Capítulo 15 - Entre o Desespero e a Esperança
Depois de muito chorar em silêncio, Amanda acabou cedendo ao cansaço. Ali mesmo, no chão frio do hospital, encostada na parede, ela fechou os olhos, permitindo que a exaustão a envolvesse. Suas lágrimas secaram no rosto, e sua respiração, por fim, tornou-se calma e regular. No silêncio inquietante do hospital, ela adormeceu, mergulhando em um sono inquieto.
No meio desse sono, as palavras escaparam suavemente de seus lábios:
— Papai…
A memória a transportava para tempos melhores, dias de alegria e despreocupação. Era um dia ensolarado na praia. Amanda brincava com seu pai, jogando vôlei na areia, enquanto as risadas preenchiam o ar. Sua mãe estava próxima, sentada em uma cadeira de praia, protegida por óculos escuros e aproveitando o calor do sol. Amanda, com sua energia infindável, acertou a bola com força surpreendente, lançando-a para longe. Seu pai riu, impressionado:
— Uau! Que força! Certeza que puxou sua mãe.
Amanda retribuiu com um sorriso doce, seus olhos brilhando de felicidade. Enquanto ele corria para buscar a bola, algo inesperado aconteceu. Sua visão começou a escurecer, e um aperto tomou conta de seu peito. Ele caiu, sem forças, na areia. Amanda viu a cena e, preocupada, chamou:
— Pai? — quando percebeu que algo estava errado, gritou em desespero: — Pai!
A transição foi abrupta. Amanda despertou com um sobressalto no chão do hospital. A frieza do piso e a opressão do ambiente estéril eram um contraste amargo com a vivacidade de seu sonho. Ela piscou algumas vezes, ajustando-se ao presente, mas o peso do passado ainda estava ali, como uma sombra que não a deixava.
Agora, estavam no hospital. O ambiente estéril e frio contrastava com a vivacidade do momento anterior. O pai jazia em uma cama, enquanto a mãe conversava com o médico ao lado, preocupada e aflita. Amanda olhava pela janela, sem conseguir ouvir as palavras trocadas, mas viu o rosto da mãe se desmoronar ao ouvir algo do médico. As lágrimas começaram a cair pelo rosto da mulher, e Amanda, mesmo sem escutar, sentiu um nó no peito. Seus olhos se encheram de água.
Mais tarde, sua mãe se abaixou ao lado dela. Com um olhar carregado de dor, tocou suavemente o rosto da menina e disse, quase em um sussurro:
— Seu pai está doente, Amanda… Ele tem câncer.
A revelação foi como um choque elétrico. Amanda não conseguia encontrar palavras, nem lágrimas. O vazio tomou conta. Sua mãe a segurou firme, permitindo que a própria tristeza transbordasse.
Os dias passaram. A família tentou aproveitar ao máximo o tempo juntos, mas o câncer avançava. O pai perdia forças, e até seus cabelos começaram a cair. Ainda assim, ele lutava para manter uma imagem forte diante de Amanda, tentando esconder suas fraquezas para poupá-la de preocupações. Mesmo enfrentando dias difíceis, houve momentos de felicidade. Viagens, comidas exóticas, risadas compartilhadas. Cada instante era precioso. Contudo, após cinco meses, o inevitável aconteceu. O pai faleceu.
No dia do funeral, a chuva caía incessantemente, como se o céu chorasse junto com eles. O ambiente sombrio só intensificava o vazio sentido. Amanda estava diante do caixão ao lado da mãe. Amigos e familiares se aproximavam, oferecendo condolências. A menina, porém, já não tinha mais lágrimas para chorar. Seus olhos estavam fundos, esgotados de tanto sofrimento. O foco dela permanecia totalmente no pai, enquanto sua mente o imaginava chamando seu nome:
“Amanda… Amanda…”, a voz gradualmente se transformava na de Gerald, seu tio.
De volta ao presente, Amanda despertava com lágrimas escorrendo pelo rosto. Seu tio sacudia-a suavemente, chamando:
— Amanda, acorde.
Assustada, ela abriu os olhos. Ao seu redor, o grupo estava preparado, lanternas acesas, prontos para seguir caminho. Amanda limpou as lágrimas, ergueu-se com determinação e juntou-se ao grupo.
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Continuaram enfrentando os mortos-vivos na escuridão dos corredores. Durante o trajeto, sofreram mais duas baixas: um casal que, em desespero, tentou fugir e acabou se deparando com mais mortos-vivos. Com essa perda, restaram apenas sete sobreviventes, incluindo Amanda e Gerald.
