem demorou para chegar até ele. Enquanto isso, eles devolveram os convites que tinham pego. Sinalizavam em sinal de reverência, como se fôssemos alguém muito importante.

    Descida carruagem confusa

    E o corneteiro finalmente anunciou a nossa chegada. 

    Uma música militar começou a tocar. Não era a primeira vez que tinha escutado ela, afinal, era usada para marcar a chegada dos…

    — Saúdem! Os convidados da vice-comandante do décimo sexto batalhão de infantaria Ester estão na casa. Seus convidados se mantêm presentes na casa para nada mais que suprir sua ilustre presença. Com honra a nosso império! — bradou o corneteiro.

    Essa era a última coisa que eu poderia imaginar.


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