Índice de Capítulo

    O ar explodiu de sua boca, lançando as luzes para o alto e jogando Akishat para trás. Dante rasgou as mãos que o prendiam — uma na perna, outras no peito e pescoço — e, ao encará-la, viu que a criatura já estava pronta para a próxima ofensiva.

    As luzes dispararam. Ele saltou para o lado, mas os fios o seguiram. Se jogou para trás e, usando o ar sob os pés, curvou no ar para ganhar distância. Parou com a respiração pesada, olhos sérios.

    — Você não vai escapar. Quando eu terminar com você, seus amigos também serão levados à morte.

    Os olhos de Dante buscaram cada ângulo antes de agir. Num salto, correu pela borda de madeira do navio. Enquanto cruzava o outro lado, ouviu a voz de Talia:

    — Onde você está? Me diga o nome do lugar!

    Dante trincou os dentes e pulou sobre Akishat. Os fios de luz se materializaram em armas — uma espada, uma lança, um escudo e uma foice. Ele bloqueou dois ataques com a própria lâmina, desviou do terceiro e usou a mão livre para expulsar uma rajada de ar direto na perna da inimiga.

    A velocidade dela era incrível — e só aumentava. O tempo ao redor parecia parado, mas algo ali sustentava tanta energia simultânea. Ainda assim… ela não se curava.

    O ferimento na perna continuava aberto.

    — Eu estou onde deveria estar, irmã.

    Ele avançou novamente.

    Desta vez, Akishat lançou as linhas. Dante não recuou. Brandiu a espada, repelindo os ataques para os lados. Quando as luzes vieram por trás, ele abaixou. Aproveitou a brecha, girou a perna e:

    — 5%.

    O chute acertou em cheio a panturrilha. Akishat gritou, mas Dante já estava no ar, impulsionado pelo braço. Ela reagiu rápido, enviando as armas contra ele.

    — Eu nunca te treinei para usar espadas.

    A voz de Render o fez rir. Dante desceu a espada como uma lança. As armas materializadas não resistiram ao impacto. Em seguida, caiu com os dois braços para esmagar a criatura.

    Akishat mudou de forma: quatro braços brotaram das costelas, escamas negras cobriram seu corpo. Dante não se intimidou. Bloqueou dois braços, aparou o terceiro e aplicou um chute cruzado na cintura dela.

    Não foi forte o suficiente para derrubá-la, mas bastou para arrancar o orgulho do rosto da criatura.

    Dante piscou — e três braços vieram de uma vez. Ele segurou dois, saltou sobre o terceiro e lançou um chute explosivo. O ar se espalhou. Akishat gritou, mas seus braços permaneciam presos.

    Então, Dante girou o corpo no ar. Suas pernas apontaram para cima — e ele explodiu. O joelho acertou o rosto dela, jogando-a cambaleando para trás.

    Sem tempo para respirar, luzes acenderam ao redor. Quase vinte delas. Akishat arfava, enfurecida.

    — Você não é o Imortal — sua voz soava ferida. — Suas façanhas são falácias. O que fez para merecer estar aqui? Você é fraco. Não derrotará ele assim.

    — Eu não faço ideia do que você está falando, sua peixe maldita.

    Dante voltou ao convés, agarrou um dos subordinados dela e o lançou contra um feixe de luz. O impacto travou no ar, crescendo até mudar de cor — agora, um verde intenso. Akishat berrou:

    — NÃO!

    Ela cambaleou, desesperada.

    — Eu nunca permiti que usasse meus irmãos…

    — Tá falando do quê? — Dante abriu os braços, rindo. — Nós só estamos começando, não é?

    E então fechou os punhos.

    A explosão de ar lançou todos os tripulantes do Navio Aquático pelos ares. O vento que Akishat manipulava já não respondia — Dante criara o seu próprio.

    — Não sou Imortal, não sou forte, não sou o quê… — ele observava enquanto as luzes perdiam as cores e passavam a segurar os que voavam. — Mas eu sei quem eu sou.

    Ele encurtou a distância. Duas vezes mais rápido.

