Capítulo 104 - Lendas do passado
Escola Secundária 25 – Hora do Recreio
O som dos estudantes conversando e rindo ecoava pelos corredores da escola. O cheiro da cantina tomava conta do ambiente, misturando-se ao barulho de cadeiras arrastadas e ao tilintar de talheres. Mas, dentro da sala de aula número 3-A, um grupo de quatro rapazes estava imerso em um assunto muito mais sério.
Yoru estava sentado na mesa do professor, com os braços cruzados e um olhar atento. À sua frente, Ben, Hayato e Ryuij conversavam animadamente sobre algo que parecia muito mais interessante do que qualquer aula que poderiam ter naquele dia.
— Então vocês estão me dizendo que antes de eu chegar aqui, essa escola já era um inferno? — Yoru perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Ben riu, se encostando na cadeira. Os hematomas da noite anterior ainda estavam visíveis em seu rosto, mas ele parecia não se importar.
— Irmão, você não tem ideia. Antes de você aparecer, a gente só sobrevivia. Não tinha essa de dominar ou crescer. Era só sair vivo no final do dia.
Ryuij, que até então estava só ouvindo, cruzou os braços e assentiu.
— Antes da gente, existiu uma geração que realmente era insana. A gente chamava de “Geração das Guerras”.
— Geração das Guerras? — Hayato repetiu, curioso.
— É. O Japão inteiro era um campo de batalha. Naquela época, não existiam apenas 35 escolas dominantes como hoje. Eram mais de 50 gangues espalhadas pelo país, e todas se odiavam.
Yoru se inclinou um pouco para frente, interessado.
— E o que aconteceu? Como só sobraram 35?
Ben olhou para Ryuij, como se o incentivasse a contar.
— Bom… dizem que naquela época, existiam certas “lendas”. Pessoas que eram fortes o suficiente para varrer gangues inteiras sozinhas. Não eram como a gente. Eram verdadeiros monstros.
Yoru franziu o cenho.
— Quem eram eles?
Ryuij respirou fundo antes de continuar.
— Eu não sei os nomes de todos, mas existiam algumas figuras que são lembradas até hoje. Tipo… “O Rei Fantasma”.
Hayato se inclinou na cadeira.
— Quem é esse?
Ben riu e bateu na mesa.
— Parece até história de terror, mas dizem que esse cara era um líder que nunca era visto em batalha. Todas as gangues que iam contra ele simplesmente… desapareciam. Ninguém sabe se era porque ele era forte demais ou se ele fazia algo nos bastidores, mas o cara dominou metade do país sem nem sujar as mãos.
Yoru ficou pensativo.
— E ele sumiu?
— É o que dizem. Um dia, ele desapareceu, e a gangue dele foi destruída logo depois. Ninguém nunca encontrou o corpo dele.
O grupo ficou em silêncio por um momento. A ideia de um líder tão poderoso sumir sem deixar rastros era estranha.
— Mas ele não foi o único. — Ryuij continuou. — Havia também o “Carniceiro de Osaka”. Esse cara não lutava, ele massacrava. Qualquer um que entrava no caminho dele acabava hospitalizado por meses ou, em alguns casos, sumia para sempre.
Hayato engoliu seco.
— E ele? O que aconteceu com ele?
Ben olhou para o teto, pensativo.
— mataram ele.
Yoru arqueou a sobrancelha.
— Mataram ele?
— É. Ele entrou em uma luta contra outra lenda daquela época, um cara chamado “O Tigre Negro”. Dizem que os dois lutaram por horas em um armazém abandonado. No final, o lugar inteiro pegou fogo e… ninguém nunca encontrou os corpos.
Hayato riu, um pouco nervoso.
— Isso parece coisa de filme.
Ryuij sorriu.
— Acredite se quiser, mas essas histórias são faladas até hoje. E tem uma coisa estranha…
— O quê? — Yoru perguntou.
Ryuij olhou diretamente para ele.
— Todas essas lendas… sumiram de repente. E quando sumiram, o número de gangues caiu pela metade.
Yoru ficou em silêncio.
— Você tá dizendo que…
— Que algo ou alguém fez com que essa geração fosse apagada.
O silêncio tomou conta da sala. O barulho da escola parecia distante agora.
— E as gangues que foram destruídas? — Hayato perguntou.
Ben coçou a cabeça.
— Ah, cara… Foram muitas. Mas algumas eram tão grandes que até hoje são lembradas. Como a “Manji do Leste”, que dominava toda a região leste do Japão. Dizem que o líder deles era um cara com um “instinto assassino” fora do comum. O cara podia sentir medo no ar e atacar antes mesmo de alguém reagir.
Yoru franziu o cenho.
— E o que aconteceu com ele?
Ben olhou para Ryuij, que respondeu:
— Sumiu.
— De novo? — Hayato bufou. — Todo mundo só some nessa história?
— Parece que sim.
Yoru ficou pensativo.
A Geração das Guerras… uma época onde lendas surgiam e desapareciam misteriosamente.
— Mas quer saber o que é mais louco? — Ryuij olhou para Yoru, um pouco hesitante.
— O quê?
— Tem gente que diz que algumas dessas lendas… ainda estão por aí.
O olhar de Yoru se estreitou.
— Você quer dizer que eles não morreram?
Ryuij deu de ombros.
— Quem sabe? Mas pensa… — Ele apontou para Yoru. — Você apareceu do nada e tá destruindo geral. Quem garante que não tem outros caras da nossa idade que são filhos ou discípulos dessas lendas?
Yoru não respondeu de imediato. Algo nessa teoria fazia sentido.
Ben se levantou e esticou os braços.
— Enfim, chega de papo de fantasma. Vamos comer antes que acabe tudo na cantina.