Apesar do pânico, o grupo lutou bravamente. Após muita luta, cansaço e desespero, finalmente conseguiram chegar à sala de medicamentos. A escuridão envolvia a sala de medicamentos como um manto pesado. Ao entrarem, foram recebidos por um cheiro forte de antisséptico misturado ao mofo, e a iluminação escassa tornava cada canto um mistério.
Mesmo exaustos, os sobreviventes sentiram uma onda de alívio ao avistar os remédios nas prateleiras, lágrimas de alegria brotando em seus olhos. Apesar das perdas e do desespero que os cercava, aqueles suprimentos poderiam fazer toda a diferença.
Gerald, com a voz firme, lembrou a todos:
— Não baixem a guarda.
Enquanto cinco deles começaram a organizar os medicamentos e avaliar o que era útil, dois ficaram do lado de fora, atentos e prontos para qualquer ameaça. A tensão ainda pairava no ar, mas a esperança renascia entre eles.
Enquanto coletavam os medicamentos, Amanda procurava com desespero. Seu coração palpitava rapidamente, e ela temia não encontrar o que precisava. As caixas de remédios foram jogadas ao chão à sua pressa.
— Vá com calma, Amanda. Esses remédios que estão caindo podem salvar vidas — advertiu um homem do grupo, com um olhar de desaprovação.
Amanda ignorou suas palavras e continuou a busca. Após incontáveis remédios serem espalhados pelo chão, ela parou abruptamente. Seus olhos se arregalaram: havia encontrado o que procurava.
As lágrimas brotaram instantaneamente. Limpou os olhos com as mangas da blusa e fixou o olhar no frasco.
“Finalmente, mãe. Agora você vai ser curada.”, pensou Amanda, seus olhos brilhando de esperança. A felicidade a tomou, e ela começou a chorar.
Gerald, que mantinha a guarda dentro da sala, respirou fundo, aliviado ao vê-la assim. Ele lembrou-se de como os levou até ali e da promessa feita aos pais de Amanda: protegê-la com todas as suas forças.
Ao notar o sorriso dela, sentiu uma onda de determinação. Aproximou-se, colocou a mão sobre seu ombro e a puxou para seus braços, permitindo que ela chorasse livremente.
— Você fez bem, querida. Seu pai se sentiria orgulhoso. — disse Gerald, consolando-a.
De repente, um forte barulho vindo da porta espantou a todos, interrompendo a felicidade do momento e fazendo-os voltar o olhar para a entrada.
Uma das pessoas que estava de vigia apareceu no vidro da porta, coberta de sangue, com os olhos arregalados de pânico. Sem dizer uma palavra, ela saiu rapidamente, deixando apenas o som dos mortos-vivos ecoando lá fora. O grupo, que até então estava concentrado nos medicamentos, sentiu seus corações acelerarem.
O ambiente, já carregado de tensão, tornou-se ainda mais opressivo. Os calafrios percorreram seus corpos, e o medo se espalhou como uma onda invisível.
Os gritos dos que estavam fora começaram a ecoar pelos corredores, misturando-se ao som grotesco dos mortos-vivos. Amanda sentiu seu peito apertar, enquanto Gerald, com o facão em mãos, olhava fixamente para a porta. O grupo estava paralisado, incapaz de decidir o próximo passo. Foi então que um dos sobreviventes, tomado pelo desespero, correu até a porta.
— Não abra! — gritou Gerald, mas suas palavras foram abafadas pelo som da porta sendo destrancada.
Ao abrir a porta, o sobrevivente deu de cara com um morto-vivo. A criatura, com olhos vazios e dentes afiados, avançou rapidamente. Sem conseguir reagir, o sobrevivente foi brutalmente atacado. O grito de dor foi tão intenso que fez Amanda cobrir os ouvidos. Gerald correu até ele, golpeando o morto-vivo na cabeça com um corte lateral do facão. A criatura caiu, mas o estrago já estava feito.
O sobrevivente estava no chão, com o pescoço sangrando da mordida. Ele gritava, tentando estancar o sangramento com as mãos trêmulas. Gerald olhou para ele, seu coração pesado com a decisão que sabia que precisava tomar. Ele ergueu o facão, mas hesitou por um momento. O olhar de desespero do homem parecia o olhar que seu irmão fez em seus últimos segundos de vida.
— Me desculpe… — murmurou Gerald, antes de desferir o golpe final. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor, interrompido apenas pelos sons dos mortos-vivos que se aproximavam.
Os gritos haviam atraído mais criaturas para perto deles. Amanda, ainda em choque, sentiu Gerald puxá-la pelo braço com firmeza.
— Se preparem! — gritou Gerald, segurando seu facão com força, os olhos fixos na porta que tremia sob a pressão dos mortos-vivos.
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