    Seu punho foi bloqueado por um braço; outros dois o seguraram; um tentou quebrá-lo. Dante usou as duas pernas para se defender, acertou um chute no peito dela — mas Akishat ainda o segurava.

    Ela tentou outro golpe. Dante girou o braço preso, cravou os dedos na palma dela e puxou a criatura para perto. Quando ela tentou reagir, ele golpeou sua costela com a canela. Gritos.

    A luta virou disputa corpo a corpo. Golpes e defesas trocados. Dante foi atingido duas vezes no peito, mas devolveu um ataque mais forte na garganta dela, sufocando-a por segundos. Suas guelras se esticaram.

    Ele a pegou pelo colarinho e a lançou ao chão. Akishat usou um fio de luz para se puxar ao mastro, girou no ar e investiu de novo.

    Dante respirava fundo.

    — Cansado? — ela provocou.

    — Cansado?

    Antes que ela se aproximasse, uma nova explosão de ar a atingiu em cheio. Dante não se movera. Continuava parado, os pés firmes no chão.

    Akishat ainda se recompunha da explosão quando Dante avançou.

    O ar sob seus pés explodiu em silêncio, e ele desapareceu num lampejo. Reapareceu diante dela, e o primeiro golpe veio seco — um jab de esquerda direto no queixo, seguido por um cruzado que a fez girar o rosto. Ela tentou revidar com os braços mutantes, mas Dante já estava dentro da guarda.

    Usou o quadril para desequilibrá-la e aplicou um ippon seoi nage, jogando o corpo dela contra o convés com brutalidade. A madeira estalou. Antes que Akishat tocasse o chão por completo, outra explosão de ar o lançou novamente para cima dela.

    Ele caiu com o cotovelo direito mirando o esterno da criatura. O impacto reverberou, e Akishat gritou — não só de dor, mas de surpresa. A brutalidade dos golpes humanos parecia ignorar completamente sua regeneração.

    Do outro lado do espelho, Talia levou as mãos à cintura, respirando pesadamente.

    Render e Linda esperavam.

    A única que realmente não tinha dúvidas era Clara. Ela segurava a própria mão, sem ter dito nada até aquele momento, mas soltou um sorriso.

    — Não está perto de casa, não é, Dante?

    — Não mesmo.

    Tecno olhava fixamente, analisando cada movimento.

    — Ele está usando a própria Energia como impulso. Isso não é só combate… é arte marcial com propulsão interna. É… insano.

    Akishat cuspiu sangue e tentou se afastar usando os fios de luz. Eles se lançaram como lanças, mas Dante explodiu o ar sob o próprio tronco e girou no ar — um chute giratório atravessou a defesa e acertou o pescoço dela com força.

    Ela cambaleou para trás, os braços extras tentando se erguer novamente. Dante tocou o chão de leve e, num segundo impulso, estava ao lado dela.

    Um uppercut de boxe que fez os olhos da criatura virarem por um instante. Em seguida, agarrou o braço escamoso com firmeza, travou o ombro dela contra o próprio peito e a projetou de costas contra o chão com um osoto gari seco.

    Akishat bateu com um baque alto. As tábuas racharam. A água começou a invadir o convés através das brechas.

    — Levanta — murmurou Dante, olhos frios. — Vamos ver até onde esse orgulho aguenta.

    Ela tentou reagir, mas os movimentos estavam mais lentos. As luzes ao redor piscavam em desordem, como se estivessem sofrendo com o estado da própria portadora.

    O ar estalou de novo.

    Dante apareceu atrás dela num piscar de olhos. Um chute baixo quebrou o equilíbrio. Um soco com o punho fechado, com explosão de ar, fez o rosto dela girar. Akishat caiu de joelhos.

    — Acha mesmo… que pode com ele? — sussurrou ela, cuspindo sangue negro.

    — Não estou lutando com ele ainda. Só estou acabando com você.

    Ele deu dois passos, o corpo inteiro envolto pela vibração do ar sendo comprimido e liberado em rajadas. As vestes rasgadas. Os olhos fixos.