Os outros riram e se levantaram também. Mas enquanto saíam da sala, Yoru olhou pela janela, observando o céu nublado lá fora.
Aquela conversa acendeu algo dentro dele.
E se a Geração das Guerras nunca tivesse realmente acabado?
O som dos passos ecoava pelos corredores enquanto Yoru, Ben, Hayato e Ryuij caminhavam em direção à cantina. O assunto sobre a Geração das Guerras ainda ecoava na mente de todos, principalmente de Yoru.
Por um momento, tudo ficou em silêncio, até que Ben parou abruptamente.
— Ah, merda…
Yoru, que estava à frente, virou-se.
— O que foi?
Ben coçou a cabeça, seus olhos demonstrando surpresa.
— Tinha uma coisa que eu esqueci de mencionar…
Hayato e Ryuij também pararam para olhar para ele.
— Você lembra de algo importante? — Ryuij perguntou.
Ben respirou fundo.
— Sim… algo que só de pensar já me dá arrepios. Eu tô falando dos Oito Reis.
Yoru estreitou os olhos.
— Oito Reis?
Ben assentiu lentamente.
— Akira Tanaka, Mayato Nakamura, Yuki Takahashi, Emi Suzuki, Renjiro Hoshizaki, Aiko Yamamoto, Kaito Mori e Isamu Kogane. Esses eram os nomes dos oito lutadores mais fortes da primeira geração.
A menção daqueles nomes fez Ryuij arregalar os olhos.
— Espera… esses caras são lendas. Dizem que nenhum deles era humano, cada um tinha uma habilidade que beirava o impossível!
Yoru cruzou os braços, interessado.
— Me falem mais sobre eles, o Ryuji me contou, mas me diga mais coisas sobre eles
Ben se encostou na parede e começou a listar um por um.
— Akira Tanaka… Ele era conhecido pelo estilo “Foice Dilacerante”. Ele usava as mãos como lâminas, afiadas o suficiente para cortar até aço. Se você desse um golpe errado nele, ele podia simplesmente arrancar o seu braço.
Hayato engoliu seco.
— Isso é possível?
— Com ele, era.
Ryuij balançou a cabeça.
— E tem o Mayato Nakamura…
Ben continuou:
— Esse cara era um monstro. Dizem que ele tinha uma força absurda, mas o que o tornava realmente insano era que ele só lutava com uma mão. A outra ele deixava no bolso.
Yoru arqueou a sobrancelha.
— E ninguém nunca fez ele usar a segunda mão?
Ben riu.
— Não… dizem que quem fizesse isso ia morrer instantaneamente.
O grupo ficou em silêncio por um instante. Então Ryuij prosseguiu.
— Yuki Takahashi… esse é um que o estilo de luta foi completamente esquecido.
Yoru franziu o cenho.
— Esquecido?
— Sim. É como se ninguém tivesse conseguido registrar ou descrever como ele lutava. Tudo que se sabe é que ele era um dos mais perigosos.
Hayato estremeceu.
— Isso me dá arrepios.
Ben continuou.
— Emi Suzuki. Essa mulher dominava o Karatê Soukan, uma variação brutal e precisa do karatê. Dizem que seus golpes eram tão rápidos que os inimigos caíam sem entender o que aconteceu.
Ryuij bateu o punho na palma da mão.
— Renjiro Hoshizaki. Esse cara era pura força bruta. Seu golpe mais famoso era a cabeçada. Dizem que ele podia quebrar uma parede de concreto com a testa sem se machucar.
— Isso é ridículo. — Hayato comentou.
— Ridículo, mas real.
Ben respirou fundo antes de falar do próximo.
— Aiko Yamamoto… essa mulher criou o próprio estilo de luta. “Thunder Boxing”.
Yoru inclinou a cabeça.
— Thunder Boxing?
— Sim. Era um estilo de boxe tão rápido que seus socos pareciam raios. Não dava para prever de onde vinham.
Ryuij olhou para Ben.
— E os outros dois?
Ben suspirou.
— Kaito Mori e Isamu Kogane… esses dois caíram no esquecimento. Quase ninguém fala deles.
O grupo ficou em silêncio por um momento.
— Então esses eram os Oito Reis… — Yoru murmurou.
Mas Ben ainda não tinha terminado.
— Só que todos eles foram derrotados por uma única pessoa.
Os três olharam para ele, chocados.
— O quê? — Yoru perguntou.
Ben assentiu.
— Sim. Uma mulher. Seu nome era Kira.
Ryuij arregalou os olhos.
— Kira… ela é a lenda da primeira geração de delinquentes, mas pouco se sabe dela
— verdade
Yoru franziu o cenho.
— Como diabos alguém derrotou esses oito monstros sozinha?
Ben fechou os olhos por um momento, tentando lembrar de todos os detalhes.
— Dizem que Kira não só venceu os Oito Reis, mas também fez algo pior. Para impedir que eles voltassem a ser tão poderosos, ela arrancou uma parte do corpo de cada um.
Hayato e Ryuij ficaram pálidos.
— Você tá brincando…
Ben balançou a cabeça.
— Não. Um perdeu um braço, outro perdeu uma perna, outro perdeu um olho… todos ficaram impossibilitados de lutarem em seu auge novamente.
O silêncio tomou conta do grupo.
Yoru apertou os punhos.
— Se essa mulher existiu, qual era o nível real de força dela?
Ben não respondeu imediatamente.
— Ninguém sabe ao certo. Mas dizem que, na época, ela era chamada de “O Último Monstro”.
Yoru sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Se os Oito Reis eram tão poderosos assim… então Kira deveria estar em um nível completamente diferente.
Aquela conversa mudou a forma como Yoru via a história dos delinquentes.
E no fundo, ele sabia…
Essas lendas não haviam desaparecido completamente.
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