    — Eu não sou o Imortal… — murmurou, mais para si do que para ela. — Mas você vai lembrar de mim.

    O último impulso o lançou como um míssil. Ele saltou com os joelhos juntos, acertando o rosto de Akishat com uma força que ecoou por todo o navio. O impacto rachou o convés, jogando pedaços de madeira no mar. Ela voou para trás, colidindo com o mastro e quebrando-o no impacto.

    Mas ela ainda não havia caído. Não completamente.

    Dante fechou a mão, sentindo a Conversão Cinética percorrer cada célula, fervilhando dentro de si. Seu corpo operava no limite — talvez além. A habilidade no grau mais alto. A recuperação, mais veloz do que jamais fora. Mesmo que temporário, era tudo o que ele tinha. Era tudo o que tinham deixado para ele.

    — Me chamo Dante, Akishat. E eu venho da porra da Capital.

    A pressão do salto fez os olhos dela se arregalarem. No alto, acima do convés destruído, a Energia Cósmica não apenas o envolvia — ela pulsava de dentro dele, alimentada por memórias boas e ruins, impulsionada por tudo o que ele já foi… e ainda poderia ser.

    Um único humano enfrentando o próprio destino de mãos nuas.

    — Você aprendeu a lição, filho… — a voz de Render ecoou fraca em sua mente — Nunca tenha misericórdia com o seu inimigo.

    Dante rugiu, reunindo tudo o que restava dentro de si, cada gota de força, cada fragmento de dor.

    — Não importa quantas vezes gente como você apareça pra assustar ou tomar o poder, Akishat. Sempre vai ter alguém como eu pra impedir. Eu sou o Capitão do Nokia. Sou um sobrevivente de Kappz. E sou filho das duas pessoas mais fortes que já pisaram nesse mundo.

    Ele riu, uma risada que cortou o silêncio do tempo congelado, ecoando pelas fendas do universo.

    — Quem você acha que é… pra tentar me assustar?

    Dante mergulhou, cercado por trovões e relâmpagos de pura Energia. Cada passo no ar era um estrondo. Cada segundo, uma eternidade em chamas.

    — Dentro desse Mundo Espelhado… eu posso ir além do que um dia fui.

    O punho desceu. Tocou os braços de Akishat, todos eles protegidos por fios de luz e barreiras cósmicas. O impacto gerou um clarão tão intenso que o próprio tempo pareceu cambalear — e então, começou a se mover novamente.

    — Hoje, aqui… mesmo que eles não estejam me vendo de verdade, eu vou honrar todas as promessas que fiz. Esse é o meu “Direto do Topo”.

    Condicionamento: desastroso. Corpo humano não aceita grandes taxas de Energia Cósmica. Níveis de conversão acima do previsto. Processando… Analisando… Alinhando golpe: 25%.”

    Dante gargalhou.

    O navio, o oceano, o tempo — tudo tremeu. Chuvas, ventos, paredes, reflexos: o próprio Mundo Espelhado foi esmagado pela força concentrada de um único golpe. Um golpe que dormia desde o nascimento, aguardando o momento certo para despertar.

    Nascido das lembranças, das perdas, dos medos. Forjado no fogo da raiva e moldado no aço da esperança. O golpe que fez o oceano, protegido por lendas antigas, estremecer.

    E com ele, as emoções de séculos ecoaram, sendo entregues àqueles que, por um segundo que fosse, ainda duvidavam de sua vitória contra o acaso.

    O Reino das Cinzas sentiu o peso de comandar o destino dos navegantes. Pois, mesmo nos mares mais estreitos, nas rotas mais perigosas…

    Sempre haveria um sorriso — como o de Dante — capaz de reacender a fé dos que a perderam.

    Um golpe vindo do topo, lançado do abismo mais profundo. Degrau por degrau, ele havia subido de volta… para recuperar o que um dia lhe foi tirado.

    Esse era o Dante que eles conheciam. O homem que um dia recebeu sua lealdade. E agora, mais do que nunca… merecia novamente sua confiança.

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